04/05/2016

Antigo testamento / Génesis

Génesis 42

Os irmãos de José vão ao Egipto

1 Quando Jacob soube que no Egipto havia trigo, disse aos seus filhos: "Por que estão aí olhando uns para os outros?"

2 Disse ainda: "Ouvi dizer que há trigo no Egipto. Desçam até lá e comprem trigo para nós, para que possamos continuar vivos e não morramos de fome".

3 Assim dez dos irmãos de José desceram ao Egipto para comprar trigo.

4 Jacob não deixou que Benjamim, irmão de José, fosse com eles, temendo que algum mal lhe acontecesse.

5 Os filhos de Israel estavam entre outros que também foram comprar trigo, por causa da fome na terra de Canaã.

6 José era o governador do Egipto e era ele quem vendia trigo a todo o povo da terra. Por isso, quando os irmãos de José chegaram, curvaram-se diante dele com o rosto em terra.

7 José reconheceu os seus irmãos logo que os viu, mas agiu como se não os conhecesse, e falou-lhes asperamente: "De onde vêm?"
Responderam eles: "Da terra de Canaã, para comprar comida".

8 José reconheceu os seus irmãos, mas eles não o reconheceram.

9 Lembrou-se então dos sonhos que tivera a respeito deles e disse-lhes: "Vocês são espiões! Vieram para ver onde a nossa terra está desprotegida".

10 Eles responderam: "Não, meu senhor. Os teus servos vieram comprar comida.

11 Todos nós somos filhos do mesmo pai. Os teus servos são homens honestos, e não espiões".

12 Mas José insistiu: "Não! Vós viestes ver onde a nossa terra está desprotegida".

13 E eles disseram: "Os teus servos eram doze irmãos, todos filhos do mesmo pai, na terra de Canaã. O mais novo está agora em casa com o pai, e o outro já morreu".

14 José tornou a afirmar: "É como disse: São espiões!

15 Serão postos à prova. Juro pela vida do faraó que não sairão daqui, enquanto o voss irmão mais novo não vier para cá.

16 Mandem algum de vós buscar o vosso irmão enquanto os outros aguardam presos. Assim ficará provado se as vossas palavras são verdadeiras ou não. Se não forem, juro pela vida do faraó que ficará confirmado que sois são espiões!"

17 E deixou-os presos três dias.

18 No terceiro dia, José disse-lhes: "Eu tenho temor de Deus. Se querem salvar a vossa vida, façam o seguinte: se são homens honestos, deixem um dos vossos irmãos aqui na prisão, enquanto os outros voltam, levando trigo para matar a fome das vossas famílias.

20 Tragam-me, porém, o seu irmão mais novo, para que se comprovem as vossas palavras e não tenham que morrer".

21 Eles prontificaram-se a fazer isso e disseram uns aos outros: "Certamente estamos sendo punidos pelo que fizemos ao nosso irmão. Vimos como ele estava angustiado, quando nos implorava pela sua vida, mas não lhe demos ouvidos; por isso nos sobreveio esta angústia".

22 Rúben respondeu: "Eu não lhes disse que não maltratassem o menino? Mas vocês não quiseram ouvir-me! Agora teremos que prestar contas do seu sangue".

23 Eles, porém, não sabiam que José podia compreendê-los, pois ele falava-lhes por meio de um intérprete.

24 Então José retirou-se e começou a chorar, mas logo depois voltou e conversou de novo com eles. Então escolheu Simeão e mandou acorrentá-lo diante deles.

25 Em seguida, José deu ordem para que enchessem de trigo as suas bagagens, devolvessem a prata de cada um deles, colocando-a nas bagagens, e lhes dessem mantimentos para a viagem. E assim foi feito.

26 Eles puseram a carga de trigo sobre os seus jumentos e partiram.

27 No lugar onde pararam para pernoitar, um deles abriu a bagagem para tirar forragem para o seu jumento e viu a prata na boca da bagagem.

28 E disse aos seus irmãos: "Devolveram a minha prata. Está aqui em minha bagagem".
Tomados de pavor no seu coração e tremendo, disseram uns aos outros­: "Que é isto que Deus fez connosco?"

