Tempo comum XV Semana
Evangelho:
Mt 11, 28-30
28
O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29
Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de
coração, e achareis descanso para as vossas almas. 30 Porque o Meu
jugo é suave, e o Meu fardo leve».
Comentário:
Percebe-se que, conhecer Deus, depende da vontade de Jesus
Cristo, tal e como Ele próprio o afirma claramente.
Parece que Jesus escolhe as pessoas que devem ter esse
conhecimento e, de facto assim é. Todos, em princípio, podemos aceder a tal
mas, evidentemente, temos de querê-lo, desejá-lo e pedir que assim seja.
Porquê? Por Jesus não impõe nada – absolutamente – a ninguém
e, mesmo que seja o Seu desejo veemente que todos conheçam Deus e,
conhecendo-o, o louvem, adorem e façam a Sua Vontade, respeita a vontade de
cada um.
Mas, atenção, as oportunidades são sempre dadas e sugeridas
a todos os homens. Depende destes aceitar e seguir o indicado.
(AMA, comentário, Mt 11,
25-30, 2012.12.12)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
NOTA DOUTRINAL SOBRE
ALGUNS ASPECTOS DA EVANGELIZAÇÃO
.../3
IV.
Algumas implicações ecuménicas
12. Desde os inícios o
movimento ecuménico esteve intimamente ligado à evangelização. A unidade é, de
facto, a marca da credibilidade da missão e o Concílio Vaticano II manifestou
com pesar que o escândalo da divisão «prejudica a santíssima causa da pregação»
43. O próprio Jesus, na vigília da sua morte, rezou: «para que todos
sejam uma só coisa… para que o mundo acredite» (Jo 17, 21).
A missão da Igreja é
universal e não está limitada a determinadas regiões da terra. A evangelização,
no entanto, realiza-se de um modo diferente, segundo as diversas situações em
que acontece. Num sentido próprio é a «missio ad gentes» dirigida àqueles que
não conhecem Cristo. Num sentido mais lato fala-se de «evangelização», relativo
ao aspecto ordinário da pastoral, e de «nova evangelização», relativo àqueles
que deixaram a praxis cristã 44. Além disso, há evangelização em
países onde vivem cristãos não católicos, sobretudo em países de antiga
tradição e cultura cristã. Aqui requer-se tanto um verdadeiro respeito pela sua
tradição e riquezas espirituais, bem como um sincero espírito de cooperação.
«Banindo toda a aparência de indiferentismo, de confusionismo e odiosa
rivalidade, os católicos colaborem com os irmãos separados, em conformidade com
as disposições do decreto sobre o Ecumenismo, por meio da comum profissão de fé
em Deus e em Jesus Cristo diante dos gentios, na medida possível, e pela
cooperação em questões sociais e técnicas, culturais e religiosas» 45.
No compromisso ecuménico,
podem-se distinguir várias dimensões: primeiro a escuta, como condição
fundamental de qualquer diálogo; depois vem a discussão teológica, pela qual,
procurando compreender as confissões, tradições e as certezas dos outros, se
pode encontrar a concórdia, por vezes escondida na discórdia. E inseparável
destas duas, não pode faltar outra essencial dimensão do trabalho ecuménico: o
testemunho e o anúncio dos elementos que não são tradições particulares ou
nuances teológicas mas pertencem à Tradição da própria fé.
Mas o ecumenismo não tem
apenas uma dimensão institucional que procura «fazer crescer a comunhão parcial
existente entre os cristãos até à plena comunhão na verdade e na caridade» 46:
essa é tarefa de todo o fiel, principalmente através da oração, da penitência,
do estudo e da colaboração. Sempre e em toda a parte, cada fiel católico tem o
direito e o dever de dar testemunho e anunciar totalmente a sua fé. Com os
cristãos não católicos, o católico deve entrar em diálogo respeitoso da
caridade e da verdade: um diálogo que não é apenas uma troca de ideias mas de
dons 47, de modo a ser-lhes oferecida a plenitude dos meios da
salvação 48. Assim se é conduzido sempre a uma mais profunda
conversão a Cristo.
A este respeito é de
realçar que se um cristão não católico, por razões de consciência e convencido
das verdades católicas, pede para entrar em plena comunhão na Igreja católica,
isso é respeitado como obra do Espírito Santo e como expressão da liberdade de
consciência e de religião. Neste caso não se trata de proselitismo, no sentido
negativo atribuído a este termo 49. Como reconheceu explicitamente o
Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II, «é evidente que o trabalho
de preparação e reconciliação dos indivíduos que desejam a plena comunhão
católica é, por sua natureza, distinto da empresa ecuménica: Entretanto, não
existe nenhuma oposição entre as duas, pois ambas procedem da admirável
Providência divina» 50. Logo, tal iniciativa não priva do direito
nem exime da responsabilidade de anunciar em plenitude a fé católica aos outros
cristãos, que livremente aceitam acolhê-la.
