Páscoa
Evangelho:
Jo 16, 23-28
23
Naquele dia, não Me interrogareis sobre nada. «Em verdade, em verdade vos digo que,
se pedirdes a Meu Pai alguma coisa em Meu nome, Ele vo-la dará. 24 Até agora
não pedistes nada em Meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja
completa. 25 «Disse-vos estas coisas em parábolas. Mas vem o tempo em que não
vos falarei já por parábolas, mas vos falarei abertamente do Pai. 26 Nesse dia
pedireis em Meu nome, e não vos digo que hei-de rogar ao Pai por vós, 27 porque
o próprio Pai vos ama, porque vós Me amastes e acreditastes que saí do Pai. 28
Saí do Pai e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo e vou para o Pai».
Comentário:
A primeira frase com que começa este
texto deixa bem claro que a vinda do Espírito Santo trará todo o conhecimento e
revelará todas as coisas que, por enquanto, permaneciam na penumbra.
Jesus tem de falar em parábolas porque
é a única forma de os que o rodeiam e seguem irem fixando os pontos principais
da Sua Doutrina já que a sua pouca cultura e, também, a “novidade” da própria
doutrina os incapacitavam para apreender cabalmente.
O Espírito Santo é o portador dos Dons
e Frutos necessários a essa compreensão e assim permanecerá até ao final dos
tempos quando toda a Verdade for conhecida e todos os mistérios revelados.
(ama, comentário sobre Jo 16, 23-28,
2015.05.16)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAETITIAE SANCTAE
DE
SUA SANTIDADE PAPA LEÃO XIII
A
TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM
GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE
O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA
Veneráveis
Irmãos, Saúde e Bênção Apostólica
Gratidão
do Papa para com Maria
1.
A santa alegria que nos trouxe o feliz transcurso do quinquagésimo aniversário
da Nossa sagração episcopal foi intensamente aumentada pelo facto de termos
tido como participantes da Nossa alegria os católicos de todo o mundo,
estreitados como filhos em torno do Pai, numa esplêndida manifestação de
fidelidade e de amor. Nisto, com renovada gratidão, reconhecemos e exaltamos um
desígnio da Divina Providência sumamente benévolo para connosco, e, ao mesmo tempo,
assaz profícuo para a sua Igreja. Mas o Nosso ânimo sente-se impelido a saudar
e louvar também a augusta Mãe de Deus, que deste benefício foi poderosa
mediadora junto a Deus. A sua singular bondade, que no longo e mutável período
da Nossa vida temos experimentado em vários modos eficaz, brilha cada dia mais
manifesta diante dos nossos olhos, e, ferindo-nos suavissimamente o coração,
robustece-o com confiança sobrenatural.
Afigura-se-nos
ouvir a própria voz da Rainha do Céu, ora benevolamente encorajar-nos no meio
das terríveis adversidades da Igreja, ora ajudar-nos, com largueza de
inspirações, nas decisões a tomar para o bem comum, ora também advertir-nos a
estimular o povo cristão à piedade e ao culto da virtude. Já muitas vezes, no
passado, fizemos para nós um grato dever de corresponder a estes desejos da
Virgem. Ora, entre as utilidades que com a sua bênção recolhemos das Nossas
exortações, justo é recordar o extraordinário desenvolvimento da devoção do seu
santo Rosário, seja pelo incremento e pela constituição de confrarias sob este
título, seja pela divulgação de escritos doutos e oportunos, seja também pela
inspiração dada a verdadeiras obras-primas artísticas.
O
Rosário e os males do nosso tempo
2.
