05/06/2022

Publicações em Junho 5

 


 

Dentro do Evangelho –  (cfr: São Josemaria, Sulco 253)

(re Lc X, 25…)

 

Personagem – Jairo

Na sua viagem no mar da vida, Jairo, encontra-se com a tempestade. O drama da doença, da morte eminente da sua filha querida. É um personagem importante, mas perante a gravidade da situação sabe, no mais íntimo do seu coração que só com um milagre a sua filha poderá a saúde e alguém lhe terá dito que, Jesus, poderia fazer esse milagre. Talvez tenha ouvido falar dos milagres recentes que Ele fizera. Na sequência do Evangelho de São Mateus, Jesus tinha vindo de Gerasa e, decerto, os acontecimentos extraordinários, os dois mil porcos precipitados no mar como “preço”, da cura do endemoninhado, [i] teriam chegado ao seu conhecimento. Também poderá ter ouvido falar do filho da viúva de Naim, ressuscitado em pleno cortejo fúnebre. Vai, portanto, ter com Ele à praia, não espera que o chame, adianta-se e decide-se.  A situação é grave, a tormenta violentíssima. «Cai-lhe aos pés» [ii], diz expressamente o Evangelho. Uma atitude de enorme humildade, de profunda entrega. Cair aos pés de Jesus é “meio caminho andado” para alcançar a misericórdia que se implora. Que tem de mais ajoelhar-me? Não é Ele o Criador e Senhor de todas as coisas? Esta passagem tão linear deve fazer-me pensar na facilidade com que, por vezes, me aproximo de Jesus, por exemplo, em frente do Sacrário, onde Ele está presente em Corpo, Alma e Divindade como me comporto? Ajoelho reverentemente ou, se não o posso fazer, detenho-me sem pressas e faço uma vénia conveniente, sentida, própria de quem se sabe servo que cumprimenta o seu Senhor? E como O recebo na Sagrada Comunhão? Aproximamo-me com respeito, com profundo recolhimento interior? Se Ele Se me entrega em Corpo, Alma e Divindade para meu alimento, não será para mim bastante recebê-lo como alimento?  A comunhão deve ser um acto íntimo e respeitoso, feito com decoro e compenetração. Diria até, com cerimónia. Trata-se de Deus Nosso Senhor, Criador dos Céus e da Terra e de todas as coisas visíveis e invisíveis. O respeito, nunca demasiado, pelas coisas sagradas e, sobretudo, pela Sagrada Eucaristia, deve ser uma atitude permanente em mim e deveria esforçar-me para o fazer também sentir aos outros. Lembra-me de antigamente se comungar de joelhos, que é a atitude natural de recolhimento interior e respeito do homem para com Deus. Os tempos são outros, evidentemente, e a prática comum hoje em dia é comungar-se de pé. Ajoelhar-se diante de Jesus é uma atitude constante no Evangelho. Pouco antes deste relato sobre Jairo, São Marcos conta-nos o que aconteceu com um leproso: «Vem ter com Ele um leproso que, suplicando e lançando-se de joelhos Lhe diz: Se quiseres, podes limpar-me» [iii]. De facto, qualquer atitude corporal pode ser adequada para se falar com Deus. Perante o nosso progenitor também não costumamos tomar nenhuma atitude especial, claro está, dentro das normas do respeito que nos merece mas, na oração, que é o meu diálogo com Deus a minha postura deverá ser, além de amor filial, e preferencialmente, de recolhimento, de veneração de reconhecimento do meu “nada” perante o Criador de todas as coisas. A resposta de Jesus a esta postura de humildade e entrega confiante é sempre generosa, pronta, extraordinária. Ele comove-Se, enternece-Se, sente-Se movido a satisfazer o que peço.[iv] 

Jairo não sabe nada destas coisas, sabe apenas que, aquele Homem em frente do qual se prostra é a sua única esperança naquela grande aflição. Reconhece, assim, a Omnipotência de Jesus e, por causa deste reconhecimento que é já, em si mesmo, uma graça de Deus, toma a atitude de entrega, de submissão, de profundo respeito por Quem, sabe no íntimo do seu coração de pai amargurado, pode salvar a sua filha. Jesus tem de se deter junto daquele homem que se ajoelha aos Seus pés. A conversa interrompe-se, faz-se silêncio na multidão próxima, todos ficam expectantes do que se vai seguir. Jairo explica, certamente com um acento de ansiedade: «A minha filhinha está em agonia, Vem impor-Lhe as mãos, para que se salve e viva!» [v]  Jesus entende muito bem a mensagem. Nela, Jairo, diz tudo quanto quer, o que precisa, o que deseja do Mestre. Diz o que o traz ali, à Sua presença, a urgência que o impele, a gravidade da situação que o consome e, com total confiança, faz o pedido, simples, concreto, objectivo. É assim que devo rezar. Não me ficarmos por “generalidades”. Como as crianças, dizer exactamente o que desejo, pedir o que quereo, abrir a alma e o coração sem medos nem receios. Como as crianças – Pai, quero isto, quero aquilo , sem rodeios nem falsas razões. O Senhor sabe muito bem o que preciso e o que é melhor para mim e nunca deixará de me ouvir como desejamo ser ouvido; dar-me o que peçp depende da Sua Vontade e do bem que o que peço pode, ou não, ser para mim. Mas, Ele, sabe mais, sempre, fará o que é melhor para mim, por isso mesmo posso – e devo dizer: ‘Sei que farás sempre melhor que aquilo que Te peço. Aceito a Tua Vontade Santa sobre todas as coisas. Ámen.

