Leitura EspiritualAmar a Igreja |
São Josemaria Escrivá
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Esta
Igreja Católica é romana.
Eu
saboreio esta palavra: romana! Sinto-me romano, porque romano quer dizer
universal, católico; porque me leva a amar carinhosamente o Papa, il dolce Cristo in terra, como gostava
de repetir Santa Catarina de Sena, a quem tenho como amiga amadíssima.
Desde
este centro católico romano - sublinhou Paulo VI no discurso de encerramento do
Concílio Vaticano II - ninguém é, em teoria, inalcançável; todos podem e devem
ser alcançados.
Para
a Igreja Católica ninguém é estranho, ninguém está excluído, ninguém se
considera afastado.
Venero
com todas as minhas forças a Roma de Pedro e de Paulo, banhada pelo sangue dos
mártires, centro donde tantos saíram para propagar por todo o mundo a palavra
salvadora de Cristo.
Ser
romano não implica nenhum particularismo, mas ecumenismo autêntico.
Representa
o desejo de dilatar o coração, de abri-lo a todos com as ânsias redentoras de
Cristo, que a todos procura e a todos acolhe, porque a todos amou primeiro.
Santo
Ambrósio escreveu umas breves palavras, que compõem uma espécie de cântico de
alegria: onde está Pedro, aí está a Igreja, e onde está a Igreja não reina a
morte, mas a vida eterna.
Porque
onde estão Pedro e a Igreja está Cristo, e Ele é a salvação, o único caminho.
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A Igreja é Apostólica
Nosso
Senhor funda a sua Igreja sobre a debilidade - mas também sobre a fidelidade -
de alguns homens, os Apóstolos, aos quais promete a assistência constante do
Espírito Santo.
Leiamos
outra vez o texto conhecido, que é sempre novo e actual: Foi-me dado todo o
poder no céu e na terra.
Ide,
pois, ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei, e eis
que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.
A
pregação do Evangelho não surge na Palestina pela iniciativa pessoal de umas
tantas pessoas fervorosas.
Que
podiam fazer os Apóstolos?
Não
valiam absolutamente nada no seu tempo; não eram ricos, nem cultos, nem heróis
do ponto de vista humano.
Jesus
lança sobre os ombros deste punhado de discípulos uma tarefa imensa, divina.
Não
fostes vós que me escolhesses, mas fui eu que vos escolhi a vós, e que vos
destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim
de que tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.
Através
de dois mil anos de história, conserva-se na Igreja a sucessão apostólica.
Os
bispos, declara o Concilio de Trento, sucederam no lugar dos Apóstolos e estão
colocados, como diz o próprio Apóstolo (Paulo), pelo Espírito Santo para reger
a Igreja de Deus (Act. XX, 28). E, entre os Apóstolos, o próprio Cristo tornou
Simão objecto duma escolha especial: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja. Eu roguei por ti, também acrescenta, para que a tua fé não
pereça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos.
Pedro
muda-se para Roma e fixa ali a sede do primado, do Vigário de Cristo.
Por
isso, é em Roma onde melhor se adverte a sucessão apostólica, e por isso é
chamada a Sé apostólica por excelência.
Proclamou o Concilio Vaticano II, com palavras
de um Concilio anterior, o de Florença, que todos os fiéis de Cristo devem crer
que a Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice possuem o primado sobre todo o
orbe, e que o próprio Romano Pontífice é sucessor do bem-aventurado Pedro,
príncipe dos Apóstolos, verdadeiro vigário de Jesus Cristo, cabeça de toda a
Igreja e pai e mestre de todos os cristãos.
A
ele foi entregue por Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa do bem-aventurado
Pedro, plena potestade de apascentar, reger e governar a Igreja universal.
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A
suprema potestade do Romano Pontífice e a sua infalibilidade, quando fala ex cathedra, não são uma invenção
humana, pois baseiam-se na explícita vontade fundacional de Cristo.
Que
pouco sentido tem enfrentar o governo do Papa com o dos bispos, ou reduzir a
validade do Magistério pontifício ao consentimento dos fiéis!
