PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO
Quarta-Feira
(Coisas
muito simples, curtas, objectivas)
Propósito: Simplicidade e modéstia.
Senhor,
ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no
meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de
grandeza e proeminência.
Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.
Senhor,
ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão
excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas
alegrias e entristece-se com as minhas faltas.
Anjo
da minha Guarda, perdoa-me a falta de corres-pondência ao teu interesse e
protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na
retribuição de tantos favores recebidos.
Pequeno
exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?
LEITURA ESPIRITUAL
Evangelho
Mc II, 1-28
Cura de um paralítico
1
Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em
casa. 2 Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e
anunciava-lhes a Palavra. 3 Vieram, então, trazer-lhe um paralítico,
transportado por quatro homens. 4 Como não podiam aproximar-se por causa da
multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e
desceram o catre em que jazia o paralítico. 5 Vendo Jesus a fé daqueles homens,
disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» 6 Ora estavam lá
sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: 7 «Porque fala
este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» 8 Jesus percebeu
logo, no seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis
assim em vossos corações? 9 Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus
pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega no teu catre e anda’? 10
Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar
os pecados, 11 Eu te ordeno - disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu
catre e vai para tua casa.» 12 Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à
vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus,
dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»
Vocação de Levi
13
Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele
ensinava-os. 14 Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de
cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E ele, levantando-se, seguiu Jesus. 15
Depois, quando se encontrava à mesa em casa dele, muitos cobradores de impostos
e pecadores também se puseram à mesma mesa com Jesus e os seus discípulos, pois
eram muitos os que o seguiam. 16 Mas os doutores da Lei do partido dos
fariseus, vendo-o comer com pecadores e cobradores de impostos, disseram aos
discípulos: «Porque é que Ele come com cobradores de impostos e pecadores?» 17
Jesus ouviu isto e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico,
mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»
O jejum
18
Estando os discípulos de João e os fariseus a jejuar, vieram dizer-lhe: «Porque
é que os discípulos de João e os dos fariseus guardam jejum, e os teus
discípulos não jejuam?» 19 Jesus respondeu: «Poderão os convidados para a boda jejuar
enquanto o esposo está com eles? Enquanto têm consigo o esposo, não podem
jejuar. 20 Dias virão em que o esposo lhes será tirado; e então, nesses dias,
hão-de jejuar.» 21 «Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, pois o
pano novo puxa o tecido velho e o rasgão fica maior. 22 E ninguém deita vinho
novo em odres velhos; se o fizer, o vinho romperá os odres e perde-se o vinho,
tal como os odres. Mas vinho novo, em odres novos.»
Os discípulos colhem espigas ao Sábado
23
Ora num dia de sábado, indo Jesus através das searas, os discípulos puseram-se
a colher espigas pelo caminho. 24 Os fariseus diziam-lhe: «Repara! Porque fazem
eles ao sábado o que não é permitido?» 25 Ele disse: «Nunca lestes o que fez
David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele? 26
Como entrou na casa de Deus, ao tempo do Sumo-Sacerdote Abiatar, e comeu os
pães da oferenda, que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e também os
deu aos que estavam com ele?» 27 E disse-lhes: «O sábado foi feito para o homem
e não o homem para o sábado. 28 O Filho do Homem até do sábado é Senhor.»
Comentário
São
Marcos descreve que os companheiros do doente, por não poderem ultrapassar a
multidão que rodeava Jesus, retiraram umas telhas do telhado e, pelo buraco,
desceram o amigo paralítico deitado na sua enxerga presa com cordas.
Podemos
realçar várias coisas importantes:
1º
- A multidão que se comprime à volta de Jesus.
As
pessoas querem ver Jesus de perto, se possível tocar-Lhe, ouvir o mais
distintamente possível as palavras que pronuncia. São palavras de vida eterna
pronunciadas com autoridade, são palavras que têm um significado profundo e
universal mas que, ao mesmo tempo, cada um entende como se dirigida à sua
própria pessoa.
Jesus
fala de coisas simples, que todos conhecem: cenas da vida nos campos, das
relações sociais de todos os dias, dos costumes e hábitos do povo. E, no
entanto, na Sua boca divina, ganham como que uma dimensão diferente, um alcance
extraordinário, uma profundidade que vai direita ao mais íntimo do coração de
cada um. E, as gentes, ficam sossegadas, sentem-se tranquilas nos seus
problemas e nas suas preocupações do dia a dia. A voz doce e pausada do Mestre
deixa um rasto de tranquila serenidade em quantos a escutam.
