11/01/2015

Bendita perseverança a do burrico

Se não for para construir uma obra muito grande, muito de Deus – a santidade –, não vale a pena entregar-se. Por isso, a Igreja, ao canonizar os Santos, proclama a heroicidade da sua vida. (Sulco, 611)

Se a vida não tivesse por fim dar glória a Deus, seria desprezível; mais ainda, detestável. (Caminho, 783)

Bendita perseverança a do burrico de nora! – Sempre ao mesmo passo. Sempre as mesmas voltas. – Um dia e outro; todos iguais.

Sem isso, não haveria maturidade nos frutos, nem louçania na horta, nem o jardim teria aromas.

Leva este pensamento à tua vida interior. (Caminho, 998)

Qual é o segredo da perseverança? O Amor. – Enamora-te. e não "O" deixarás. (Caminho, 999)

A entrega é o primeiro passo de uma corrida de sacrifício, de alegria, de amor, de união com Deus. E, assim, toda a vida se enche de uma bendita loucura, que faz encontrar felicidade onde a lógica humana não vê senão negação, padecimento, dor. (Sulco, 2)

– Qual é o fundamento da nossa fidelidade?

– Dir-te-ia, a traços largos, que se baseia no amor de Deus, que faz vencer todos os obstáculos: o egoísmo, a soberba, o cansaço, a impaciência...


Um homem que ama calca-se a si próprio; sabe que, até amando com toda a sua alma, ainda não sabe amar bastante. (Forja, 532)

Temas para meditar - 331


Unidade de vida



A dificuldade não está em não furtar os bens alheios; mas sim em não os desejar. É fácil em tribunal não levantar falso testemunho, mas difícil será em não mentir nas conversas. Com facilidade nos afastaremos da embriaguez, mas com maior dificuldade viveremos a sobriedade.


(são francisco de sales, Introdução à Vida devota, IV, 8)

Ev. diário L. Esp. (Amar a Igreja)

Epifania

Baptismo do Senhor

Evangelho: Mc 1 7-11

7 E pregava, dizendo: «Depois de mim vem Quem é mais forte do que eu, a Quem eu não sou digno de me inclinar para Lhe desatar as correias das sandálias. 8 Eu tenho-vos baptizado em água, Ele, porém, baptizar-vos-á no Espírito Santo». 9 Ora aconteceu naqueles dias que Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão. 10 No momento de sair da água, viu os céus abertos e o Espírito Santo que descia sobre Ele em forma de pomba; 11 e ouviu-se dos céus uma voz: «Tu és o Meu Filho amado, em Ti pus as Minhas complacências»

Comentário

Tiram-se duas ilacções deste acontecimento relatado por São Marcos:
A primeira é que Jesus Cristo quis expressamente confirmar a autoridade de João para baptizar;
A segunda porque com esta Sua decisão de Se deixar baptizar confirma e institui de forma clara e iniludível o Sacramento do Baptismo como absolutamente necessário para a salvação.

(ama, comentário sobre Mc 1, 7-11, 2014.112.09)


Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amar a Igreja 1 a 13

1                
Os textos da liturgia deste Domingo formam uma cadeia de invocações ao Senhor. Dizemos-Lhe que é o nosso apoio, a nossa rocha, a nossa defesa. A oração recolhe também esse motivo do intróito: Tu nunca privas da tua luz aqueles que se estabelecem na solidez do teu amor

No gradual, continuamos a recorrer a Ele: nos momento de angústia invoquei-Te, Senhor... Livra, ó Senhor, a minha alma dos lábios mentirosos e das línguas que enganam. Senhor, refugio-me em Ti. É comovente esta insistência de Deus, nosso Pai, empenhado em recordar-nos que devemos apelar para a sua Misericórdia a todo o momento, aconteça o que acontecer, e também agora, nestes tempos em que vozes confusas sulcam a Igreja; são tempos de extravio porque muitas almas não encontram bons pastores, outros Cristos, que as guiem para o amor do Senhor, mas, pelo contrário, ladrões e salteadores, que vêm para roubar, matar e destruir.

Não temamos. A Igreja, que é o Corpo de Cristo há-de ser indefectivelmente o caminho e o redil do Bom Pastor, o fundamento robusto e a via aberta para todos os homens. Acabamos de ler o Santo Evangelho: Vai até aos caminhos e os cercados e anima os que encontrares a quem venham, para que se encha a minha casa.

