10/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 5 A Santíssima Trindade

É o mistério central da fé e da vida cristã. Os cristãos são baptizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.  

2. Deus na Sua vida íntima

…/2

As duas processões são o fundamento das diversas relações que em Deus se identificam com as Pessoas divinas: o ser Pai, o ser Filho e o ser espirado por Eles.

De facto, como não é possível ser pai e ser filho da mesma pessoa, no mesmo sentido assim não é possível ser ao mesmo tempo a Pessoa que procede pela espiração e as duas Pessoas das quais procede.

Convém esclarecer que no mundo criado as relações são acidentes, no sentido de que as suas relações não se identificam com o seu ser, embora o caracterizem no que é mais profundo como no caso da filiação.
Em Deus, como nas processões é doada toda a substância divina, as relações são eternas e identificam-se com a própria substância.
Estas três relações eternas não só caracterizam, mas identificam-se com as três Pessoas divinas, visto que ao Pai pensar quer dizer pensar no Filho; e pensar no Espírito Santo quer dizer pensar naqueles a respeito dos quais Ele é Espírito.

Assim as Pessoas divinas são três Alguém, mas um único Deus.
Não como se dá entre três homens, que participam da mesma natureza humana sem a esgotar. As três Pessoas são cada uma toda a Divindade, identificando-se com a única Natureza de Deus [i]:

as Pessoas são Uma na Outra. Por isso, Jesus diz a Filipe que quem o viu a Ele viu o Pai [ii], enquanto Ele e o Pai são uma só coisa [iii].

Esta dinâmica, que tecnicamente se chama pericorese ou circumincesio – dois termos que fazem referência a um movimento dinâmico em que um se intercambia com o outro como numa dança em círculo – ajuda a apercebermo-nos de que o mistério do Deus Uno e Trino é o mistério do Amor:

«Ele próprio é eternamente permuta de amor: Pai, Filho e Espírito Santo, e destinou-nos a tomar parte nessa comunhão» [iv].


3. A nossa vida em Deus

Sendo Deus eterna comunicação de Amor, é compreensível que esse Amor transborde para fora d’Ele na Sua actuação.

Toda a actuação de Deus na história é obra conjunta das três Pessoas, dado que se distinguem apenas no interior de Deus.
Não obstante, cada uma imprime nas acções divinas “ad extra” a sua característica pessoal [v].

Com uma imagem, poder-se-ia dizer que a acção divina é sempre única, como o dom que nós poderíamos receber da parte de uma família amiga, que é fruto de um só acto; mas, para quem conhece as pessoas que formam essa família, é possível reconhecer a mão ou a intervenção de cada uma, pela marca pessoal deixada por elas na prenda única.

Este reconhecimento é possível, porque conhecemos as Pessoas divinas na Sua distinção pessoal mediante as missões, quando Deus Pai enviou juntamente o Filho e o Espírito Santo na história [vi], para que se fizessem presentes entre os homens:

«São sobretudo as missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que manifestam as propriedades das pessoas divinas» [vii].

Eles são como que as duas mãos do Pai [viii] que abraçam os homens de todos os tempos, para os levar ao seio do Pai.


Se Deus está presente em todos os seres enquanto princípio do que existe, com as missões do Filho e do Espírito fazem-se presentes de uma forma nova [ix].

A própria Cruz de Cristo manifesta ao homem de todos os tempos o eterno Dom que Deus faz de Si mesmo, revelando na Sua morte a íntima dinâmica do Amor que une as três Pessoas.

Isto significa que o sentido último da realidade, o que todo o homem deseja, o que foi procurado pelos filósofos e pelas religiões de todos os tempos é o mistério do Pai que eternamente gera o Filho no Amor que é o Espírito Santo.

Assim, na Trindade encontra-se o modelo original da família humana [x] e a Sua vida íntima é a aspiração verdadeira de todo o amor humano.

Deus quer que todos os homens sejam uma só família, ou seja, uma só coisa com Ele próprio, sendo filhos no Filho.

Cada pessoa foi criada à imagem e semelhança da Trindade [xi] e está feita para viver em comunhão com os outros homens e, sobretudo, com o Pai Celestial.

Aqui se encontra o fundamento último do valor da vida de cada pessoa humana, independentemente das suas capacidades ou das suas riquezas.

Mas o acesso ao Pai só se pode encontrar em Cristo, Caminho, Verdade e Vida [xii]: mediante a graça, os homens podem chegar a ser um só Corpo místico na comunhão da Igreja.

Através da contemplação da vida de Cristo e através dos sacramentos, temos acesso à própria vida íntima de Deus.

Pelo Baptismo somos enxertados na dinâmica de Amor da Família das três Pessoas divinas.

Por isso, na vida cristã, trata-se de descobrir que a partir da existência corrente, das múltiplas relações que estabelecemos e da nossa vida familiar, que teve o seu modelo perfeito na Sagrada Família de Nazaré podemos chegar a Deus:

«Intima com as três Pessoas: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. E para chegares à Santíssima Trindade, passa por Maria» [xiii].

Deste modo, pode descobrir-se o sentido da história como caminho da trindade à Trindade, aprendendo da “trindade da terra” – Jesus, Maria e José – a levantar o olhar para a Trindade do Céu.

Giulio Maspero

Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 232-267. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 44-49. Leituras recomendadas São Josemaria, Homilia «Humildade», em Amigos de Deus, 104-109. J. Ratzinger, El Dios de los cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca 2005.
Notas





[i] «A Igreja exprime a sua fé trinitária confessando um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho» (Compêndio, 48).
[ii] cf. Jo 14, 6
[iii] cf. Jo 10, 30 e 17, 21
[iv] Catecismo, 221
[v] «Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são também inseparáveis no seu operar: a Trindade tem uma só mesma operação. Mas no único agir divino, cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade» (Compêndio, 49).
[vi] cf. Jo 3, 16-17 e 14, 26
[vii] Catecismo, 258
[viii] Cf. Santo Ireneu, Adversus Haereses, IV, 20, 1.
[ix] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 43, a. 1, c. e a. 2, ad. 3.
[x] «O “Nós” divino constitui o modelo eterno do “nós” humano; antes de tudo, daquele “nós” que está formado pelo homem e a mulher, criados à imagem e semelhança divina» (João Paulo II, Carta às Famílias, 2-II-1994, 6).
[xi] cf. Gn 1, 27
[xii] cf. Jo 14, 6
[xiii] São Josemaria, Forja, 543.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.