25/10/2020

Leitura espiritual Outubro 25

 



Cartas de São Paulo

 

2.ª Timóteo 4

 

Carta aos Hebreus 1

 

PRÓLOGO

 

Deus falou-nos por Seu Filho –

1 Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. 2 Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. 3 Este Filho, que é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e que tudo sustenta com a sua palavra poderosa, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas, 4 tão superior aos anjos quanto superior ao deles é o nome que recebeu em herança.

 

I. O FILHO DE DEUS É SUPERIOR AOS ANJOS

 

Prova escriturística –

5 Com efeito, a qual dos anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei? E ainda: Eu serei para Ele um Pai e Ele será para mim um Filho? 6 E de novo, quando introduz o Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus. 7 Se, a respeito dos anjos, diz: Ele faz dos seus anjos espíritos e dos seus ministros chamas de fogo, 8 a respeito do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, permanece pelos séculos dos séculos e ceptro de justiça é o teu ceptro real. 9 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade, por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo da alegria, preferindo-te aos teus companheiros. 10 E ainda: Tu, Senhor, fundaste a terra, no princípio, e os céus são obra das tuas mãos. 11 Eles deixarão de existir, mas Tu permaneces; como o vestido, todos eles envelhecerão; 12 como um manto, os enrolarás, e como o vestuário, serão mudados; mas Tu permaneces sempre o mesmo e os teus anos não acabarão. 13  E a qual dos anjos disse Deus alguma vez: Senta-te à minha direita, até que Eu faça dos teus inimigos um estrado dos teus pés? 14 Não são todos eles espíritos encarregados de um ministério, enviados ao serviço daqueles que hão-de herdar a salvação?

 

 


Cristo que passa

 

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Os sacramentos da graça de Deus

 

Quem deseja lutar, usa os devidos meios.

E os meios não mudaram nestes vinte séculos de Cristianismo: oração, mortificação e frequência de Sacramentos.

Como a mortificação é também oração - oração dos sentidos - podemos descrever esses meios com duas palavras apenas: oração e Sacramentos.

 

Gostaria que considerássemos agora esse manancial de graça divina dos Sacramentos, maravilhosa manifestação da misericórdia de Deus. Meditemos devagar a definição que se insere no Catecismo de São Pio V: “determinados sinais sensíveis que causam a graça e, ao mesmo tempo, a declaram, como que pondo-a diante dos olhos”.

Deus Nosso Senhor é infinito e o Seu amor é inesgotável, a Sua clemência e a Sua piedade para connosco não admitem limites.

E embora nos conceda a Sua graça de muitos outros modos, instituiu expressa e livremente - só Ele podia fazê-lo - estes sete sinais eficazes, para que os homens possam participar dos méritos da Redenção, duma maneira estável, simples e acessível a todos.

 

Se abandonarmos os Sacramentos, desaparece a verdadeira vida cristã. Contudo, não se nos oculta que particularmente nesta época não falta quem pareça esquecer, e até a chegue a desprezar, esta corrente redentora da graça de Cristo.

É doloroso falar desta chaga da sociedade que se chama cristã, mas torna-se necessário, para que nas nossas almas se afinque o desejo de recorrermos com mais gratidão e amor a essas fontes de santificação.

 

Decidem sem o menor escrúpulo retardar o baptismo dos recém-nascidos, privando-os - e cometendo assim um grave atentado contra a justiça e contra a caridade - da graça da fé, do tesouro incalculável da inabitação da Santíssima Trindade na alma, que vem ao mundo manchada pelo pecado original.

Pretendem também desvirtuar a natureza própria do Sacramento da Confirmação, no qual a Tradição viu sempre unanimemente um robustecimento da vida espiritual, uma efusão calada e fecunda do Espírito Santo, para que, fortalecida sobrenaturalmente, a alma possa lutar - milites Christi, como soldado de Cristo - nessa batalha interior contra o egoísmo e a concupiscência.

Se se perde a sensibilidade para as coisas de Deus, dificilmente se compreenderá o Sacramento da Penitência.

