Tempo Comum
Semana IV
Evangelho:
Mc 6, 1-6
1 Tendo Jesus partido dali, foi para a Sua terra;
e seguiram-n'O os discípulos 2 Chegado o sábado, começou a ensinar
na sinagoga. Os Seus numerosos ouvintes admiravam-se e diziam: «Donde vêm a
Este todas estas coisas que diz? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada? E como
se operam tais maravilhas pelas Suas mãos? 3 Não é Este o carpinteiro,
filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui
entre nós as Suas irmãs?». 4 E estavam perplexos a Seu respeito. 5
Mas Jesus dizia-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus
parentes e na sua própria casa». E não pôde fazer ali milagre algum; apenas
curou alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. 6 E admirava-Se
da incredulidade deles. Depois, andava ensinando pelas aldeias circunvizinhas.
Comentário:
São Marcos diz expressamente que Jesus
se admirava com a incredulidade dos Seus conterrâneos não obstante ter por
certo que "um profeta não ser bem aceite na sua terra".
As pessoas preconceituosas têm este costume reprovável: mais facilmente dão
crédito a um estranho que a alguém conhecido!
Porquê?
Porque vêm nesse alguém incapaz de outra coisa que não seja a ideia que fazem
dele: um carpinteiro, na sua opinião, só terá aptidões de carpinteiro...
(ama, comentário
sobre Mc 6, 1-6, 2015.07.05)
Leitura espiritual
Eucaristia
A
Presença Real de Cristo na Eucaristia - Parte VI
-
"Cristo nos deixou a sua carne (na Eucaristia) e também subiu (ao céu) com
ela" [i].
-
"A Fé diz que Deus pode muito bem e de algum modo, manter o corpo de
Cristo no céu e fazer também, de outro modo, que esteja no pão" [ii].
-
"Uma fantasia sugere que cada uma das milhões de hóstias é o corpo físico
do Cristo completo, íntegro e inteiro, anterior à crucificação, enquanto, ao
mesmo tempo, Cristo estaria no céu, com seu corpo ressuscitado" [iii].
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CIRILONAS
Temos
poucos dados biográficos sobre este autor, embora vários de seus poemas sejam
conservados. Suas obras foram escritas em Edessa, no final do século IV.
Os
textos que nos chegaram desta testemunha da fé cristã das igrejas que tinham
sido fundadas pelos Apóstolos são de um forte realismo eucarístico.
-
"Pôs-se de pé (no Cenáculo), elevou-se a Si mesmo por amor e manteve Seu
próprio corpo levantado em Suas mãos. A Sua (mão) direita era um altar sagrado;
a Sua mão erguida, uma mesa de misericórdia" [iv].
Põe
nos lábios de Jesus as seguintes palavras, incentivando Seus discípulos e fiéis
a receberem a Eucaristia:
-
"Vinde, discípulos meus; recebei-Me. Quero pôr-Me em vossas mãos. Vede:
estou aqui, de pé, em inteira verdade; porém, comei também (o Meu corpo) em inteira
verdade" [v].
-
"Este memorial não deve cessar entre vós até o fim do mundo. Portanto,
meus irmãos, deveis fazê-lo em todos os tempos e lembrar-vos de Mim. Comestes o
Meu corpo; não Me esquecereis. Bebestes o Meu sangue; não me desprezareis"
[vi],
[vii].
JUVENCO
Testemunha
da fé da Igreja da Espanha no início do século IV. Chegaram até nós diversas
obras poéticas cristãs escritas em latim. Suas obras datam de 330,
aproximadamente. São Jerónimo menciona-o em vários escritos.
Narrando
a instituição da Eucaristia, diz:
-
"Dizendo isto, começou a partir o pão com Suas mãos. E, depois de orar
santamente, ensinou aos discípulos que dessa forma estariam comendo o Seu
próprio corpo. A seguir, o Senhor tomou o cálice cheio de vinho e o santificou
com acção de graças, e o deu a beber, ensinando que o que lhes tinha distribuído
era o Seu sangue; e disse: “Este sangue redimiu os pecados do povo” [viii].