Também
hoje em dia, parece que se repetem estas cenas da Palestina de há dois mil
anos. As pessoas querem ouvir Jesus, sentem que só Ele tem para dizer o que
interessa, o que convém a cada um. NeLe se encontra a paz e a tranquilidade que
todos anseiam nesta época de incertezas e desvarios. A doutrina clara,
exequível, acessível a todos, ricos e pobres, cultos e ignorantes, aos que
exercem cargos importantes e aos que vivem uma vida apagada ou simples. É uma
doutrina divina que nos fala de amor, de compreensão, de convivência pacífica,
de esforço pessoal empenhado na melhoria diária das nossas relações com Deus e
com o próximo. No fim e ao cabo, a isto se resume a vida de um cristão: o
relacionamento com Deus e com os outros!
2º
- A fé inabalável do paralítico.
Ele
está ali, deitado no seu leito de dor e sofrimento, tolhido pela doença,
sabe-se lá há quantos anos, talvez desde que nasceu.
Ao
escutar aquela voz tão persuasiva e terna de Jesus Cristo, sente, no mais
íntimo do seu coração, que aquele Rabi é o Filho de Deus. E consegue que Jesus Se
encontre face a face com ele e que veja que o seu coração está cheio de
arrependimento pelos pecados de toda a sua vida passada, que a sua alma arde em
desejos de mostrar ao Senhor o seu amor, a sua dedicação, a sua Fé na pessoa do
Redentor. E acontece, exactamente como desejava. Jesus vê o seu arrependimento,
a sua disposição penitente e cheia de fé e comunica-lhe a sentença redentora: «Tem confiança, filho, os teus pecados estão
perdoados». Depois, por causa da incredulidade de alguns, vem o outro bem:
«levanta-te! Toma o teu leito e vai para
tua casa».
Do
mal – a desconfiança, má fé, a incredulidade – Jesus tira um bem: A cura do
paralítico. É o que nos acontece também a nós, muitas vezes ao longo da vida. Vamos
a Jesus procurar perdão para as nossas faltas, arrependidos e contritos das
quedas que constantemente nos atiram ao nível da terra para onde, pobres
homens, nos atrai a nossa fraqueza, a nossa concupiscência. Dizemos ao
sacerdote, que nos escuta a confissão, o que nos vai na alma, abrimos-lhe o
coração, patenteamos com humildade o pouco que somos. Em troca ouvimos da sua
boca as palavras de Jesus: Vai em Paz os teus pecados te são perdoados. Mas, na
verdade, todos nós temos a experiência, que além desse alívio sentido na alma e
no coração limpos e impecáveis pelo perdão divino, sentimos também, um
conforto, uma paz e uma tranquilidade indizíveis. Como se o nosso corpo também
tivesse recebido uma cura inesperada de algum mal que até desconhecíamos ter.
3º O homem, curado, não duvida nem por um
momento das palavras de Cristo: Levanta-se, toma o leito e vai para casa. Ele
sabe que é paralítico, conhece perfeitamente as tremendas limitações que o
amarram aquela enxerga, mas, à voz de Jesus, não se detém um segundo, como que
a ver se seria verdade e se podia levantar, firmar-se nas pernas. Não! Diz o
Evangelho que se levantou, tomou o leito e foi para casa. Vistas as coisas
assim, a esta distância, imaginamos que deve ter sido algo de extraordinário
para aquela multidão: Ver um homem, que todos sabem tolhido numa enxerga,
levantar-se de súbito e ir-se embora como se fosse a coisa mais natural, mais
simples e não um milagre portentoso e extraordinário. Na verdade, quando se
ouvem as palavras de Cristo, essas palavras que Ele insinua na nossa alma
várias vezes durante o dia, mas e sobretudo, quando nos dispomos a escutá-las,
quando a Sua voz inconfundível se nos torna clara, então aquilo que parecia
distante fica próximo, o impossível torna-se fácil de levar a cabo, a dúvida dá
lugar uma serena certeza e fazemos exactamente o Ele nos sugere que façamos. Daqui,
que em conclusão, poderíamos fazer algum propósito para a nossa vida diária:
Perguntar-mo-nos de vez em quando algo assim: Escuto o que Jesus me quer dizer neste
momento?