2                
Mas, o que é a Igreja? Onde está a Igreja? Muitos cristãos, aturdidos e desorientados, não recebem resposta segura a estas perguntas, e chegam talvez a pensar que os ensinamentos que o Magistério formulou através dos séculos - e que os bons Catecismos propunham com toda a precisão e simplicidade - foram superados e hão-de ser substituídos por outros novos. Uma série de factos e de dificuldades parece ter convergido, para ensombrar o rosto límpido da Igreja. Alguns afirmam: a Igreja está aqui, no empenho de acomodar-nos ao que chamam tempos modernos. Outros gritam: a Igreja não é mais do que a ânsia de solidariedade dos homens; devemos modificá-la de acordo com as circunstâncias actuais.

Enganam-se. A Igreja, hoje, é a mesma que Cristo fundou, e não pode ser outra. Os Apóstolos e os seus sucessores são vigários de Deus para o governo da Igreja, fundamentada na fé e nos Sacramentos da fé. E assim como não lhes é lícito estabelecer outra Igreja, não podem também transmitir outra nem instituir outros sacramentos, porque pelos Sacramentos que jorraram do peito de Cristo pendente da Cruz é que foi construída a Igreja. a Igreja há-de ser reconhecida por aquelas quatro notas indicadas na confissão de fé de um dos primeiros Concílios e que nós rezamos no Credo da Missa: Uma única Igreja, Santa, Católica e Apostólica. Essas são as propriedades essenciais da Igreja, que derivam da sua natureza, tal como Cristo a quis. E, por serem essenciais, são também notas, sinais que a distinguem de qualquer outro tipo de união humana, embora nelas se ouça também pronunciar o nome de Cristo.

Há pouco mais de um século, o Papa Pio IX resumiu brevemente este ensinamento tradicional: a verdadeira Igreja de Cristo constituiu-se e reconhece-se, por autoridade divina, pelas quatro notas que no Símbolo afirmamos deverem crer-se; e cada uma dessas notas, de tal modo está unida às restantes, que não pode ser separada das outras. Daí que aquela que verdadeiramente se chama Católica, deva juntamente brilhar pela prerrogativa da unidade, da santidade e da sucessão apostólica. É este, insisto, o ensinamento tradicional da Igreja, repetido novamente - embora nestes últimos anos alguns o esqueçam, levados por um falso ecumenismo - pelo Concílio Vaticano II: esta é a única Igreja de Cristo - que no Símbolo professamos Una, Santa, Católica e Apostólica - a que o nosso Salvador, depois da ressurreição, entregou a Pedro para que a apascentasse, encarregando-o a ele e aos outros Apóstolos de a difundirem e de a governarem e que erigiu para sempre como coluna e fundamento da verdade.

3                
A Igreja é Una

Que sejam um, assim como nós, clama Cristo a seu Pai; para que sejam todos um, como Tu, Pai, o és em Mim e eu em Ti, para que também eles sejam um em Nós. Brota constantemente dos lábios de Jesus Cristo esta exortação à unidade, porque todo o reino, dividido em facções contrárias, será desolado; e toda a cidade ou família, dividida em bandos, não subsistirá. Exortação que se converte em desejo veemente: Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; e importa que eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor

De que forma maravilhosa pregou Nosso Senhor esta doutrina! Multiplica as palavras e as imagens, para que a compreendamos e fique gravada na nossa alma a paixão da unidade. Eu sou a verdadeira vide e o meu Pai é o agricultor. Todo o sarmento que não dá fruto em Mim, ele corta-la-á; e todo o que der fruto, podá-la-á para que dê mais abundante fruto... Permanecei em Mim, que Eu permanecerei em vós. Como o sarmento não pode de si mesmo dar fruto, se não estiver unido à videira, assim também vós se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira e vós as varas. O que permanece em Mim e Eu nele dá muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer.

Não vedes como aqueles que se separam da Igreja, estando às vezes cheios de frondosidade não tardam em secar e como os seus frutos se transformam em vermineira viva? Amai a Santa Igreja, Apostólica, Romana, Una! Porque, como escreve São Cipriano: quem recolhe noutro lado, fora da Igreja, dissipa a Igreja de Cristo. E São João Crisóstomo insiste: não te separes da Igreja. Nada é mais forte do que a Igreja. A tua esperança é a Igreja; a tua salvação é a Igreja; o teu refúgio é a Igreja. É mais alta do que o céu e mais larga do que a terra. Nunca envelhece e o seu vigor é eterno.

