24/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

CASA DE OURO


Eis a Virgem mais pura sobre a terra,
convertida, por sua caridade,
em Casa de ouro, mansão da Divindade,
que os encantos do Paraíso encerra.

Quer na paz quer no tempo de atra guerra,
forte esteio de justiça e de verdade,
é figura de excelsa majestade
que os bons consola e os maus confunde a aterra.

Dos seres deste mundo o mais sublime,
a tantas gerações o mal redime
com piedade e doçura sem igual.

Coração de ouro, generoso e santo,
tornas as almas nas pregas do seu manto
e condu-las à pátria celestial!

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima: Centenário - Oração Jubilar de Consagração


Salve, Mãe do Senhor,
Virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima!
Bendita entre todas as mulheres,
és a imagem da Igreja vestida da luz pascal,
és a honra do nosso povo,
és o triunfo sobre a marca do mal.

Profecia do Amor misericordioso do Pai,
Mestra do Anúncio da Boa-Nova do Filho,
Sinal do Fogo ardente do Espírito Santo,
ensina-nos, neste vale de alegrias e dores,
as verdades eternas que o Pai revela aos pequeninos.

Mostra-nos a força do teu manto protector.
No teu Imaculado Coração,
sê o refúgio dos pecadores
e o caminho que conduz até Deus.

Unido/a aos meus irmãos,
na Fé, na Esperança e no Amor,
a ti me entrego.
Unido/a aos meus irmãos, por ti, a Deus me consagro,
ó Virgem do Rosário de Fátima.

E, enfim, envolvido/a na Luz que das tuas mãos nos vem,
darei glória ao Senhor pelos séculos dos séculos.


Ámen.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Hoy el reto del amor es desteñir

TODO SE PEGA

"¿Será posible?", me decía intrigada.

La semana pasada me encargaba del lavado. La última lavadora era de toallas. No eran muchas, y creía recordar las que había metido. Sin embargo, al sacarlas, ¡me faltaba una!

"Estoy segura de haber metido una toalla blanca..."

Y vuelta a revisar: "Dos azules, una naranja, una verde... ¿y esta amarilla?"

De pronto pude reconocer a la toalla desaparecida: ¡la naranja había desteñido y la blanca se había transformado! ¡Ups!

Mientras tendía nuestra toalla recién tuneada, sólo podía sonreír al Señor. Realmente, ¡todo se pega!

A lo largo del día damos mil vueltas, como en la lavadora: el trabajo, los estudios, asuntos urgentes... Y, mientras tanto, compartimos jornada con un montón de prendas más: familia, amigos, compañeros...

Y, ¿te has fijado alguna vez en lo fácil que es que se te pegue algún color que no es el tuyo? Si estás con una persona alegre, es sencillo que acabes sonriendo; si tu compañía tiene un día malo, posiblemente acabes de mal humor... Compartimos lavado, y los colores... ¡destiñen!

Por eso Cristo ha querido entrar en tu lavadora, en tu jornada. Él ha dado hasta la última gota de su sangre por ti, ¡se destiñe por ti! Te entrega su Vida, para llenar la tuya. ¿Dejarás que se te pegue su color?

Hoy el reto del amor es desteñir. Hoy es lunes, y puede que, a estas horas de la mañana, aún seas una toalla blanca, sin saber aún el color de tu día. Para asegurar una toma de color de primera calidad, te invito a parar un rato con Cristo. ¡Empápate del color de su amor! Así, hoy podrás sonreír de corazón a cinco personas, ¡contágiales tu sonrisa! ¡Disfruta tu día destiñendo todo del color de Cristo! ¡Feliz día!


VIVE DE CRISTO

Espírito de mortificação e penitência

O espírito de mortificação, mais do que manifestação de Amor, brota como uma das suas consequências. Se falhas nessas pequenas provas, reconhece-o, fraqueja o teu amor ao Amor. (Sulco, 981)

Penitência, para os pais e, em geral, para os que têm uma missão de dirigir ou de educar é corrigir quando é necessário fazê-lo, de acordo com a natureza do erro e com as condições de quem necessita dessa ajuda, superando subjectivismos néscios e sentimentais.


