Tempo comum XVI Semana
Evangelho:
Mt 13, 24-30
24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a
um homem que semeou boa semente no seu campo.25 Porém, enquanto os
homens dormiam, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e foi-se. 26
Tendo crescido a erva e dado fruto, apareceu então o joio. 27
Chegando os servos do pai de família, disseram-lhe: “Senhor, porventura não
semeaste tu boa semente no teu campo? Donde veio, pois, o joio?”. 28
Ele, respondeu-lhes: “Foi um inimigo que fez isto”. Os servos disseram-lhe:
“Queres que vamos e o arranquemos?”. 29 Ele respondeu-lhes: “Não,
para que talvez não suceda que, arrancando o joio, arranqueis juntamente com
ele o trigo. 30 Deixai-os crescer juntos até à ceifa, e no tempo da
ceifa direi aos ceifeiros: Colhei primeiramente o joio, e atai-o em molhos para
o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro”».
Comentário:
Acontece na
vida espiritual o que sucede na vida corrente, o trigo e o joio, o bem e o mal,
andam muitas vezes de tal forma juntos que quase não se distinguem.
Isso tem a ver sobretudo com as disposições da alma e com a vida que se vive.
No primeiro, caso quando se abranda a vigilância facilmente se cai na tibieza e
valor real das coisas transforma-se e acaba confundindo-se.
No segundo as
companhias, o ambiente arrastam para onde não queremos ir e acabamos misturados
numa mesma massa cujos valores, preocupações e objectivos não nos convêm.
Trigo e, ao
mesmo tempo joio!
Cientes desta
realidade peçamos ao Senhor que nos envie ceifeiros competentes para que não
aconteça ir-mos parar à fogueira do demónio em lugar de recolhidos no celeiro
divino.
(ama,
comentário sobre Mt 13, 24-30, 2013.07.27)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CONGREGAÇÃO
PARA A DOUTRINA DA FÉ
A MENSAGEM DE FÁTIMA
…/3
O
«SEGREDO» DE FÁTIMA
COLÓQUIO
COM A IRMÃ MARIA LÚCIA DE JESUS E DO CORAÇÃO IMACULADO
O encontro da Irmã Lúcia
com Sua Ex.cia Rev.ma D. Tarcisio Bertone, Secretário da Congregação para a
Doutrina da Fé, por encargo recebido do Santo Padre, e Sua Ex.cia Rev.ma D.
Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo de Leiria-Fátima, teve lugar a 27 de Abril
passado (uma quinta-feira), no Carmelo de Santa Teresa em Coimbra.
A Irmã Lúcia estava lúcida
e calma, dizendo-se muito feliz com a ida do Santo Padre a Fátima para a
Beatificação de Francisco e Jacinta, há muito desejada por ela.
O Bispo de Leiria-Fátima
leu a carta autógrafa do Santo Padre, que explicava os motivos da visita. A
Irmã Lúcia disse sentir-se muito honrada, e releu pessoalmente a carta
comprazendo-se por vê-la nas suas próprias mãos. Declarou-se disposta a
responder francamente a todas as perguntas.
Então, o Senhor D.
Tarcisio Bertone apresenta-lhe dois envelopes: um exterior que tinha dentro
outro com a carta onde estava a terceira parte do «segredo» de Fátima. Tocando
esta segunda com os dedos, logo exclamou: «É a minha carta», e, depois de a
ler, acrescentou: «É a minha letra».
Com o auxílio do Bispo de
Leiria-Fátima, foi lido e interpretado o texto original, que é em língua
portuguesa. A Irmã Lúcia concorda com a interpretação segundo a qual a terceira
parte do «segredo» consiste numa visão profética, comparável às da história
sagrada. Ela reafirma a sua convicção de que a visão de Fátima se refere
sobretudo à luta do comunismo ateu contra a Igreja e os cristãos, e descreve o
imane sofrimento das vítimas da fé no século XX.
À pergunta: «A personagem
principal da visão é o Papa?», a Irmã Lúcia responde imediatamente que sim e
recorda como os três pastorinhos sentiam muita pena pelo sofrimento do Papa e
Jacinta repetia: «Coitadinho do Santo Padre. Tenho muita pena dos pecadores!» A
Irmã Lúcia continua: «Não sabíamos o nome do Papa; Nossa Senhora não nos disse
o nome do Papa. Não sabíamos se era Bento XV, Pio XII, Paulo VI ou João Paulo
II, mas que era o Papa que sofria e isso fazia-nos sofrer a nós também».