Defender a unidade da Igreja traduz-se em viver muito unidos a Jesus Cristo, que é a nossa vide. Como? Aumentando a nossa fidelidade ao Magistério perene da Igreja: na verdade, não foi prometido o Espírito Santo aos sucessores de Pedro para que por sua revelação manifestassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, santamente custodiassem e fielmente exprimissem a revelação transmitida pelos Apóstolos ou depósitos da fé . Assim conservaremos a unidade, venerando esta Nossa Mãe sem mancha e amando o Romano Pontífice.

4                
Alguns afirmam que ficamos poucos na Igreja. Eu responder-lhes-ia que, se todos defendessem com lealdade a doutrina de Cristo, depressa cresceria consideravelmente o número, porque Deus quer que se encha a sua casa. Na Igreja descobrimos Cristo, que é o Amor dos nossos amores. E temos de desejar para todos esta vocação, este gozo íntimo que nos embriaga a alma, a doçura luminosa do Coração misericordioso de Jesus.

Devemos ser ecuménicos, ouve-se repetir. Pois sim. No entanto, temo que, por trás de algumas iniciativas auto-denominadas ecuménicas, se oculte uma fraude, pois são actividades que não conduzem ao amor de Cristo, à verdadeira vide. Por isso não dão fruto. Eu peço todos os dias ao Senhor que torne cada vez maior o meu coração, para que continue a tornar sobrenatural este amor que pôs na minha alma a todos os homens, sem distinção de raça, de povo, de condições culturais ou de fortuna. Estimo sinceramente a todos, católicos e não católicos, aos que crêem em alguma coisa e aos não crentes, que me dão tristeza. Mas Cristo fundou uma única Igreja, tem uma única Esposa.

A união dos cristãos? Sim. Mais ainda: a união de todos os que crêem em Deus. Mas só existe uma Igreja verdadeira. Não é preciso reconstruí-la com pedaços disperses por todo o mundo. E não necessita de passar por nenhum tipo de purificação para depois se encontrar finalmente limpa. A Esposa de Cristo não pode ser adúltera, porque é incorruptível e pura. Só uma casa conhece, guarda a inviolabilidade de um único tálamo com pudor casto. Ela conserva-nos para Deus, ela destina para o Reino os filhos que engendrou. Todo aquele que se separa da Igreja une-se a uma adúltera, afasta-se das promessas da Igreja: não conseguira as recompensas de Cristo quem abandona a Igreja de Cristo.

5                
A Igreja é Santa

Agora compreenderemos melhor como a unidade da Igreja leva à santidade, como um dos aspectos capitais da sua santidade é essa unidade centrada no mistério de Deus Uno e Trino: Há um só corpo e um só espírito, como também vós fostes chamados a uma só esperança pela vossa vocação. Há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, e governa todas as coisas e habita em todos nós.

Santidade rigorosamente não significa senão união com Deus. A uma maior intimidade com o Senhor corresponderá, portanto, maior santidade. A Igreja foi querida e fundada por Cristo, que cumpre assim a vontade do Pai; a Esposa do Filho está assistida pelo Espírito Santo. A Igreja é a obra da Santíssima Trindade; é Santa e Mãe, a Nossa Santa Mãe Igreja. Podemos admirar na Igreja uma perfeição a que chamaríamos original e outra final, escatológica. Às duas se refere São Paulo na Epistola aos Efésios: Cristo amou a sua Igreja, e por ela se entregou a si mesmo, para a santificar, purificando-a no baptismo da água pela palavra da vida, para apresentar a si mesmo esta Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e imaculada.

A santidade original e constitutiva da Igreja pode ficar velada - mas nunca destruída, porque é indefectível: as portas do inferno não prevalecerão contra ela -, pode ficar encoberta aos olhos humanos, dizia, em certos momentos de obscuridade pouco menos que colectiva. Mas S. Pedro aplica aos cristãos o título de gens sancta, povo santo. E, sendo membros dum povo santo, todos os fiéis receberam essa vocação para a santidade e hão-de esforçar-se por corresponder à graça e ser pessoalmente santos.

