25/03/2017

Fátima: Centenário - Oração jubilar de consagração


Salve, Mãe do Senhor,
Virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima!
Bendita entre todas as mulheres,
és a imagem da Igreja vestida da luz pascal,
és a honra do nosso povo,
és o triunfo sobre a marca do mal.

Profecia do Amor misericordioso do Pai,
Mestra do Anúncio da Boa-Nova do Filho,
Sinal do Fogo ardente do Espírito Santo,
ensina-nos, neste vale de alegrias e dores,
as verdades eternas que o Pai revela aos pequeninos.

Mostra-nos a força do teu manto protector.
No teu Imaculado Coração,
sê o refúgio dos pecadores
e o caminho que conduz até Deus.

Unido/a aos meus irmãos,
na Fé, na Esperança e no Amor,
a ti me entrego.
Unido/a aos meus irmãos, por ti, a Deus me consagro,
ó Virgem do Rosário de Fátima.

E, enfim, envolvido/a na Luz que das tuas mãos nos vem,
darei glória ao Senhor pelos séculos dos séculos.


Ámen.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Uma vez baptizados, somos todos iguais

Afirmas que vais compreendendo pouco a pouco o que quer dizer "alma sacerdotal"... Não te zangues se te respondo que os factos demonstram que o compreendes apenas em teoria. Todos os dias te acontece o mesmo: ao anoitecer, no exame, tudo são desejos e propósitos; de manhã e à tarde, no trabalho, tudo são dificuldades e desculpas. Assim vives o "sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo"? (Sulco, 499)

Na Igreja há igualdade: uma vez baptizados, somos todos iguais, porque somos filhos do mesmo Deus, Nosso Pai. Como cristãos, não há qualquer diferença entre o Papa e a última pessoa a incorporar-se na Igreja. Mas esta igualdade radical não implica a possibilidade de mudar a constituição da Igreja, naquilo que foi estabelecido por Cristo. Por expressa vontade divina temos uma diversidade de funções, que comporta também uma capacidade diversa, um carácter indelével conferido pelo Sacramento da Ordem para os ministros sagrados. No vértice dessa ordenação está o sucessor de Pedro e, com ele, e sob ele, todos os bispos: com a sua tríplice missão de santificar, de governar e de ensinar.

Permitam-me que insista repetidamente: as verdades de fé e de moral não se determinam por maioria de votos, porque compõem o depósito – depositum fidei – entregue por Cristo a todos os fiéis e confiado, na sua exposição e ensino autorizado, ao Magistério da Igreja.


Seria um erro pensar que, pelo facto de os homens já terem talvez adquirido mais consciência dos laços de solidariedade que mutuamente os unem, se deva modificar a constituição da Igreja, para a pôr de acordo com os tempos. Os tempos não são dos homens, quer sejam ou não eclesiásticos; os tempos são de Deus, que é o Senhor da história. E a Igreja só poderá proporcionar a salvação às almas, se permanecer fiel a Cristo na sua constituição, nos seus dogmas, na sua moral. (Amar a Igreja n 30–31)

Jesus Cristo e a Igreja – 151

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos


V. FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS DA DISCIPLINA DO CELIBATO

…/9

Fundamento histórico doutrinal

…/4

Esta interpretação feita pelos Pontífices da conhecida passagem da Escritura, que foi assumida pelos Concílios, diz que quem tivesse a necessidade de se casar novamente, demonstrava com isso que não era capaz de viver a continência exigida aos ministros sagrados e não podia, portanto, ser ordenado. Assim, essa norma da Escritura, em vez de uma prova contrária ao celibato, era uma demonstração a favor da continência celibatária e ainda uma exigência dos Apóstolos. Essa disposição se manteve viva no futuro. Na Glossa ordinária ao decreto de Graciano, isto é, no comentário comumente aceito dessa passagem (princípio da Dist. 26), explica que existem quatro razões para que um que foi casado duas vezes não poderia ser ordenado. Depois de assinalar três razões espirituais, a quarta, de carácter prático, diz que seria um sinal de incontinência que um homem passasse de uma mulher para outra. E o grande cheio de autoridade decretalista Hostiensis, o Cardeal decano Henrique de Susa, explica no seu comentário às decretais de Gregório IX (X, I, 21, 3 à palavra alienum), que a terceira razão das quatro dessa proibição foi “porque se deve temer (neste caso) a incontinência”.

