21/12/2014

Implora a misericórdia divina

Realmente, a cada um de nós, como a Lázaro, foi um "veni foras", sai para fora, que nos pôs em movimento. Que pena dão aqueles que ainda estão mortos, e não conhecem o poder da misericórdia de Deus! Renova a tua alegria santa porque, face ao homem que se desintegra sem Cristo, se levanta o homem que ressuscitou com Ele. (Forja, 476)

É bom que tenhamos considerado as insídias destes inimigos da alma: a desordem da sensualidade e a leviandade; o desatino da razão que se opõe ao Senhor; a presunção altaneira, esterilizadora do amor a Deus e às criaturas.

Todas estas disposições de ânimo são obstáculos certos e o seu poder perturbador é grande. Por isso a liturgia faz-nos implorar a misericórdia divina: a ti elevo a minha alma, Senhor, meu Deus. E em ti confio; não seja eu confundido! Não riam de mim os meus inimigos, rezamos no intróito. E na antífona do ofertório iremos repetir: espero em ti,; que eu não seja confundido!

Agora que se aproxima o tempo da salvação, dá gosto ouvir dos lábios de S. Paulo: depois de Deus, Nosso Salvador, ter manifestado a sua benignidade e o seu amor para com os homens, libertou-nos, não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia.

Se lerdes as Santas Escrituras, descobrireis constantemente a presença da misericórdia de Deus: enche a terra, estende-se a todos os seus filhos, super omnem carnem; cerca-nos, antecede-nos, multiplica-se para nos ajudar e foi continuamente confirmada. Deus tem-nos presente na sua misericórdia, ao ocupar-se de nós como Pai amoroso. É uma misericórdia suave, agradável, como a nuvem que se desfaz em chuva no tempo da seca.


Jesus Cristo resume e compendia toda a história da misericórdia divina: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. E, noutra ocasião: Sede pois misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso. (Cristo que passa, 7)

Ev. Coment. L. esp. (Amigos de Deus)

Advento IV Semana

São Pedro Canísio – Doutor da Igreja

Evangelho: Lc 1 26-38

26 Estando Isabel no sexto mês, foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de David; o nome da virgem era Maria. 28 Entrando o anjo onde ela estava, disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça; o Senhor é contigo». 29 Ela, ao ouvir estas palavras, perturbou-se e discorria pensativa que saudação seria esta. 30 O anjo disse-lhe: «Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; 31 eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a Quem porás o nome de Jesus. 32 Será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus Lhe dará o trono de Seu pai David; 33 reinará sobre a casa de Jacob eternamente e o Seu reino não terá fim». 34 Maria disse ao anjo: «Como se fará isso, pois eu não conheço homem?». 35 O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso mesmo o Santo que há-de nascer de ti será chamado Filho de Deus. 36 Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se dizia estéril; 37 porque a Deus nada é impossível». 38 Então Maria disse: «Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo afastou-se dela.

Comentário:

Este acontecimento da história da humanidade é de tal forma importante que a Liturgia repete a sua descrição dois dias seguidos como que para lembrar aos cristãos a suma necessidade de conhecerem bem os pormenores dos factos que estiveram na origem da vinda à terra da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

E, evidentemente, neste relato, avulta como não poderia deixar de ser, a figura extraordinária da primeiríssima protagonista desse mesmo acontecimento: A Santíssima Virgem.

É-nos difícil avaliar todo o profundo significado do que se passou na Anunciação já que ultrapassa a nossa simples compreensão humana que Deus Nosso Senhor, o Criador de todas as coisas tenha escolhido uma simples mulher para Sua Mãe!
Sabemos que a adornou de todas as virtudes, que a isentou do pecado original sendo por isso, a mais pura das criaturas humanas alguma vez nascida.

Aceita humildemente a insigne missão mesmo sabendo que não passa de uma criatura ou, talvez por isso mesmo, considerando-se escrava do Senhor faz o seu papel de escrava que é aceitar e levar a cabo quanto o seu senhor lhe solicita e ordena.

