Agonia
de Jesus no Horto das Oliveiras
Jesus, ajuda-me a
acompanhar a Tua Santíssima Mãe e compartilhar com Ela estes Mistérios
Dolorosos, animando-a e confortando-a na sua dor e angústia.
O
meu Senhor retirou-se para rezar.
Procurou
a solidão no silêncio do fim do dia.
A
Sua Humanidade sofria intensamente com a visão dos tormentos que se
aproximavam.
Poderia
Jesus ter suportado a flagelação, as vergastadas, os espinhos cravando-se na
Sua cabeça, os pregos rasgando a carne, o horror do suplício da Cruz?
Estou
certo que sim. Jesus era um homem perfeito e o sofrimento, por excessivo que
fosse não deveria atemorizá-lo de forma tão absoluta.
Outros
sofreram também horrores, sacrifícios inauditos de incrível crueldade.
Julgo
que o atroz sofrimento de Jesus, no Horto das Oliveiras, nascia principalmente
no Seu espírito, no Seu coração.
Ele
tinha dado tudo quanto tinha para dar, oferecido todos os meios, apontado todos
os caminhos e, agora, iam fazer pouco, escarnecê-lo, violentá-lo na sua
inteireza de homem bom e recto, iam negá-lo como Filho de Deus, Deus verdadeiro
feito homem.
Tudo
isto, e muito mais, e não só nessa noite e no dia seguinte, mas depois, em
todas as noites e todos os dias até ao final dos tempos.
Milhões
de homens e mulheres que sempre O iriam negar, escarnecer, cuspir e crucificar
outra vez. Que peso, Senhor, que peso incrível seria o conhecimento de tudo
isto!
Ah!
meu Jesus, se ainda se salvassem todos os homens!
Se,
apesar de tudo, essas almas conhecessem a Vida Eterna no seio de Deus Pai, como
tinhas previsto e desejado desde o início dos tempos!
Mas
não, Jesus, o que mais te dói agora, neste fim de dia no Horto das Oliveiras é
que tantos milhões de homens e mulheres se percam eternamente.
Dói-te
tanto, Senhor, não pelo teu sacrifício ter sido inútil para esses, mas porque o
Teu coração bondoso, a Tua misericórdia infinita se entristece mortalmente com
esse fim trágico dos teus filhos.
Não
foi isso que quiseste. Nunca desejas-te outra coisa senão a eterna felicidade
de todos os homens, que todos, absolutamente todos, se salvassem e pudessem
estar contigo, com o Pai, com o Espírito Santo, com a Tua Santíssima Mãe, com a
legião de Anjos e Santos, por toda a eternidade.
Não
tens, ali, a Tua Mãe extremosa, para te amparar e dar consolo. Nesta hora tão
triste, de certeza que o seu coração se contrai também na dor que não pode
deixar de sentir em uníssono com o seu Filho.
Talvez,
na casa onde pernoita, vele angustiada, esperando o horror que adivinha.
Decerto
que Tu, Filho fiel, com todo o carinho e ternura lhe terás desvendado algo do
que irá acontecer nas próximas horas.
Soube,
antes que lho contasses, da tristeza que já Te invadia o coração, bastava-lhe
olhar o rosto adorado do seu divino Filho para se aperceber do vendaval de
emoções que n'Ele se chocavam.
Também
ela, a Tua Santíssima Mãe, reza com fervor repetindo o “Fiat” que pronunciara
trinta e três anos antes. Punha nas mãos de Deus, Teu e seu Pai, toda a vida,
toda a morte, todos os sofrimentos do seu Filho.
Tem
confiança, tem esperança mas, sobretudo, sabe, que há-de voltar a ver-te
ressuscitado e glorioso.
Esta
certeza, do sofrimento de Tua Mãe, junta-se às dores que Te partem o coração e
tornam tão grande, tão incomensurável a tua dor, tens tanta pena, que suas
sangue [1] e,
numa fraqueza momentânea, pedes a Teu Pai que afaste esse cálice. [2]
Por
momentos, Senhor, a Tua humanidade tornou-se mais evidente. Mas logo, a Tua
perfeição absoluta, reduziu a nada esse desejo legítimo, a esse desabafo: «não se faça o que Eu quero, senão o que Tu
queres!» [3]
Também
eu digo, faça-se a Tua vontade, Deus e Senhor de tudo e de todas as coisas e
não a minha vontade de homem!
A
Tua dor, Senhor, é uma dor de amor que só pode ser mitigada com amor.
Posso
eu, Senhor, ter sempre presente a Tua agonia enorme e inimaginável, ou estou
sempre tão ocupado, tão absorvido, tão disperso que nem sequer sou capaz de estar
contigo uma simples hora do meu dia, inteiramente dedicada a Ti, fazendo-te
companhia, compartilhando a Tua dor, carregando um pouco do Teu sofrimento?
Minha
Mãe Santíssima, ajuda-me a ter uma dor de amor tão completa que me faça
despertar deste sono que me carrega o espírito e permanecer ao lado do teu
divino Filho, vigilante e decidido a não ceder nem à dor nem ao cansaço.
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