29 Ao chegarem à casa de seu pai Jacob, na terra de Canaã, relataram-lhe tudo o que lhes acontecera, dizendo:

30 "O homem que governa aquele país falou asperamente connosco e tratou-nos como espiões.

31 Mas nós asseguramos-lhe que somos homens honestos e não espiões.

32 Dissemos também que éramos doze irmãos, filhos do mesmo pai, e que um já havia morrido e que o mais novo estava com o nosso pai, em Canaã.

33 "Então o homem que governa aquele país disse-nos: 'Vejamos se sois honestos: um dos vossos irmãos ficará aqui comigo, e os outros poderão voltar e levar mantimentos para matar a fome das vossas famílias.

34 Tragam-me, porém, o vosso irmão mais novo, para que eu comprove se sois ou não espiões, mas sim, homens honestos. Então devolver-lhes-ei o irmão e os autorizarei a fazer negócios nesta terra' ".

35 Ao esvaziarem as bagagens, dentro da bagagem de cada um estava a sua bolsa cheia de prata. Quando eles e seu pai viram as bolsas cheias de prata, ficaram com medo.

36 E disse-lhes seu pai Jacob: "Vós estais tirando os meus filhos de mim! Já fiquei sem José, agora sem Simeão e ainda querem levar Benjamim. Tudo está contra mim!"

37 Então Rúben disse ao pai: "Podes matar os meus dois filhos se eu não o trouxer de volta. Deixa-o aos meus cuidados, e eu o trarei".

38 Mas o pai respondeu: "O meu filho não descerá convosco; vosso irmão está morto, e ele é o único que resta. Se qualquer mal lhe acontecer na viagem que estão para fazer, fareis estes meus cabelos brancos descer à sepultura com tristeza".

 (Revisão da versão portuguesa por ama)








Maio - Santo Rosário - Terceiro Mistério Gozoso



Jesus Nasce em Belém

Estava próxima a hora de nasceres, Senhor, e "como não havia lugar na hospedaria..." Tua Mãe santíssima, decerto preocupada, mas serenamente confiante, levou-te ainda no seu seio para uma gruta que servia de estábulo.
E aí nasceste Senhor.
O meu Deus, o meu Senhor, o meu Salvador!
"Como não havia lugar na hospedaria..."

Porque não haveria lugar?

Por a cidade estar cheia de forasteiros que ali iam recensear-se?
Por não aparentarem, aquela jovem mulher e o seu marido, posses ou posição social?

Sim, com um simples burrico por transporte, uma pequena trouxa de magros pertences, não o seriam por certo.
Talvez fosse por estas duas principais razões, talvez. É um facto que a cidade estaria cheia de gente.

Mas então, Maria e José foram tão imprudentes que não esperaram uns dias até que Tu nascesses para então fazerem a viagem!?
Não procuraram assegurar estadia em casa de algum parente ou conhecido!
Não, não terão feito nada disto. Provavelmente porque não podiam, as comunicações eram difíceis e, depois, porque se tratava de duas criaturas de extrema simplicidade. Não era seu hábito programar a vida, medir os passos, organizar em detalhe as coisas futuras.

Com uma confiança ilimitada na providência de Deus, sabiam perfeitamente que haverias de nascer quando e onde quisesses, Senhor, e que haverias de prover todas as necessidades que ocorressem.

Mas não havia, de facto, lugar na hospedaria?
Não seria possível descobrir um pequeno recanto, uma água-furtada, um esconso onde a jovem mãe pudesse, com recato e algum conforto, dar à luz o seu Filho!?

Quantas vezes, Senhor, eu não tive lugar para Ti?
Quantas vezes!
Sempre cheio de coisas, de preocupações, ambições, desejos, devaneios, ouvi eu, entendi eu que eras Tu ali, à porta do meu coração, pedindo um bocadinho, um pequeno espaço, para poderes nascer!
Quantas vezes quiseste nascer dentro de mim e, eu, pobre de mim, não deixei, não quis!