(ama, comentário sobre Lc 1 26-38, 2014.11.19)

Leitura espiritual



São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 130 a 145

130         
Recordo agora - certamente algum de vós me terá ouvido já este mesmo comentário noutras meditações - aquele sonho de um escritor do século de ouro castelhano. Diante dele abrem-se dois caminhos. Um apresenta-se amplo e fácil de percorrer, pródigo em estalagens e tabernas e outros lugares amenos e agradáveis. Por ali avançam as pessoas a cavalo ou em carroças, entre música e risos - gargalhadas loucas-; contempla-se uma multidão embriagada num deleite aparente, efémero, porque esse caminho acaba num precipício sem fundo. É o caminho dos mundanos, dos eternos aburguesados: ostentam uma alegria que, na realidade, não têm; procuram insaciavelmente toda a espécie de comodidades e prazeres...; horroriza-os a dor, a renúncia, o sacrifício. Não querem saber nada da Cruz de Cristo, pensam que é coisa de loucos. Mas são eles os dementes: escravos da inveja, da gula, da sensualidade, acabam por passar pior e apercebem-se tarde de que desperdiçaram, por uma bagatela insípida, a sua felicidade terrena e eterna. É o Senhor a advertir-nos: Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim encontrá-la-á. Porque, de que serve ao homem ganhar todo o mundo, se perde a sua alma?

Em direcção diferente segue, nesse sonho, outro caminho: tão estreito e íngreme, que não é possível percorrê-lo a cavalo. Todos os que seguem por ele, andam pelo seu próprio pé, talvez em ziguezague, com rosto sereno, pisando abrolhos e saltando pedregulhos. Em determinados pontos do caminho deixam farrapos dos seus vestidos e mesmo da sua carne. Mas no fim espera-os um jardim, a felicidade para sempre, o Céu. É o caminho das almas santas que se humilham, que por amor a Jesus Cristo se sacrificam com gosto pelos outros; o caminho dos que não temem subir carregando amorosamente com a sua cruz, por muito que pese, porque sabem que, se o peso os fizer cair, poderão levantar--se e continuar a subida: Cristo é a força destes caminhantes.

131         
Que importa tropeçar, se na dor da queda encontramos a energia que nos levanta de novo e nos impulsiona a prosseguir com renovado alento? Não esqueçais que santo não é o que não cai, mas o que se levanta sempre, com humildade e com santa persistência. Se no livro dos Provérbios se comenta que o justo cai sete vezes ao dia, tu e eu - pobres criaturas - não nos devemos estranhar nem desalentar perante as misérias pessoais, perante os nossos tropeços, porque continuaremos em frente, se procurarmos a fortaleza n'Aquele que nos prometeu: Vinde a mim todos os que andais cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei. Obrigado, Senhor, quia tu es, Deus, fortitudo mea, porque foste sempre Tu, e só Tu, meu Deus, a minha fortaleza, o meu refúgio, o meu apoio.

Se verdadeiramente desejas progredir na vida interior, sê humilde. Recorre constantemente, confiadamente, à ajuda do Senhor e de sua Mãe bendita, que é também a tua Mãe. Com serenidade, tranquilo, por muito que te doa a ferida ainda não sarada da tua última queda, abraça de novo a cruz e diz: Senhor, com o teu auxílio lutarei para não parar, responderei fielmente aos teus convites, sem temer as encostas íngremes, nem a aparente monotonia do trabalho habitual, nem os cardos e pedras do caminho. Sei que a tua misericórdia me assiste e que, no fim, acharei a felicidade eterna, a alegria e o amor pelos séculos em fim.

Depois, durante o mesmo sonho, aquele escritor descobria um terceiro itinerário: estreito, também semeado de asperezas e encostas duras como o segundo. Por ali avançavam alguns no meio de mil dificuldades com gesto solene e majestoso. Contudo, acabavam no mesmo precipício horrível a que levava o primeiro caminho. É o caminho que percorrem os hipócritas, os que não têm rectidão de intenção, os que se movem por um falso zelo, os que pervertem as obras divinas ao misturá-las com egoísmos temporais. É uma loucura lançar-se num empreendimento custoso com o fim de ser admirado; guardar os Mandamentos de Deus à custa de um árduo esforço, mas aspirar a uma recompensa terrena. Aquele que com o exercício das virtudes pretende benefícios humanos é como o que faz um mau negócio, vendendo um objecto precioso por poucas moedas: podia conquistar o Céu e, em contrapartida, contenta-se com um louvor efémero... Por isso se diz que as esperanças dos hipócritas são como a teia de aranha: tanto esforço para tecê-la e, no fim, o vento da morte leva-a com um sopro.

132         
Com os olhos postos na meta

Se vos recordo estas verdades fortes, é para vos convidar a examinar atentamente os motivos que impulsionam a vossa conduta, com o fim de rectificardes o que necessite de rectificação, dirigindo tudo ao serviço de Deus e dos vossos irmãos, os homens. Reparai que o Senhor passou ao nosso lado, olhou-nos com carinho e chamou--nos com a sua vocação santa, não pelas nossas obras mas pelo seu beneplácito e com a graça que nos foi dada em Jesus Cristo antes de todos os séculos.