Ao longo de toda a história, e também na actualidade, tem havido tantos católicos que se santificaram efectivamente: jovens e velhos, solteiros e casados, sacerdotes e leigos, homens e mulheres. Mas acontece que a santidade pessoal de tantos fiéis - dantes e de agora - não é uma coisa aparatosa. É frequente que não a descubramos nas pessoas normais, correntes e santas, que trabalham e convivem no meio de nós. Para um olhar terreno o pecado e as faltas de fidelidade, ressaltam mais; chamam mais a atenção.

6                
Gens Sancta, povo santo, composto por criaturas com misérias. Esta aparente contradição marca um aspecto do mistério da Igreja. A Igreja, que é divina, é também humana, porque está formada por homens e os homens têm defeitos: omnes homines terra et Cinis, todos somos pó e cinza.

Nosso Senhor Jesus Cristo, que funda a Santa Igreja, espera que os membros deste povo se empenhem continuamente em adquirir a santidade. Nem todos respondem com lealdade à sua chamada. Por isso, na Esposa de Cristo pode encontrar-se, ao mesmo tempo, a maravilha do caminho de salvação e as misérias daqueles que o percorrem. O Divino Redentor dispôs que a comunidade por Ele fundada, fosse uma sociedade perfeita no seu género e dotada de todos os elementos jurídicos e sociais, para perpetuar neste mundo a obra da Redenção... Se na Igreja se descobre alguma coisa que manifeste a debilidade da nossa condição humana, não deve atribuir-se à sua constituição jurídica, mas antes à deplorável inclinação dos indivíduos para o mal; inclinação que o seu Divino Fundador permite mesmo nos mais altos membros do Corpo Místico, para que seja provada a virtude das ovelhas e dos pastores, e para que em todos aumentem os méritos da fé cristã.

Essa é a realidade da Igreja, agora e aqui. Por isso, é compatível a santidade da Esposa de Cristo com a existência de pessoas com defeitos no seu seio. Cristo não excluiu os pecadores da sociedade por Ele fundada. Se, portanto, alguns membros se encontram achacados com doenças espirituais, nem por isso deve diminuir o nosso amor à Igreja. Pelo contrário, há-de até aumentar a nossa compaixão pelos seus membros.

7                
Demonstraria pouca maturidade aquele que, na presença de defeitos e misérias que encontrasse em alguma pessoa pertencente à Igreja - por mais alto que estivesse colocada em virtude da sua função -, sentisse diminuir a sua fé na Igreja e em Cristo. A Igreja não é governada por Pedro, João ou Paulo; é governada pelo Espírito Santo e o Senhor prometeu que permanecerá a seu lado todos os dias, até à consumação dos séculos.

Escutai o que diz São Tomás, que tanto se debruçou sobre este ponto, a respeito da recepção dos Sacramentos, que são causa e sinal da graça santificante: o que se abeira dos Sacramentos, recebe-os certamente do ministro da Igreja, não enquanto é tal pessoa, mas enquanto ministro da Igreja. Por isso, enquanto a Igreja lhe permitir exercer o seu ministério., o que receber das suas mãos o Sacramento, não participa do pecado do ministro indigno, mas comunica com a Igreja, que o tem por ministro. Quando o Senhor permitir que a fraqueza humana apareça, a nossa reacção há-de ser a mesma que teríamos se víssemos a nossa mãe doente ou tratada com frieza. amá-la mais, ter para com ela mais manifestações externas e internas de carinho.

Se amamos a Igreja, nunca aparecerá em nós o interesse mórbido de pôr à mostra, como culpa da Mãe, as misérias de alguns dos seus filhos. A Igreja, Esposa de Cristo, não tem por que entoar nenhum mea culpa. Nós sim: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa! Este é o verdadeiro meaculpismo, o pessoal, e não o que ataca a Igreja, apontando e exagerando os defeitos humanos, que, na Mãe Santa, são uma consequência da acção n'Ela exercida pelos homens. Acção que, aliás, só vai até onde os homens podem, porque nunca chegarão a destruir - nem sequer a tocar - aquilo a que chamávamos a santidade original e constitutiva da Igreja.

Por isso, Deus Nosso Senhor comparou, com toda a propriedade, a Igreja à eira onde se amontoa a palha e o trigo, de que sairá o pão para a mesa e para o altar; comparou-a também a uma rede varredeira ex omni genere piscium congreganti, capaz de apanhar peixes bons e maus que depois serão separados.

