14/01/2018

Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós

Devoção de Natal. – Não sorrio quando te vejo fazer as montanhas de musgo do Presépio e dispor as ingénuas figuras de barro em volta da gruta. – Nunca me pareceste mais homem do que agora, que pareces uma criança. (Caminho, 557)


Quando chega o Natal, gosto de contemplar as imagens do Menino Jesus. Essas figuras que nos mostram o Senhor tão apoucado, recordam-me que Deus nos chama, que o Omnipotente Se quis apresentar desvalido, quis necessitar dos homens. Do berço de Belém, Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós; reclama de nós uma vida cristã sem hesitações, uma vida de entrega, de trabalho, de alegria.


Não conseguiremos jamais o verdadeiro bom humor se não imitarmos deveras Jesus, se não formos humildes como Ele. Insistirei de novo: vedes onde se oculta a grandeza de Deus? Num presépio, nuns paninhos, numa gruta. A eficácia redentora das nossas vidas só se pode dar com humildade, deixando de pensar em nós mesmos e sentindo a responsabilidade de ajudar os outros.


É corrente, às vezes até entre almas boas, criar conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objectiva. A sua origem está na falta de conhecimento próprio, que conduz à soberba: o desejo de se tornarem o centro da atenção e da estima de todos, a preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecerem, a ânsia da segurança pessoal... E assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, que poderiam saborear um imenso júbilo, por orgulho e presunção tornam-se desgraçadas e infecundas!



Cristo foi humilde de coração. Ao longo da sua vida, não quis para Si nenhuma coisa especial, nenhum privilégio. (Cristo que passa, 18)

Temas para reflectir e meditar

Crucifixo


O valor do Crucifixo como ajuda para a oração e a vida cristã é evidente: não há símbolo que nos lembre tão vivamente o infinito Amor de Deus pelo homem como esta imagem do próprio Filho de Deus pregado na Cruz por amor de nós, para que possamos alcançar a vida eterna.

Nada pode incitar-nos mais ao arrependimento dos nossos pecados do que essa representação de Jesus crucificado por nossas culpas.

Nada pode ser melhor âncora nas nossas tribulações e contrariedades de cada dia que esta imagem de Cristo agonizante, que dá sentido e valor ao nosso sofrimento.

(LEO J. TRESE, A Fé Explicada, Edições Quadrante S. Paulo 4ª Ed. nr. 338)



Evangelho e comentário

Tempo Comum


Evangelho: Jo 1, 35-42

35 No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. 36 Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» 37 Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. 38 Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» 39 Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. 40 André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. 41 Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» - que quer dizer Cristo. 42 E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» - que significa Pedra.

Comentário:

Nunca se esquece o momento em que a nossa vida deu como que uma revira­volta, conheceu um novo rumo, se alterou definitivamente!

João, jamais esquecerá o primeiro encontro a sós com Jesus Cristo, e refere a hora em que tal sucedeu.

Assim nós, cristãos vulgares e correntes, deveríamos ter bem gravados os mo­mentos principais da nossa vida de cristãos: a data do nosso Baptismo, da nossa Primeira Comunhão e, talvez nalgum caso, quando aceitámos decididamente o que sabíamos ser um convite do Senhor para algo mais específico.

(AMA, comentário sobre Jo 1 35-42, 28.09.2017)








Leitura espiritual

Jesus Cristo o Santo de Deus

Capítulo III

ACREDITAS?

A divindade de Cristo no Evangelho de S. João


3     «Como podeis vós acreditar?»

…/2

Uma sociedade que se atola cada vez mais na matéria e na desordem moral, será uma sociedade que acreditará cada vez menos na divindade de Cristo.
Esta, de facto, torna-se uma reprovação permanente, como uma luz indiscreta.
«O incrédulo diz: “Se eu tivesse fé, abandonaria os prazeres”; mas eu repondo-lhe: “Terias fé, se tivesses abandonado os prazeres”» [i].
Pelo contrário, um grande sustentáculo da fé na divindade de Cristo é a pureza.
«Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus» [ii].
Verão a Deus também em Jesus reconhecendo a Sua divindade.

Existem decerto ainda outros motivos – alguns culpáveis, outros não – para quem não crê na divindade de Cristo; mas os que atrás citei, especialmente o da procura da própria glória, são os mais comuns quando se trata de pessoas que conheceram Cristo e, porventura, até já creram nele, sobretudo as pessoas doutas.