Quanto à passagem relativa
ao Bispo vestido de branco, isto é, ao Santo Padre — como logo perceberam os
pastorinhos durante a «visão» — que é ferido de morte e cai por terra, a irmã
Lúcia concorda plenamente com a afirmação do Papa: «Foi uma mão materna que
guiou a trajectória da bala e o Santo Padre agonizante deteve-se no limiar da
morte» (João Paulo II, Meditação com os Bispos Italianos, a partir da
Policlínica Gemelli, 13 de Maio de 1994).
Uma vez que a Irmã Lúcia,
antes de entregar ao Bispo de Leiria-Fátima de então o envelope selado com a
terceira parte do «segredo», tinha escrito no envelope exterior que podia ser
aberto somente depois de 1960 pelo Patriarca de Lisboa ou pelo Bispo de Leiria,
o Senhor D. Bertone pergunta-lhe: «Porquê o limite de 1960? Foi Nossa Senhora que
indicou aquela data?».Resposta da Irmã Lúcia: «Não foi Nossa Senhora; fui eu
que meti a data de 1960 porque, segundo intuição minha, antes de 1960 não se
perceberia, compreender-se-ia somente depois. Agora pode-se compreender melhor.
Eu escrevi o que vi; não compete a mim a interpretação, mas ao Papa».
Por último, alude-se ao
manuscrito, não publicado, que a Irmã Lúcia preparou para dar resposta a tantas
cartas de devotos e peregrinos de Nossa Senhora. A obra intitula-se «Os apelos
da Mensagem de Fátima», e contém pensamentos e reflexões que exprimem, em chave
catequética e parenética, os seus sentimentos e espiritualidade cândida e
simples. Perguntou-se-lhe se gostava que fosse publicado, ao que a Irmã Lúcia
respondeu: «Se o Santo Padre estiver de acordo, eu fico contente; caso
contrário, obedeço àquilo que decidir o Santo Padre». A Irmã Lúcia deseja
sujeitar o texto à aprovação da Autoridade Eclesiástica, esperando que o seu
escrito possa contribuir para guiar os homens e mulheres de boa vontade no
caminho que conduz a Deus, meta última de todo o anseio humano.
O colóquio termina com uma
troca de terços: à Irmã Lúcia foi dado o terço oferecido pelo Santo Padre, e
ela, por sua vez, entrega alguns terços confeccionados pessoalmente por ela.
A Bênção, concedida em
nome do Santo Padre, concluiu o encontro.
COMUNICAÇÃO
DE SUA EMINÊNCIA O CARD. ÂNGELO SODANO SECRETÁRIO DE ESTADO DE SUA
SANTIDADE
No final da solene
Concelebração Eucarística presidida por João Paulo II em Fátima, o Cardeal
Ângelo Sodano, Secretário de Estado, pronunciou em português as palavras
seguintes:
Irmãos e irmãs no Senhor!
No termo desta solene
celebração, sinto o dever de apresentar ao nosso amado Santo Padre João Paulo
II os votos mais cordiais de todos os presentes pelo seu próximo octogésimo
aniversário natalício, agradecidos pelo seu precioso ministério pastoral em
benefício de toda a Santa Igreja de Deus.
Na circunstância solene da
sua vinda a Fátima, o Sumo Pontífice incumbiu-me de vos comunicar uma notícia. Como
é sabido, a finalidade da vinda do Santo Padre a Fátima é a beatificação dos
dois Pastorinhos. Contudo Ele quer dar a esta sua peregrinação também o valor
de um renovado preito de gratidão a Nossa Senhora pela protecção que Ela Lhe
tem concedido durante estes anos de pontificado. É uma protecção que parece ter
a ver também com a chamada terceira parte do «segredo» de Fátima.
Tal texto constitui uma
visão profética comparável às da Sagrada Escritura, que não descrevem de forma
fotográfica os detalhes dos acontecimentos futuros, mas sintetizam e condensam
sobre a mesma linha de fundo factos que se prolongam no tempo numa sucessão e
duração não especificadas. Em consequência, a chave de leitura do texto só pode
ser de carácter simbólico.
