Cartas
de São Paulo
2.ª Tessalonicenses - 3
Qualidades do bispo –
1
É digna de fé esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, deseja um excelente
ofício. 2 Mas é necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só
mulher, sóbrio, ponderado, de bons costumes, hospitaleiro, capaz de ensinar; 3 que
não seja dado ao vinho, nem violento, mas condescendente, pacífico,
desinteressado; 4 que governe bem a própria casa, mantendo os filhos submissos,
com toda a dignidade. 5 Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como
cuidará ele da igreja de Deus? 6 Que não seja neófito, para que não se
ensoberbeça e caia na mesma condenação do diabo. 7 Mas é necessário também que
ele goze de boa reputação entre os de fora, para não cair no descrédito e nas
ciladas do diabo.
Qualidades do diácono –
8
Do mesmo modo, os diáconos sejam pessoas dignas, sem duplicidade, não
inclinados ao excesso de vinho, nem ávidos de lucros desonestos. 9 Guardem o
mistério da fé numa consciência pura. 10 Sejam também eles, primeiro, postos à
prova e só depois, se forem irrepreensíveis, exerçam o diaconado. 11 Do mesmo
modo, as mulheres sejam dignas, não maldizentes, sóbrias, fiéis em tudo. 12 Os
diáconos sejam maridos de uma só mulher, capazes de dirigir bem os filhos e a
própria casa. 13 Pois aqueles que cumprirem bem o diaconado adquirem para si
uma posição honrosa e autoridade em questões de fé, em Cristo Jesus.
O mistério da piedade –
14
Escrevo-te estas coisas, na esperança de ir ter contigo em breve. 15 Porém, eu
quero que saibas como deves proceder na casa de Deus, esta Igreja do Deus vivo,
coluna e sustentáculo da verdade. 16 Grande é todos o confessam o mistério da
piedade: Aquele que foi manifestado na carne, foi justificado no Espírito, apresentado
aos anjos, anunciado às nações, acreditado no mundo, exaltado na glória.
Amigos de Deus
234
O exercício da caridade
Pecaria
por ingenuidade quem imaginasse que as exigências da caridade cristã se
cumprem facilmente.
É
bem diferente o que nos diz a experiência, quer no âmbito das ocupações
habituais dos homens, quer, por desgraça, no âmbito da Igreja.
Se o
amor não nos obrigasse a calar, cada um de nós teria muito que contar de
divisões, de ataques, de injustiças, de murmurações e de insídias.
Temos
de o admitir com simplicidade, para tratar de aplicar, pela parte que nos
corresponde, o remédio oportuno, que se há-de traduzir num esforço pessoal por
não ferir, por não maltratar, por corrigir sem deixar ninguém esmagado.
Não
são problemas de hoje.
Poucos
anos depois da Ascensão de Cristo aos céus, quando ainda andavam de um lugar
para outro todos os Apóstolos e era geral um admirável fervor de fé e de
esperança, já muitos, no entanto, começavam a desencaminhar-se e a não viver a
caridade do Mestre.
“Havendo
entre vós rivalidades e discórdias” - escreve São Paulo aos de Corinto – “não
é notório que sois carnais e procedeis como homens? Porque, quando um diz: eu
sou de Paulo, e outro: eu sou de Apolo, não estais a mostrar que ainda sois
homens carnais que não compreendem que Cristo veio para superar todas essas
divisões? Quem é Apolo? Quem é Paulo? Ministros daquele em quem vós crestes e
isso segundo a medida que o Senhor concedeu a cada um”.
O
Apóstolo não rejeita a diversidade: “Cada um tem de Deus o seu próprio dom;
um de um modo e outro de outro. Mas essas diferenças têm de estar ao serviço do
bem da Igreja”.
Sinto-me
inclinado agora a pedir ao Senhor - se quiserdes unir-vos a esta minha oração -
que não permita que na Sua Igreja a falta de amor semeie joio nas almas.
A
caridade é o sal do apostolado dos cristãos; se perde o sabor, como poderemos
apresentar-nos ao mundo e explicar, de cabeça erguida, que aqui está Cristo?
235
Portanto,
repito-vos com São Paulo: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e a
linguagem dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que ressoa ou
como o címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse
todos os mistérios e possuísse toda a ciência, e tivesse toda a fé, de modo a
mover montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. E ainda que distribuísse
todos os meus bens para sustento dos pobres e entregasse o meu corpo para ser
queimado, se não tiver caridade, nada me aproveita” .
Perante
estas palavras do Apóstolo dos gentios, não faltam os que se assemelham àqueles
discípulos de Cristo, que, ao anunciar-lhes Nosso Senhor o Sacramento da Sua
Carne e do Seu Sangue, comentaram: « É dura esta doutrina; quem a pode
escutar?»