EUSÉBIO DE CESAREIA
Considerado
o pai da historiografia eclesiástica. Nasceu na Cesareia da Palestina em 263. Discípulo
do presbítero Pânfilo e, através deste, de Orígenes. Em 313 foi nomeado Bispo
da Cesareia. Durante a disputa ariana, nem sempre se mostrou católico, por
desejo de conciliar as duas partes e alcançar a paz. Chegou a ser excomungado
pelo Sínodo da Antioquia de 325. Neste mesmo sentido, teve problemas com o
Concílio de Niceia, porém finalmente assinou a declaração dogmática da grande
Assembleia contra Ário. Sua obra mais importante, sem dúvida alguma, foi a
"História Eclesiástica", que escreveu entre os anos 300 e 325. Muito
apreciado como historiador e académico, menos porém como teólogo, por diversas
de suas impressões doutrinárias.
Eusébio
possui expressões que podem muito bem ser tomadas como "simbólicas"
em relação à presença de Jesus na Eucaristia. Falando dos pães da proposição,
dizendo que eram "símbolo e imagem" do pão da vida, acrescenta:
-
"Por isso, sabendo David [ix]
de quem era a imagem do pão da proposição, nos convida a aproximar-nos não
daquele pão corpóreo, mas do pão que é representado no corpóreo. Assim, nós que
estamos na terra, participamos do pão que desceu do céu e do Verbo que Se
esvaziou a Si mesmo e Se abreviou" [x].
Retenhamos
o vocabulário: os pães da proposição são "símbolo e imagem" do pão da
vida, que é o Verbo que desceu do céu. No mesmo ambiente tipológico, Eusébio
comenta Génesis 49,11 [xi];
Eusébio enxerga aqui uma insinuação da Paixão:
-
"Através do vinho, que era símbolo do Seu sangue, purifica os que são baptizados
no Seu sangue".
Do
versículo seguinte [xii],
pensa que expressa de maneira obscura os mistérios do Novo Testamento de Nosso
Senhor e, em particular...
-
"...a alegria do vinho místico que Ele entregou aos Seus discípulos,
dizendo-lhes: 'Tomai e bebei: este é Meu sangue' (...) e o esplendor e pureza
do alimento místico, porque novamente Ele entregou aos Seus discípulos os
símbolos da divina economia, ordenando que se fizesse a imagem do Seu próprio
corpo".
O
vinho que é "símbolo" do Seu sangue não é o vinho eucarístico, mas o
vinho do texto que Eusébio está comentando. O corpo e o sangue do Senhor são a
realização dos símbolos profetizados, que por isso mesmo são chamados de
"imagem", isto é, "reprodução do que foi profetizado" [xiii].
O
mesmo se pode encontrar noutra passagem, onde o sacrifício de Cristo vem para
cumprir as figuras dos antigos sacrifícios judaicos. Os cristãos receberam o
mandato de celebrar sobre o altar a memória desse sacrifício...
-
"...através dos símbolos de Seu corpo e de Seu sangue salvador, segundo a
instituição do Novo Testamento" [xiv].
O
pão e o vinho têm aqui, como símbolos, uma função de memória em relação com o
sacrifício de Cristo [xv].
Por
outro lado, se Eusébio tivesse tido um conceito simbólico da Eucaristia que
excluísse a doutrina católica da presença real do Senhor, então jamais poderia
ter dito o seguinte, ao tratar da celebração da Eucaristia:
-
"Nós, que pertencemos ao Novo Testamento, celebrando a nossa Páscoa a cada
domingo, sempre nos saciamos com o corpo do Salvador; sempre participamos do
sangue do Cordeiro" [xvi].
