16/07/2019

Leitura espiritual


"Christus vivit": Exortação Apostólica aos Jovens 


Capítulo V

PERCURSOS DE JUVENTUDE

134. Como se vive a juventude, quando nos deixamos iluminar e transformar pelo grande anúncio do Evangelho?

Trata-se duma pergunta importante que nos devemos colocar, pois a juventude não é motivo de que possamos vangloriar-nos, mas um dom de Deus: «ser jovem é uma graça, uma ventura»[1].

É um dom que podemos malbaratar inutilmente ou recebê-lo agradecidos e vivê-lo em plenitude.

135. Deus é o autor da juventude e age em cada jovem.
A juventude é um tempo abençoado para o jovem e uma bênção para a Igreja e o mundo.
É uma alegria, uma canção de esperança e uma beatitude.
Apreciar a juventude significa considerar este período da vida como um momento precioso, e não como uma fase de passagem onde os jovens se sentem empurrados para a idade adulta.

Tempo de sonhos e opções

136. No tempo de Jesus, a saída da infância era uma passagem vital muito esperada, que se festejava e vivia intensamente.
Assim, quando Jesus devolveu a vida a uma «menina» (Mc 5, 39), fê-la avançar um passo, fê-la crescer e tornar-se «moça» (Mc 5, 41).
Ao mesmo tempo que lhe dizia «moça, levanta-te!» (talitá kum), tornou-a mais responsável da sua vida abrindo-lhe as portas da juventude.

137. «Como fase do desenvolvimento da personalidade, a juventude está marcada por sonhos que se vão formando, relações que adquirem consistência sempre maior e equilíbrio, tentativas e experiências, opções que constroem gradualmente um projecto de vida.
Nesta época da vida, os jovens são chamados a lançar-se para diante, mas sem cortar com as raízes, a construir autonomia mas não sozinhos»[2].

138. O amor de Deus e a nossa relação com Cristo vivo não nos impedem de sonhar, não nos pedem para restringir os nossos horizontes.
Pelo contrário, esse amor instiga-nos, estimula-nos, lança-nos para uma vida melhor e mais bela.
A palavra «inquietude» resume muitas das aspirações do coração dos jovens.
Como dizia São Paulo VI, «precisamente nas insatisfações que vos atormentam (…) há um elemento de luz»[3].

A inquietude insatisfeita juntamente com a admiração pelas novidades que assomam ao horizonte abrem caminho à ousadia que os impele a tomar a sua vida nas próprias mãos e a tornar-se responsáveis por uma missão.
Esta sã inquietude, que surge especialmente na juventude, continua a ser a característica de qualquer coração que permanece jovem, disponível, aberto.
A verdadeira paz interior convive com esta profunda insatisfação. Dizia Santo Agostinho:
«Senhor, criastes-nos para Vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Vós»[4].

139. Algum tempo atrás, um amigo perguntou-me o que vejo quando penso num jovem.
A minha resposta foi que «vejo um jovem ou uma jovem à procura do seu próprio caminho, que quer voar com os pés, que assoma ao mundo e fixa o horizonte com olhos cheios de esperança, cheios de futuro e também de ilusões.
O jovem caminha com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, aquele coloca um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir.
Sempre a olhar para diante.
Falar de jovens significa falar de promessas, significa falar de alegria. Os jovens têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança!
Um jovem é uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade; tem um grau suficiente de insensatez para poder enganar-se a si mesmo e uma capacidade suficiente para curar a decepção que daí pode derivar»[5].