Purificai a intenção, ocupai-vos de todas as coisas por amor a Deus, abraçando com alegria a cruz de cada dia. Porque penso que estas ideias devem estar esculpidas no coração dos cristãos, tenho repetido milhares de vezes o seguinte: quando não nos limitamos a tolerar e, pelo contrário, amamos a contradição, a dor física ou moral e a oferecemos a Deus em desagravo dos nossos pecados pessoais e dos pecados de todos os homens, asseguro-vos que, então, essa pena não esmaga.

Já não se leva uma cruz qualquer, descobre-se a Cruz de Cristo, com o consolo de que o Redentor se encarrega de suportar o peso. Nós colaboramos como Simão de Cirene que, quando regressava do trabalho na sua granja, pensando num repouso merecido, se viu forçado a tomar a cruz sobre os seus ombros para ajudar Jesus. Ser voluntariamente Cireneu de Cristo, acompanhar tão de perto a sua Humanidade sofredora, reduzida a um farrapo, para uma alma enamorada não significa infelicidade, antes traz a certeza da proximidade de Deus, que nos abençoa com essa escolha.

Com muita frequência, não poucas pessoas me comentavam com assombro a alegria que, graças a Deus, têm e contagiam os meus filhos no Opus Dei. Perante a evidência desta realidade, respondo sempre com a mesma explicação, porque não conheço outra: o fundamento da sua felicidade consiste em não terem medo nem da vida nem da morte, em não se assustarem perante a tribulação, no esforço diário por viverem com espírito de sacrifício, constantemente dispostos - apesar das misérias e debilidades pessoais - a negarem-se a si mesmos, para tornarem o caminho cristão mais fácil e agradável aos outros.

133         
Como o bater do coração

Enquanto falo, sei que vós, na presença de Deus, procurais ir revendo o vosso comportamento. Não é verdade que a maioria dessas preocupações que têm inquietado a tua alma, dessas faltas de paz, deriva de não teres correspondido aos convites divinos ou talvez de estares a percorrer o caminho dos hipócritas, porque te procuravas a ti próprio? Com o triste desejo de manter perante os que te rodeiam a mera aparência de uma atitude cristã, no teu interior negavas-te a aceitar a renúncia, a mortificar as tuas paixões tortuosas, a dares-te sem condições, abnegadamente, como Jesus Cristo.

Reparai, nestes momentos de meditação perante o sacrário, não vos podeis limitar a ouvir as palavras que o sacerdote pronuncia como que materializando a oração íntima de cada um. Apresento-te umas considerações, indico-te uns pontos, para que os recebas activamente e reflictas por tua conta, convertendo-os em tema de um colóquio pessoalíssimo e silencioso entre ti e Deus, de maneira que os apliques à tua situação actual e, com as luzes que o Senhor te der, distingas na tua conduta o que vai direito do que vai por mau caminho, a fim de rectificares com a sua graça.

Agradece ao Senhor esse cúmulo de boas obras que realizaste, desinteressadamente, porque podes cantar com o salmista: Ele tirou-me do abismo de miséria e do lodo profundo. E firmou os meus pés sobre a rocha e dirigiu os meus passos. Pede-lhe também perdão pelas tuas omissões ou pelos teus passos em falso, quando te meteste nesse lamentável labirinto da hipocrisia, ao afirmar que desejavas a glória de Deus e o bem do teu próximo, mas na verdade só procuravas honras para ti mesmo... Sê audaz, sê generoso e diz que não, que já não queres defraudar mais o Senhor e a humanidade.

134         
É a hora de recorreres à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha nos seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que custe, esse pormenor que estorva e que é bem conhecido de Deus e de ti. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para te sussurrarem: isso? Mas se se trata de uma circunstância tonta, insignificante! Tu responde, sem dialogar mais com a tentação: entregar-me-ei também nessa exigência divina! E não te faltará razão: o amor demonstra-se especialmente em coisas pequenas. Normalmente, os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão contínuos e valiosos como o bater do coração.

Quantas mães conheceste como protagonistas de um acto heróico, extraordinário? Poucas, muito poucas. E contudo, mães heróicas, verdadeiramente heróicas, que não aparecem como figuras de nada espectacular, que nunca serão notícia - como se diz - tu e eu conhecemos muitas: vivem sacrificando-se a toda a hora, renunciando com alegria aos seus gostos e passatempos pessoais, ao seu tempo, às suas possibilidades de afirmação ou de êxito, para encher de felicidade os dias dos seus filhos.

