RESUMOS DA FÉ CRISTÃ
TEMA 5 A Santíssima Trindade
É o mistério central da fé e
da vida cristã. Os cristãos são baptizados em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo.
2.
Deus na Sua vida íntima
…/2
As duas processões são o
fundamento das diversas relações que em Deus se identificam com as Pessoas
divinas: o ser Pai, o ser Filho e o ser espirado por Eles.
De facto, como não é
possível ser pai e ser filho da mesma pessoa, no mesmo sentido assim não é
possível ser ao mesmo tempo a Pessoa que procede pela espiração e as duas
Pessoas das quais procede.
Convém esclarecer que no
mundo criado as relações são acidentes, no sentido de que as suas relações não
se identificam com o seu ser, embora o caracterizem no que é mais profundo como
no caso da filiação.
Em Deus, como nas processões
é doada toda a substância divina, as relações são eternas e identificam-se com
a própria substância.
Estas três relações eternas
não só caracterizam, mas identificam-se com as três Pessoas divinas, visto que
ao Pai pensar quer dizer pensar no Filho; e pensar no Espírito Santo quer dizer
pensar naqueles a respeito dos quais Ele é Espírito.
Assim as Pessoas divinas são
três Alguém, mas um único Deus.
Não como se dá entre três
homens, que participam da mesma natureza humana sem a esgotar. As três Pessoas
são cada uma toda a Divindade, identificando-se com a única Natureza de Deus [i]:
as Pessoas são Uma na Outra.
Por isso, Jesus diz a Filipe que quem o viu a Ele viu o Pai [ii],
enquanto Ele e o Pai são uma só coisa [iii].
Esta dinâmica, que
tecnicamente se chama pericorese ou circumincesio – dois termos que fazem
referência a um movimento dinâmico em que um se intercambia com o outro como
numa dança em círculo – ajuda a apercebermo-nos de que o mistério do Deus Uno e
Trino é o mistério do Amor:
«Ele próprio é eternamente
permuta de amor: Pai, Filho e Espírito Santo, e destinou-nos a tomar parte
nessa comunhão» [iv].
3.
A nossa vida em Deus
Sendo Deus eterna
comunicação de Amor, é compreensível que esse Amor transborde para fora d’Ele
na Sua actuação.
Toda a actuação de Deus na
história é obra conjunta das três Pessoas, dado que se distinguem apenas no
interior de Deus.
Não obstante, cada uma
imprime nas acções divinas “ad extra” a sua característica pessoal [v].
Com uma imagem, poder-se-ia
dizer que a acção divina é sempre única, como o dom que nós poderíamos receber
da parte de uma família amiga, que é fruto de um só acto; mas, para quem
conhece as pessoas que formam essa família, é possível reconhecer a mão ou a
intervenção de cada uma, pela marca pessoal deixada por elas na prenda única.
Este reconhecimento é
possível, porque conhecemos as Pessoas divinas na Sua distinção pessoal
mediante as missões, quando Deus Pai enviou juntamente o Filho e o Espírito
Santo na história [vi],
para que se fizessem presentes entre os homens:
«São sobretudo as missões
divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que manifestam as
propriedades das pessoas divinas» [vii].
Eles são como que as duas
mãos do Pai [viii] que
abraçam os homens de todos os tempos, para os levar ao seio do Pai.
Se Deus está presente em
todos os seres enquanto princípio do que existe, com as missões do Filho e do
Espírito fazem-se presentes de uma forma nova [ix].
A própria Cruz de Cristo
manifesta ao homem de todos os tempos o eterno Dom que Deus faz de Si mesmo,
revelando na Sua morte a íntima dinâmica do Amor que une as três Pessoas.
Isto significa que o sentido
último da realidade, o que todo o homem deseja, o que foi procurado pelos
filósofos e pelas religiões de todos os tempos é o mistério do Pai que
eternamente gera o Filho no Amor que é o Espírito Santo.
Assim, na Trindade
encontra-se o modelo original da família humana [x] e a
Sua vida íntima é a aspiração verdadeira de todo o amor humano.
Deus quer que todos os
homens sejam uma só família, ou seja, uma só coisa com Ele próprio, sendo
filhos no Filho.
Cada pessoa foi criada à
imagem e semelhança da Trindade [xi] e está feita para viver
em comunhão com os outros homens e, sobretudo, com o Pai Celestial.
Aqui se encontra o
fundamento último do valor da vida de cada pessoa humana, independentemente das
suas capacidades ou das suas riquezas.
Mas o acesso ao Pai só se
pode encontrar em Cristo, Caminho, Verdade e Vida [xii]: mediante a graça, os
homens podem chegar a ser um só Corpo místico na comunhão da Igreja.
Através da contemplação da
vida de Cristo e através dos sacramentos, temos acesso à própria vida íntima de
Deus.
Pelo Baptismo somos
enxertados na dinâmica de Amor da Família das três Pessoas divinas.
Por isso, na vida cristã,
trata-se de descobrir que a partir da existência corrente, das múltiplas
relações que estabelecemos e da nossa vida familiar, que teve o seu modelo
perfeito na Sagrada Família de Nazaré podemos chegar a Deus:
«Intima com as três Pessoas:
Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. E para chegares à Santíssima
Trindade, passa por Maria» [xiii].
Deste modo, pode
descobrir-se o sentido da história como caminho da trindade à Trindade,
aprendendo da “trindade da terra” – Jesus, Maria e José – a levantar o olhar
para a Trindade do Céu.
Giulio
Maspero
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 232-267. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 44-49.
Leituras recomendadas São Josemaria, Homilia «Humildade», em Amigos de Deus,
104-109. J. Ratzinger, El Dios de los cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme,
Salamanca 2005.
Notas
[i] «A
Igreja exprime a sua fé trinitária confessando um só Deus em três Pessoas: Pai
e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada
uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas
são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às
outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede
do Pai e do Filho» (Compêndio, 48).
[iii] cf.
Jo 10, 30 e 17, 21
[v] «Inseparáveis
na sua única substância, as Pessoas divinas são também inseparáveis no seu
operar: a Trindade tem uma só mesma operação. Mas no único agir divino, cada
Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade» (Compêndio,
49).
[vi] cf.
Jo 3, 16-17 e 14, 26
[viii] Cf.
Santo Ireneu, Adversus Haereses, IV, 20, 1.
[ix] Cf.
São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 43, a. 1, c. e a. 2, ad. 3.
[x] «O
“Nós” divino constitui o modelo eterno do “nós” humano; antes de tudo, daquele
“nós” que está formado pelo homem e a mulher, criados à imagem e semelhança
divina» (João Paulo II, Carta às Famílias, 2-II-1994, 6).
[xiii] São
Josemaria, Forja, 543.