Jesus Nasce em Belém
Estava
próxima a hora de nasceres, Senhor, e "como não havia lugar na
hospedaria..." Tua Mãe santíssima, decerto preocupada, mas serenamente
confiante, levou-te ainda no seu seio para uma gruta que servia de estábulo.
E aí
nasceste Senhor.
O
meu Deus, o meu Senhor, o meu Salvador!
"Como
não havia lugar na hospedaria..."
Porque
não haveria lugar?
Por
a cidade estar cheia de forasteiros que ali iam recensear-se?
Por
não aparentarem, aquela jovem mulher e o seu marido, posses ou posição social?
Sim,
com um simples burrico por transporte, uma pequena trouxa de magros pertences,
não o seriam por certo.
Talvez
fosse por estas duas principais razões, talvez. É um facto que a cidade estaria
cheia de gente.
Mas
então, Maria e José foram tão imprudentes que não esperaram uns dias até que Tu
nascesses para então fazerem a viagem!?
Não
procuraram assegurar estadia em casa de algum parente ou conhecido!
Não,
não terão feito nada disto. Provavelmente porque não podiam, as comunicações
eram difíceis e, depois, porque se tratava de duas criaturas de extrema
simplicidade. Não era seu hábito programar a vida, medir os passos, organizar
em detalhe as coisas futuras.
Com
uma confiança ilimitada na providência de Deus, sabiam perfeitamente que
haverias de nascer quando e onde quisesses, Senhor, e que haverias de prover
todas as necessidades que ocorressem.
Mas
não havia, de facto, lugar na hospedaria?
Não
seria possível descobrir um pequeno recanto, uma água-furtada, um esconso onde
a jovem mãe pudesse, com recato e algum conforto, dar à luz o seu Filho!?
Quantas
vezes, Senhor, eu não tive lugar para Ti?
Quantas
vezes!
Sempre
cheio de coisas, de preocupações, ambições, desejos, devaneios, ouvi eu,
entendi eu que eras Tu ali, à porta do meu coração, pedindo um bocadinho, um
pequeno espaço, para poderes nascer!
Quantas
vezes quiseste nascer dentro de mim e, eu, pobre de mim, não deixei, não quis!
Ah!
Senhor, eu sei que não sou digno, mas uma simples palavra Tua e este pobre
coração cheio de mazelas e pecados, ficará radioso de brancura e Tu poderás,
ainda que por momentos, nascer dentro d'Ele.
Bate,
Senhor, com força à minha porta, eu abrir-te-ei e deixar-te-ei entrar e aqui
farás o teu Presépio.
Não
desejo outra coisa, Senhor, senão sentir-te dentro de mim, irradiando a Tua Paz
e o teu calor de amor.
Oh!
minha mãe, Maria Santíssima, descansa aqui um pouco, deixa-me por momentos o
teu Filho que eu O embalarei com o meu amor, a minha dedicação inteira, a minha
devoção profunda.
Podes
tu, José meu pai e senhor, confiar-me o teu excelente Filho adoptivo, eu
tomarei boa conta d'Ele, embora fique estático e estarrecido por tamanha
ventura e tão grande honra.
A minha alma anseia que
assim seja.
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