A visão de Fátima
refere-se sobretudo à luta dos sistemas ateus contra a Igreja e os cristãos e
descreve o sofrimento imane das testemunhas da fé do último século do segundo
milénio. É uma Via Sacra sem fim, guiada pelos Papas do século vinte.
Segundo a interpretação dos
pastorinhos, interpretação confirmada ainda recentemente pela Irmã Lúcia, o
«Bispo vestido de branco» que reza por todos os fiéis é o Papa. Também Ele,
caminhando penosamente para a Cruz por entre os cadáveres dos martirizados
(bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares), cai
por terra como morto sob os tiros de uma arma de fogo.
Depois do atentado de 13
de Maio de 1981, pareceu claramente a Sua Santidade que foi «uma mão materna a
guiar a trajectória da bala», permitindo que o «Papa agonizante» se detivesse
«no limiar da morte» [João Paulo II, Meditação com os Bispos Italianos, a
partir da Policlínica Gemelli, em:
Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVII-1 (Città del Vaticano 1994), 1061].
Certa ocasião em que o Bispo de Leiria-Fátima de então passara por Roma, o Papa
decidiu entregar-lhe a bala que tinha ficado no jeep depois do atentado, para
ser guardada no Santuário. Por iniciativa do Bispo, essa bala foi depois encastoada
na coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima.
Depois, os acontecimentos
de 1989 levaram, quer na União Soviética quer em numerosos Países do Leste, à
queda do regime comunista que propugnava o ateísmo. O Sumo Pontífice agradece
do fundo do coração à Virgem Santíssima também por isso. Mas, noutras partes do
mundo, os ataques contra a Igreja e os cristãos, com a carga de sofrimento que
eles provocam, infelizmente não cessaram. Embora os acontecimentos a que faz
referência a terceira parte do « segredo » de Fátima pareçam pertencer já ao
passado, o apelo à conversão e à penitência, manifestado por Nossa Senhora ao
início do século vinte, conserva ainda hoje uma estimulante actualidade. « A
Senhora da Mensagem parece ler com uma perspicácia singular os sinais dos
tempos, os sinais do nosso tempo. (...) O convite insistente de Maria
Santíssima à penitência não é senão a manifestação da sua solicitude materna
pelos destinos da família humana, necessitada de conversão e de perdão» [João
Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial do Doente - 1997, n. 1, em: Insegnamenti
di Giovanni Paolo II, XIX‑2 (Città del Vaticano
1996), 561].
Para consentir que os
fiéis recebam melhor a mensagem da Virgem de Fátima, o Papa confiou à
Congregação para a Doutrina da Fé o encargo de tornar pública a terceira parte
do «segredo», depois de lhe ter preparado um adequado comentário.
Irmãos e irmãs, damos
graças a Nossa Senhora de Fátima pela sua protecção. Confiamos à sua materna
intercessão a Igreja do Terceiro Milénio.
Sub tuum præsidium
confugimus, Sancta Dei Genetrix! Intercede pro Ecclesia. Intercede pro Papa
nostro Ioanne Paulo II. Amen.
Fátima,
13 de Maio de 2000.
COMENTÁRIO
TEOLÓGICO
Quem lê com atenção o
texto do chamado terceiro «segredo» de Fátima, que depois de longo tempo, por
disposição do Santo Padre, é aqui publicado integralmente, ficará
presumivelmente desiludido ou maravilhado depois de todas as especulações que
foram feitas. Não é revelado nenhum grande mistério; o véu do futuro não é
rasgado. Vemos a Igreja dos mártires deste século que está para findar, representada
através duma cena descrita numa linguagem simbólica de difícil decifração. É
isto o que a Mãe do Senhor queria comunicar à cristandade, à humanidade num
tempo de grandes problemas e angústias? Serve-nos de ajuda no início do novo
milénio? Ou não serão talvez apenas projeções do mundo interior de crianças,
crescidas num ambiente de profunda piedade, mas simultaneamente assustadas
pelas tempestades que ameaçavam o seu tempo? Como devemos entender a visão, o
que pensar dela?