(cont)


(revisão da versão portuguesa por ama)

Evangelho e comentário

Tempo da Quaresma

Anunciação do Senhor

Evangelho: Lc 1, 26-38

Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

Comentário:

Quem é esta «escrava do Senhor»?

Nada menos que a verdadeira Mãe de Deus!

À maior dignidade corresponde a maior humildade!

Como se pode entender tal coisa?

Temos de fazer um verdadeiro esforço para tentar compreender em toda a sua magnitude esta extraordinária verdade e, mesmo assim, ficaremos sempre muito longe.

É que a humildade da Santíssima Virgem não colide com a sua mag­nífica maternidade, bem ao contrário, quanto mais humilde mais pró­ximo de Deus e, portanto, à maior proximidade - que a maternidade implica - corresponderá a mais absoluta humildade.

Porque «achou graça diante de Deus» a humilde virgem foi elevada à mais alta posição de mulher!


(ama, comentário sobre Lc 1, 26-38, 08.12.2011)

Doutrina - 249

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»

CAPÍTULO TERCEIRO: A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS

NÓS CREMOS

30. Porque é que a fé é um acto pessoal e ao mesmo tempo eclesial?

A fé é um acto pessoal, enquanto resposta livre do homem a Deus que se revela. Mas é ao mesmo tempo um acto eclesial, que se exprime na confissão: «Nós cremos». De facto, é a Igreja que crê: deste modo, ela, com a graça do Espírito Santo, precede, gera e nutre a fé do indivíduo. Por isso a Igreja é Mãe e Mestra.

«Não pode ter a Deus por Pai quem não tem a Igreja por Mãe» [1]





[1] S. Cipriano

Eutanásia: o que está em causa? Contributos para um diálogo sereno e humanizador

Nota Pastoral do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, 14 de Março de 2016
  
3. De forma sintética, podemos dizer que subjacente à legalização da eutanásia e do suicídio assistido está a pretensão de redefinir tomadas de consciência éticas e jurídicas ancestrais relativas ao respeito e à sacralidade da vida humana. Pretende-se que o mandamento de que nunca é lícito matar uma pessoa humana inocente (“Não matarás”) seja substituído por um outro, que só torna ilícito o ato de matar quando o visado quer viver. Consequentemente, intenta-se que a norma segundo a qual a vida humana é sempre merecedora de protecção, porque um bem em si mesma e porque dotada de dignidade em qualquer circunstância, seja substituída por um outro critério, segundo o qual a dignidade e valor da vida humana podem variar e podem perder-se. Ora, na nossa concepção, isto é inaceitável.


(cont)

