16/07/2014

Evangelho e comentário, Leit. Espiritual (Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização)


Tempo comum XV Semana

Evangelho: Mt 11, 28-30

28 O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. 30 Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».

Comentário:

Percebe-se que, conhecer Deus, depende da vontade de Jesus Cristo, tal e como Ele próprio o afirma claramente.
Parece que Jesus escolhe as pessoas que devem ter esse conhecimento e, de facto assim é. Todos, em princípio, podemos aceder a tal mas, evidentemente, temos de querê-lo, desejá-lo e pedir que assim seja.

Porquê? Por Jesus não impõe nada – absolutamente – a ninguém e, mesmo que seja o Seu desejo veemente que todos conheçam Deus e, conhecendo-o, o louvem, adorem e façam a Sua Vontade, respeita a vontade de cada um.

Mas, atenção, as oportunidades são sempre dadas e sugeridas a todos os homens. Depende destes aceitar e seguir o indicado.


(AMA, comentário, Mt 11, 25-30, 2012.12.12)

Leitura espiritual


Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

NOTA DOUTRINAL SOBRE
ALGUNS ASPECTOS DA EVANGELIZAÇÃO

.../3

IV. Algumas implicações ecuménicas

12. Desde os inícios o movimento ecuménico esteve intimamente ligado à evangelização. A unidade é, de facto, a marca da credibilidade da missão e o Concílio Vaticano II manifestou com pesar que o escândalo da divisão «prejudica a santíssima causa da pregação» 43. O próprio Jesus, na vigília da sua morte, rezou: «para que todos sejam uma só coisa… para que o mundo acredite» (Jo 17, 21).

A missão da Igreja é universal e não está limitada a determinadas regiões da terra. A evangelização, no entanto, realiza-se de um modo diferente, segundo as diversas situações em que acontece. Num sentido próprio é a «missio ad gentes» dirigida àqueles que não conhecem Cristo. Num sentido mais lato fala-se de «evangelização», relativo ao aspecto ordinário da pastoral, e de «nova evangelização», relativo àqueles que deixaram a praxis cristã 44. Além disso, há evangelização em países onde vivem cristãos não católicos, sobretudo em países de antiga tradição e cultura cristã. Aqui requer-se tanto um verdadeiro respeito pela sua tradição e riquezas espirituais, bem como um sincero espírito de cooperação. «Banindo toda a aparência de indiferentismo, de confusionismo e odiosa rivalidade, os católicos colaborem com os irmãos separados, em conformidade com as disposições do decreto sobre o Ecumenismo, por meio da comum profissão de fé em Deus e em Jesus Cristo diante dos gentios, na medida possível, e pela cooperação em questões sociais e técnicas, culturais e religiosas» 45.

No compromisso ecuménico, podem-se distinguir várias dimensões: primeiro a escuta, como condição fundamental de qualquer diálogo; depois vem a discussão teológica, pela qual, procurando compreender as confissões, tradições e as certezas dos outros, se pode encontrar a concórdia, por vezes escondida na discórdia. E inseparável destas duas, não pode faltar outra essencial dimensão do trabalho ecuménico: o testemunho e o anúncio dos elementos que não são tradições particulares ou nuances teológicas mas pertencem à Tradição da própria fé.

Mas o ecumenismo não tem apenas uma dimensão institucional que procura «fazer crescer a comunhão parcial existente entre os cristãos até à plena comunhão na verdade e na caridade» 46: essa é tarefa de todo o fiel, principalmente através da oração, da penitência, do estudo e da colaboração. Sempre e em toda a parte, cada fiel católico tem o direito e o dever de dar testemunho e anunciar totalmente a sua fé. Com os cristãos não católicos, o católico deve entrar em diálogo respeitoso da caridade e da verdade: um diálogo que não é apenas uma troca de ideias mas de dons 47, de modo a ser-lhes oferecida a plenitude dos meios da salvação 48. Assim se é conduzido sempre a uma mais profunda conversão a Cristo.

A este respeito é de realçar que se um cristão não católico, por razões de consciência e convencido das verdades católicas, pede para entrar em plena comunhão na Igreja católica, isso é respeitado como obra do Espírito Santo e como expressão da liberdade de consciência e de religião. Neste caso não se trata de proselitismo, no sentido negativo atribuído a este termo 49. Como reconheceu explicitamente o Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II, «é evidente que o trabalho de preparação e reconciliação dos indivíduos que desejam a plena comunhão católica é, por sua natureza, distinto da empresa ecuménica: Entretanto, não existe nenhuma oposição entre as duas, pois ambas procedem da admirável Providência divina» 50. Logo, tal iniciativa não priva do direito nem exime da responsabilidade de anunciar em plenitude a fé católica aos outros cristãos, que livremente aceitam acolhê-la.