O espírito de penitência leva a não nos apegarmos desordenadamente a esse esboço monumental dos projectos futuros, no qual já previmos quais serão os nossos traços e pinceladas mestras. Que alegria damos a Deus quando sabemos renunciar aos nossos gatafunhos e pinceladas, e permitimos que seja Ele a acrescentar os traços e cores que mais lhe agradam! (Amigos de Deus, 138)

Doutrina – 279

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

58. Porque é que Deus permite o mal?

A fé dá-nos a certeza de que Deus não permitiria o mal se do próprio mal não extraísse o bem. Deus realizou admiravelmente isso mesmo na morte e ressurreição de Cristo: com efeito, do maior mal moral, a morte do Seu Filho, Ele retirou os bens maiores, a glorificação de Cristo e a nossa redenção.




Epístolas de São Paulo – 55

Carta aos Gálatas

Capítulo 6

IV. VIDA CRISTÃ, CAMINHO DA LIBERDADE (5,13-6,10)

Caridade fraterna

1Irmãos, se porventura um homem for apanhado nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão; e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado. 2Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo. 3É que, se alguém julga ser alguma coisa, nada sendo, engana-se a si mesmo. 4Mas examine cada um a sua própria acção, e então o motivo de glória que encontrar, tê-lo-á em relação a si próprio e não em relação ao outro. 5Pois cada um terá de carregar o próprio fardo. 6Mas quem está a ser instruído na Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens. 7Não vos enganeis: de Deus não se zomba. Pois o que um homem semear, também o há-de colher: 8quem semear na própria carne, da carne colherá a corrupção; quem semear no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. 9E não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. 10Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas principalmente para com os irmãos na fé.

CONCLUSÃO (6,11-18)

11Vede com que grandes letras vos escrevo pela minha mão! 12Todos quantos querem fazer boa figura, são esses que vos forçam a circuncidar-vos, só para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13Pois nem mesmo aqueles que se circuncidam observam a Lei; mas o que querem é que vos circuncideis, para se poderem gloriar na vossa carne. 14Quanto a mim, porém, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. 15Pois nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas sim uma nova criação. 16Paz e misericórdia para todos quantos seguirem esta regra, bem como para o Israel de Deus. 17De agora em diante ninguém mais me venha perturbar; pois eu levo no meu corpo as marcas de Jesus.
18A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito, irmãos!

Ámen.

Diálogos apostólicos

Diálogos apostólicos II Parte

Pergunto:

Desejo que me fales – concretizando - sobre as ofensas.

Respondo:

O tema é um pouco vasto, dará para várias conversas.
Vamos começar por:

1.   Definição e tipos.

- Una ofensa é um dano à honra ou dignidade de uma pessoa.
Podem ser de varias classes:

a) Segundo o modo de as fazer:
        . activas: troças, desprezos, insultos,...: ataques directos à dignidade de alguém.
        . passivas: esquecimentos, indiferença, desleixo,...: deixar de prestar a atenção e honra devidas.

b) Segundo a quem se dirigem:
        . directas: vão contra a própria pessoa.

        . indirectas: prejudicam os seres amados por essa pessoa: filhos, família, amigos, propriedades.

Bento XVI – Pensamentos espirituais 142

A luz da palavra

Caros jovens [...]

No caminho da vida, que não é fácil nem desprovido de ciladas, podereis encontrar dificuldades e sofrimentos e por vezes sereis mesmo tentados a exclamar como o Salmista: «Estou cansado de sofrer» [SI 119 (118), 107].

Não esqueçais, contudo, de acrescentar como Ele: «Senhor, dá-me vida segundo a Tua palavra [...]» (ibid.).

A presença amorosa de Deus, através da sua Palavra, é lâmpada que dissipa as trevas do medo e alumia o caminho mesmo nos momentos mais difíceis [cfr. SI 119 (118), 151.

Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude, (22.Fev.06)

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS

Vol. 2


LIVRO XII


CAPÍTULO VI

Causa da beatitude dos anjos bons e desgraça dos maus.

Do exposto se conclui que a verdadeira causa da beatitude dos anjos bons está no facto de estarem unidos ao que é no mais elevado grau. Quando, pelo contrário, perguntamos qual a causa da desgraça dos anjos maus, ela apresenta-se-nos precisamente no facto de se terem desviado d’Aquele que no mais elevado grau é, para se voltarem para si próprios que não possuem o ser em grau supremo. E que outro nome tem este vício senão o de soberba. Na verdade,

a soberba é a origem de todo o pecado.[i]