E hoje, como que acolhendo a mesma voz da amorosíssima Mãe, com a qual ela nos
repete: "Clama, nunca te canses", apraz-nos tornar a falar-vos,
Veneráveis Irmãos, do Rosário mariano, agora que se aproxima o mês de Outubro:
mês que quisemos consagrado a esta cara devoção, e que enriquecemos com os
tesouros das santas indulgências. A Nossa palavra, todavia, não terá o fim
imediato de tributar novos louvores a uma oração já, por si mesma, tão
excelente, nem de estimular os fiéis a praticá-la com sempre maior fervor;
falaremos, antes, de algumas preciosíssimas vantagens que dela podem derivar, o
mais possível correspondentes às condições e às necessidades dos homens e dos
tempos presentes. Porque estamos absolutamente convencido de que, se a prática
do Rosário for rectamente seguida, de modo a poder ostentar toda a eficácia que
lhe é intrínseca, não somente aos simples indivíduos, mas também a toda a
sociedade, trará a maior utilidade.
3.
Sabem todos o quanto Nós, pelo dever do Nosso supremo apostolado, nos temos
aplicado a contribuir para o bem da sociedade, e o quarto ainda estamos
disposto a fazê-lo, com o auxílio de Deus. Com frequência temos advertido os
governantes a não fazerem e a não aplicarem leis que não sejam conformes à
mente divina, norma de suma justiça. E, por outra parte, mais de uma vez temos
exortado aqueles cidadãos que, ou por inteligência, ou por méritos, ou por
nobreza do sangue, ou por haveres, estão em posição de privilégio em relação
aos outros, a defenderem e a promoverem, em união de entendimentos e de forças,
os supremos e fundamentais interesses da sociedade.
4.
Mas, no estado presente da sociedade civil, sobejas são as causas que debilitam
os ligames da ordem pública e desviam os povos da justa honestidade dos
costumes. Todavia, os males que mais perigosamente minam o bem comum
parecem-nos ser principalmente os três seguintes: "aversão à vida humilde
e laboriosa; o horror ao sofrimento; o esquecimento dos bens futuros, objecto
das nossas esperanças".
A
aversão ao viver moderno
5.
Lamentamos - e connosco devem reconhecê-lo e deplorá-lo mesmo aqueles que não
admitem outra regra senão a luz da razão, nem outra medida afora a utilidade, -
lamentamos que uma chaga verdadeiramente profunda tenha ferido o corpo social
desde quando se começou a descurar os deveres e as virtudes que formam o ornamento
da vida simples e comum. De facto, daí se segue que, nas relações domésticas,
os filhos, intolerantes de toda educação que não seja a da moleza e da volúpia,
recusam arrogantemente a obediência que a própria natureza lhes impõe. Por esse
mesmo motivo os operários se afastam do seu próprio mister, fogem do labor, e,
descontentes com a sua sorte, levantam o olhar a metas demasiado altas, e
aspiram a uma inconsiderada repartição dos bens.
Ao
mesmo tempo dai se segue o afanar-se de muitos que, depois de abandonarem o
torrão natal, buscam o bulício e as numerosas seduções da cidade. Por este
motivo ainda, veio a faltar o necessário equilíbrio entre as classes sociais;
tudo é flutuante; os ânimos são agitados por invejas e rivalidades; a justiça é
abertamente violada; e aqueles que foram iludidos nas suas esperanças procuram
perturbar a tranquilidade pública com sedições, com desordens e com a resistência
aos defensores da ordem pública.
As
lições dos mistérios gozosos
6.
Pois bem: contra estes males pensamos que se deve buscar remédio no Rosário de
Maria, composto por uma bem ordenada série de orações e da piedosa contemplação
de mistérios relativos a Cristo Redentor e a sua Mãe. Expliquem-se de forma
exata e popular os mistérios gozosos, apresentando-os aos olhos dos fiéis como
outros tantos quadros e vivas figurações das virtudes. E assim cada um verá que
fácil e rica mina eles oferecem de ensinamentos aptos para arrastar com
maravilhosa suavidade as almas à honestidade da vida.
7.
Eis diante do nosso olhar a Casa de Nazaré, onde toda santidade, a humana e a
divina, colocou a sua morada. Que exemplo de vida comum! Que perfeito modelo de
sociedade! Ali há simplicidade e candura de costumes; perpétua harmonia de
almas; nenhuma desordem; respeito mútuo; e, enfim, o amor: mas não o amor falso
e mendaz, e sim aquele amor integral, que se alimenta na prática dos próprios
deveres, e tal que atrai a admiração de todos.
