Como
o costume, estava ali prostrado na minha enxerga na piscina de Siloé. Sim...
como costume... já lá iam 30 anos! e todos os dias, sem falhar um sequer,
arrastava-me como podia e lá ia para o meu "posto". Todos me
conheciam e sabiam que o que me levava ali era a esperança da cura quando
mergulhasse nas águas agitadas pelo Anjo do Senhor. Tantas vezes, ao longo de
todos estes anos pude constatar essas curas maravilhosas! Alguns chegavam
rodeados de servos que os pegavam em peso e os mergulhavam; outros, mais ágeis
que eu, que era um entrevado sem poder mexer-me, lançavam-se à água e, a
verdade é que todos ficavam curados. Eu.... estava para ali deitado, ninguém se
aproximava para me ajudar no que sozinho não podia fazer... mergulhar na
piscina.
Trinta
Anos! Custa acreditar mas, no entanto, era verdade! Mas eu não me resignava e
todos os dias a minha esperança e confiança na Misericórdia de Deus renasciam.
Parou
ao pé de mim um homem que, simplesmente me perguntou o que estava ali a fazer
e, eu, num impulso irreprimível contei-lhe tudo. Ele, passados breves instantes
disse-me: " levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa". Sem eu
saber como levantei-me de um salto, agarrei na minha enxerga e fui para casa.
Na minha alegria e confusão ouvi que alguém me dizia que não podia carregar a
enxerga em dia de Sábado e, eu só fui capaz de responder “quem me curou é que
deu esta ordem", o resto... bem o resto pode imaginar-se... ao fim de
trinta anos estava livre da minha "prisão" podia ir onde bem
quisesse. Claro... empenhei-me a fundo em descobrir o meu bem-feitor que,
entretanto tinha desaparecido. E... encontrei-O, prostrei-me a Seus pés e
agradeci-Lhe. Ele só me disse: "Vai em paz".
Mas, eu não me fui embora, sentindo uma paz indizível comecei a seguir Aquele a Quem devia a minha cura.
Mais que a cura da minha terrível e prolongada doença, percebia que a verdadeira graça que tinha recebido era a renovação da minha alma, dos meus sentimentos de revolta contra a doença, a animosidade que sentia por tantos e tantos que não me tinham assistido, para dar lugar a pensar em tantos outros que, como me acontecera, esperam um gesto por simples que seja, de caridade, interesse pelas situações difíceis que enfrentam.
Na verdade, concluo, seja qual for a situação que enfrentemos há que pensar nos outros que vivem em circunstâncias iguais, ou mais graves.
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