Não quiseram reservar para Deus a sua fortaleza. Se se mantivessem unidos ao que soberanamente é, «seriam» mais; preferindo-se a Ele, escolheram o que menos é. Foi esta a primeira deficiência, a primeira indigência, o primeiro vício desta natureza criada, não para ser em grau supremo, mas para encontrar a sua beatitude no gozo do Ser Supremo. Desviou-se d’Ele; por conseguinte, sem perder todo o seu ser, viu-o diminuído — e foi este o princípio da sua desgraça.
Se se procurar a causa eficiente desta vontade má —nada se encontrará. Que é então que torna a vontade má quando ela própria toma o acto mau? E a vontade má que produz o acto mau; mas nada produz a vontade má. Porque se alguma causa existe, terá ela ou não terá um a vontade. Se a tem, não há dúvida de que essa vontade tem que ser boa ou má. — Se é boa, quem teria a loucura de dizer que um a vontade boa produz uma má? Se assim fosse, um a vontade boa teria sido a causa do pecado — e ninguém poderá conceber nada de mais absurdo. Se, porém, aquilo que se julga que faz a má vontade tem, ele
próprio também , uma vontade má, — eu pergunto quem então o teria feito; e, para pôr termo à discussão, pergunto qual é a causa da primeira vontade má. E que esta primeira vontade não é efeito duma vontade má pois que, sendo a primeira, nenhum a outra a fez. Se um a outra a tivesse precedido para a fazer, ela seria a primeira, que teria feito a outra.

Se se responder que nada a fez e que, portanto, sempre existiu — então pergunto se sempre existiu em alguma natureza. É que se nenhum a existiu, então jamais existiu. Mas se em alguma existiu, — então ela viciava-a, corrompi-a, era-lhe prejudicial e, consequentemente, privava-a do bem. Assim, a natureza onde estava a vontade má não podia ser má —. era boa, embora mutável, e o vício poderia ser-lhe prejudicial. Se, de facto, não chegou a ser prejudicial, não era um vício e, portanto, não se pode dizer que tivesse um a vontade má. Mas se chegou a ser prejudicial, foi, de certeza, tirando ou diminuindo um bem. A vontade má não pôde, portanto, existir sempre em algo onde antes havia um bem natural que a vontade má poderia destruir pela sua nocividade. Mas se não era eterna, então eu pergunto quem a produziu.

Só resta um a resposta: a causa da vontade má foi um ser que em si nenhum a vontade tinha. Nesse caso eu pergunto — se se trata de um ser superior, inferior ou igual. Se é superior — não há dúvida de que é melhor. Como é então ele sem vontade, ou melhor, sem vontade boa? Da mesma forma, se é igual: porque se dois seres têm um a vontade, igualmente boa, um não produz no outro uma vontade má. Só resta uma conclusão: um ser inferior, totalmente privado de vontade, é que terá produzido na natureza angélica, a primeira que pecou, uma vontade má. Mas, seja qual for esse ser, mesmo que seja mais baixo que a mais baixa das terras, porque é uma natureza e uma essência, é incontestavelmente bom, possui medida e beleza no seu género e na sua ordem. Como é então que um ser bom produz um a vontade má? Como é, digo eu, que um bem é causa de um mal? Porque, quando a vontade abandona o superior e se volta para o inferior, torna-se má — e não porque o objecto para o qual se volta seja um mal: o facto de se voltar para ele é que constitui uma perversão. Não é, portanto, o objecto inferior que torna a vontade má, mas é a própria vontade que se torna má ao desejar esse objecto inferior de forma desordenada e depravada.

Suponhamos dois homens com as mesmas disposições do corpo e da alma. Ao contemplarem a beleza de um corpo, um é movido a gozá-lo ilicitamente e o outro permanece estável numa vontade casta. A que causa atribuir que num a vontade se torne m á e no outro não? Qual a causa desta vontade má que num se produziu? Não é a mencionada beleza do corpo pois não produziu a vontade má em ambos, apesar de igualmente exposta aos olhares de ambos. Será que é a carne do que repara que está em causa? E porque não a do outro? Será o espírito? E porque não o de ambos? E que supusemos em ambos as mesmas disposições de corpo e de alma. Deverem os nós dizer que o primeiro foi tentado por uma sugestão secreta do mau espirito, com o se o consentimento a esta sugestão e a toda outra insinuação não viesse da própria vontade? Quem seja o autor deste consentimento, desta vontade má que cede ao mau conselheiro — é precisam ente o que procuramos encontrar. A mesma tentação a ambos solicita: um cede e consente; o outro permanece fiel a si mesmo. Que concluir senão que um não quis e o outro quis renunciar à castidade? E donde provém este querer da própria vontade pois ambos tinham as mesmas disposições de corpo e de alma? A mesma beleza surgiu igualmente aos seus olhos; a mesma tentação secreta os solicitou igualmente. Se se quiser saber o que é que produziu num deles uma vontade própria má — se pensarmos nisso a sério, nada nos ocorre. Se dissermos, então, que foi ele próprio quem a produziu — que era ele, então, antes desta vontade má senão um a natureza boa de que Deus, bem imutável, é o autor? Assim — um consente e o outro resiste às sugestões do tentador para abusar de um belo corpo que, em iguais circunstâncias, a ambos se apresentou quando, antes da visão tentadora, ambos estavam em idênticas disposições de corpo e de alma: dir-se-á que o primeiro, que antes era bom, fez para si próprio um a vontade má. Investigue-se porque a fez ele: por ser um a natureza ou por ser uma natureza feita do nada? A resposta que encontrará será esta: a má vontade não surgiu da natureza como tal, mas do facto de a natureza ter sido feita do nada. Com efeito, se a natureza é causa da vontade má — a que outra conclusão somos obrigados a chegar senão que do bem sai o mal, que o bem é causa do m al, pois uma natureza boa se transforma em uma vontade má? Qual será, então, a causa de um a natureza boa, embora mutável, fazer antes de ter má vontade, algo de mau, isto é, essa mesma vontade má?