A confissão sacramental não é um diálogo humano, é um colóquio divino; é um tribunal de segura e divina justiça e, sobretudo, de misericórdia, com um juiz amoroso que não deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.

É verdadeiramente infinita a ternura de Nosso Senhor. Olhai com que delicadeza trata os seus filhos.

Fez do matrimónio um vínculo santo, imagem da união de Cristo com a sua Igreja, um grande sacramento em que se fundamenta a família cristã, que há-de ser, com a graça de Deus, um ambiente de paz e de concórdia, escola de santidade.

Os pais são cooperadores de Deus.

Daí nasce o amável dever de veneração, que corresponde aos filhos.

Com razão, o quarto mandamento pode chamar-se - escrevi-o há tantos anos - o dulcíssimo preceito do Decálogo.

Se se vive o matrimónio como Deus quer, santamente, o lar será um lugar de paz, luminoso e alegre.

 

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O Nosso Pai, Deus, deu-nos, com a Ordem sacerdotal, a possibilidade de que alguns fiéis, em virtude duma nova e inefável infusão do Espírito Santo, recebam um carácter indelével na alma, que os configura com Cristo Sacerdote, para actuarem em nome de Cristo Jesus, Cabeça do Seu Corpo Místico.

Com este sacerdócio ministerial, que difere do sacerdócio comum de todos os fiéis, essencialmente e não com diferença de grau, os ministros sagrados podem consagrar o Corpo e o Sangue de Cristo, oferecer a Deus o Santo sacrifício, perdoar os pecados na confissão sacramental e exercitar o ministério de doutrinar as pessoas in iis quae sunt ad Deum, em tudo e só no que se refere a Deus.

 

Por isso, o sacerdote deve ser exclusivamente um homem de Deus, rejeitando o pensamento de querer brilhar em campos em que os outros cristãos não precisem dele.

O sacerdote não é um psicólogo, nem um sociólogo, nem um antropólogo: é outro Cristo, o próprio Cristo, para atender as almas dos seus irmãos.

Seria triste que o sacerdote, baseando-se numa ciência humana - que só cultivará como amador e aprendiz, se se dedicar à sua tarefa sacerdotal - se julgasse, sem mais nem menos, habilitado a pontificar em teologia dogmática ou moral.

A única coisa que faria, era demonstrar uma dupla ignorância - na ciência humana e na ciência teológica - ainda que com ar superficial de sábio conseguisse enganar alguns leitores ou ouvintes indefesos.

 

É um facto público que alguns eclesiásticos parecem hoje dispostos a fabricar uma nova Igreja, traindo Cristo, mudando os fins espirituais - a salvação das almas, uma a uma - por fins temporais.

Se não resistirem a essa tentação, deixarão de cumprir o seu sagrado ministério, perderão a confiança e o respeito do povo e produzirão uma tremenda destruição dentro da Igreja, intrometendo-se, além disso, indevidamente, na liberdade política dos cristãos e dos restantes homens, com a consequente confusão - tornam-se eles mesmos perigosos - na convivência civil.

A Sagrada Ordem é o sacramento do serviço sobrenatural aos irmãos na fé; alguns parecem querer convertê-la no instrumento terreno dum novo despotismo.

 

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Mas continuemos a contemplar a maravilha dos Sacramentos.

Na Unção dos Enfermos, como agora chamam à Extrema Unção, assistimos a uma amorosa preparação da viagem, que terminará na casa do Pai.

E com a Sagrada Eucaristia, sacramento - se assim nos podemos exprimir - da loucura do amor divino, concede-nos a Sua graça, e entrega-se-nos o próprio Deus, Jesus Cristo, que está realmente sempre presente nas espécies consagradas - e não apenas durante a Santa Missa - com o seu Corpo, com a sua Alma, com o seu Sangue e com a sua Divindade.

 

Penso repetidas vezes na responsabilidade que incumbe aos sacerdotes, de assegurar a todos os cristãos esse caminho divino dos Sacramentos.

A graça de Deus vem em socorro de cada alma; cada criatura requer uma assistência concreta, pessoal.

As almas não se podem tratar massivamente!