135         
Tomemos outros exemplos, também da vida corrente. S. Paulo menciona-os: todos os que combatem na arena de tudo se abstêm, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém esperamos uma incorruptível. Basta deitar um olhar à nossa volta. Reparai a quantos sacrifícios se submetem de boa ou má vontade, eles e elas, para cuidar do corpo, para defender a saúde, para conseguir a estima alheia... Não seremos nós capazes de nos comover perante esse imenso amor de Deus, tão mal correspondido pela humanidade, mortificando o que tiver de ser mortificado, para que a nossa mente e o nosso coração vivam mais pendentes do Senhor?

Alterou-se de tal forma o sentido cristão em muitas consciências que, ao falar de mortificação e de penitência, se pensa apenas nesses grandes jejuns e cilícios que se mencionam nos admiráveis relatos de algumas biografias de santos. Ao iniciar esta meditação, aceitámos a premissa evidente de que temos de imitar Jesus Cristo, como modelo de conduta. É certo que Ele preparou o começo da sua pregação retirando-se para o deserto, a fim de jejuar durante quarenta dias e quarenta noites, mas antes e depois praticou a virtude da temperança com tanta naturalidade, que os seus inimigos aproveitaram para rotulá-lo caluniosamente de glutão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores.

136         
Interessa-me que descubrais em toda a sua profundidade esta simplicidade do Mestre, que não faz alarde da sua vida penitente, porque isso mesmo te pede Ele a ti: quando jejuais, não vos mostreis tristes como os hipócritas, que desfiguram os seus rostos para mostrar aos homens que jejuam. Na verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando jejuas, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, a fim de que não pareça aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está presente ao que há de mais secreto, e teu Pai, que vê no secreto, te dará a recompensa.

Assim te deves exercitar no espírito de penitência: na presença de Deus e como um filho, como o pequenito que demonstra a seu pai quanto o ama, renunciando aos seus poucos tesouros de escasso valor - um carro de linhas, um soldado sem cabeça, uma carica; custa-lhe dar esse passo, mas no fim o carinho pode mais e estende satisfeito a mão.

137         
Permiti-me que vos repita uma e outra vez o caminho que Deus espera que cada um percorra, quando nos chama para o servir no meio do mundo, para santificar e nos santificarmos através das ocupações normais. Com um sentido comum colossal, ao mesmo tempo cheio de fé, pregava S. Paulo que na lei de Moisés está escrito: não atarás a boca ao boi que debulha o grão.

E pergunta-se: Porventura preocupar-se-á Deus com os bois? Ou, pelo contrário, dirá isto sobretudo por nós? Sim, com certeza que se escreveram estas coisas por nós; porque a esperança faz lavrar o que lavra, e o que debulha fá-lo com esperança de participar dos frutos.

Nunca se reduziu a vida cristã a uma trama angustiante de obrigações, que deixa a alma submetida a uma desesperada tensão; a vida cristã adapta-se às circunstâncias individuais como a luva à mão e pede que no exercício das nossas tarefas habituais, nas grandes e nas pequenas, na oração e na mortificação, não percamos nunca o ponto de vista sobrenatural. Pensai que Deus ama apaixonadamente as suas criaturas, e como trabalhará o burro se não se lhe dá de comer nem dispõe de tempo para restaurar as forças ou se se quebranta o seu vigor com excessivas pauladas? O teu corpo é como um burrico - um burrico foi o trono de Deus em Jerusalém - que te carrega pelos caminhos divinos da terra: é necessário dominá-lo para que não se afaste dos caminhos de Deus e animá-lo para que o seu trote seja o mais alegre e brioso que se pode esperar de um jumento.

(cont)





Temas para meditar - 131


Filiação divina


O início da 'vida nova' realiza-se mediante 'o dom da filiação divina' ganho para todos por Cristo com a Redenção, e estendida a todos por obra do Espírito Santo que, na graça, refaz e quase 'recria' o homem à semelhança do Filho Unigénito do Pai. Desta maneira o Verbo Encarnado renova e consolida o 'dar-se' de Deus, oferecendo ao homem mediante a obra redentora aquela 'participação na natureza divina' e à qual se refere a segunda carta de Pedro (2 Ped. 1, 4); e também S. Paulo, na Carta aos Romanos, fala de Jesus Cristo como Aquele que foi "constituído Filho de Deus em todo o Seu poder, segundo o espírito de santidade, pela Sua Ressurreição dos mortos" (Rom 1, 4).
O fruto da Ressurreição, que realiza a plenitude do poder de Cristo Filho de Deus, é portanto participado àqueles que se abrem à acção do Seu Espírito como novo dom de filiação divina. S. João, no prólogo do seu Evangelho, depois de ter falado da palavra que se fez carne, diz que «a quantos O receberam deu-Lhes poder de se tornarem filhos de Deus, a eles que creem no Seu nome» (Jo 1, 12)
Os dois Apóstolos, João e Paulo, fixam o conceito da filiação divina como dom da vida ao homem, por obra de Cristo, mediante o Espírito Santo.