8                
O mistério da santidade da Igreja - essa luz original, que pode ficar oculta pela sombra das baixezas humanas - exclui todo e qualquer pensamento de suspeita ou de dúvida sobre a beleza da nossa Mãe. Nem se pode tolerar, sem protesto, que outros a insultem. Não procuremos na Igreja os lados vulneráveis para a crítica, como alguns que não demonstram ter fé nem ter amor. Não posso conceber como é possível ter um carinho verdadeiro pela nossa mãe e falar dela com frieza.

A nossa Mãe é Santa, porque nasceu pura e continuará sem mácula por toda a eternidade.

Se, por vezes, não soubermos descobrir o seu rosto formoso, limpemos nós os olhos; se notamos que a sua voz não nos agrada, tiremos dos nossos ouvidos a dureza que nos impede de ouvir, no seu tom, os assobios do Pastor amoroso. A nossa Mãe é Santa, com a santidade de Cristo, à qual está unida no corpo - que somos todos nós - e no espírito, que é o Espírito Santo, assente também no coração de cada um de nós, se nos conservamos na graça de Deus.

Santa, Santa, Santa!, ousamos cantar à Igreja, evocando o hino em honra da Santíssima Trindade. Tu és Santa, Igreja, minha Mãe, porque foste fundada pelo Filho de Deus, Santo; és Santa, porque assim o dispôs o Pai, fonte de toda a santidade; és Santa, porque te assiste o Espírito Santo que mora na alma dos fiéis, a fim de reunir os filhos do Pai, que hão-de habitar na Igreja do Céu, a Jerusalém eterna.

9                
A Igreja é católica

Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e há um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo Homem, o qual se deu a si mesmo em resgate de todos e para testemunho no tempo oportuno. Jesus Cristo institui uma única Igreja, a sua Igreja; por isso, a Esposa de Cristo é Una e Católica: universal, para todos os homens.

Desde há séculos que a Igreja está estendida por todo o mundo, contando com pessoas de todas as raças e condições sociais. Mas a catolicidade da Igreja não depende da extensão geográfica, mesmo que isto seja um sinal visível e um motivo de credibilidade. A Igreja era Católica já no Pentecostes; nasce Católica no Coração chagado de Jesus, como um fogo que o Espírito Santo inflama.

No século II, os cristãos definiam como Católica a Igreja, para a distinguir das seitas que, utilizando o nome de Cristo, traíam nalgum ponto a sua doutrina. Chamamos-lhe Cató1ica, escreve São Cirilo, quer porque se encontra difundida por todo o orbe da Terra, dum confim ao outro, quer porque ensina de modo universal e sem defeito todos os dogmas que os homens devem conhecer, do visível e do invisível, do celestial e do terreno. Também porque submete ao recto culto todo o tipo de homens, governantes e cidadãos, doutos e ignorantes. E, finalmente, porque cura e sana todo o género de pecados, da alma, ou do corpo, possuindo além disso - seja qual for o nome com que se designe - todas as formas de virtude, em factos, em palavras e em toda a espécie de dons espirituais.

A catolicidade da Igreja não depende de que os não católicos a aclamem ou tenham consideração por Ela. Nem se relaciona com o facto de que, em assuntos não espirituais, as opiniões de algumas pessoas, dotadas de autoridade na Igreja, sejam consideradas - e às vezes instrumentalizadas - por meios de opinião pública de correntes afins ao seu pensamento. Acontecerá frequentemente que a parte de verdade que se defende em qualquer ideologia humana, encontre no ensino perene da Igreja algum eco ou algum fundamento; isto é, em certa medida, um sinal da divindade da Revelação que esse Magistério guarda. Mas a Esposa de Cristo é Católica mesmo quando for deliberadamente ignorada por muitos, e inclusivamente ultrajada e perseguida, como acontece hoje por desgraça em tantos sítios.

10             
A Igreja não é um partido político, nem uma ideologia social, nem uma organização mundial de concórdia ou de progresso material, mesmo reconhecendo a nobreza dessas e doutras actividades. A Igreja realizou sempre e continua a realizar um imenso trabalho em benefício dos necessitados, dos que sofrem e de todos aqueles que, de alguma maneira, padecem as consequências do único e verdadeiro mal, que é o pecado. E a todos - aos que são de qualquer forma indigentes e aos que julgam gozar da plenitude dos bens da terra - a Igreja vem confirmar uma única coisa essencial, definitiva: que o nosso destino é eterno e sobrenatural; que só em Jesus Cristo nos salvamos para sempre; e que só n'Ele alcançamos, já nesta vida, de algum modo, a paz e a felicidade verdadeiras.