Ah! Senhor, eu sei que não sou digno, mas uma simples palavra Tua e este pobre coração cheio de mazelas e pecados, ficará radioso de brancura e Tu poderás, ainda que por momentos, nascer dentro d'Ele.
Bate, Senhor, com força à minha porta, eu abrir-te-ei e deixar-te-ei entrar e aqui farás o teu Presépio.
Não desejo outra coisa, Senhor, senão sentir-te dentro de mim, irradiando a Tua Paz e o teu calor de amor.

Oh! minha mãe, Maria Santíssima, descansa aqui um pouco, deixa-me por momentos o teu Filho que eu O embalarei com o meu amor, a minha dedicação inteira, a minha devoção profunda.
Podes tu, José meu pai e senhor, confiar-me o teu excelente Filho adoptivo, eu tomarei boa conta d'Ele, embora fique estático e estarrecido por tamanha ventura e tão grande honra.
A minha alma anseia que assim seja.

Doutrina – 133

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

37. Porque professamos um só Deus?

Porque Ele se revelou ao povo de Israel como o Único, quando disse: «Escuta Israel, o Senhor é um só», [1] «não há outros». [2] O próprio Jesus o confirmou: Deus é «o único Senhor». [3] Professar que Jesus e o Espírito Santo são também eles Deus e Senhor, não introduz nenhuma divisão no Deus Uno.



[1] Dt 6,4
[2] Is 45,22
[3] Mc 12,29

Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Conta-lhe tudo o que te acontece, honra-a

Deves ter uma intensa devoção à nossa Mãe. Ela sabe corresponder com finura aos obséquios que Lhe fizermos. Além disso, se rezares o Terço todos os dias com espírito de fé e de amor, Nossa Senhora encarregar-se-á de te levar muito longe pelo caminho do seu Filho. (Sulco, 691)

Quanto cresceriam em nós as virtudes sobrenaturais se conseguíssemos verdadeira devoção a Maria, que é Nossa Mãe! Não nos importemos de lhe repetir durante todo o dia – com o coração, sem necessidade de palavras – pequenas orações, jaculatórias. A devoção cristã reuniu muitos desses elogios carinhosos na Ladainha que acompanha o Santo Rosário. Mas cada um de nós tem a liberdade de os aumentar, dirigindo-lhe novos louvores, dizendo-lhe o que – por um santo pudor que Ela entende e aprova – não nos atreveríamos a pronunciar em voz alta.


Aconselho-te (...) que faças, se o não fizeste ainda, a tua experiência particular do amor materno de Maria. Não basta saber que Ela é Mãe, considerá-la deste modo, falar assim d'Ela. É tua Mãe e tu és seu filho; quer-te como se fosses o seu único filho neste mundo. Trata-a de acordo com isso: conta-lhe tudo o que te acontece, honra-a, ama-a. Ninguém o fará por ti, tão bem como tu, se tu não o fizeres. (Amigos de Deus, 293)

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 16, 12-15

12 Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não as podeis compreender agora. 13 Quando vier, porém, o Espírito da Verdade, Ele vos guiará no caminho da verdade total, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. 14 Ele Me glorificará, porque receberá do que é Meu e vo-lo anunciará. 15 Tudo quanto o Pai tem é Meu. Por isso Eu vos disse que Ele receberá do que é Meu e vo-lo anunciará.

Comentário:

O Espírito Santo não virá dizer-nos coisas diferentes das que Jesus Cristo nos disse.

Mas, então, porque se dará essa compreensão mas almas que em muitos casos, parece faltar aos que ouvem Jesus?

Porque traz consigo os seus Dons, nomeadamente os de ciência e de entendimento que abrirão as inteligências e ajudarão as almas a compreender e, compreendendo, a acreditar.