Em
relação a certas passagens patrísticas que podem dar margem a interpretações
simbólicas, creio que seja oportuno observar o seguinte: a doutrina católica
sobre a presença real de Jesus exclui toda espécie de apresentação grosseira do
mistério eucarístico, como a chamada "cafarnaítica", segundo a qual a
carne literal de Jesus será dada de comer aos fiéis. Esta foi a interpretação
que despertou escândalo entre os ouvintes [xvii].
Esta
interpretação é a que se pretende inculcar nos católicos quando se lhes perguntam,
por exemplo: "(Jesus) estava realmente ensinando que devemos comer a Sua
carne (fibras, músculos, pele) e beber o Seu sangue (plaquetas, plasma,
glóbulos)?" [xviii].
Jesus
tinha outra coisa em mente, segundo a qual daria a comer e a beber: sim, Seu
próprio corpo e Seu próprio sangue ("Meu corpo é verdadeira comida e Meu
sangue é verdadeira bebida" [xix]),
mas de tal maneira que seus discípulos simplesmente comeriam pão e beberiam
vinho, evitando assim todas as ridicularizações a que recorrem até hoje os inimigos
da presença real [xx].
Neste
sentido, visto que o pão continua sendo apresentado simples e empiricamente
como pão e o vinho como vinho, é possível se referir a eles como
"símbolos" do corpo e do sangue do Senhor, pois apesar de serem
mostrados como pão e vinho, são indicadores de uma realidade invisível que os
transcendem; no pão e no vinho eucarísticos, após o relato da instituição da
Eucaristia pelo sacerdote, são verdadeiramente, realmente e substancialmente o
corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda que as
aparências continuem sendo as do pão e vinho. E enquanto aparências, são símbolos
de uma realidade diferente, a saber: de Jesus, o Pão da Vida. Isto explica o facto
de que em alguns textos que vimos e ainda veremos, alguns Padres falem de certo
simbolismo do pão e do vinho em relação ao corpo e sangue do Senhor e, a
seguir, ensinem que na Eucaristia o próprio Jesus Cristo é recebido.
HILÁRIO DE POITIERS
O
"Atanásio do Ocidente", assim conhecido por sua defesa das doutrinas
anti-arianas do Concílio de Niceia.
Converteu-se
à Fé cristã após o estudo do Antigo e do Novo Testamento. Embora casado, os
sacerdotes e os fiéis de Poitiers, na França, elegeram-no como seu Bispo em
350. Sofreu muito pela Fé verdadeira, sobretudo ao ser desterrado. Morreu em
367 e é considerado uma das colunas do triunfo da Fé Nicena contra o Arianismo.
Foi
proclamado "Doutor da Igreja" pelo Papa Pio IX, em 1851.
Em
pleno ambiente anti-ariano, Hilário arguiu a realidade da Eucaristia
(indiscutivelmente vivida na Igreja) à verdade da natureza divina de Cristo e
escreveu, ao comentar João 17,22-23:
-
"Como Cristo está hoje em nós: por verdade da natureza ou por concordância
de vontade? Porque se o Verbo verdadeiramente Se fez carne e nós, no alimento
do Senhor, verdadeiramente comemos o Verbo feito carne, como se concluirá que
Ele não permanece naturalmente connosco? Ele que nasceu do homem, tomou a
natureza da nossa carne, inseparável Dele, e, no mistério que nos comunica a
Sua carne, uniu a natureza da Sua carne com a natureza da Sua divindade" [xxi].
-
"Porque Ele mesmo disse:
'A
Minha carne é verdadeiramente comida e Meu sangue é verdadeiramente bebida.
Aquele que come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele'.
Sobre
a verdade da carne e do sangue, não há lugar para dúvidas, pois agora, pela
profissão do Senhor e pela nossa fé, é verdadeiramente carne e verdadeiramente
sangue. E quando essa carne é comida (para o fiel) e o sangue é bebida, então
fazem com que permaneçamos em Cristo e Cristo em nós" [xxii].