Epístolas de São Paulo – 25

1ª Epístola de São Paulo aos Coríntios

III. RESPOSTA A QUESTÕES CONCRETAS (7,1-11,1)

Capítulo 7

Matrimónio e celibato

1Mas a respeito do que me escrevestes, penso que seria bom para o homem abster-se da mulher. 2Todavia, para evitar o perigo da incontinência, cada homem tenha a sua mulher e cada mulher, o seu marido. 3O marido cumpra o dever conjugal para com a sua esposa, e a esposa faça o mesmo para com o seu marido. 4A esposa não pode dispor do próprio corpo, mas sim o marido; e, do mesmo modo, o marido não pode dispor do próprio corpo, mas sim a esposa. 5Não vos recuseis um ao outro, a não ser de mútuo acordo e por algum tempo, para vos dedicardes à oração; depois, voltai de novo um para o outro, para que Satanás não vos tente devido à vossa incapacidade de autodomínio. 6Digo isto como concessão e não como ordem. 7Desejaria que todos os homens fossem como eu, mas cada um recebe de Deus o seu próprio carisma, um de uma maneira, outro de outra.
8Aos solteiros e às viúvas digo que é bom para eles ficarem como eu. 9Mas, se não podem guardar continência, casem-se; pois é melhor casar-se do que ficar abrasado.
10Aos que já estão casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido; 11se, porém, está separada, não se case de novo, ou, então, reconcilie-se com o marido; e o marido não repudie a sua mulher.
12Aos outros, digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem uma esposa não crente e esta consente em habitar com ele, não a repudie. 13E, se alguma mulher tem um marido não crente e este consente em habitar com ela, não o repudie. 14Pois o marido não crente é santificado pela mulher, e a mulher não crente é santificada pelo marido; de outro modo, os vossos filhos seriam impuros, quando, na realidade, são santos. 15Mas se o não crente quiser separar-se, que se separe, porque, em tais circunstâncias, nem o irmão nem a irmã estão vinculados. Deus chamou-vos para viverdes em paz. 16Com efeito, ó mulher, sabes se podes salvar o teu marido? E tu, ó marido, sabes se podes salvar a tua mulher?

O cristão e a condição social

17De resto, continue cada um a viver na condição que o Senhor lhe atribuiu e em que se encontrava quando Deus o chamou. É o que recomendo em todas as igrejas. 18Alguém era já circuncidado, quando foi chamado? Não disfarce a sua circuncisão. Era incircunciso, quando foi chamado? Não se faça circuncidar. 19A circuncisão não é nada, e nada é a incircuncisão; o que conta é a observância dos mandamentos de Deus.
20Permaneça cada um na condição em que se encontrava, quando foi chamado. 21Eras escravo, quando foste chamado? Não te preocupes com isso. Mas, ainda que pudesses tornar-te livre, procura, antes, tirar proveito da tua condição. 22Pois o escravo, que foi chamado no Senhor, é um liberto do Senhor. Do mesmo modo, o que era livre quando foi chamado, é um escravo de Cristo. 23Fostes comprados por um alto preço; não vos torneis escravos dos homens. 24Irmãos, permaneça cada um, diante de Deus, na condição em que se encontrava quando foi chamado.

Matrimónio e virgindade

25A respeito de quem é solteiro, não tenho nenhum preceito do Senhor, mas dou um conselho, como homem que, pela misericórdia do Senhor, é digno de confiança. 26Julgo, pois, que essa condição é boa, por causa das angústias presentes; sim, é bom para o homem continuar assim.
27Estás comprometido com uma mulher? Não procures romper o vínculo. Não estás comprometido? Não procures mulher. 28Todavia, se te casares, não pecas; e se uma virgem se casar, também não peca. Mas estes terão de suportar as tribulações corporais e eu quisera poupar-vos a elas.
29Eis o que vos digo, irmãos: o tempo é breve. De agora em diante, os que têm mulher, vivam como se não a tivessem; 30e os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; 31os que usam deste mundo, como se não o usufruíssem plenamente. Porque este mundo de aparências está a terminar.
32Eu quisera que estivésseis livres de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor, como há-de agradar ao Senhor. 33Mas aquele que tem esposa cuida das coisas do mundo, como há-de agradar à mulher, 34e fica dividido. Também a mulher não casada, tal como a virgem, cuidam das coisas do Senhor, para serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo, como há-de agradar ao marido. 35Digo-vos isto para vosso bem, não para vos armar uma cilada, mas visando o que é mais nobre e favoreça uma dedicação ao Senhor, sem partilha.
36Se alguém, cheio de vitalidade, receia faltar ao respeito à sua noiva e pensa que as coisas devem seguir o seu curso, faça o que lhe parecer melhor. Não peca; que se casem. 37Mas, se alguém tomou a firme resolução no seu coração, sem constrangimento e no pleno uso da sua vontade, e resolve no seu foro íntimo respeitar a sua noiva, fará bem. 38Portanto, aquele que desposa a sua noiva faz bem; e quem a não desposa ainda faz melhor.
39A mulher permanece ligada ao seu marido enquanto ele viver. Se, porém, o marido vier a falecer, fica livre para se casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor. 40Todavia, na minha opinião, será mais feliz, se permanecer como está. Julgo que também eu tenho o Espírito de Deus.


