JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
SEGUNDA PARTE
A OBRA REDENTORA DE JESUS CRISTO
Capítulo VII
JESUS CRISTO, MEDIADOR DA NOVA ALIANÇA E CABEÇA DO
GÉNERO HUMANO
2. Cristo medeia entre Deus e os homens exercendo
os ofícios de sacerdote, Mestre e Pastor
c) Jesus Cristo, Bom Pastor
Emprega-se
figuradamente o nome de «pastor» para
significar o que governa um povo ou tem uma especial autoridade numa
comunidade. Assim o faz frequentemente a Bíblia quando, por exemplo, dá o
título de pastor a David e a outros reis de Israel.
Cristo
apresenta-se como o Bom Pastor prometido no Antigo Testamento (cf. Jo
10,1-18; Ez 34); Ele é o pastor que ama as suas ovelhas e dá a sua vida
para as salvar; quem as conduz aos bons pastos, lhes dispensa o alimento espiritual,
e as defende do inimigo.
Paralelamente
a este título de «Pastor», a Igreja
empregou também os de rei e Senhor, que figuradamente expressam a mesma
realidade.
E segundo
diferentes tarefas que estão compreendias no ofício pastoral, também apresentou
Cristo como Legislador (pois nos dá a
Lei nova da graça e da caridade), ou como Juiz
(pois dispensa a graça e o perdão dos pecados, e premeia com a glória).
3. Cristo é o novo Adão e Cabeça da linhagem humana
em ordem à graça
a) Cristo, novo Adão
Semelhança entre Adão e Cristo, enquanto princípios
da humanidade.
Deus quis
que a humanidade tivesse o seu princípio em Adão. E, além disso, concedeu ao
nosso primeiro pai a justiça original que por ele passa-se aos seus
descendentes. Todavia, Adão, pecou e toda a sua estirpe foi privada dessa
santidade e ficou vulnerável com as sequelas desse pecado. Adão, pois, pecou
não só como pessoa individual, mas também como cabeça do género humano, e a sua
acção implicava toda a sua descendência (cf. Rom 5,12-19).
Por outro
lado, Deus destinou a Encarnação do seu Filho para que Jesus Cristo fosse o princípio
e a causa da vida sobrenatural de todos, o início de uma humanidade redimida. Daí
que o Novo Testamento afirme o paralelismo – e a contraposição – entre Adão e
Cristo, que é chamado o «novo» ou «segundo»
Adão (cf. 1 Cor 15,21-22.45-47). «Como pela queda de um só a condenação afectou todos os homens, assim
também pela justiça de um só a justificação, que dá a vida, alcança todos os
homens. Pois como pela desobediência de um só homem todos foram constituídos
pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos
justos» (Rom 5,18-19).
Também os
Padres da Igreja, e em especial santo Agostinho, tratam frequentemente o tema
dos dois «Adão» assinalando a
semelhança entre eles: ambos são os princípios de todo o género humano, ainda
que Adão o seja quanto à natureza e ao pecado, e Jesus Cristo enquanto á
salvação.
Cristo é o homem novo e perfeito, superior a Adão e
a todos os homens, o exemplar de todos os demais.
São Paulo
afirma que «Adão é a figura do que havia
de vir». De Cristo (Rom 5,14): Adão é só figura, isto é,
semelhante mas a um nível inferior a Cristo, que é a realidade plena e
perfeita. Adão, como simples figura, foi criado à imagem e semelhança d Cristo,
que é o exemplar de todos os homens. E «Ele,
que é imagem de Deus invisível (Col 1,15) é também o homem perfeito, que devolveu à descendência d Adão a
semelhança divina, deformada pelo primeiro pecado».
b) Cristo, Cabeça da linhagem humana em ordem á
graça
O Novo
Testamento diz-nos, nas «Epístolas do
cativeiro», que Cristo foi constituído «Cabeça» do seu «Corpo» que é a
Igreja e de todos os homens em ordem à graça.
Vejamos as
relações existentes no homem entre a cabeça e o corpo, para ver que significa
realmente esta expressão «cabeça»
referida metaforicamente a Cristo.
Em primeiro
lugar existe uma relação de união entre a cabeça e o corpo humano, pois ambos
formam um todo e são da mesma espécie. Assim pois, Cristo enquanto Homem é cabeça do género humano porque tem a mesma
natureza que os outros homens e é solidário com todos eles.
Em segundo
lugar, há uma relação de distinção entre a cabeça e os outros membros, enquanto
a primeira tem uma proeminência sobre o resto. Por isso se chama cabeça
figuradamente ao que é superior ou que sobressai numa ordem (p. ex. o cume de
um monte ou a «capital de uma nação). Assim, Cristo é Cabeça dos homens, porque tem uma proeminência sobre eles pela
sua plenitude de graça, em virtude da qual é o mais perfeito e o exemplar
de cada um dos homens.
