Art.
7 — Se o diabo é a cabeça dos maus.
O sétimo discute-se assim. — Parece
que o diabo não é a cabeça dos maus.
1. — Pois, a ideia de cabeça implica a
sua influência da sensibilidade e do movimento nos membros, como diz uma Glosa sobre
o dito do Apóstolo: Deu-o como cabeça, etc. Ora, o diabo não tem o poder de
influenciar a malícia do pecado, que procede da vontade do pecador. Logo, o
diabo não pode ser chamado cabeça dos maus.
2. Demais — Qualquer pecado torna o
homem mau. Ora, nem todos os pecados vêm do diabo. O que é manifestado pelos
pecados dos demónios, que não pecaram por persuasão de outrem. Nem, semelhantemente,
todo pecado dos homens procede do diabo, como diz um autor: Nem todos os nossos
maus pensamentos são provocados por excitação do diabo, pois, às vezes, nascem
do movimento do nosso arbítrio. Logo, o diabo não é a cabeça de todos os maus.
3. Demais. — Uma cabeça dirige um
corpo. Ora, parece que toda a multidão dos maus não se unem por nenhum laço,
pois, o mal é contrário ao mal, como diz Aristóteles, e também procede de
defeitos diversos na expressão de Dionísio. Logo, o diabo não pode ser chamado
cabeça de todos os males.
Mas, em contrário, aquilo de Job — A
sua memória perecerá da terra. diz a Glosa: De todo homem iníquo se diz que
volte para seu chefe, isto é, o diabo.
Como dissemos, a cabeça não
só influi interiormente nos membros, mas também governa exteriormente,
dirigindo-lhe os actos para um determinado fim. Donde, quem é considerado chefe
de uma multidão é-o da maneira seguinte: ou de ambos os modos, isto é, pelo
influxo interior e pelo governo exterior e nesse sentido Cristo é a cabeça da
Igreja, como dissemos, ou pelo governo exterior, e então qualquer príncipe ou
prelado é cabeça da multidão que lhe está subordinada. E, neste sentido se diz
que o diabo é o chefe de todos os maus. Pois, como refere a Escritura, ele é o
rei de todos os filhos da soberba. Mas, o papel do governador é conduzir aos
seus fins aqueles que governa. Ora, o fim do diabo é afastar a criatura racional,
de Deus, por isso tentou, desde o princípio, afastar o homem da obediência ao
preceito divino. Ora, o próprio afastamento de Deus exerce a função de fim
enquanto desejado sob a forma de liberdade, segundo o Apóstolo: Tu desde o
princípio quebraste o meu jugo, rompeste os meus laços e disseste — não
servirei. E na medida em que, pelo pecado, alguns são levados a esse fim, caem
sob o regime e o governo do diabo, que, por isso, se lhes chama o chefe.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Embora o diabo não tenha nenhuma influência interior na alma racional,
contudo indu-la ao mal pelo lhe sugerir,
RESPOSTA À SEGUNDA. — O governador nem
sempre sugere a cada um dos seus súditos que lhe obedeçam à vontade, mas propõe
a todos um sinal dela, a cuja obediência alguns são levados a se conformarem e
outros o fazem espontaneamente. Tal o procedimento do chefe de um exército, a
cuja bandeira seguem os soldados embora sem ninguém os persuadir. Assim, pois,
o primeiro pecado do diabo, que peca desde o princípio, como diz a Escritura,
foi proposta a todos para que o seguissem. O que alguns imitam por sua sugestão,
e outros o fazem espontaneamente, sem nenhuma sugestão. E assim, o diabo é o
chefe de todos os maus, por o imitarem, segundo a Escritura: Por inveja do
diabo entrou no mundo a morte, e a ela imitam os que são do seu partido.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Todos os
pecados têm de comum o fazerem afastar-nos de Deus, embora difiram uns dos
outros por levarem a convertermo-nos a diversos bens efémeros.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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