Nada
mais alheio à Igreja do que o equilíbrio de poderes; não nos servem esquemas
humanos, por mais atractivos ou funcionais que sejam.
Ninguém
na Igreja goza por si mesmo de potestade absoluta, enquanto homem; na Igreja
não há outro chefe além de Cristo; e Cristo quis constituir um Vigário seu - o
Romano Pontífice - para a sua Esposa peregrina nesta terra.
A
Igreja é Apostólica por constituição: a que verdadeiramente é e se chama
Católica, deve ao mesmo tempo brilhar pela prerrogativa da unidade, santidade e
sucessão apostólica.
Assim,
a Igreja é Una, com unidade esclarecida e perfeita de toda a terra e de todas
as nações, com aquela unidade da qual é princípio, raiz e origem indefectível a
suprema autoridade e mais excelente primazia do bem-aventurado Pedro, príncipe
dos Apóstolos, e dos seus sucessores na cátedra romana.
E
não existe outra Igreja Católica, senão aquela que, edificada sobre o único
Pedro, se levanta pela unidade da fé e pela caridade num único corpo conexo e
compacto.
Contribuímos
para tornar mais evidente essa apostolicidade aos olhos de todos, manifestando
com requintada fidelidade a união com o Papa, que é união com Pedro.
O
amor ao Romano Pontífice há-de ser em nós uma formosa paixão, porque nele vemos
a Cristo.
Se
tivermos intimidade com o Senhor na nossa oração, caminharemos com um olhar
desanuviado que nos permitirá distinguir, mesmo nos acontecimentos que às vezes
não compreendemos ou que nos causam pranto ou dor, a acção do Espírito Santo.
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A missão apostólica de todos
os católicos
A
Igreja santifica-nos, depois de entrarmos no seu seio pelo Baptismo.
Recém-nascidos
para a vida natural, podemos logo acolher-nos à graça santificante.
A
fé duma pessoa, mais ainda, a fé de toda a Igreja, beneficia a criança pela
acção do Espírito Santo, que dá unidade à Igreja e comunica os bens duns para
os outros.
É
uma maravilha esta maternidade sobrenatural da Igreja, que o Espirito Santo lhe
confere.
A
regeneração espiritual, que se opera pelo Baptismo, é de alguma maneira
semelhante ao nascimento corporal.
Assim
como as crianças que se encontram no seio da mãe não se alimentam por si
mesmas, porque se nutrem do sustento da mãe, também os pequeninos que não têm
uso da razão, se encontram como crianças no seio da sua Mãe, a Igreja, pois
recebem a salvação pela acção da Igreja, e não por si mesmos.
Manifesta-se
assim em toda a sua grandeza o poder sacerdotal da Igreja, que procede
directamente de Cristo.
Cristo
é a fonte de todo o sacerdócio, visto que o sacerdote da Lei Antiga era como a
sua figura.
Mas
o sacerdote da Nova Lei age na pessoa de Cristo, segundo o que se diz em 2 Cor.
II, 10: pois eu também o que perdoo, se alguma coisa perdoo, por amor de vós o
perdoo na pessoa de Cristo.
A
mediação salvadora entre Deus e os homens perpetua-se na Igreja através do
Sacramento da Ordem, que capacita - pelo carácter e pela graça consequentes -
para agir como ministros de Jesus Cristo em favor de todas as almas.
Que
um possa realizar um acto que outro não pode, não provém da diversidade na
bondade ou na malícia, mas da potestade adquirida, que um possui e outro não.
Por
isso, como o leigo não recebe a potestade de consagrar, não pode fazer a
consagração, seja qual for a sua bondade pessoal.
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Na
Igreja há diversidade de ministérios, mas um só é o fim: a santificação dos
homens.
Nesta
tarefa participam de algum modo todos os cristãos, pelo carácter recebido com
os Sacramentos do Baptismo e da Confirmação. Todos temos de nos sentir
responsáveis por essa missão da Igreja, que é a missão de Cristo.