4.«A obra de Deus é crer naquele que Ele enviou»

A divindade de Cristo – e, portanto, a universalidade da Sua salvação – é o objectivo específico e principal do crer, segundo o Novo Testamento. «Crer», sem outras especificações, significa crer em Cristo. Pode também significar crer em Deus, mas enquanto é o Deus que enviou o Seu Filho ao mundo.
Jesus dirigia-se às pessoas que acreditavam já no verdadeiro Deus; toda a Sua insistência sobre a fé está relacionada com aquele novo acontecimento que era a Sua vinda ao mundo, o Seu falar em nome de Deus. Numa palavra, o facto de Ele ser o Filho unigénito de Deus.

Foi, sobretudo, S. João quem fez da divindade de Cristo e da Sua filiação divina a finalidade principal do seu evangelho e o tema que tudo unifica. Ele conclui o seu evangelho dizendo:

«Estas palavras foram escritas para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus», e para que, crendo, tenhais a vida em Seu nome» [iii]; e termina a sua primeira carta quase com as mesmas palavras:
«Escrevo-vos tudo isto para que saibais que tendes a vida eterna, vós que acreditais no nome do Filho de Deus». [iv]

Uma rápida vista de olhos ao Quarto Evangelho, mostra-nos, através do ponto de vista da fé na divindade de Cristo, como esta constitui a sua urdidura e textura. Crer n’Aquele que o Pai enviou, é tido como «a obra de Deus», e aquilo que mais agrada a Deus. Não crer nisto é visto, consequentemente, como «o pecado» por excelência:

«O Consolador convencerá o mundo quanto ao pecado», e o pecado é: «não creem em Mim». [v]


Está traçada claramente uma linha que distingue a humanidade em duas partes: aqueles que creem e aqueles que não creem que Jesus é o Filho de Deus. Quem crê n’Ele não é condenado, mas quem não crê já está condenado; quem crê tem a vida, quem não crê não terá a vida [vi].                 

Também, à medida que se desenrola a revelação de Jesus, vê-se concretamente formarem-se dois grupos de pessoas. De algumas foi dito que «creram n’Ele»
Em Caná, os Seus discípulos acreditaram n’Ele [vii]; muitos mais, de entre os samaritanos, «creram n’Ele pela Sua palavra« [viii].

Por outro lado, fala-se de pessoas, particularmente os chefes, que «não creram n’Ele e nota-se que nem os Seus irmãos «criam n’Ele» [ix].

Mesmo depois da Sua morte, a fé n’Nele será como a grande pedra de toque no seio da humanidade:

De um lado estarão aqueles que embora não tenham visto, creram [x]; do outro lado, estará o mundo que se recusará a crer.
Perante esta distinção, todas as outras conhecidas anteriormente, passam para segundo plano. O episódio de S. Tomé aparece como um tácito convite dirigido por S. João ao leitor.
No fim, ele é convidado a fechar o livro, a ajoelhar e exclamar:

«Meu Senhor e meu Deus!» [xi].
É nesta clara e solene profissão de fé na divindade de Cristo que se cumpre a finalidade ela qual S. João escreveu o seu evangelho.

É de ficarmos mesmo estupefactos perante o cometimento que o Espírito de Jesus permitiu que João levasse a cabo. Ele abraçou os temas, os símbolos, as esperanças, tudo quanto havia de religiosamente vivo, tanto no mundo judaico como no helenístico, guiando tudo para uma única ideia, ou melhor, para uma única pessoa: Jesus Cristo Filho de Deus, salvador do mundo.
O evangelho de João não se centra sobre um acontecimento, mas sobre uma pessoa.
Nisto ele é diferente de Paulo, cujo pensamento, embora também ele dominado por Cristo, tem por centro, mais que a pessoa de Cristo, a Sua obra de salvação, o Seu mistério pascal.

Ao lermos os livros de certos estudiosos, seguidores  da «Escola de história das religiões», o mistério cristão não se distingue, senão em coisas de pouca monta, do mito religioso gnóstico e mandeu [xii], ou da filosofia religiosa helenística e hermética.
Os confins perdem-se e os paralelismos multiplicam-se.
A fé cristã, mormente a de S. João, torna-se uma das variantes desta mitologia cambiante e desta religiosidade difusa.
Mas o que significa isto?
Significa só que se prescinde das coisas essenciais: da vida e da força histórica que está por detrás dos sistemas e das representações.
As pessoas vivas são diferentes umas das outras, mas os esqueletos são todos semelhantes.
Uma vez reduzida a esqueleto, isolado da vida que produziu, isto é, da Igreja, a mensagem cristã corre o rico de se confundir com as outras da mesma época.