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS


Vol. 2

LIVRO X

CAPÍTULO XXX

Doutrinas de Platão refutadas e corrigidas por Porfírio.

Se, depois de Platão, se considera indigno corrigir-lhe qualquer opinião, porque é que o mencionado Porfírio lhe emendou algumas — e não de pouca monta? É questão totalmente certa que Platão escreveu que, após a morte, as almas dos homens voltam para os corpos, mesmo dos animais. Também Plotino, mestre de Porfírio, sustenta a mesma opinião: mas Porfírio, e com razão, rejeitou-a. É certo que admitiu o regresso das almas humanas, mas aos corpos de homens, não dos que elas tinham abandonado, mas a corpos novos. Envergonhava-se com certeza de aceitar aquela opinião: não admitia que uma mãe, regressada talvez ao corpo de uma mula, servisse de montada a seu filho; mas não se envergonhava de admitir isto: que uma mãe tornada jovem poderia, porventura, casar com o filho. Quão mais decente não será acreditar no que nos ensinaram os santos e verídicos anjos, no que nos disseram não só os profetas, animados do Espí­rito de Deus, mas também Aquele que os seus enviados anunciaram como sendo o Salvador que havia de vir, e ainda os apóstolos, seus enviados, que encheram a orbe da Terra com o Evangelho: quão mais decente, repito, não será acreditar no regresso, uma só vez, de cada alma ao corpo que lhe é próprio, do que todos esses regressos a corpos diferentes. Todavia, como disse, Porfírio emendou grande parte esta opinião ao sustentar que as almas humanas não podem cair senão nos corpos humanos, suprindo sem a menor hesitação as prisões animais.

Diz ele ainda que Deus concedeu uma alma ao mundo para que, conhecendo os males provenientes da matéria ela regresse ao Pai e fique liberta para o futuro das máculas de semelhante contacto. Há nisto com certeza algo de errado (pois a alma foi antes conferida ao corpo para fazer o bem; realmente, ela não chegaria a conhecer o mal se o não praticasse); mas Profírio corrigiu essa opinião dos outros platónicos, e não em pormenor de pouca monta, ao reconhecer que, uma vez purificada de todos os males e estabelecida com o Pai, a alma já não sofreria mais os males deste mundo. Não há dúvida de que, desta maneira, arruinou a doutrina eminentemente platónica, de um círculo perpétuo da morte à vida e da vida à morte. Mostra ainda a falsidade do que, à maneira platónica, disse Vergílio: que as almas enviadas após a sua purificação aos Campos Elíseos (nome que, segundo a fábula, parece designar as alegrias dos bem-aventurados) são levadas ao rio Letes, isto é, ao esquecimento do passado

para que afastadas de toda a recordação, olhem de novo para a abóbada celeste e comecem a querer voltar aos corpos.[i]

Tem razão Porfírio em afastar esta doutrina; é realmente uma loucura acreditar que nessa vida — que só será totalmente feliz se estiver absolutamente certa da sua eternidade — as almas desejam a ignomínia de corpos corruptíveis e se voltam para eles como se a purificação suprema tivesse por efeito voltar ao gosto da impureza. Se, realmente, a purificação perfeita produz o esquecimento de todos os males e se este esquecimento desperta o desejo dos corpos, onde de novo se enredam em males, então será certo que a suma felicidade se torna causa de infelicidade, a perfeita sabedoria causa de estultícia, a suprema purificação causa de imundícia.