Não é lícito defender a dignidade humana e a dignidade de filho de Deus, não atendendo a cada um pessoalmente com a humildade de quem se sabe instrumento para ser veículo do amor de Cristo; porque cada alma é um tesouro maravilhoso; cada homem é único, insubstituível. Cada um vale todo o sangue de Cristo.

 

Falávamos antes de luta.

Mas a luta exige treino, uma alimentação adequada, uma terapêutica urgente em caso de doença, de contusões, de feridas.

Os Sacramentos, medicina principal da Igreja, não são supérfluos: quando se abandonam voluntariamente, não é possível dar um passo no caminho por onde se segue Cristo.

Necessitamos deles como da respiração, como da circulação do sangue, como da luz, para poder apreciar em qualquer instante o que o Senhor quer de nós.

 

A ascética do cristão exige fortaleza; e essa fortaleza encontra-a no Criador.

Nós somos a obscuridade e Ele é resplendor claríssimo; somos a doença e Ele a saudável robustez; somos a escassez e Ele a infinita riqueza; somos a debilidade e Ele sustenta-nos, quia tu es, Deus, fortitudo mea, porque és sempre, ó meu Deus, a nossa fortaleza.

Nada há nesta terra capaz de se opor ao brotar impaciente do Sangue redentor de Cristo.

Mas a pequenez humana pode velar os olhos de modo a que não descortinem a grandeza divina.

Daí a responsabilidade de todos os fiéis e especialmente dos que têm o ofício de dirigir - de servir - espiritualmente o Povo de Deus, de não fecharem as fontes da graça, de não se envergonharem da Cruz de Cristo.

 

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Responsabilidade dos pastores

 

Na Igreja de Deus, o empenho constante por sermos cada vez mais leais à doutrina de Cristo é obrigação de todos.

Ninguém está isento. Se os pastores não lutassem pessoalmente por adquirir finura de consciência, respeito fiel ao dogma e à moral - que constituem o depósito da fé e o património comum -, voltariam a ser reais as proféticas palavras de Ezequiel: Filho do homem profetiza acerca dos pastores de Israel; profetiza e diz aos pastores: - “Isto diz o Senhor Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si próprios! Porventura não são os rebanhos os que devem ser apascentados pelos pastores? Vós lhes tomais o leite e vos vestis com as suas lãs e matais as reses mais gordas, mas não apascentais o meu rebanho. Não fortalecestes as ovelhas débeis, não curastes as doentes, não pusestes ligaduras às que tinham algum membro quebrado, não fizestes voltar as desgarradas, nem buscastes as que se tinham perdido; mas dominastes sobre elas com aspereza e com prepotência”.

 

São repreensões fortes, mas mais grave é a ofensa que se faz a Deus quando, tendo recebido o cargo de velar pelo bem espiritual de todos, se maltratam as almas, privando-as da água limpa do Baptismo que regenera a alma, do óleo balsâmico da Confirmação, que a fortalece, do tribunal que perdoa, do alimento que dá a vida eterna.

 

Quando é que isto pode acontecer?

Quando se abandona esta guerra de paz. Quem não luta, expõe-se a qualquer daquelas escravidões, que têm o efeito de aferrolhar os corações de carne: a escravidão duma visão exclusivamente humana, a escravidão do desejo afanoso de poder e de prestígio temporal, a escravidão da vaidade, a escravidão do dinheiro, a escravidão da sensualidade...

 

Se alguma vez - porque Deus pode permitir essa prova - tropeçais com pastores indignos deste nome, não vos escandalizeis. Cristo prometeu assistência infalível e indefectível à sua Igreja, mas não garantiu a fidelidade dos homens que a compõem.

A estes não lhes faltará a graça abundante, generosa - se puserem da sua parte o pouco que Deus pede: vigiar atentamente, empenhando-se em remover, com a graça de Deus, os obstáculos para conseguir a santidade.

Se não há luta, quem parece estar nos píncaros pode estar muito baixo aos olhos de Deus.

Conheço as tuas obras, a tua conduta, sei que tens fama de que vives e estás morto.