E em
terceiro lugar, há outra distinção entre a cabeça e o corpo, pois aquela tem um
influxo directivo sobre o resto.
Por isso
também se chama cabeça figuradamente a quem numa sociedade tem o poder de
direcção e de governo (p. ex. o cabeça de família). Assim, Cristo é Cabeça do
género humano porque é o princípio da graça de todos os homens, o salvador de
todos eles: porque nos redimiu e agora nos comunica a vida sobrenatural. «Da sua plenitude todos recebemos graça sobre
graça» (Jo 1,16).
Cristo é
Cabeça dos homens por todas essas razões mencionadas: «Ele tem a primazia em tudo» (Col 1,18). Mas
principalmente é-o enquanto nos redime e santifica; isto é, enquanto comunica
aos outros a vida da graça.
E já
sabemos eu o fundamento ou raiz dessa
plenitude de graça de Cristo homem que se comunica aos seus membros é a união
hipostática; de modo que se Cristo não fosse Deus feito homem, não seria Cabeça
do género humano.
4. Aspectos que comporta a capitalidade de Cristo
a) A solidariedade de Cristo com o género humano
Solidariedade física, do sangue, com toda a
linhagem humana.
Cristo, por
ser homem, comparte a nossa natureza, é filho de Adão como assinala São Lucas
na genealogia do Senhor, e forma parte da família humana. Por isso, por isso
todos nós fomos feitos irmãos do Filho de Deus (cf. Heb 2,11.17).
Solidariedade moral e intencional pelo amor.
Cristo não
só comparte a natureza humana, como ainda toma sobre si tudo o nosso, a nossa
história e as nossas penas. Esta solidariedade moral nasce da livre vontade de
Jesus, do seu amor, que é a virtude que une e identifica o amante com o amado e
que faz que as coisas do amado sejam como próprias.
Assim,
pois, Cristo abraça amorosamente
todos os homens, faz-se um com eles
pelo amor e identifica-se com os seus
sofrimentos, como se fossem seus. Precisamente movido por esse amor entregou-se
por nós, para reparar o nosso mal e conseguir a nossa salvação: «Amou-me e entregou-se a si mesmo por mim»
(Gal 2,20).
Por isso
diz o concílio Vaticano II: «O Filho de
Deus com a sua Encarnação uniu-se, de certo modo, com todo o homem».
Mas advirtamos que ainda que se fale de uma certa união ou identificação de
Cristo com a humanidade, não podemos esquecer a distinção que existe entre o
Redentor e os homens redimidos: não há uma «encarnação
colectiva». Há sempre uma distinção no ser entre o amante e o amado, entre
Cristo e nós.
b) Jesus Cristo representa vicariamente todos os
homens ante Deus
Deus
destinou Cristo a ser o salvador de todos. Portanto a graça e as acções de
Cristo não terminam n’Ele, mas sim estão ordenadas no desígnio divino da
salvação do género humano: ante Deus a obra de Cristo termina em nós.
Assim,
pois, Cristo, em virtude do desígnio divino da nossa salvação, representa os
homens ante Deus e oferece-se por todos, para merecer e reparar o pecado dos
homens. Nesta obra actua como Cabeça da humanidade, representando todos e
conseguindo «para nós» o que não podíamos conseguir. Isto é o que expressa a
fórmula habitual de representação «vigário»
de Cristo: do «justo pelos injustos, para
levá-los a Deus» (1 Pe 3,18), de um por todos, «em favor de»
todos.
Há que
assinalar que Jesus nos representa, mas propriamente não nos substitui, ou só
em algum aspecto, pois, por exemplo, não decide por nós, uma vez que nós
devemos arrepender-nos dos pecados e incorporar-nos voluntariamente n’Ele como
seus membros; e tão pouco nesta vida nos poupa as penas do pecado, a morte
incluída.
c) Cristo tem o poder de salvar os homens: Ele é o
autor da salvação
Deus dispôs
que Jesus seja o novo Adão, a Cabeça e o princípio da vida sobrenatural da
linhagem humana. Por isso a sua humanidade, como instrumento do Verbo, tem o
poder de salvar todos. De modo que Ele é
o autor e o princípio da salvação: é «o
autor da vida» (Act 3,15; cf. Jo 11,25); é como uma fonte
inexaurível de vida divina no próprio seio da linhagem humana: «Ele, segundo a sua humanidade, é de alguma
forma o princípio de toda a graça de modo semelhante a como Deus é princípio de
todo o ser, (…) e por isto tem razão de cabeça».
***
(cont)
Vicente
Ferrer Barriendos
(Tradução do castelhano por ama)