Ali
não falta a solicitude de se proporcionar a si mesmos tudo quanto é necessário
à vida, mas com o "suor da fronte", e como convém àqueles que,
contentando-se com pouco, se esforçam antes por diminuir a sua pobreza do que
por multiplicar os seus haveres. E, sobre tudo isto, reina ali a maior
serenidade de ânimo e alegria de espírito: duas coisas que sempre acompanham a
consciência do dever cumprido.
8.
Ora, estes exemplos de modéstia e de humildade, de tolerância da fadiga, de
bondade para com o próximo e de fiel observância dos pequenos deveres da vida
quotidiana, e, numa palavra, os exemplos de todas estas virtudes, assim que
entram nos corações e nele se imprimem profundamente, certamente produzem nele
pouco a pouco a desejada transformação dos pensamentos e dos costumes.
Então
os deveres do próprio estado não mais serão nem descurados nem considerados
enfadonhos, mas serão, antes, agradáveis e deleitáveis; e a consciência do
dever, imbuída de senso de alegria, será sempre mais decidida no obrar o bem.
Por
consequência, os costumes tornar-se-ão mais brandos sob todos os aspectos; a
convivência familiar transcorrerá no amor e na alegria; as relações com os
outros serão pautadas por um maior respeito e caridade. E, se estas
transformações se estenderem dos indivíduos às famílias, às cidades, aos povos
e às suas instituições, é fácil ver que imensas vantagens devam daí derivar
para a sociedade inteira.
A
aversão ao sacrifício
9.
O segundo mal funestíssimo, que Nós nunca deploraremos bastante, porque ele
sempre mais difunde e ruinosamente envenena as almas, é a tendência a fugir da
dor e a afastar por todos os meios as adversidades.
De
feito, a maioria dos homens não consideram mais, como deveriam, a serena
liberdade de espírito como um prêmio para quem exercita a virtude e suporta
vitoriosamente perigos e trabalhos; mas excogitam uma quimérica perfeição da
sociedade, em que, removido todo sacrifício, se deparem todas as comodidades
terrenas.
Ora,
este agudo e desenfreado desejo de uma vida cômoda debilita fatalmente as almas,
que, mesmo quando não se arruínam totalmente, ficam, sem embargo, tão
enervados, que primeiro cedem vergonhosamente em face dos males da vida, e
depois sucumbem miseravelmente.
As
lições dos mistérios dolorosos
10.
Pois bem: ainda contra este mal é bem justificado esperar-se do Rosário de
Maria um remédio que, pela força do exemplo, pode grandemente contribuir para
fortalecer os ânimos. E isto se obterá se os homens, desde a sua primeira
infância, e depois constantemente em toda a sua vida, se aplicarem, no
recolhimento, à meditação dos mistérios dolorosos.
Através
destes mistérios vemos que Jesus, "guia e aperfeiçoados da fé",
começou a fazer e a ensinar, a fim de que víssemos n'Ele próprio o exemplo
prático dos ensinamentos que Ele daria à nossa humanidade, acerca da tolerância
da dor e dos trabalhos; e o exemplo de Jesus chegou a tal ponto, que,
voluntariamente e de grande coração, Ele mesmo abraçou tudo o que há de mais
duro de suportar.
Com
efeito, vemo-lo como um ladrão, julgado por homens iníquos, e feito alvo de
ultrajes e de calúnias. Vemo-lo flagelado, coroado de espinhos, crucificado
considerado indigno de continuar a viver, e merecedor de morrer entre os
clamores de todo um povo.
Consideremos
a aflição de sua santíssima Mãe, cuja alma não foi somente roçada, mas
verdadeiramente "trespassada" pela "espada da dor"- de modo
que ela mereceu ser chamada, e realmente se tornou, a Mãe das dores.
(cont)
Revisão da versão portuguesa por ama