Tempo comum XXVIII Semana
São
Lucas - Evangelista
Evangelho: Lc 10 1-9
1 Depois disto, o
Senhor escolheu outros setenta e dois, e mandou-os dois a dois à Sua frente por
todas as cidades e lugares onde havia de ir. 2 Disse-lhes: «Grande é
na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que
mande operários para a Sua messe. 3 Ide; eis que Eu vos envio como
cordeiros entre lobos. 4 Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado,
e não saudeis ninguém pelo caminho. 5 Na casa em que entrardes,
dizei primeiro: A paz seja nesta casa. 6 Se ali houver algum filho
da paz, repousará sobre ele a vossa paz; senão, tornará para vós. 7
Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, porque o operário é
digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa. 8 Em qualquer
cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que vos puserem diante; 9
curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Está próximo de vós o reino de
Deus.
Comentário:
«o operário é digno da sua recompensa»
diz Jesus Cristo.
O
apostolado é verdadeiro trabalho, por vezes bem extenuante e, sempre, muito
empenhado. Aliás, só assim, com essas disposições é que se compreende e pode
dar frutos.
‘De
vez em quando… quando tiver tempo… noutra ocasião…’ são ‘desculpas’ de quem não
quer empenhar-se e, no entanto, o mandato foi claro e iniludível para todos os
cristãos sem excepção.
Como
somos humanos é muito natural que necessitemos de fundos para as despesas
recorrentes quanto mais as organizações da Igreja que se dedicam a obras
extraordinariamente eficazes, nomeadamente de formação cristã, difusão de
doutrina segura etc.
Temos,
todos, estrita obrigação de contribuir na medida das possibilidades de cada um
para estes gastos, sem nos preocuparmos se é muito ou pouco aquilo que damos
porque, o retorno em graças e alegrias é extraordinário e, com “muitos poucos”
se faz muito.
(ama, comentário sobre Lc 10, 1-12,
2013.06.07)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
SUMMI PONTIFICATUS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O OFÍCIO DO PONTIFICADO
Programa do pontificado
(*)
1.
O arcano desígnio do Senhor, sem nenhum merecimento de nossa parte, quis
confiar-nos a altíssima dignidade e as gravíssimas solicitudes do Sumo
Pontificado justamente no ano em que ocorre o quadragésimo aniversário da
consagração da humanidade ao sacratíssimo coração do Redentor, feita pelo nosso
imortal predecessor, Leão XIII, ao declinar do século passado, quando surgia já
a aurora do ano santo.
2.
Com que alegria, comoção e íntimo assentimento acolhemos então como mensagem
celeste a Encíclica Annum Sacrum, (1) justamente quando, novo levita, pudéramos
recitar: Introibo ad altare Dei (Sl 42, 4). E com que ardente entusiasmo o
nosso coração se uniu aos pensamentos e intenções que animavam e guiavam aquele
ato verdadeiramente providencial de um Pontífice que conhecera, com tão profunda
agudeza, as necessidades e chagas, claras e ocultas, do seu tempo! Portanto,
como poderíamos deixar de sentir hoje profundo reconhecimento para com a
Providência, que houve por bem dispor coincidisse o nosso primeiro ano de
pontificado com uma recordação tão importante e cara do nosso primeiro ano de
sacerdócio?
E
como poderíamos deixar de valer-nos, com alegria, desta ocasião para prestar
culto ao "Rei dos reis e Senhor dos dominadores" (1 Tm 6, 15, Ap 19,
16) quase como oração de entrada do nosso pontificado, no espírito do nosso
inesquecível predecessor e na fiel atuação das suas intenções?
Como
poderíamos deixar de fazer desse culto o alfa e o ômega da nossa vontade e da
nossa esperança, do nosso ensino e da nossa atividade, da nossa paciência e dos
nossos sofrimentos, tudo consagrado à difusão do reino de Cristo?
A
fonte de indizíveis bens
3.
Se, à luz da eternidade, contemplarmos os acontecimentos externos e internos
que se desenvolveram nos últimos quarenta anos, e lhes medirmos as grandezas e
deficiências, aquela consagração universal a Cristo-Rei, pelo seu sagrado
significado, pelo seu simbolismo exortador, pelo seu escopo de purificação e de
elevação, revela-se aos olhos do nosso espírito como tendente a robustecer e
defender cada vez mais as almas, ao mesmo tempo que, na sua previdente
sabedoria, visa a sarar e enobrecer a sociedade humana e promover o seu
verdadeiro bem.