Pedi agora comigo a Deus Nosso Senhor que nós, os católicos, nunca nos esqueçamos destas verdades e que nos decidamos a pô-las em prática. A Igreja Católica não precisa do "visto bom" dos homens, porque é obra de Deus.

Católicos nos mostraremos pelos frutos de santidade que dermos, visto que a santidade não admite fronteiras nem é património de nenhum particularismo humano. Católicos nos mostraremos se rezarmos, se continuamente procurarmos dirigir-nos a Deus, se nos esforçarmos, sempre e em tudo, por ser justos - no mais amplo alcance do termo justiça, não raramente utilizado nestes tempos com um matiz materialista e erróneo -, se amarmos e defendermos a liberdade pessoal dos outros homens.

Lembro-vos também outro sinal claro da catolicidade da Igreja: a fiei conservação e administração dos Sacramentos como foram instituídos por Jesus Cristo, sem tergiversações humanas nem más tentativas de os condicionar psicológica ou sociologicamente. Pois ninguém pode determinar o que está sob a potestade de outrem, a não ser aquilo que está em seu poder. E como a santificação do homem está sob a potestade de Deus santificante, não compete ao homem estabelecer, segundo o seu critério, quais as coisas que o hão-de santificar, mas isto há-de ser determinado por instituição divina. Essas tentativas de tirar a universalidade à essência dos Sacramentos, poderiam ter talvez uma justificação se se tratasse apenas de sinais, de símbolos, que actuassem por leis naturais de compreensão e entendimento. Mas, os Sacramentos da Nova Lei são ao mesmo tempo causas e sinais. Por isso comummente se ensina que causam o que significam. Daí que conservem perfeitamente a razão de Sacramento, enquanto se ordenam a algo sagrado, não só como sinal, mas também como causas.

11             
Esta Igreja Católica é romana. Eu saboreio esta palavra: romana! Sinto-me romano, porque romano quer dizer universal, católico; porque me leva a amar carinhosamente o Papa, il dolce Cristo in terra, como gostava de repetir Santa Catarina de Sena, a quem tenho como amiga amadíssima.

Desde este centro católico romano - sublinhou Paulo VI no discurso de encerramento do Concílio Vaticano II - ninguém é, em teoria, inalcançável; todos podem e devem ser alcançados. Para a Igreja Católica ninguém é estranho, ninguém está excluído, ninguém se considera afastado. Venero com todas as minhas forças a Roma de Pedro e de Paulo, banhada pelo sangue dos mártires, centro donde tantos saíram para propagar por todo o mundo a palavra salvadora de Cristo. Ser romano não implica nenhum particularismo, mas ecumenismo autêntico. Representa o desejo de dilatar o coração, de abri-lo a todos com as ânsias redentoras de Cristo, que a todos procura e a todos acolhe, porque a todos amou primeiro.

Santo Ambrósio escreveu umas breves palavras, que compõem uma espécie de cântico de alegria: onde está Pedro, aí está a Igreja, e onde está a Igreja não reina a morte, mas a vida eterna. Porque onde estão Pedro e a Igreja está Cristo, e Ele é a salvação, o único caminho.

12             
A Igreja é Apostólica

Nosso Senhor funda a sua Igreja sobre a debilidade - mas também sobre a fidelidade - de alguns homens, os Apóstolos, aos quais promete a assistência constante do Espírito Santo. Leiamos outra vez o texto conhecido, que é sempre novo e actual: Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei, e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.

A pregação do Evangelho não surge na Palestina pela iniciativa pessoal de umas tantas pessoas fervorosas. Que podiam fazer os Apóstolos? Não valiam absolutamente nada no seu tempo; não eram ricos, nem cultos, nem heróis do ponto de vista humano. Jesus lança sobre os ombros deste punhado de discípulos uma tarefa imensa, divina. Não fostes vós que me escolhesses, mas fui eu que vos escolhi a vós, e que vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.