Revelação pública e
revelações privadas – o seu lugar teológico
Antes de encetar uma tentativa de
interpretação, cujas linhas essenciais podem encontrar-se na comunicação que o
Cardeal Sodano pronunciou, no dia 13 de Maio deste ano, no fim da Celebração Eucarística
presidida pelo Santo Padre em Fátima, é necessário dar alguns esclarecimentos
básicos sobre o modo como, segundo a doutrina da Igreja, devem ser
compreendidos no âmbito da vida de fé fenómenos como o de Fátima. A doutrina da
Igreja distingue «revelação pública» e «revelações privadas»; entre as duas
realidades existe uma diferença essencial, e não apenas de grau. A noção
«revelação pública» designa a acção reveladora de Deus que se destina à
humanidade inteira e está expressa literariamente nas duas partes da Bíblia: o
Antigo e o Novo Testamento. Chama-se «revelação», porque nela Deus Se foi dando
a conhecer progressivamente aos homens, até ao ponto de Ele mesmo Se tornar
homem, para atrair e reunir em Si próprio o mundo inteiro por meio do Filho encarnado,
Jesus Cristo. Não se trata, portanto, de comunicações intelectuais, mas de um
processo vital em que Deus Se aproxima do homem; naturalmente nesse processo,
depois aparecem também conteúdos que têm a ver com a inteligência e a
compreensão do mistério de Deus. Tal processo envolve o homem inteiro e, por
conseguinte, também a razão, mas não só ela. Uma vez que Deus é um só, também a
história que Ele vive com a humanidade é única, vale para todos os tempos e
encontrou a sua plenitude com a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Por
outras palavras, em Cristo Deus disse tudo de Si mesmo, e portanto a revelação
ficou concluída com a realização do mistério de Cristo, expresso no Novo
Testamento. O Catecismo da Igreja Católica, para explicar este carácter
definitivo e pleno da revelação, cita o seguinte texto de S. João da Cruz: «Ao
dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra — e não tem outra —,
Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única (...)
porque o que antes disse parcialmente pelos profetas, revelou-o totalmente,
dando-nos o Todo que é o seu Filho. E por isso, quem agora quisesse consultar a
Deus ou pedir-Lhe alguma visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas
faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora
d'Ele outra realidade ou novidade» (CIC, n. 65; S. João da Cruz, A Subida do
Monte Carmelo, II, 22).
O facto de a única
revelação de Deus destinada a todos os povos ter ficado concluída com Cristo e
o testemunho que d'Ele nos dão os livros do Novo Testamento vincula a Igreja
com o acontecimento único que é a história sagrada e a palavra da Bíblia, que
garante e interpreta tal acontecimento, mas não significa que agora a Igreja
pode apenas olhar para o passado, ficando assim condenada a uma estéril
repetição. Eis o que diz o Catecismo da Igreja Católica: «No entanto, apesar de
a Revelação ter acabado, não quer dizer que esteja completamente explicitada. E
está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance no
decorrer dos séculos» (n. 66). Estes dois aspectos — o vínculo com a unicidade
do acontecimento e o progresso na sua compreensão — estão optimamente
ilustrados nos discursos de despedida do Senhor, quando Ele declara aos
discípulos: « Ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis
suportar agora. Quando vier o Espírito da Verdade, Ele guiar-vos-á para a verdade
total, porque não falará de Si mesmo (...) Ele glorificar-Me-á, porque há-de
receber do que é meu, para vo-lo anunciar» (Jo 16, 12-14). Por um lado, o
Espírito serve de guia, desvendando assim um conhecimento cuja densidade não se
podia alcançar antes porque faltava o pressuposto, ou seja, o da amplidão e
profundidade da fé cristã, e que é tal que não estará concluída jamais. Por outro
lado, esse acto de guiar é «receber» do tesouro do próprio Jesus Cristo, cuja
profundidade inexaurível se manifesta nesta condução por obra do Espírito. A
propósito disto, o Catecismo cita uma densa frase do Papa Gregório Magno: «As
palavras divinas crescem com quem as lê» (CIC, n. 94; S. Gregório Magno,
Homilia sobre Ezequiel 1, 7, 8). O Concílio Vaticano II indica três caminhos
essenciais, através dos quais o Espírito Santo efectua a sua guia da Igreja e,
consequentemente, o «crescimento da Palavra»: realiza‑se
por meio da meditação e estudo dos fiéis, por meio da íntima inteligência que
experimentam das coisas espirituais, e por meio da pregação
daqueles «que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade»
(Dei Verbum, n. 8).
(cont)