Revela-se-nos
também cada vez mais claramente, como uma mensagem de exortação e de graça de
Deus, dirigida não só à sua Igreja mas também a um mundo hoje tão necessitado
de ajuda e de guia, porquanto, imerso no culto do presente, vem
desorientando-se cada vez mais e esgotando-se na fria investigação de ideais
puramente terrenos, mensagem a uma humanidade que, em fileiras cada vez mais
numerosas, se destaca da fé em Cristo e, mais ainda, do conhecimento e da
observância da sua lei, mensagem contra uma concepção do mundo, segundo a qual
a doutrina de amor e de abnegação do Sermão da montanha e a divina acção de amor
da cruz não passam de escândalo e de loucura. Como o precursor de Cristo
proclamava certo dia: "Eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1, 29), advertindo
que o Esperado das gentes, se bem que ainda desconhecido, habitava entre os
homens, assim o representante de Cristo, esconjurando, dirigia o seu brado
possante: "Eis o vosso Rei!" (Jo 19, 14) aos renegadores, aos
duvidosos, aos indecisos, aos hesitantes que, ou se recusavam a seguir o
Redentor glorioso, sempre vivo e operante na sua Igreja, ou seguiam-no
descuidados e lentos.
4.
Da difusão e arraigo do culto do divino coração do Redentor, que teve
esplêndido coroamento não só na consagração da humanidade, ao findar do século
passado, mas também na introdução da festa da realeza de Cristo, por nosso
imediato predecessor, (2) de saudosa memória, advieram indizíveis bens a
inúmeras almas: um "rio cujos braços alegram a cidade de Deus" (Sl
45, 5).
Que
época, mais do que a nossa, teve necessidade de semelhantes bens?
Que
época, mais do que a nossa, foi tão atormentada pela falta de espiritualidade e
profunda indigência interior, apesar do progresso técnico e puramente civil?
Acaso,
não se poderá aplicar-lhe a palavra reveladora do Apocalipse: "Pois dizes:
sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso. Não sabes, porém, que és tu o
infeliz, miserável, pobre, cego e nu" (Ap 3, 17)?
5.
Veneráveis irmãos! Existe acaso dever maior e mais urgente do que anunciar...
"as inescrutáveis riquezas de Cristo" (Ef 3, 8) aos homens do nosso
tempo?
E
haverá coisa mais nobre do que desfraldar o vexilo real diante desses que têm
seguido ou seguem bandeiras falazes e conquistar para o glorioso vexilo da cruz
aqueles que dele desertaram?
Que
coração se não deveria abrasar e sentir-se impelido a socorrer tantos irmãos e
irmãs que, devido a erros e paixões, incitamentos e prejuízos, se afastaram da
fé no Deus verdadeiro, destacando-se assim da jucunda e salutar mensagem de
Jesus Cristo?
Quem
quer que pertença à milícia de Cristo – eclesiástico ou leigo – não deveria
acaso sentir-se estimulado e incitado a maior vigilância, a mais decidida
defesa, ao ver que as fileiras dos inimigos de Cristo cada vez aumentam mais,
ao perceber que os porta-vozes dessas tendências, renegando ou praticamente
descurando as verdades vivificadoras e os valores contidos na fé em Deus e em
Cristo, partem sacrilegamente as tábuas dos mandamentos de Deus para
substituí-las com tábuas e normas que excluem a substância ética da revelação
do Sinai, o espírito do Sermão da montanha e da cruz?
Quem
poderia, sem sentir profunda aflição, observar como tais desvios preparam uma
trágica messe, justo no meio daqueles que, nos dias de tranquilidade e
segurança se alistam entre os sequazes de Cristo, mas que – infelizmente
cristãos mais de nome que de fato – quando se trata de perseverar, de lutar, de
sofrer, de afrontar as perseguições claras ou simuladas, tornam-se vítimas da
pusilanimidade, da fraqueza, da incerteza, e apavorados diante dos sacrifícios
impostos pela sua profissão cristã, não encontram a força necessária para beber
o cálice amargo dos fiéis a Jesus Cristo?
I. SOB O SINAL DE
CRISTO-REI
6.
Nestas condições de tempo e de espírito, veneráveis irmãos, possa a iminente
festa de Cristo-Rei, em que chegará a vosso conhecimento esta nossa primeira
encíclica, ser para vós um dia de graça, de profunda renovação e de novo
despertar no espírito do reino de Jesus Cristo.
Seja
um dia no qual a consagração do género humano ao divino Coração, que deve ser
celebrada com particular solenidade, reúna junto do trono do eterno Rei os
fiéis de todos os povos e de todas as nações em adoração e desagravo, para
renovarem a ele e à sua lei de verdade e de amor o juramento de fidelidade hoje
e sempre. Seja um dia de graça para todos os fiéis, no qual o fogo, por Jesus
Cristo trazido à terra, se ateie em chama cada vez mais luminosa e pura.