Esta perspectiva requer naturalmente evitar qualquer indevida pressão: «na difusão da fé religiosa e na introdução de novas práticas, deve sempre evitar-se todo o modo de agir que tenha visos de coacção, persuasão desonesta ou simplesmente menos leal, sobretudo quando se trata de gente rude ou sem recursos. Tal modo de agir deve ser considerado como um abuso do próprio direito e lesão do direito alheio» 51. O testemunho da verdade não procura impor algo pela força, nem por uma acção coerciva ou artifícios contrários ao Evangelho. O próprio exercício da caridade é gratuito 52. O amor e o testemunho da verdade procuram acima de tudo convencer pela força da palavra de Deus (cf. 1 Cor 2,3-5; 1 Tes 2,3-5) 53. A missão cristã reside na potência do Espírito Santo e na própria verdade proclamada.

V. Conclusão

13. A acção evangelizadora da Igreja não pode ser menor, pois nunca lhe faltará a presença do Senhor Jesus na força do Espírito Santo, segundo a sua própria promessa: «Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).

Os relativismos e irenismos de hoje em âmbito religioso não são um motivo válido para descurar este trabalhoso mas fascinante compromisso, que pertence à própria natureza da Igreja e é «sua tarefa primária» 54. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14): testemunha-o um grande número de fiéis que, levados pelo amor de Jesus tiveram, ao longo da sua história, iniciativas e obras várias para anunciar o Evangelho, a todas as pessoas e em todos os âmbitos da sociedade, como aviso e convite perene a todas as gerações cristãs a cumprirem com generosidade o mandato de Cristo. Por isso, como recorda o Papa Bento XVI, «o anúncio e o testemunho do Evangelho são o primeiro serviço que os cristãos podem dar às pessoas e à humanidade, chamados a comunicar a todos o amor de Deus, que se manifestou plenamente no único Redentor do mundo, Jesus Cristo» 55. O amor que vem de Deus une-nos a Ele e «transforma-nos em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1 Cor 15, 28)» 56.

O Sumo Pontífice Bento XVI, na Audiência concedida ao Cardeal Prefeito, no dia 6 de Outubro de 2007, aprovou a presente Nota doutrinal, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação, e ordenou a sua publicação.

Dado em Roma, na sede da Congregação para a Doutrina da Fé, a 3 de Dezembro de 2007, memória litúrgica de S. Francisco Xavier, Padroeiro das Missões.

William Cardeal Levada
Prefeito

Angelo Amato, sdb
Arcebispo titular de Sila
Secretário

___________________________________-
Notas:
 43 Cf. Unitatis redintegratio, n. 1; cf. J. PAULO II, Redemptoris missio, nn. 1,50: AAS 83 (1991) 249, 297.
44 Cf. J. PAULO II, Redemptoris missio, n. 34: AAS 83 (1991) 279-280.
45 Ad gentes, n. 15.
46 J. PAULO II, Ut unum sint, n. 14: AAS 87 (1995) 929.
47 Cf. ibidem, n. 28: AAS 87 (1995) 939.
48 Cf. Unitatis redintegratio, nn. 3, 5.
49 Originalmente o termo «proselitismo» nasce em âmbito hebraico, onde «prosélito» indicava aquele que, proveniente dos «gentios», passava a fazer parte do «povo eleito». Assim também no âmbito cristão, o termo proselitismo foi, muitas vezes, usado como sinónimo da actividade missionária. Recentemente, o termo tomou  uma conotação negativa como publicidade para a própria religião com meios e motivos contrários ao espírito do Evangelho e que não salvaguardam a liberdade e a dignidade da pessoa. Em tal sentido, o termo «proselitismo» é compreendido no contexto do movimento ecuménico: cf. The Joint Working Group between the Catholic Church and the World Council of Churches, “The Challenge of Proselytism and the Calling to Common Witness” (1995).
50 Cf. Unitatis redintegratio, n. 4.
51 Cf. Dignitatis humanae, n. 4.
52 Cf. BENTO XVI, Deus caritas est, n. 31 c: AAS 98 (2006) 245.
53 Cf. Dignitatis humanae, n. 11.
54 BENTO XVI, Homilia de 25-IV-2005, n. 4: AAS 97 (2005) 745.
55 BENTO XVI, Discurso de 11-III-2006: AAS 98 (2006) 334.
56 BENTO XVI, Deus caritas est, n. 18: AAS 98 (2006) 232.







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