Quem
não tem zelo pela salvação das almas, quem não procura com todas as suas forças
que o nome e a doutrina de Cristo sejam conhecidos e amados, não compreende a
apostolicidade da Igreja.
Um
cristão passivo não é capaz de entender o que Cristo quer de todos nós.
Um
cristão que se preocupa com as suas coisas e se desentende da salvação dos
outros, não ama com o Coração de Jesus.
O
apostolado não é missão exclusiva da Hierarquia, nem dos sacerdotes ou dos
religiosos.
A
todos nos chama o Senhor para sermos instrumentos, com o exemplo e com a
palavra, dessa corrente de graça que salta até à vida eterna.
Sempre
que lemos os Actos dos Apóstolos, emocionam-nos a audácia, a confiança na sua
missão e a sacrificada alegria dos discípulos de Cristo.
Não
pedem multidões.
Ainda
que as multidões venham, eles dirigem-se a cada alma em concreto, a cada homem,
um por um: Filipe ao etíope; Pedro ao centurião Cornélio: Paulo a Sérgio Paulo.
Tinham
aprendido do Mestre.
Recordai
aquela parábola dos operários que aguardam trabalho, no meio da praça da
aldeia.
Quando
o dono da vinha foi à procura de empregados, com o dia já bem entrado,
descobriu que ainda havia homens sem fazer nada: porque estais aqui todo o dia
ociosos?
Eles
responderam: porque ninguém nos contratou.
Isto
não deve suceder na vida do cristão; não deve encontrar-se ninguém à sua volta
que possa afirmar que não ouviu falar de Cristo, porque ninguém lh'O anunciou.
Os
homens pensam frequentemente que nada os impede de prescindir de Deus.
Enganam-se.
Apesar de não o saberem, jazem como o paralítico da piscina probática,
incapazes de se deslocarem até às águas que salvam, até à doutrina que dá
alegria à alma.
A
culpa é muitas vezes dos cristãos, porque essas pessoas poderiam repetir hominem non habeo não tenho sequer uma
pessoa para me ajudar.
Todo
o cristão deve ser apóstolo, porque Deus, que não precisa de ninguém, precisa,
contudo, de nós. Conta connosco e com a nossa dedicação para propagar a sua
doutrina salvadora.
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Estamos
a contemplar o mistério da Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica.
É
hora de nos perguntarmos: compartilho com Cristo do seu afã de almas?
Peço
por esta Igreja de que faço parte, onde hei-de realizar uma missão específica,
que ninguém pode fazer por mim?
Estar
na Igreja é já muito, mas não basta.
Devemos
ser Igreja, porque a nossa Mãe nunca há-de ser para nós estranha, exterior,
alheia aos nossos mais profundos pensamentos.
Acabamos
aqui estas considerações sobre as notas da Igreja.
Com
a ajuda do Senhor, terão ficado impressas na nossa alma e confirmar-nos-emos
num critério claro, seguro, divino, para amarmos mais esta Mãe Santa, que nos
trouxe à vida da graça e nos alimenta dia a dia com solicitude inesgotável.
Se
porventura ouvirdes palavras ou gritos de ofensa à Igreja, manifestai, com
humanidade e caridade, a essa gente sem amor, que não se pode maltratar assim
uma Mãe.
Agora
atacam-na impunemente, porque o seu reino, que é o do seu Mestre e Fundador,
não é deste mundo.
Enquanto
gemer o trigo entre a palha, enquanto suspirarem as espigas entre a cizânia,
enquanto chorar o lírio entre os espinhos, não faltarão inimigos que digam:
quando morrerá e perecerá o seu nome? Ou seja, vede que virá tempo em que
hão-de desaparecer e já não haverá mais cristãos...
Mas,
quando dizem isto, eles morrem sem remédio.
E
a Igreja permanece.
Aconteça
o que acontecer, Cristo não abandonará a sua Esposa.
A
Igreja triunfante está já junto d'Ele à direita do Pai.
E
daí nos chamam os nossos irmãos cristãos, que glorificam a Deus por esta
realidade que nós ainda só podemos ver através da clara penumbra da fé: a
Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.
(cont)