Questão
60: Dos Sacramentos
Art.
2 — Se todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
O segundo discute-se assim. — Parece que
nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
1. Pois, todas as criaturas sensíveis
são sinais de coisas sagradas, segundo o Apóstolo: As causas invisíveis de Deus se vêem consideradas pelas obras que foram
feitas. Mas nem por isso todas as causas sensíveis podem chamar-se
sacramentos. Logo, nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
2. Demais. — Tudo o que se fazia na lei
antiga figurava a Cristo, que é O Santo dos santos, segundo o Apóstolo: Todas estas coisas lhes aconteciam a eles em
figuras. E noutro lugar: Que são
sombras das causas vindouras, mas o corpo é em Cristo. Ora, nem todos os
efeitos dos Patriarcas do Antigo Testamento e nem todas as cerimónias da lei
são sacramentos, mas só algumas em especial, como se disse na segunda Parte.
Logo, parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
3. Demais. — Também ao regime do Novo
Testamento muitos actos se praticam como sinal de uma coisa sagrada, que,
contudo, não se chamam sacramentos; tal como a aspersão da água benta, a
consagração do altar e outras semelhantes. Logo, parece que nem todo sinal de
uma coisa sagrada é sacramento.
Mas, em contrário, a definição converte-se
com a causa definida. Ora alguns definem o sacramento dizendo que é o sinal de
uma coisa sagrada; e isso resulta também do lugar de Agostinho supra citado.
Logo parece que todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
Os homens servem-se de sinais
para, por meio do conhecido, chegar ao desconhecido. Donde, propriamente se
chama sacramento ao sinal de uma coisa sagrada concernente aos homens; isto é,
propriamente se chamará sacramento, no sentido em que agora o vejamos, o sinal
de uma coisa sagrada enquanto santificadora dos homens.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
As criaturas sensíveis significam algo de sagrado, isto é, a sabedoria e a
bondade divinas, enquanto estas são em si mesmas sagradas; mas não enquanto nós
nos santifiquemos por meio delas. Donde, não podem chamar-se sacramentos, no
sentido em que agora tratamos dos sacramentos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Certas cerimónias
do Antigo Testamento significavam a santidade de Cristo, enquanto ele em si
mesmo é santo. Outras, porém, significavam a sua santidade, enquanto por meio
delas nós nos santificamos; assim, a imolação do cordeiro pascal significava a
imolação de Cristo, pela qual fomos santificados. E essas cerimónias
propriamente se chamam sacramentos da lei antiga.
RESPOSTA À TERCEIRA. — As coisas denominam-se
pelo seu fim e pelo seu complemento. Ora, a disposição não é fim nem perfeição.
Logo o que significa a disposição para a santidade não se chama sacramento, no
sentido em que se funda a objecção. Mas o que significa a perfeição da
santidade humana.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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