(São joão paulo ii Audiência geral 1989.07.26)

Tratado do verbo encarnado 66

Questão 8: Da graça de Cristo, enquanto Ele é a cabeça da Igreja

Art. 7 — Se o diabo é a cabeça dos maus.

O sétimo discute-se assim. — Parece que o diabo não é a cabeça dos maus.

1. — Pois, a ideia de cabeça implica a sua influência da sensibilidade e do movimento nos membros, como diz uma Glosa sobre o dito do Apóstolo: Deu-o como cabeça, etc. Ora, o diabo não tem o poder de influenciar a malícia do pecado, que procede da vontade do pecador. Logo, o diabo não pode ser chamado cabeça dos maus.

2. Demais — Qualquer pecado torna o homem mau. Ora, nem todos os pecados vêm do diabo. O que é manifestado pelos pecados dos demónios, que não pecaram por persuasão de outrem. Nem, semelhantemente, todo pecado dos homens procede do diabo, como diz um autor: Nem todos os nossos maus pensamentos são provocados por excitação do diabo, pois, às vezes, nascem do movimento do nosso arbítrio. Logo, o diabo não é a cabeça de todos os maus.

3. Demais. — Uma cabeça dirige um corpo. Ora, parece que toda a multidão dos maus não se unem por nenhum laço, pois, o mal é contrário ao mal, como diz Aristóteles, e também procede de defeitos diversos na expressão de Dionísio. Logo, o diabo não pode ser chamado cabeça de todos os males.

Mas, em contrário, aquilo de Job — A sua memória perecerá da terra. diz a Glosa: De todo homem iníquo se diz que volte para seu chefe, isto é, o diabo.

Como dissemos, a cabeça não só influi interiormente nos membros, mas também governa exteriormente, dirigindo-lhe os actos para um determinado fim. Donde, quem é considerado chefe de uma multidão é-o da maneira seguinte: ou de ambos os modos, isto é, pelo influxo interior e pelo governo exterior e nesse sentido Cristo é a cabeça da Igreja, como dissemos, ou pelo governo exterior, e então qualquer príncipe ou prelado é cabeça da multidão que lhe está subordinada. E, neste sentido se diz que o diabo é o chefe de todos os maus. Pois, como refere a Escritura, ele é o rei de todos os filhos da soberba. Mas, o papel do governador é conduzir aos seus fins aqueles que governa. Ora, o fim do diabo é afastar a criatura racional, de Deus, por isso tentou, desde o princípio, afastar o homem da obediência ao preceito divino. Ora, o próprio afastamento de Deus exerce a função de fim enquanto desejado sob a forma de liberdade, segundo o Apóstolo: Tu desde o princípio quebraste o meu jugo, rompeste os meus laços e disseste — não servirei. E na medida em que, pelo pecado, alguns são levados a esse fim, caem sob o regime e o governo do diabo, que, por isso, se lhes chama o chefe.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Embora o diabo não tenha nenhuma influência interior na alma racional, contudo indu-la ao mal pelo lhe sugerir,

RESPOSTA À SEGUNDA. — O governador nem sempre sugere a cada um dos seus súditos que lhe obedeçam à vontade, mas propõe a todos um sinal dela, a cuja obediência alguns são levados a se conformarem e outros o fazem espontaneamente. Tal o procedimento do chefe de um exército, a cuja bandeira seguem os soldados embora sem ninguém os persuadir. Assim, pois, o primeiro pecado do diabo, que peca desde o princípio, como diz a Escritura, foi proposta a todos para que o seguissem. O que alguns imitam por sua sugestão, e outros o fazem espontaneamente, sem nenhuma sugestão. E assim, o diabo é o chefe de todos os maus, por o imitarem, segundo a Escritura: Por inveja do diabo entrou no mundo a morte, e a ela imitam os que são do seu partido.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Todos os pecados têm de comum o fazerem afastar-nos de Deus, embora difiram uns dos outros por levarem a convertermo-nos a diversos bens efémeros.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão




DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé.

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?