Através de dois mil anos de história, conserva-se na Igreja a sucessão apostólica. Os bispos, declara o Concilio de Trento, sucederam no lugar dos Apóstolos e estão colocados, como diz o próprio Apóstolo (Paulo), pelo Espírito Santo para reger a Igreja de Deus (Act. XX, 28). E, entre os Apóstolos, o próprio Cristo tornou Simão objecto duma escolha especial: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Eu roguei por ti, também acrescenta, para que a tua fé não pereça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos.

Pedro muda-se para Roma e fixa ali a sede do primado, do Vigário de Cristo. Por isso, é em Roma onde melhor se adverte a sucessão apostólica, e por isso é chamada a Sé apostólica por excelência. Proclamou o Concilio Vaticano II, com palavras de um Concilio anterior, o de Florença, que todos os fiéis de Cristo devem crer que a Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice possuem o primado sobre todo o orbe, e que o próprio Romano Pontífice é sucessor do bem-aventurado Pedro, príncipe dos Apóstolos, verdadeiro vigário de Jesus Cristo, cabeça de toda a Igreja e pai e mestre de todos os cristãos. A ele foi entregue por Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa do bem-aventurado Pedro, plena potestade de apascentar, reger e governar a Igreja universal.

13             
A suprema potestade do Romano Pontífice e a sua infalibilidade, quando fala ex cathedra, não são uma invenção humana, pois baseiam-se na explícita vontade fundacional de Cristo. Que pouco sentido tem enfrentar o governo do Papa com o dos bispos, ou reduzir a validade do Magistério pontifício ao consentimento dos fiéis! Nada mais alheio à Igreja do que o equilíbrio de poderes; não nos servem esquemas humanos, por mais atractivos ou funcionais que sejam. Ninguém na Igreja goza por si mesmo de potestade absoluta, enquanto homem; na Igreja não há outro chefe além de Cristo; e Cristo quis constituir um Vigário seu - o Romano Pontífice - para a sua Esposa peregrina nesta terra.

A Igreja é Apostólica por constituição: a que verdadeiramente é e se chama Católica, deve ao mesmo tempo brilhar pela prerrogativa da unidade, santidade e sucessão apostólica. Assim, a Igreja é Una, com unidade esclarecida e perfeita de toda a terra e de todas as nações, com aquela unidade da qual é princípio, raiz e origem indefectível a suprema autoridade e mais excelente primazia do bem-aventurado Pedro, príncipe dos Apóstolos, e dos seus sucessores na cátedra romana. E não existe outra Igreja Católica, senão aquela que, edificada sobre o único Pedro, se levanta pela unidade da fé e pela caridade num único corpo conexo e compacto.

Contribuímos para tornar mais evidente essa apostolicidade aos olhos de todos, manifestando com requintada fidelidade a união com o Papa, que é união com Pedro. O amor ao Romano Pontífice há-de ser em nós uma formosa paixão, porque nele vemos a Cristo. Se tivermos intimidade com o Senhor na nossa oração, caminharemos com um olhar desanuviado que nos permitirá distinguir, mesmo nos acontecimentos que às vezes não compreendemos ou que nos causam pranto ou dor, a acção do Espírito Santo.

(cont)






Tratado do verbo encarnado 87

Art. 2 — Se a alma de Cristo tem a omnipotência para causar mudanças nas criaturas.

O segundo discute-se assim, - Parece que a alma de Cristo tem a omnipotência para causar mudanças nas criaturas.

1. — Pois, diz o próprio Cristo: Tem-se-me dado todo o poder no céu e na terra. Ora, os nomes de céu e de terra abrangem todas as criaturas, como se lê na Escritura: No princípio criou Deus o céu e a terra, Logo, parece que a alma de Cristo tem a onipotência para causar mudanças nas criaturas.

2. Demais. — A alma de Cristo é mais perfeita que a de qualquer outra criatura. Ora, qualquer criatura pode ser movida por outra. Assim, diz Agostinho: Como os corpos mais rudes e inferiores são governados pelos mais subtis e poderosos, numa certa ordem, também todos os corpos o são pelo espírito vital, e o espírito vital racional trânsfuga e pecador, pelo espírito vital racional pio e justo. Ora, a alma de Cristo move mesmo os próprios espíritos supremos, iluminando-os, como diz Dionísio. Logo, parece que a alma de Cristo tem a onipotência para causar mudanças nas criaturas.

