13/03/2007

O sentido do belo

A noção de beleza muda de pessoa para pessoa. Mas quando qualquer de nós vê uma coisa que preenche a nossa concepção de beleza, experi­menta uma emoção que é sempre a mesma em cada caso. Um navio no mar, o desabrochar de uma flor, uma cidade iluminada, um belo poe­ma, a sombra das folhas, a graça de uma criança, um céu estrelado, macieiras na primavera - milhares de paisagens, de sons ou de palavras que despertem em nós o pensamento da beleza - são as gotas de chuva que impedem o espírito humano de morrer de sede. Fazem parte de um misterioso e silente poder de refrigério, em que talvez não pensamos, mas que está sempre presente. A beleza é o sorriso na face da terra, aberto a todos. Basta apenas ter olhos para vê-lo, sensibilidade para entendê-lo.

John Galsworthy, Candelabra (Scribner, ed.)

RECOLHIMENTO

A minha estada na Grande Cartuxa (Alpes da Sabóia) tinha, forçosa­mente, de chegar a um termo. Quan­do me despedi dos bons monges e desci à planície em baixo, senti uma estranha tristeza no coração.
Mas percebi, claramente, que a minha subida ao convento não tinha sido vã e aprendi a lição da Grande Car­tuxa.
A sua mensagem era, manifes­tamente, esta: que de vez em quando devemos tomar um pouco de tempo - às múltiplas preocupações do nosso trabalho e de nossas distracções para reajustar o nosso senso de valores, para relegar ao seu lugar próprio os nossos desejos materiais. Banindo da nossa boca a inevitável desculpa, "Eu bem quisera se pudesse, mas não disponho de um momento", deve­mos fazer o tempo - cinco, dez, vinte minutos ao fim do dia, uma hora em cada tarde de domingo consagrado a um passeio de meditação, um fim-de-semana de onde em onde passado inteiramente em recolhimento.
En­tão veremos como são de pouca monta as coisas que perseguimos com tamanho afã; então, talvez, pudésse­mos descobrir não só a consciência de nós mesmos, mas - o que é muito mais importante - a existência da nossa própria consciência.

A J. Cronin, O que aprendi na Grande Cartuxa, Reader’s Digest, Abril de 1953

O MODESTO e o PRETENSIOSO

Um homem modesto às vezes parece pretensioso por se orgulhar de alguma coisa que fez, julgando-a melhor do que tudo o que se imaginava capaz, ao passo que o pretensioso se inclina a mostrar-se descontente com o que faz, julgando-o indigno do seu génio.

Hesket Pearson, The Man Whistler (Harper, ed.)