Voltamos ao leproso. «Se quiseres podes limpar-me». [vi].   Que manifestação de fé, confiança absoluta no Senhor! Uma confissão tão simples, sem rodeios, sem muitas palavras não pode deixar de tocar no fundo do Coração amantíssimo de Jesus. Ele olha para aquele homem, um destroço humano de quem todos se afastam com repulsa e compadece-Se de tal forma que faz algo tão extraordinário, - que deve ter espantado tanto os circunstantes -, que o evangelista achou que o deveria fazer constar: «Ele, enternecido, estendeu a mão e tocou-o».[vii]  Jesus não sente repulsa por ninguém, por mais doente que o homem possa estar, por mais grave ou horroroso que seja o mal que o afecta. Pois se não há pior mal que o pecado, nem nada mais horrível, e, Ele, nos acolhe, esquece, perdoa! Jesus não me afasta nunca, sou eu que me afasto deLe. Há uma frase de Jesus que me deve tranquilizar a este respeito: «Em verdade vos digo que aos filhos dos homens serão perdoados todos os pecados e todas as blasfémias que proferirem». [viii] Que afirmação extraordinária, esta, de Jesus! Que entranhas de misericórdia! Quem, entre os homens, poderia alguma vez dizer tal coisa? Eu que, muitas vezes ando carregado com uma lista de agravos, desconsiderações, atropelos; que, penso, me são feitos; a minha dignidade ferida; a importância que me atribuí-o desprezada; as qualidades, que julgo possuir, ignoradas… não me lembrando, quase nunca, das vezes que fiz juízos, pensei o pior, avistei defeitos, erros, incongruências, coisas estranhas; os comentários, as lucubrações, insinuando, levantando a dúvida, a suspeita… vou, assim, pela vida, muitas vezes, com uma postura de personagem ferida sem repararmos que, a maior parte das vezes, o único ferimento que ostento está no meu orgulho. Jesus, não! Perdoa tudo, absolutamente, quando, arrependido e contrito, me ajoelho aos Seus pés e Lhe peço perdão. Mas não só perdoa, o que já seria muito, esquece e coloca-me novamente ao pé de Si como se nunca dali tivesse saído.   Como o pai do filho pródigo, restitui-me a posição, a dignidade e a liberdade: o anel no dedo, o melhor vestido, as sandálias nos pés. E eu, pecador miserável, vou e venho, uma e outra vez, quase sempre pelos mesmos motivos, com as mesmas faltas, numa repetição de erros, abandonos, fraquezas e, Ele, sempre à minha espera e mal me avista ao longe «corre ao nosso encontro a lançar-se ao nosso pescoço e a beijar-nos». [ix] Eu, na hora de perdoar, guardo, quase sempre, uma pequena “reserva” que, mais tarde, a propósito e a despropósito, talvez lembre. Claro, Jesus, é Deus e, eu sou humano, mas, não obstante, Ele quer que O imitem em tudo, mas, sobretudo, no perdão. Por isso fez constar na oração que ensinou, de uma forma muito clara, essa necessidade de perdoar para ser perdoado. Se Deus fizesse exactamente o que Lhe pedço e me perdoasse só na medida em que perdoo os outros – tal como rezo no Pai-nosso – que desgraçado seria. Felizmente, que o Senhor sabe muito bem de que “massa sou feito” e, na Sua Infinita Misericórdia concede-me um “desconto” precioso no meu compromisso. Tão difícil perdoar! Tão difícil não julgar!

Senhor, ajuda-me a conter-me no meu tão frequente julgamento dos outros. Intimamente e de viva voz. Põe na minha frente o espelho dos meus próprios defeitos e faltas de carácter, tudo aquilo que julgo ver nos outros. Não valho nada, não sei nada, não tenho nada, não sou nada»

 Ao ver a Seus pés aquele pai angustiado, com certeza que Jesus Se debruçou a levantá-lo do solo. Jairo é tão claro e determinado, mostra tanta confiança e fé que Jesus foi «com ele». Cristo não precisa de grandes discursos, de interpelações grandiloquentes para que a Sua misericórdia se manifeste. Deseja tão só que Lhe peça o que quero. Ele já decidirá se o nosso pedido é justo e nos convém que seja atendido. Orar, no fim e ao cabo, é a forma que tenho de me relacionar com o Senhor e, orar é… é falar com Deus.

Ele sabe muito bem quem eu sou e o que sou, conhece-me intimamente e, por isso mesmo, não se importa que me considere indigno, como de facto sou, e de, não obstante, me dirigir a Ele com familiaridade. Quer, deseja, que seja Seu amigo e, os amigos, não têm “cerimónias” uns com os outros.

 

São José

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[i] Cfr. Lc 8, 26-39.

[ii] Mc 5, 22.

[iii] Mc 1, 40.

 

[v] Mc 5, 23.

[vi] Mc 4, 5-40.

[vii] Mc 1, 41.

[viii] Mc 3, 28-29.

[ix] Cfr. Lc 15, 20-22.