3. Demais. — A alma de Cristo tinha, na sua plenitude, a graça dos milagres ou das virtudes, como tinha as demais graças. Ora, toda mudança, causada na criatura pode implicar a graça dos milagres. Assim, como prova Dionísio, os corpos celestes foram mudados na sua ordem, milagrosamente. Logo, a alma de Cristo tinha a onipotência para causar mudanças nas criaturas.

Mas, em contrário, a quem pertence causar mudanças nas criaturas também pertence conservá-las. Ora, isto só Deus o pode fazer, segundo o Apóstolo: Sustentando tudo com a palavra da sua virtude. Logo, só Deus tem a omnipotência para causar mudanças nas criaturas. E portanto tal não convém à alma de Cristo.

Temos necessidade de fazer, nesta matéria, uma dupla distinção. — A primeira relativa às transmutações das criaturas, e essa é tríplice. Uma é natural, resultante do próprio agente, na ordem da natureza. Outra, miraculosa, resultante de um agente sobrenatural, acima da ordem habitual e do censo da natureza, como a ressurreição dos mortos. A terceira resulta de poder toda a criatura ser convertida em nada. — Ora, devemos aplicar a segunda distinção à alma de Cristo, a qual pode ser considerada a dupla luz. Primeiro, quanto à sua natureza própria e à sua virtude, quer natural, quer gratuita. Segundo, enquanto instrumento do Verbo de Deus a ela pessoalmente unido.

Se, pois, consideramos a alma de Cristo na sua natureza própria e na sua virtude, quer natural, quer gratuita, ela tinha o poder de produzir aqueles efeitos próprios da alma, por exemplo, governar o corpo e dispor os actos humanos, e ainda o de iluminar pela plenitude da graça e da ciência todas as criaturas racionais, menos perfeitas que ela, ao modo conveniente à criatura racional. Se, porém, consideramos a alma de Cristo, enquanto instrumento do Verbo a ela pessoalmente unido, então, tinha uma virtude instrumental para fazer todas as transformações miraculosas, ordenáveis ao fim da Encarnação, que é, como diz o Apóstolo, restaurar em Cristo todas as coisas, assim as que há no céu como as que há na terra. Quanto às transformações das criaturas, enquanto redutíveis ao nada, elas correspondem à criação das coisas, isto é, enquanto produzidas do nada. Donde, assim como só Deus pode criar, assim, só ele pode reduzir as criaturas ao nada, e é também só ele quem as conserva no ser para não caírem no nada.

Donde devemos concluir que a alma de Cristo não tem a omnipotência relativamente às transformações das criaturas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz Jerónimo, o referido poder foi dado a quem pouco antes tinha sido crucificado, que foi sepultado no túmulo, que depois ressurgiu, isto é, a Cristo enquanto homem. E diz-se que todo o poder lhe foi dado, é em razão da união, que fez com que o homem fosse omnipotente, como dissemos. E embora os anjos tivessem tido conhecimento disso, antes da ressurreição, depois desta, contudo, é que todos os homens o souberam, como diz Remígio. Pois dissemos que as coisas são feitas quando o sabemos. Por isso, depois da ressurreição, o Senhor disse que todo poder lhe foi dado no céu e na terra.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora qualquer criatura possa ser mudada por outra, menos o anjo supremo, que contudo pode ser iluminado pela graça de Cristo, contudo, nem toda mudança que uma criatura pode sofrer pode ser causada por outra, mas, há algumas transmutações que só Deus pode fazer. Porém, quaisquer mudanças das criaturas, que podem ser causadas por outras, podem também ser feitas pela alma de Cristo, enquanto instrumento do Verbo. Não, contudo, pela sua natureza e virtude próprias, pois, algumas dessas mudanças não estão ao alcance da alma, nem na ordem natural nem na da graça.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos na Segunda Parte, a graça das virtudes ou dos milagres é dada à alma de um determinado santo, não como virtude própria dele, mas, por virtude, divina é que poderá operar tais milagres. Ora, essa graça excelentíssima foi dada à alma de Cristo de modo que não somente ele fizesse milagres, mas ainda que a transfundisse nos outros. Donde o dizer a Escritura: Convocados os seus doze discípulos deu-lhes Jesus poder sobre os espíritos imundos, para os expelirem e para curarem todas as doenças e todas as enfermidades.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão




DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé.

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?