CAPÍTULO VII

Não se deve procurar uma causa eficiente da vontade má.

Ninguém procure, pois, a causa eficiente da vontade má, porque essa causa não é eficiente, mas sim deficiente. A vontade má não é uma eficiência mas uma deficiência. De facto, separar-se d ’Aquele que é no mais alto grau para se voltar para o que tem menos ser é começar a ter uma vontade má. Querer, portanto, descobrir uma causa desta defecção quando ela é, como disse, não eficiente, mas deficiente, é com o se se quisesse ver as trevas e ouvir o silêncio. São duas coisas que conhecemos, mas nem uma pelos olhos nem a outra pelos ouvidos — não na substância, mas na privação da substância. Ninguém, portanto, procure saber de mim o que sei que não sei, salvo talvez o aprender a ignorar o que é preciso saber que não se pode saber. Efectivamente, o que se conhece, não pela sua substância, mas pela sua privação, de certo modo conhece-se, ignorando-o — se assim podemos falar e compreender — e ignora-se, conhecendo-o. Quando o golpe de vista do olho corporal recai sobre as figuras corporais, em parte nenhuma vê as trevas a não ser quando já começa a não ver. Também não pertence a outro sentido que não seja o do ouvido captar o silêncio, mas só o capta quando já não ouve. O mesmo acontece no que respeita às formas inteligíveis: o nosso espírito capta-as compreendendo-as, mas, no que lhes falta, conhece-as ignorando-as. Efectivamente,

quem compreende o pecado? [ii]


(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Ecles., X, 15.
[ii] Salmo XVIII, 13.

Evangelho e comentário

Tempo de Páscoa


Evangelho: Jo 3, 1-8

1 Havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. 2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-Lhe: «Rabi, sabemos que foste enviado por Deus como mestre, porque ninguém pode fazer estes milagres que Tu fazes, se Deus não estiver com ele». 3 Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo». 4 Nicodemos disse-Lhe: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e renascer?». 5 Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. 6 Aquilo que nasceu da carne, é carne, aquilo que nasceu do Espírito, é espírito. 7 Não te maravilhes de Eu te dizer: É preciso que nasçais de novo. 8 O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem nem para onde vai; assim é todo aquele que nasceu do Espírito».

Comentário:

Há um pormenor interessante na declaração inicial de Nicodemos: «sabemos que foste enviado por Deus»…

Este sabemos permite-nos pensar que haveria outros Fariseus e outros principais entre os judeus que partilhavam a mesma opinião que Nicodemos a respeito de Jesus Cristo.

É uma conclusão que além de lógica nos deve alegrar muito e, sobretudo, a não aceitar a opinião que TODOS estes estavam contra Cristo.

Não sabemos porque prevaleceu a vontade de dar a morte ao Senhor se por maioria, por temor, ou outra razão qualquer, seja como for, pelo menos dois – José de Arimateia e Nicodemos – demonstraram uma coragem e desassombro que de alguma forma “redime” a atitude dos outros.

Ao pedirem a Pilatos o corpo do Senhor e dar-lhe sepultura condigna, obtiveram um lugar entre os que o Senhor consideraria Seus amigos.


(ama, comentário sobre Jo 3, 1-8, 2015.04.13)

Pequena agenda do cristão

SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)







Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Oração:

Começa hoje uma nova semanaajuda-me, Senhor, a vivê-la de tal modo que todas as minhas acções e desejos sirvam para Te louvar e servir.