Esta perspectiva requer
naturalmente evitar qualquer indevida pressão: «na difusão da fé religiosa e na
introdução de novas práticas, deve sempre evitar-se todo o modo de agir que tenha
visos de coacção, persuasão desonesta ou simplesmente menos leal, sobretudo
quando se trata de gente rude ou sem recursos. Tal modo de agir deve ser
considerado como um abuso do próprio direito e lesão do direito alheio» 51.
O testemunho da verdade não procura impor algo pela força, nem por uma acção
coerciva ou artifícios contrários ao Evangelho. O próprio exercício da caridade
é gratuito 52. O amor e o testemunho da verdade procuram acima de
tudo convencer pela força da palavra de Deus (cf. 1 Cor 2,3-5; 1 Tes 2,3-5) 53.
A missão cristã reside na potência do Espírito Santo e na própria verdade
proclamada.
V.
Conclusão
13. A acção evangelizadora
da Igreja não pode ser menor, pois nunca lhe faltará a presença do Senhor Jesus
na força do Espírito Santo, segundo a sua própria promessa: «Eu estou convosco
todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
Os relativismos e
irenismos de hoje em âmbito religioso não são um motivo válido para descurar
este trabalhoso mas fascinante compromisso, que pertence à própria natureza da
Igreja e é «sua tarefa primária» 54. «Caritas Christi urget nos – o
amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14): testemunha-o um grande número de
fiéis que, levados pelo amor de Jesus tiveram, ao longo da sua história,
iniciativas e obras várias para anunciar o Evangelho, a todas as pessoas e em
todos os âmbitos da sociedade, como aviso e convite perene a todas as gerações
cristãs a cumprirem com generosidade o mandato de Cristo. Por isso, como
recorda o Papa Bento XVI, «o anúncio e o testemunho do Evangelho são o primeiro
serviço que os cristãos podem dar às pessoas e à humanidade, chamados a
comunicar a todos o amor de Deus, que se manifestou plenamente no único
Redentor do mundo, Jesus Cristo» 55. O amor que vem de Deus une-nos
a Ele e «transforma-nos em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser
um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1 Cor 15, 28)» 56.
O
Sumo Pontífice Bento XVI, na Audiência concedida ao Cardeal Prefeito, no dia 6
de Outubro de 2007, aprovou a presente Nota doutrinal, decidida na Sessão Ordinária
desta Congregação, e ordenou a sua publicação.
Dado
em Roma, na sede da Congregação para a Doutrina da Fé, a 3 de Dezembro de 2007,
memória litúrgica de S. Francisco Xavier, Padroeiro das Missões.
William
Cardeal Levada
Prefeito
Angelo
Amato, sdb
Arcebispo
titular de Sila
Secretário
___________________________________-
Notas:
43 Cf. Unitatis redintegratio, n. 1; cf. J.
PAULO II, Redemptoris missio, nn. 1,50: AAS 83 (1991) 249, 297.
44
Cf. J. PAULO II, Redemptoris missio, n. 34: AAS 83 (1991) 279-280.
45
Ad gentes, n. 15.
46
J. PAULO II, Ut unum sint, n. 14: AAS 87 (1995) 929.
47
Cf. ibidem, n. 28: AAS 87 (1995) 939.
48
Cf. Unitatis redintegratio, nn. 3, 5.
49
Originalmente o termo «proselitismo» nasce em âmbito hebraico, onde «prosélito»
indicava aquele que, proveniente dos «gentios», passava a fazer parte do «povo
eleito». Assim também no âmbito cristão, o termo proselitismo foi, muitas
vezes, usado como sinónimo da actividade missionária. Recentemente, o termo
tomou uma conotação negativa como publicidade
para a própria religião com meios e motivos contrários ao espírito do Evangelho
e que não salvaguardam a liberdade e a dignidade da pessoa. Em tal sentido, o
termo «proselitismo» é compreendido no contexto do movimento ecuménico: cf. The
Joint Working Group between the Catholic Church and the World Council of
Churches, “The Challenge of Proselytism and the Calling to Common Witness”
(1995).
50
Cf. Unitatis redintegratio, n. 4.
51
Cf. Dignitatis humanae, n. 4.
52
Cf. BENTO XVI, Deus caritas est, n. 31 c: AAS 98 (2006) 245.
53
Cf. Dignitatis humanae, n. 11.
54
BENTO XVI, Homilia de 25-IV-2005, n. 4: AAS 97 (2005) 745.
55
BENTO XVI, Discurso de 11-III-2006: AAS 98 (2006) 334.
56
BENTO XVI, Deus caritas est, n. 18: AAS 98 (2006) 232.