Sê vigilante e consolida os restos do teu rebanho, que está para morrer, porque não acho as tuas obras perfeitas diante do meu Deus. Lembra-te, pois, do que recebeste e ouviste, e observa-o, e faz penitência”.

 

São exortações do apóstolo São João, no século primeiro, dirigidos a quem tinha a responsabilidade da Igreja na cidade de Sardes.

Porque a possível decadência do sentido da responsabilidade em alguns pastores não é um fenómeno moderno; surge já no tempo dos Apóstolos, no próprio século em que Nosso Senhor Jesus Cristo tinha vivido na terra.

E ninguém está seguro, se deixa de lutar consigo mesmo.

Ninguém pode salvar-se isoladamente.

Todos na Igreja precisamos desses meios concretos que nos fortalecem: da humildade, que nos dispõe a aceitar a ajuda e o conselho; das mortificações, que nos removem o coração, para que nele reine Cristo; do estudo da Doutrina segura de sempre, que nos leva a conservar em nós a fé e a propagá-la.

 

 

SACRAMENTOS

 


Eucaristia

…/12

2.3. Significado e conteúdo do mandato do Senhor

Deste modo, Cristo ordenou aos Apóstolos (e neles aos seus sucessores no sacerdócio), que celebrassem um novo “memorial”, que substituísse o da Antiga Páscoa.
Este rito memorial tem uma particular eficácia: não só ajuda a “recordar” à comunidade crente o amor redentor de Cristo, as suas palavras e gestos durante a Última Ceia, mas que, além disso, como sacramento da Nova Lei, torna objectivamente presente a realidade significada: Cristo “Nossa Páscoa” 1 (Cor 5, 7,) e o seu sacrifício redentor.


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Conversei com Ele?

 


É possível que te assuste esta palavra: meditação. Faz-te lembrar livros de capas negras e velhas, ruído de suspiros ou rezas como cantilenas rotineiras... Mas isso não é meditação. Meditar é contemplar, considerar que Deus é teu Pai, e tu seu filho, necessitado de ajuda; e depois dar-lhe graças pelo que já te concedeu e por tudo o que te há-de dar. (Sulco, 661)

 

Para o teu exame diário: – Deixei passar alguma hora sem falar com o meu Pai, Deus? Conversei com Ele com amor de filho? Acredita que és capaz!! (Sulco, 657)

 

O único meio de conhecer Jesus: privar com Ele! N'Ele encontrarás sempre um Pai, um Amigo, um Conselheiro e um Colaborador para todas as actividades honestas da tua vida quotidiana...

E, com esse convívio, gerar-se-á o Amor. (Sulco, 662)

 

«Fica connosco, porque anoitece!...». Foi eficaz a oração de Cléofas e do companheiro.

Que pena, se tu e eu não soubéssemos "deter" Jesus que passa! Que dor, se não Lhe pedirmos que fique connosco! (Sulco, 671)

Reflexão

 



União com Deus

 

Se se descuidasse a profunda união com Deus, a eficácia apostólica com aqueles com quem habitualmente nos relacionamos ir-se-ia reduzindo até ser nula, e os frutos tornar-se-iam amargos, indignos de ser apresentados ao Senhor.

 

(Francisco Fernández carvajal, Falar com Deus, Tempo comum, 12ª Semana, 4ª F.)

Pequena agenda do cristão

 



DOMINGO

Pequena agenda do cristão

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



[i] Cfr. Lc 1, 38
[ii] AMA, orações pessoais
[iii] AMA, orações pessoais
[iv] AMA, orações pessoais
[v] Btº Álvaro del Portillo (oração pessoal)

Outubro - Mês do Rosário




MISTÉRIOS DO EVANGELHO [i]

Quarto Mistério 


Instituição do Sacramento do perdão

Podemos julgar - e talvez inconscientemente o façamos - que sabemos muito bem o que é o perdão.
Mas…talvez o que nos convenha ter claro seja: o que é PERDOAR!?

Sim... digo bem - o que é PERDOAR!?

Parece muito claro que PERDOAR consiste em relevar uma ofensa - intencionalmente cometida contra a nossa pessoa.