É
dura, sim. Porque a caridade que o Apóstolo descreve não se limita à
filantropia, ao humanitarismo ou à natural comiseração pelo sofrimento alheio;
exige a prática da virtude teologal do amor a Deus e do amor, por Deus, aos
outros.
Por
isso, a caridade nunca deixará de existir, ao passo que as profecias
terminarão, as línguas cessarão e a ciência acabará...
Agora
permanecem estas três virtudes: A fé, a esperança e a caridade; mas, das três,
a caridade é a mais excelente.
236
O único caminho
Já
nos convencemos de que a caridade nada tem a ver com essa caricatura que às
vezes se tem pretendido traçar da virtude central da vida cristã.
Mas
perguntamos agora: Porque se exige pregá-la constantemente? Será uma espécie de
tema obrigatório, mas com poucas possibilidades de se manifestar em factos
concretos?
Olhando
à nossa volta, talvez descobríssemos razões para pensar que a caridade é
realmente uma virtude ilusória.
Mas
considerando as coisas com sentido sobrenatural, descobrirás também a raiz dessa
esterilidade, que se cifra numa ausência de convívio intenso e contínuo, de tu
a tu, com Nosso Senhor Jesus Cristo, e no desconhecimento da acção do Espírito
Santo na alma, cujo primeiro fruto é precisamente a caridade.
Recolhendo
um conselho do Apóstolo: “levai uns as cargas dos outros e assim cumprireis
a lei de Cristo”, acrescenta um Padre da Igreja: “Amando a Cristo,
suportaremos facilmente a fraqueza dos outros, mesmo a daquele a quem ainda não
amamos, porque não tem boas obras”.
Por
aí se eleva o caminho que nos faz crescer na caridade.
Enganar-nos-íamos
se imaginássemos que primeiro temos de nos exercitar em actividades
humanitárias, em trabalhos de assistência, excluindo o amor do Senhor.
Não
descuidemos Cristo por causa do próximo que está enfermo, uma vez que devemos
amar o enfermo por causa de Cristo.
Olhai
constantemente para Jesus, que, sem deixar de ser Deus, Se humilhou tomando a
forma de servo para nos poder servir, porque só nessa mesma direcção se abrem
os afãs por que vale a pena lutar.
O
amor procura a união, a identificação com a pessoa amada; e, ao unirmo-nos com
Cristo, atrair-nos-á a ânsia de secundar a Sua vida de entrega, de amor sem
medida, de sacrifício até à morte.
Cristo
coloca-nos perante o dilema definitivo: Ou consumirmos a existência de uma
forma egoísta e solitária ou dedicarmo-nos com todas as forças a uma tarefa de
serviço.
237
Vamos
pedir agora ao Senhor, para terminar este tempo de conversa com Ele, que nos
conceda poder repetir com São Paulo que triunfamos por virtude daquele que nos
amou.
“Pelo
qual estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força, nem o
que há de mais alto, nem de mais profundo, nem qualquer outra criatura poderá
jamais separar-nos do amor de Deus que está em Jesus Cristo Nosso Senhor”.
Este
amor também a Escritura o canta com palavras inflamadas: “As águas copiosas
não puderam extinguir a caridade, nem os rios afogá-la”.
Este
amor encheu sempre o Coração de Santa Maria, ao ponto de enriquecê-la com
entranhas de Mãe para toda a humanidade.
Em
Nossa Senhora o amor a Deus confunde-se com a solicitude por todos os seus
filhos.
O
seu Coração dulcíssimo teve de sofrer muito, atento aos mínimos pormenores -
não têm vinho - ao presenciar aquela crueldade colectiva, aquele encarniçamento
dos verdugos, que foi a Paixão e Morte de Jesus.
Mas
Maria não fala.
Como
o seu Filho, ama, cala e perdoa. Essa é a força do amor.
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Sempre
que sentimos no nosso coração desejos de melhorar, de responder mais
generosamente ao Senhor, e procuramos um guia, um norte claro para a nossa
existência cristã, o Espírito Santo traz à nossa memória as palavras do
Evangelho: Importa orar sempre e não cessar de o fazer.
A
oração é o fundamento de todo o trabalho sobrenatural; com a oração somos
omnipotentes; se prescindíssemos deste recurso, nada conseguiríamos.
Eu
gostaria que hoje, na nossa meditação, nos persuadíssemos definitivamente da
necessidade de nos dispormos a ser almas contemplativas no meio do mundo e do
trabalho, com uma conversa contínua com o nosso Deus, a qual não deve esmorecer
ao longo do dia. Se pretendemos seguir lealmente os passos do Mestre, este é o
único caminho.