Seja
um dia de graça para os tíbios, os cansados, os enfastiados, em que nos seus
corações, tornados pusilânimes, amadureçam novos frutos de renovação de
espírito e de fortalecimento de ânimo.
Seja
um dia de graça também para aqueles que ainda não conhecem Cristo e para os que
o perderam, um dia no qual, de milhões de corações fiéis, se eleve ao céu a
oração. Possa "a luz que ilumina cada homem que vem a este mundo" (Jo
1, 9) aclarar-lhes o caminho da salvação, possa a sua graça suscitar no coração
inquieto dos errantes o desejo nostálgico dos bens eternos, desejo que os
induzam a voltar àquele que, do doloroso trono da cruz, tem sede também das
suas almas e deseja ardentemente tornar-se também para elas "caminho, verdade
e vida" (Jo 14, 6).
Agradecimento
paterno
7.
Pondo esta primeira encíclica do nosso pontificado sob o sinal de Cristo-Rei,
como que nos sentimos inteiramente seguros do consenso unânime e entusiástico
de todo o rebanho do Senhor.
As
experiências, as ansiedades e as provações da hora presente despertam, aguçam e
purificam o sentimento de comunidade da família católica num grau raramente
experimentado, excitando em todos os que crêem em Deus e em Jesus Cristo a
consciência de uma ameaça comum por parte de um perigo comum.
8.
Deste espírito de comunidade católica, potentemente acrescido em tão árduas
circunstâncias, e que é recolhimento e afirmação, resolução e vontade de
vitória, sentimos o bafejo consolador e inesquecível naqueles dias em que,
hesitantes mas confiados em Deus, tomamos posse da cátedra que ficara vaga pela
morte do nosso grande predecessor.
9.
Lembrando-nos ainda das inúmeras provas de filial acatamento à Igreja e ao
Vigário de Cristo, recebidas por ocasião de nossa eleição e coroação, manifestações
cheias de tanta espontaneidade e ternura, apraz-nos colher esta ocasião
propícia para dirigir-vos, veneráveis irmãos, e a todos os que pertencem à grei
do Senhor, uma palavra de comovido agradecimento por esse pacífico plebiscito
de reverente amor e de inconcussa fidelidade ao papado, com o qual se vinha
reconhecer a providencial missão do sumo-sacerdote e do pastor supremo.
Pois
que, verdadeiramente, todas aquelas manifestações não eram nem poderiam ser
dirigidas à nossa pobre pessoa mas sim ao único e altíssimo cargo a que o
Senhor nos elevava.
E
se já desde aquele primeiro momento sentíamos todo o peso das graves
responsabilidades anexas ao sumo poder que nos conferia a divina Providência,
também nos era de grande conforto ver aquela grandiosa e palpável demonstração
da incindível unidade da Igreja católica que tanto mais compacta se estreita à
inabalável rocha de Pedro, rodeando-a de barbacãs inexpugnáveis, quanto mais
cresce a ousadia dos inimigos de Cristo.
10.
Este mesmo plebiscito de unidade católica mundial e de sobrenatural
fraternidade de povos em torno do Pai comum, pareceu-nos tanto mais rico de
felizes esperanças, quanto mais trágicas eram as circunstâncias materiais e
espirituais do momento em que se dava, e a sua recordação nos veio confortando
também nos primeiros meses do nosso pontificado, durante os quais temos já
experimentado as fadigas, as ansiedades e as provações semeadas pelo caminho
que vem palmilhando a esposa de Cristo através do mundo.
11.
Não queremos que passe despercebido o grande eco de comovido reconhecimento que
vieram suscitar em nosso coração os augúrios daqueles que, se bem não pertençam
ao corpo visível da Igreja católica, não se esqueceram, em sua nobreza e
sinceridade, de sentir tudo aquilo que, ou por amor à pessoa de Cristo ou pela
sua crença em Deus, os unem a nós.
A
todos chegue a expressão da nossa gratidão.
Confiamos
a todos e cada um em particular à protecção e guia do Senhor e asseguramos que
um único pensamento domina a nossa mente: imitar os exemplos do bom pastor, a
fim de conduzir todos à verdadeira felicidade, "para que tenham a vida e a
tenham abundantemente" (Jo 10, 10).
(cont)
Revisão
da versão portuguesa por ama
_____________________________________________
Notas:
(1)
Acta Leonis XIII, vol. XIX, p. 71.
(2)
Cf. Enc. Quas primas, pp. 593-610.