14/01/2018

Tratado da vida de Cristo 187

Os sacramentos em geral 

Questão 60: Dos Sacramentos

Art. 2 — Se todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

O segundo discute-se assim. — Parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

1. Pois, todas as criaturas sensíveis são sinais de coisas sagradas, segundo o Apóstolo: As causas invisíveis de Deus se vêem consideradas pelas obras que foram feitas. Mas nem por isso todas as causas sensíveis podem chamar-se sacramentos. Logo, nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

2. Demais. — Tudo o que se fazia na lei antiga figurava a Cristo, que é O Santo dos santos, segundo o Apóstolo: Todas estas coisas lhes aconteciam a eles em figuras. E noutro lugar: Que são sombras das causas vindouras, mas o corpo é em Cristo. Ora, nem todos os efeitos dos Patriarcas do Antigo Testamento e nem todas as cerimónias da lei são sacramentos, mas só algumas em especial, como se disse na segunda Parte. Logo, parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

3. Demais. — Também ao regime do Novo Testamento muitos actos se praticam como sinal de uma coisa sagrada, que, contudo, não se chamam sacramentos; tal como a aspersão da água benta, a consagração do altar e outras semelhantes. Logo, parece que nem todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

Mas, em contrário, a definição converte-se com a causa definida. Ora alguns definem o sacramento dizendo que é o sinal de uma coisa sagrada; e isso resulta também do lugar de Agostinho supra citado. Logo parece que todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.

Os homens servem-se de sinais para, por meio do conhecido, chegar ao desconhecido. Donde, propriamente se chama sacramento ao sinal de uma coisa sagrada concernente aos homens; isto é, propriamente se chamará sacramento, no sentido em que agora o vejamos, o sinal de uma coisa sagrada enquanto santificadora dos homens.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ­As criaturas sensíveis significam algo de sagrado, isto é, a sabedoria e a bondade divinas, enquanto estas são em si mesmas sagradas; mas não enquanto nós nos santifiquemos por meio delas. Donde, não podem chamar-se sacramentos, no sentido em que agora tratamos dos sacramentos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Certas cerimónias do Antigo Testamento significavam a santidade de Cristo, enquanto ele em si mesmo é santo. Outras, porém, significavam a sua santidade, enquanto por meio delas nós nos santificamos; assim, a imolação do cordeiro pascal significava a imolação de Cristo, pela qual fomos santificados. E essas cerimónias propriamente se chamam sacramentos da lei antiga.

RESPOSTA À TERCEIRA. — As coisas denominam-se pelo seu fim e pelo seu complemento. Ora, a disposição não é fim nem perfeição. Logo o que significa a disposição para a santidade não se chama sacramento, no sentido em que se funda a objecção. Mas o que significa a perfeição da santidade humana.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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