(ama, comentário sobre Jo 16, 12-15, 2013.05.26)



Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES


LIVRO DÉCIMO-TERCEIRO

CAPÍTULO XXII

Sentido místico da criação do homem

Assim, Senhor, nosso Deus e nosso Criador, quando os nossos afectos mundanos, que nos causam a morte porque nos faziam viver mal, se afastarem do amor do mundo, quando a nossa alma, vivendo bem, se tornar alma viva, e quando se cumprir a palavra que proferiste pela boca do teu Apóstolo: “Não vos conformeis com o mundo em que vivemos” – então seguir-se-á aquilo que acrescentaste imediatamente ao dizer: “Mas reformai-vos na novidade de vossa mente”. – E já não será “segundo a vossa espécie” – como se fosse imitar os nossos predecessores ou viver seguindo os exemplos de alguém melhor que nós. Não disseste: “Que o homem seja feito de acordo com a sua espécie” – mas “façamos o homem à nossa imagem e semelhança” – para que pudéssemos reconhecer a tua vontade. Para tanto, o divulgador do teu pensamento, que gerou filhos pelo Evangelho, não querendo que continuassem como crianças os que alimentara com leite e agasalhara no teu seio como uma ama, dizia: “Reformai-vos renovando o vosso coração, para discernir a vontade de Deus, que é bom, agradável e perfeito”. – Também não dizes: “Faça-se o homem” – mas “à nossa imagem e semelhança”. Aquele que é renovado no espírito, que compreende e conhece tua verdade, não mais carece que um outro lhe ensine a imitar a sua espécie. Graças às tuas lições, ele reconhece por si qual é a tua vontade, o que é bom, agradável e perfeito. Tu ensinas-lhe, pois agora é capaz deste ensinamento, a ver a Trindade da Unidade e a Unidade da Trindade. Eis por que, depois de falar no plural: “Façamos o homem” se diz no singular: “E Deus criou o homem”. Depois deste plural: “À nossa imagem” – este singular: “À imagem de Deus”. Assim o homem “se renova pelo conhecimento de Deus, à imagem do seu criador” – e “tornando-se espiritual, julga todas as coisas”, que certamente hão-de ser julgadas, “mas ele não é julgado por ninguém”.

CAPÍTULO XXIII

O julgamento do homem espiritual

Ele julga tudo, significa que tem autoridade sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu, sobre os animais domésticos e selvagens, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que nela se arrastam. Exerce esse poder pela inteligência, pela qual percebe as coisas que são do Espírito de Deus. Mas, elevado a tão grande honra, o homem não entendeu a sua dignidade, igualou-se aos jumentos insensatos, tornando-se semelhante a eles.

Por isso, na tua Igreja, Senhor, pela graça que lhe concedeste – pois somos obra tua, e criados para obras boas, tanto os que governam como os que obedecem segundo o Espírito tem o dom de julgar. Porque assim fizeste a criatura humana homem e mulher, na tua graça espiritual, onde não há distinção conforme o sexo, nem judeu nem grego, nem escravo nem homem livre. Os espirituais, portanto, tanto os que presidem como os que obedecem, julgam espiritualmente. Eles não julgam conhecimentos espirituais que brilham no firmamento, pois não lhes cabe fazer juízos sobre tão sublime autoridade. Nem julgam a tua Escritura, mesmo nas suas passagens obscuras nós lhe submetemos a nossa inteligência, e temos certeza de que até aquilo que está oculto à nossa compreensão é justo e verdadeiro. O homem, pois, embora já espiritual e renovado pelo conhecimento, conforme a imagem do seu criador, deve ser cumpridor da lei, e não seu juiz. Nem pode ajuizar sobre o que distingue espirituais e carnais. Somente os teus olhos, meu Senhor, os distinguem, mesmo que nenhuma obra sua os tenha revelado a nós, para que os reconheçamos pelos seus frutos. Mas tu, Senhor, já os conheces e os classificaste, e os chamaste no segredo de teu pensamento, antes de ter criado o firmamento.

Tampouco julga, o homem espiritual, os povos inquietos deste mundo. De facto, porque julgaria ele os que estão fora, ignorando quem alcançará a doçura da tua graça, e quem permanecerá na eterna amargura da impiedade?

Por isso, o homem que criaste à tua imagem, não recebeu poder sobre os astros do céu, nem sobre o mesmo céu misterioso, nem sobre o dia e a noite que chamaste à existência antes da criação do céu, nem sobre a massa das águas, que é o mar. Mas recebeu poder sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre todos os animais, sobre toda a terra, e sobre tudo o que se arrasta pela superfície do solo.