Jesus faz-se ouvir no recolhimento, por
isso é fundamental esse período do dia que reservamos para uma oração mais
concreta, talvez mais profunda, com serenidade, sem pressas. Não precisamos de
palavras nem de fórmulas estabelecidas para tal. Ganhar intimidade! É o
segredo! A um amigo íntimo conta-se tudo o que nos vai dentro, torna-se partícipe
da nossa vida mais íntima, dos nossos problemas, das nossas alegrias e
preocupações, das coisas boas e menos boas que nos acontecem todos os dias. Como
nos conhece bem pode ajudar-nos com o seu conselho oportuno, com a sugestão
válida. Como temos confiança nele, não duvidamos nem por um momento que o que
nos diz ou sugere é o melhor e mais adequado para nós nessa circunstância
particular. Teremos nós alguém em quem possamos confiar tanto e tão
completamente como Jesus Cristo? Haverá alguém, das nossas relações ou mesmo da
nossa família que, nos ame ou queira mais o nosso bem que Jesus Cristo? Onde
encontraremos nós, alguém sempre disponível, atento e receptivo ás nossas
preocupações, aos nossos desejos de melhoria, aos nossos apelos de ajuda,
alguém que, como Jesus Cristo, esteja disposto a dar-se sem esperar em troca
senão um pouco de amor, de carinho, de atenção.
(AMA, 1998)
REFLEXÃO
O
que nós oferecemos nos nossos sacrifícios, é o próprio Cristo, pois nos nossos
sacrifícios só têm valor na medida em que se unem aos d'Ele. E o sacrifício de
Cristo é renovado todos os dias na Santa Missa. Por isso, o sacrifício
reparador perfeito é o da Eucaristia.
(João
César das Neves, O Século de Fátima,
Principia, 2ª Ed. Nr. 155)
SÃO JOSEMARIA – textos
25
Que bonito ser jogral de Deus!
Em
certa altura, alguém me disse: – Padre, mas se eu me encontro cansado e frio;
se, quando rezo ou cumpro outra norma de piedade, me parece que estou a fazer
teatro... A esse amigo e a ti, se te encontrares na mesma situação, respondo: –
Teatro? Grande coisa, meu filho! Faz teatro! O Senhor é o teu espectador!: o
Pai, o Filho, o Espírito Santo; a Santíssima Trindade estará a contemplar-nos,
naqueles momentos em que "fazemos teatro". Actuar assim diante de
Deus, por amor, para lhe agradar, quando se vive a contragosto, que bonito! Ser
jogral de Deus! Que maravilhoso é esse recital realizado por Amor, com
sacrifício, sem nenhuma satisfação pessoal, para dar gosto a Nosso Senhor! Isso
sim que é viver de Amor. (Forja,
485)
Lê-se
na Escritura: Iudens in orbe terrarum,
que Ele brinca em toda a superfície da terra. Mas Deus não nos abandona, porque
imediatamente acrescenta: deliciæ meæ
esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar com os filhos dos homens.
O Senhor brinca connosco. E quando nos parecer que estamos a representar uma
comédia, por nos sentirmos gelados e apáticos, quando estivermos aborrecidos e
sem vontade de fazer nada, quando nos custar cumprir o nosso dever e alcançar
as metas espirituais que nos tínhamos proposto, é altura de pensar que Deus brinca
connosco e espera então que saibamos representar a nossa comédia com galhardia.
Não me importo de vos contar que, em algumas ocasiões, o Senhor me concedeu
muitas graças, mas que geralmente vou a contrapelo. Prossigo o meu plano de
vida, não porque me agrade, mas porque devo fazê-lo por Amor. Mas, Padre,
pode-se representar uma comédia diante de Deus? Não será uma hipocrisia? Não te
inquietes, pois chegou para ti o momento de entrares numa comédia humana que
tem um espectador divino. Persevera, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo
assistem a essa tua comédia. Faz tudo por amor de Deus, para lhe agradar, mesmo
que te custe. Que bonito é ser jogral de Deus! Como é belo representar essa
comédia por Amor, com sacrifício, sem nenhuma satisfação pessoal, para agradar
ao nosso Pai Deus, que brinca connosco! Põe-te diante do Senhor e diz-lhe
confiadamente: não me apetece nada fazer isto, mas oferecê-lo-ei por Ti. E
ocupa-te a sério desse trabalho, ainda que penses que é uma comédia. Abençoada
comédia! (Amigos
de Deus, 152)