E não será com a verdade que a alma será feliz, (seja qual for o tempo em que ela feliz for), se, para ser feliz, tem que ser enganada. Realmente, ela não será feliz se não se sentir em segurança; mas para se sentir em segurança, ela terá de crer na sua felicidade eterna falsamente, pois um dia voltará a ser infeliz. Aquele que tem a felicidade como causa do seu regozijo, como pode regozijar-se com a verdade? Porfírio bem o viu e disse que a alma purificada volta ao Pai para não ser dominada nunca mais com o poluído contacto dos maus. Enganaram-se, pois, alguns platónicos ao acreditarem nesse círculo, a bem dizer fatal, em que cada um do mesmo se afasta para ao mesmo voltar. Ainda que isto fosse verdade, que interesse haveria em sabê-lo? A não ser que os platónicos tenham a ousadia de se considerarem superiores a nós, porque nós ignoramos, já nesta vida, o que eles, com toda a sua purificação e sabedoria, estavam destinados a ignorar na outra vida melhor, ao encontrarem a felicidade na falsidade. Se isto constitui o maior dos absurdos e a maior das loucuras, evidentemente que a opinião de Porfírio deverá preferir-se à dos que imaginaram estes círculos das almas em que alternam perpetuamente a beatitude e a miséria. Se isto é assim, eis que temos um platónico que discorda, para melhor, de Platão; eis um que viu o que este não viu. Tendo vindo depois de um tão grande mestre, não hesitou em corrigi-lo: ao homem preferiu a verdade.

CAPÍTULO XXXI

Contra o argumento dos platónicos de que a alma humana é coeterna com Deus.

Porque é então que, nestas questões que não podemos investigar com o engenho humano, não preferimos confiar na divindade que nos diz que a alma não é coeterna com Deus mas foi por Ele criada, pois não existia? Para recusarem um tal acto de fé os platónicos apresentam esta razão que julgam pertinente: se um ser não foi sempre no passado, não poderá no futuro existir para sempre. Embora ao escrever acerca do mundo e dos deuses criados no mundo por Deus, Platão afirme com toda a clareza que eles começaram a existir e tiveram um começo, diz, todavia, que fim é que não terão, mas, por vontade omnipotente do seu autor, permanecerão no ser eternamente. Mas o certo é que eles têm a sua maneira de compreender: não se trata de um começo de um tempo, mas de um começo de uma substituição. Dizem eles:

«Realmente, se um pé sempre se mantiver, desde toda a eternidade, sobre o pó, desde sempre estará debaixo dele a sua pegada (e ninguém duvida de que a pegada foi feita por quem pousou o pé, mas esta não terá existido antes do pé, muito embora tenha sido provocada por ele); pois, — dizem eles — também o mundo e os deuses no mundo sempre existiram, como sempre existiu quem os fez (e, todavia, foram feitos)». 
Então, se a alma existiu sempre, teremos que dizer que também a sua infelicidade existiu sempre? Mas se algo que não é eterno, começou a existir no tempo, porque será impossível que ela, sem ter existido antes, tenha começado a existir no tempo? Além disso a sua felicidade — está destinada também a fortalecer-se com a experiência dos males e a persistir sem fim — como ele (Porfírio) confessa, «não há dúvida de que começou a existir no tempo e sempre existirá sem antes ter existido. Assim se esboroa toda esta argumentação segundo a qual não poderia existir sem fim no tempo senão o que não teve começo no tempo. Não será o caso da felicidade da alma que, tendo princípio no tempo, não terá fim?

Ceda, pois, a fraqueza humana à autoridade divina! E, acerca da verdadeira religião, acreditemos nos seres bem-aventurados e imortais que não reclamam para si as honras só devidas, eles bem o sabem, ao seu e também nosso Deus; eles não nos ordenam que ofereçamos sacrifí­cios senão Àquele de quem nós, também com eles, como já tantas vezes disse e não será de mais repetir, devemos ser o sacrifício; e esse sacrifício devemos oferecê-lo por intermédio do sacerdote que, no homem assumido por Ele, no qual também Ele quis ser sacerdote, se dignou tornar-se sacrifício mesmo até à morte por nós.


(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Vergílio, Eneida,VI,.

Pequena agenda do cristão

SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?