Ele julga e aprova o que acha bom, e reprova o que acha mau, quer na celebração dos sacramentos, com que são iniciados os que na tua misericórdia tira das águas profundas, quer no banquete em que se serve o peixe tirado das profundezas para alimento da terra fiel; quer nas palavras e expressões sujeitas à autoridade do teu Livro que, semelhantes aos pássaros, voam sob o firmamento: interpretações, exposições, discussões, bênçãos e invocações que brotam sonoras da boca, para que o povo responda: Amém! É necessário que essas palavras sejam enunciadas fisicamente, por causa do abismo do mundo e da cegueira da carne que, impossibilitada de ver o pensamento, tem necessidade de sons que firam os ouvidos. Assim, sem dúvida é sobre a terra que as aves se multiplicam, embora tenham as suas origens na água.

O homem espiritual julga também aprovando o que acha correcto e reprovando o que é vicioso nas obras e nos costumes dos fiéis. Julga as suas esmolas, comparáveis aos frutos da terra; julga a alma viva pelas paixões domadas pela castidade, os jejuns, e pelos pensamentos piedosos, na medida em que essas coisas se manifestam aos sentidos do corpo. Em resumo, é juiz de tudo o que pode se corrigir.

CAPÍTULO XXIV

Crescei e multiplicai-vos

Mas que é isto? Que mistério é este? Abençoas os homens, Senhor, para que eles cresçam, se multipliquem, e encham a terra. Não queres nisto dar-nos a entender alguma coisa?

Por que não abençoaste também a luz, que chamaste dia, nem a terra, nem o mar? Eu diria, meu Deus, que nos criaste à tua imagem, diria que quiseste conceder especialmente ao homem esta bênção, se não tivesses abençoado igualmente os peixes e os cetáceos, para que cresçam, se multipliquem, encham as águas do mar, e os pássaros para que se multipliquem sobre a terra.

Afirmaria ainda que essa bênção foi reservada às espécies vivas que se reproduzem por meio de geração, caso a encontrasse também nas árvores, nas plantas, nos animais da terra. Mas não foi dito nem às plantas, nem às árvores, nem aos répteis: “Crescei e multiplicai-vos” – embora todas essas criaturas se multipliquem pela procriação, como os peixes, os pássaros e os homens, conservando assim a sua espécie.

Quer dizer, então, ó minha Luz, ó Verdade? Que tais palavras carecem de senso e foram ditas em vão? De nenhum modo, ó Pai de misericórdia. Longe de mim, longe do servidor do teu Verbo, uma tal afirmação! Apenas não compreendo o sentido dessas palavras, e espero que os melhores que eu, ou seja, os mais inteligentes, a entendam melhor, segundo a sabedoria que deste, meu Deus, a cada um. Que te agrade ao menos a confissão, que faço diante de ti, da minha certeza de que não disseste em vão aquelas palavras.

Não calarei as reflexões que, a leitura dessas palavras, me sugerem. O que penso é verdadeiro, e nada vejo que impeça de explicar assim os textos figurados dos teus livros. Sei que sinais corporais podem exprimir de vários modos uma ideia que o espírito concebe em um só sentido; uma ideia expressa de um só modo. Como exemplo, cito a simples ideia do amor de Deus e do próximo. Quantos símbolos, quantas línguas, e em cada uma, inúmeras locuções lhe dão uma expressão concreta! É assim que crescem e se multiplicam os peixes das águas.

E note ainda nisto, meu leitor. Há uma frase que a Escritura declara de uma só forma, e que a voz fala apenas dessa maneira: “No princípio criou Deus o céu e a terra” – E não pode a frase ser interpretada diversamente – descartando o erro ou o sofisma – conforme os diversos pontos de vista legítimos? É assim que crescem e se multiplicam as gerações dos homens!

