Tempo Comum Sema I
Evangelho:
Mc 1, 14-20
14 Escolheu doze para que andassem com Ele e para os enviar a pregar,
15 com poder de expulsar os demónios: 16 Simão, a quem
pôs o nome de Pedro; 17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de
Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”; 18
e André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão,
o Cananeu, 19 e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou. 20
Depois, foi para casa e de novo acorreu tanta gente, que nem sequer podiam
tomar alimento
Comentário:
Aqui temos as
"colunas" escolhidas por Cristo para sobre eles construir a Sua
Igreja.
Sabemos bem
quão acertada foi a escolha e mesmo no caso daquele que se revelou impróprio
para levar a cabo a tarefa que lhe competiria, podemos tirar a lição de como o
Senhor que escolhe e dá os meios necessários, respeita a vontade de cada, um
mesmo que essa vontade possa levar à perdição pessoal.
(ama comentário sobre MC 1 14-20, Malta,
2015.01.24)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO
SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE
O CUIDADO DA CASA COMUM
CAPÍTULO V
ALGUMAS
LINHAS DE ORIENTAÇÃO E ACÇÃO
163. Procurei examinar a situação actual
da humanidade, tanto nas brechas do planeta que habitamos, como nas causas mais
profundamente humanas da degradação ambiental.
Embora esta contemplação da realidade em
si mesma já nos indique a necessidade duma mudança de rumo e sugira algumas
acções, procuremos agora delinear grandes percursos de diálogo que nos ajudem a
sair da espiral de autodestruição onde estamos a afundar.
1.
O diálogo sobre o meio ambiente na política internacional
164. Desde meados do século passado e
superando muitas dificuldades, foi-se consolidando a tendência de conceber o
planeta como pátria e a humanidade como povo que habita uma casa comum.
Um mundo interdependente não significa
unicamente compreender que as consequências danosas dos estilos de vida, produção
e consumo afectam a todos, mas principalmente procurar que as soluções sejam
propostas a partir duma perspectiva global e não apenas para defesa dos
interesses de alguns países.
A interdependência obriga-nos a pensar num
único mundo, num projecto comum.
Mas, a mesma inteligência que foi
utilizada para um enorme desenvolvimento tecnológico não consegue encontrar
formas eficazes de gestão internacional para resolver as graves dificuldades
ambientais e sociais.
Para enfrentar os problemas de fundo, que
não se podem resolver com acções de países isolados, torna-se indispensável um
consenso mundial que leve, por exemplo, a programar uma agricultura sustentável
e diversificada, desenvolver formas de energia renováveis e pouco poluidoras,
fomentar uma maior eficiência energética, promover uma gestão mais adequada dos
recursos florestais e marinhos, garantir a todos o acesso à água potável.
165. Sabemos que a tecnologia baseada nos
combustíveis fósseis – altamente poluentes, sobretudo o carvão mas também o petróleo
e, em menor medida, o gás – deve ser, progressivamente e sem demora,
substituída.
Enquanto aguardamos por um amplo
desenvolvimento das energias renováveis, que já deveria ter começado, é
legítimo optar pela alternativa menos danosa ou recorrer a soluções
transitórias.
Todavia, na comunidade internacional, não
se consegue suficiente acordo sobre a responsabilidade de quem deve suportar os
maiores custos da transição energética.
Nas últimas décadas, as questões
ambientais deram origem a um amplo debate público, que fez crescer na sociedade
civil espaços de notável compromisso e generosa dedicação.
A política e a indústria reagem com
lentidão, longe de estar à altura dos desafios mundiais.
Neste sentido, pode-se dizer que, enquanto
a humanidade do período pós-industrial talvez fique recordada como uma das mais
irresponsáveis da história, espera-se que a humanidade dos inícios do século
XXI possa ser lembrada por ter assumido com generosidade as suas graves
responsabilidades.
166. O movimento ecológico mundial já
percorreu um longo caminho, enriquecido pelo esforço de muitas organizações da
sociedade civil. Não seria possível mencioná-las todas aqui, nem repassar a
história das suas contribuições.
Mas, graças a tanta dedicação, as questões
ambientais têm estado cada vez mais presentes na agenda pública e tornaram-se
um convite permanente a pensar a longo prazo.
Apesar disso, as cimeiras mundiais sobre o
meio ambiente dos últimos anos não corresponderam às expectativas, porque não
alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente
significativos e eficazes.
167. Dentre elas, há que recordar a
Cimeira da Terra, celebrada em 1992 no Rio de Janeiro.
Lá se proclamou que «os seres humanos
constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento
sustentável».[i] Retomando alguns conteúdos
da Declaração de Estocolmo (1972), sancionou, entre outras coisas, a cooperação
internacional no cuidado do ecossistema de toda a terra, a obrigação de quem
contaminar assumir economicamente os custos derivados, o dever de avaliar o
impacto ambiental de toda e qualquer obra ou projecto.
Propôs o objectivo de estabilizar as
concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera para inverter a
tendência do aquecimento global.
Também elaborou uma agenda com um programa
de acção e uma convenção sobre biodiversidade, declarou princípios em matéria
florestal.
Embora tal cimeira marcasse um passo em
frente e fosse verdadeiramente profética para a sua época, os acordos tiveram
um baixo nível de implementação, porque não se estabeleceram adequados
mecanismos de controlo, revisão periódica e sanção das violações.
Os princípios enunciados continuam a
requerer caminhos eficazes e ágeis de realização prática.
168. Como experiências positivas, pode-se
mencionar, por exemplo, a Convenção de Basileia sobre os resíduos perigosos,
com um sistema de notificação, níveis estipulados e controles, e também a Convenção
vinculante sobre o comércio internacional das espécies da fauna e da flora selvagens
ameaçadas de extinção, que prevê missões de verificação do seu efectivo
cumprimento.
Graças à Convenção de Viena para a
protecção da camada de ozono e a respectiva implementação através do Protocolo
de Montreal e as suas emendas, o problema da diminuição da referida camada
parece ter entrado numa fase de solução.
169. No cuidado da biodiversidade e no
contraste à desertificação, os avanços foram muito menos significativos.
Relativamente às mudanças climáticas, os
progressos são, infelizmente, muito escassos.
A redução de gases com efeito de estufa
requer honestidade, coragem e responsabilidade, sobretudo dos países mais
poderosos e mais poluentes.
A Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável, chamada Rio+20 (Rio de Janeiro 2012), emitiu uma
Declaração Final extensa mas ineficaz.
As negociações internacionais não podem
avançar significativamente por causa das posições dos países que privilegiam os
seus interesses nacionais sobre o bem comum global.
Aqueles que hão-de sofrer as consequências
que tentamos dissimular, recordarão esta falta de consciência e de
responsabilidade. Durante o período de elaboração desta encíclica, o debate
adquiriu particular intensidade.
Nós, crentes, não podemos deixar de rezar
a Deus pela evolução positiva nos debates actuais, para que as gerações futuras
não sofram as consequências de demoras imprudentes.
(cont)
[i] Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
Rio de Janeiro (14 de Junho de 1992), princípio 1.