Uma
recolecção no Opus Dei
Atrevo-me a escrever sobre este tema
porque - me apetece, que é uma razão poderosa – mas, também, porque sendo uma
“actividade”, ou melhor, um meio de formação espiritual muito característico da
OBRA[i],
merece mensalmente uma atenção especial e muito frequentada por os que, de
alguma forma, pensam que têm algo a beneficiar com ela.
Beneficiar no aspecto de crescimento
espiritual e de reflexão interior já que, os temas, normalmente, chamam a isso
mesmo: reflectir sobre o comportamento pessoal – humano e religioso – de cada
um.
Parece que estes meios de formação
se dirigem especialmente aos membros da Obra, mas de facto, vemos muitos
assistentes – regulares ou esporádicos – que não têm, por assim dizer, nenhum
“elo de ligação específica” com ela.
As pessoas – homens e mulheres em
ambientes diferentes - procuram uns momentos de reflexão interior – normalmente
conduzidos por um Sacerdote da Obra – que vão ao encontro de alguma preocupação
ou dúvida interior, ou apenas para “aferir” ou examinar a sua vida normal e
corrente nos aspectos que a cada um dizem respeito.
Não se trata de uma “pregação” ou
sequer o enunciado de um conjunto de regras ou comportamentos destinados a
resolver problemas específicos mas, antes, o discorrer sensato e calmo, apoiado
em experiências e conselhos dos mais variados autores espirituais além, - claro
está – da própria experiência pessoal do “pregador”, sempre um experiente
condutor de almas – que imprime o seu carisma pessoal no que diz e propõe.
As pessoas vão livremente participar
não propriamente para cumprir ma regra ou observar uma “norma”, mas porque
entendem que lhes faz bem, retiram ensinamentos preciosos, vêm com outros olhos
as realidades da vida corrente, e, sobretudo, encontram algum caminho – talvez
“escapatória” – para um problema que as preocupa no momento.
Uma recolecção é isso mesmo que a
palavra significa: momento de recolhimento para melhor reflectir sobre os
variadíssimos aspectos da vida corrente – e não só os espirituais – de cada um,
já que, no bulício trepidante da vida normal de todos os dias, o recolhimento
interior não é nem fácil nem, muitas vezes, possível.
Às vezes – muitas vezes – o
sacerdote parece estar a falar para mim directamente de tal forma o que diz, o
tema que aborda e explana, condiz com a minha situação pessoal. Tal tem-me
acontecido inúmeras vezes e nunca deixa de me espantar.
Lembro-me do episódio do homem com
uma mão atrofiada que estava no Templo e ouviu Jesus esta ordem imperiosa: «Tu, levanta-te e põe-te aí no meio»[ii]
e penso no que seria se o Sacerdote, de repente, me dissesse; António:
levanta-te e põe-te aí no meio.
Eu, como “exemplo em carne e osso”
da falta de humildade, ânsia de protagonismo e notoriedade, cheio de empáfia e
de sabedoria… punha-me de pé ou, antes, “enterrar-me-ia” na cadeira tentando
“fazer de conta” que o assunto não era comigo?
Evidentemente que nunca ninguém me
disse tal coisa ou fez semelhante ultimato mas, quantas vezes, meu Deus,
quantas vezes não pensei comigo mesmo que bem merecia que o fizessem.
Caio em mim e peço perdão,
revolvo-me por dentro e sinto-me envergonhado, sinto-me rasteiro, baixo,
insignificante.
Fez-me muito bem ir à recolecção!
AMA, reflexão, 27.01.2019
[i] Passaremos a chamar
OBRA ao OPUS DEI