Se consideramos a natureza das coisas, não alegoricamente, mas em sentido próprio, a sentença: “Crescei e multiplicai-vos” –aplica-se a todas as criaturas que nascem de uma semente. Se, ao contrário, a interpretamos em sentido figurado, como penso que foi a intenção da Escritura, que não limita inutilmente essa bênção aos peixes e aos homens, encontramos então multidões de criaturas espirituais e temporais, como no céu e na terra; de almas justas e injustas, como na luz e nas trevas; de escritores sagrados que nos anunciaram a Lei, como no firmamento estabelecido entre as águas; na sociedade amargurada dos povos, como no mar; no zelo das almas piedosas, como em terra enxuta; nas obras de misericórdia praticadas nesta vida, como nas plantas que nascem de semente e nas árvore frutíferas; nos dons espirituais concedidos para o bem de todos, como nos luminares do céu; nas paixões dominadas pela temperança, como na alma viva. Em todas essas coisas encontramos multidões, fecundidade, crescimento. Mas que esse crescimento e essa proliferação exprimam uma mesma ideia de vários modos e que uma só expressão possa ser entendida de muitas maneiras, esse facto, apenas o encontramos nos sinais sensíveis e nos conceitos intelectuais.

Os sinais corpóreos, originados da profundidade da nossa cegueira carnal, correspondem, segundo penso, às gerações das águas; os conceitos intelectuais, gerados pela fecundidade da inteligência, simbolizam, parece-me, as gerações humanas.

E é por isso, Senhor, que creio que disseste tanto às águas como aos homens: “Crescei e multiplicai-vos” – Nessa bênção, penso que nos deste a faculdade, o poder de formular de várias maneiras uma única ideia, e de compreender também de muitas maneiras uma expressão única, mas obscura.

É assim que as águas do mar se povoam, e não se moveriam sem as várias interpretações das palavras. É assim que a terra se povoa de gerações humanas; a sua aridez fecunda-se pela sua paixão da verdade, sob o poder da razão.

CAPÍTULO XXV

Os frutos da terra

Quero ainda dizer, Senhor meu Deus, o que me inspiram as palavras que seguem da tua Escritura. E o farei sem medo, porque direi a verdade; pois não vem de ti, por acaso, a inspiração do que queres que eu diga? Não creio que possa dizer a verdade se tu não me inspirares, pois tu és a própria verdade, e todo homem é mentiroso. Por isto, quem mente fala do que é seu. Logo, para falar a verdade, só falarei o que me inspiras.

Tu deste-nos para alimento todas as ervas que produzem semente e que cobrem a terra, e todas as árvores que contém em si, em germe, os seus frutos. E não foi somente a nós que deste esse alimento, mas também às aves do céu, aos animais da terra e aos répteis, mas não aos peixes e aos grandes cetáceos. Dizíamos que esses frutos da terra significam e representam alegoricamente as obras de misericórdia, que a terra fecunda produz para as necessidades desta vida. Era semelhante a uma terra assim o piedoso Onesíforo, cuja casa recebeu a graça da tua misericórdia, porque muitas vezes assistira a teu Paulo, sem se envergonhar por suas cadeias.

É o mesmo que fizeram os irmãos que, de Macedónia, lhe forneceram o que lhe era necessário, produzindo também abundante fruto. E contudo, o Apóstolo queixa-se de certas árvores que não lhe tinham dado o fruto devido, quando escreve: “na minha primeira defesa ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Que isto não lhes seja imputado!” – Tais frutos são devidos aos que nos ministram doutrina racional, ajudando-nos a compreender os mistérios divinos. E nós lhes devemos exemplos de todas as virtudes; e também lhes devemos os frutos como a pássaros do céu, por causa das bênçãos que distribuem abundantemente sobre a terra, pois sua voz se fez ouvir por toda a terra.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


Temas para meditar - 627

Frutos da Fé


Deus dá sempre o necessário, se tivermos fé e nos esforçarmos.



(federico suarezA Virgem Nossa Senhora, Éfeso, 4ª Ed. nr. 196)

Conselhos para enfrentar a morte de forma cristã - 8

Conselhos para enfrentar a morte de forma cristã

8. Doar os pertences do falecido


Doar os pertences (especialmente roupas) da pessoa falecida é uma obra de caridade, uma maneira de viver as obras de misericórdia e prolongar o bem que a pessoa fez em vida. 
Além disso, o contacto com os pertences de quem partiu pode prolongar a nossa dor.

Fonte: pildorasdefe


(Revisão da versão portuguesa por ama)