S. João não nos legou um conjunto de doutrinas religiosas antigas, mas um poderoso kerigma.
Aprendeu a língua dos homens do seu tempo para gritar nessa língua, com todas as suas forças, a única verdade que salva, a Palavra por excelência, o «Verbo».
Ele «reduziu» todas as inteligências à obediência a Cristo».
O Cristo de S. João é «o herdeiro de tudo».
É o «Logos total», como Lhe chama S. Justino, é Aquele que reúne em Si todas as partículas de verdade, espalhadas aqui e ali, como sementes, entre as pessoas [xiii].
É o Cristo «herdeiro de todo o esforço humano», o rei que «recebeu tributos de povos desconhecedores de que lhos enviavam» [xiv].

 Um cometimento como este não se leva a cabo sentado a uma escrevaninha, com o apoio de meia dúzia de livros abertos.
A síntese joanina da fé em Cristo foi realizada «a fogo», isto é, na oração, vivendo de Cristo, falando d’Ele.
Quiçá, falando d’Ele com a Mãe, pois que ela tinha vivido em sua casa, ou somente permanecendo perto dela e contemplando-a.
Uma coisa é certa, independentemente da questão do autor do Quarto Evangelho: Maria estava presente no ambiente em que se formaram as tradições do Quarto Evangelho, porque «o discípulo de Jesus amava tinha-a levado para sua casa.
Precisamente por causa desta sua origem especial, o resultado da síntese de João, ainda hoje, não pode ser compreendido por quem esteja debruçado sobre uma escrevaninha com meia dúzia de livros abertos para consulta.

(cont)

rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.





[i] B. Pascal, Pensamentos, 240, Br.
[ii] Mt 5,8
[iii] Jo 20, 31
[iv] 1 Jo 5, 13
[v] Jo 16, 8-9
[vi] Cfr. Jo 3, 18.36
[vii] Jo 2, 11
[viii] Jo 4, 41
[ix] Jo 7, 5
[x] Cfr. Jo 20,029
[xi] Jo 20, 28
[xii] Nota de AMA: seguidor ou praticante do mandeísmo, religião praticada no Oriente Médio.
[xiii] Cfr. S. Justino, II Aplologia, 10,13.
[xiv] Ch. Péguy, Eve, in Oeuvres Poétiques, Paris 1975, pp. 1086,1581.

Tratado da vida de Cristo 187

Os sacramentos em geral 

Questão 60: Dos Sacramentos

Art. 2 — Se todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

O segundo discute-se assim. — Parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

1. Pois, todas as criaturas sensíveis são sinais de coisas sagradas, segundo o Apóstolo: As causas invisíveis de Deus se vêem consideradas pelas obras que foram feitas. Mas nem por isso todas as causas sensíveis podem chamar-se sacramentos. Logo, nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

2. Demais. — Tudo o que se fazia na lei antiga figurava a Cristo, que é O Santo dos santos, segundo o Apóstolo: Todas estas coisas lhes aconteciam a eles em figuras. E noutro lugar: Que são sombras das causas vindouras, mas o corpo é em Cristo. Ora, nem todos os efeitos dos Patriarcas do Antigo Testamento e nem todas as cerimónias da lei são sacramentos, mas só algumas em especial, como se disse na segunda Parte. Logo, parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

3. Demais. — Também ao regime do Novo Testamento muitos actos se praticam como sinal de uma coisa sagrada, que, contudo, não se chamam sacramentos; tal como a aspersão da água benta, a consagração do altar e outras semelhantes. Logo, parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

Mas, em contrário, a definição converte-se com a causa definida. Ora alguns definem o sacramento dizendo que é o sinal de uma coisa sagrada; e isso resulta também do lugar de Agostinho supra citado. Logo parece que todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

Os homens servem-se de sinais para, por meio do conhecido, chegar ao desconhecido. Donde, propriamente se chama sacramento ao sinal de uma coisa sagrada concernente aos homens; isto é, propriamente se chamará sacramento, no sentido em que agora o vejamos, o sinal de uma coisa sagrada enquanto santificadora dos homens.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ­As criaturas sensíveis significam algo de sagrado, isto é, a sabedoria e a bondade divinas, enquanto estas são em si mesmas sagradas; mas não enquanto nós nos santifiquemos por meio delas. Donde, não podem chamar-se sacramentos, no sentido em que agora tratamos dos sacramentos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Certas cerimónias do Antigo Testamento significavam a santidade de Cristo, enquanto ele em si mesmo é santo. Outras, porém, significavam a sua santidade, enquanto por meio delas nós nos santificamos; assim, a imolação do cordeiro pascal significava a imolação de Cristo, pela qual fomos santificados. E essas cerimónias propriamente se chamam sacramentos da lei antiga.

RESPOSTA À TERCEIRA. — As coisas denominam-se pelo seu fim e pelo seu complemento. Ora, a disposição não é fim nem perfeição. Logo o que significa a disposição para a santidade não se chama sacramento, no sentido em que se funda a objecção. Mas o que significa a perfeição da santidade humana.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?