-
"Recordamos todas essas coisas porque os hereges, mentindo ao dizer que
somente existe unidade de vontade entre o Pai e o Filho, empregavam o exemplo
da nossa união com Deus, como se estivéssemos unidos ao Filho e pelo Filho ao
Pai, apenas por nossa submissão e vontade religiosas e, assim, não se concedera
qualquer propriedade de união natural ao sacramento da carne e do sangue.
Sendo
assim, que o mistério da verdadeira e natural unidade (entre Cristo e aqueles
que recebem este sacramento) seja proclamado pela honra que supõe para nós a
doação do Filho; e pela permanência segundo a carne do Filho em nós, já que
estamos corporal e inseparavelmente unidos a Ele" [xxiii].
p. juan carlos
sack
(Revisão da versão portuguesa por ama)
[i] São João Crisóstomo,
Bispo, séc. IV
[ii] Martinho Lutero;
W26,414,4-6
[iii] Daniel Sapia,
evangélico
[iv] Homilia sobre a
Páscoa 1; in: BKV 6,33, Ausgewählte Schriften der Syrischen Dichter
[v] Homilia sobre a
Páscoa 1; in: BKV 6,37
[vi] Homilia sobre a
Páscoa 1; in: BKV 6,38
[vii] Os adversários da
presença real costumam afirmar que Jesus pediu para que a Eucaristia fosse
celebrada "em Minha memória", como se essa "memória" fosse
contrária à "presença" de Jesus. Nos Padres da Igreja, como também na
doutrina católica, os conceitos de "memória" e "presença"
não se opõem: em memória de Jesus celebramos "isto" (segundo as palavras
do Senhor: "Fazei isto em Minha memória") e "isto" faz
também referência à oferta do Seu corpo e do Seu sangue ("Isto é o Meu
corpo entregue por vós").
[viii] Evangeliorium
4,4,447-453
[x] Comentário ao Salmo
33,6.
[xi] Lavará suas vestes
no vinho e seu manto no sangue da uva
[xii] Seus olhos estão
alegres pelo vinho e seus dentes são mais brancos que o leite
[xiii] Para maiores
informações sobre o tema, veja-se Dufort, "Le Symbolisme Eucharistique aux
Origines de l’Église", pp. 33-35.
[xiv] Demonstração
Evangélica 1,10
[xv] Veja-se a obra de
J. Betz, "Die Eucharistie in der Zeit der Griechischen Väter", tomo
1/1 (Freiburg 1955), que é fonte obrigatória para o estudo da linguagem
eucarística dos Padres gregos.
[xvi] Da Solenidade
Pascal 7
[xviii] Daniel Sapia, em
seu artigo "A Teoria da Transubstanciação". Esta ridícula
apresentação que o Webmaster batista quer colocar na boca da Igreja nunca foi
doutrina católica, como demostram, entre outros, Santo Agostinho, ao assinalar
que "eles (=os ouvintes de Jesus em João 6) entenderam a carne como aquela
que se solta de um cadáver, ou como aquela que é vendida no mercado, não a que
se encontra animada pelo Espírito"; e: "entenderam-No carnalmente e
imaginaram que o Senhor iria cortar algumas partes do Seu corpo para dar a
eles"; ou São Cirilo de Alexandria, quando pregava que "quando
ouviram [Jesus] dizer: 'Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a
carne do Filho do homem, se não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós',
imaginaram que estavam sendo convidados para algo cruel, próprio das feras: que
desumanamente seriam obrigados a comer carne e a beber sangue; que seriam
obrigados a fazer coisas que, só de ouvir, qualquer um já estremece"; ou o
próprio Martinho Lutero, que afirmava: "Os judeus pensaram que deveriam
comer Cristo, do mesmo modo que se come o pão e a carne do prato, ou como um
leitãozinho assado". A Igreja rejeita toda apresentação grosseira do
mistério eucarístico e entende o comer a carne de Cristo no sentido real, porém
sacramental e místico, não como que extraído de um cadáver ou como se fosse um
leitãozinho assado.
[xx] A ridícula acusação
de canibalismo, por exemplo.