Parece que sim, é uma conclusão aceitável, mas há algumas "condições" que se impõem, como por exemplo, ter bem claro: Realmente o que ficou "ferido": A minha personalidade ou a minha soberba?

Ouvimos falar de soberba e, talvez, pensemos numa atitude despótica e avassaladora, com grande barulho de vozes que aclamam o triunfador que passa, como um imperador romano, debaixo dos altos arcos, inclinando a cabeça, pois teme que a sua fronte gloriosa toque o alvo mármore...
Sejamos realistas.
Este tipo de soberba só tem lugar numa fantasia louca.
Temos de lutar contra outras formas mais subtis, mais frequentes, como:

a - O orgulho de preferir a própria excelência à do próximo;

b - A vaidade nas conversas, nos pensamentos e nos gestos;

c - Uma susceptibilidade quase doentia, que se sente ofendida com palavras ou acções que não são de forma alguma um agravo...
Tudo isto, sim, pode ser, é uma tentação corrente.

O homem tende a considerar-se a si mesmo como o sol e o centro dos que estão ao seu redor.
Tudo deve girar em torno dele.
Por isso, não raramente acontece que recorre, com o seu afã mórbido, à própria simulação da dor, da tristeza e da doença para que os outros se preocupem com ele e o mimem.

A maior parte dos conflitos que se apresentam na vida interior de muitas pessoas, fabrica-os a imaginação:

É que disseram isto ou aquilo, são capazes de pensar aqueloutro, não me consideram... E essa pobre alma sofre, graças à sua triste fatuidade, com suspeitas que não são reais. Nessa aventura desgraçada, a sua amargura é contínua e procura desassossegar os outros, porque não sabe ser humilde, porque não aprendeu a esquecer-se de si mesmo para se entregar, generosamente, ao serviço dos outros por amor de Deus». (Cfr. São Josemaria, Amigos de Deus 101)

e - A "ofensa" foi real, concreta, feita directamente, ou por "me ter constado"?

f - Trata-se de uma falsidade a meu respeito, ou de uma crítica a alguma faceta do meu carácter ou comportamento? Qual foi a minha primeira reacção?
A estas duas últimas perguntas só é possível responder fazendo um exame sério e “desapaixonado” e justo.
A nossa susceptibilidade é muitas vezes exagerada considerando agravos e ofensas o que, talvez, não passe de uma manifestação de “correcção fraterna”, ou seja, de amizade.

Alguns – eu incluído – mantêm actualizada uma lista de “agravos” que consideram ter sido sofrido.
É verdade que muitas destas supostas - ou reais – ofensas, já as perdoamos mas, não obstante, mantemos viva a sua lembrança.

Diz-se: Eu perdoo mas não esqueço!
Isto é um contra-senso, um disparate.
Não esqueço porquê.
Pensar na simples hipótese que se Deus Nosso Senhor procedesse assim connosco - perdoasse mas não esquecesse – deve causar-nos um imediato “calafrio”, medo e angústia.

No julgamento a que - todos – seremos sujeitos logo após a nossa morte terrena, quão extenso seria o volume do nosso “processo” se nele constassem todas as faltas cometidas e não perdoadas!?

Esta “activação da memória” apresenta, ainda, um outro perigo a ter muito em conta:
A lembrança dos pecados do nosso passado - recente ou não – por vezes com detalhes que podem levar-nos a uma tentação terrível:

A tentação da memória!

E, o tentador não se fica por recordar mas “pinta-o ”com cores vivas” e imagens reais e pormenorizadas.

Sei - experimentei-o muitas vezes - que mesmo sem o desejar se pode repetir o mesmo pecado… lembrando o próprio pecado.

Não há, pois, outro caminho: - Perdoar e esquecer!

(AMA, 2019)


[i] Escolhi este título para uma série de reflexões sobre os mistérios contidos no Evangelho. Se por “mistério” consideramos algo que não entendemos inteiramente ou não compreendemos com meridiana clareza, então julgo que o Evangelho contém muitas atitudes, palavras, gestos de Jesus Cristo cujo verdadeiro significado e “alcance” nos escapa.