140. Alguns jovens talvez rejeitem esta fase da vida, porque gostariam de continuar a ser crianças, ou desejam «um prolongamento indefinido da adolescência e o adiamento das decisões; o medo do definitivo gera, assim, uma espécie de paralisia decisória.
Mas a juventude não pode permanecer um tempo suspenso: é a idade das opções, consistindo nisto mesmo o seu encanto e a sua tarefa maior.
Os jovens tomam decisões nas áreas profissional, social e política, e outras ainda mais radicais que determinarão a fisionomia da sua existência»[6].
E tomam decisões também a propósito do amor, com a escolha do seu par e na opção de ter os primeiros filhos.
Aprofundaremos estes temas nos últimos capítulos, dedicados à vocação pessoal e ao seu discernimento.

141. Mas, contra os sonhos que inspiram as decisões, há sempre «a ameaça da lamentação, da resignação.
Estas deixemo-las aos que seguem a “deusa lamentação”!
(...) [Esta] é um engano: faz com que te encaminhes pela estrada errada.
Quando tudo parece estar parado e estagnado, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido.
O caminho é Jesus: façamo-l'O subir para o nosso barco e façamo-nos ao largo com Ele.
Ele é o Senhor!
Ele muda a perspectiva da vida.
A fé em Jesus conduz-nos a uma esperança que vai mais além, a uma certeza fundada não só nas nossas qualidades e habilidades, mas na Palavra de Deus, no convite que vem d’Ele.
Sem fazer demasiados cálculos humanos nem se preocupar com verificar se a realidade que vos circunda coincide com as vossas certezas, fazei-vos ao largo, saí de vós mesmos»[7].

142. Devemos perseverar no caminho dos sonhos.
Para isso, é preciso ter cuidado com uma tentação que muitas vezes nos engana: a ansiedade.
Pode tornar-se uma grande inimiga, quando leva a render-nos, porque descobrimos que os resultados não são imediatos.
Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas.
Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros; devemos, sim, ter medo de viver paralisados, como mortos ainda em vida, sujeitos que não vivem porque não querem arriscar, não perseveram nos seus compromissos ou têm medo de errar.
Ainda que erres, poderás sempre levantar a cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te roubar a esperança.

143. Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não fiqueis observando a vida da sacada.
Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante dum monitor.
E tão-pouco vos reduzais ao triste espectáculo dum veículo abandonado.
Não sejais carros estacionados, mas deixai brotar os sonhos e tomai decisões.
Ainda que vos enganeis, arriscai.
Não sobrevivais com a alma anestesiada, nem olheis o mundo como se fôsseis turistas.
Fazei-vos ouvir!
Lançai fora os medos que vos paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados.
Vivei!
Entregai-vos ao melhor da vida!
Abri as portas da gaiola e saí a voar!
Por favor, não vos aposenteis antes do tempo.

A vontade de viver e experimentar

144. Esta projecção para o futuro, que se sonha, não significa que os jovens estejam totalmente lançados para diante, pois simultaneamente há neles um forte desejo de viver o presente, aproveitar ao máximo as possibilidades que esta vida lhes oferece. Este mundo está repleto de beleza!
Como se pode desprezar os dons de Deus?

145. Ao contrário do que muitos pensam, o Senhor não quer atenuar esta vontade de viver.
Faz-nos bem lembrar o que ensinava um sábio do Antigo Testamento: «Meu filho, se tens com quê, trata-te bem. (…) Não te prives da felicidade presente» (Sir 14, 11.14).
O verdadeiro Deus, Aquele que te ama, quer-te feliz.
Por isso, na Bíblia, encontramos também este conselho dirigido aos jovens: «Jovem, regozija-te na tua mocidade e alegra o teu coração na flor dos teus anos. (...) Lança fora do teu coração a tristeza» (Ecl 11, 9.10).
Porque é «Deus que nos dá tudo com abundância para nosso usufruto» (1 Tim 6, 17).

146. Como poderá dizer-se agradecido a Deus quem não é capaz de usufruir dos seus pequenos presentes de cada dia, quem não sabe parar diante das coisas simples e agradáveis que encontra a cada passo?
Com efeito, «não há pior do que aquele que é avaro para si mesmo» (Sir 14, 6).
Não se trata de ser insaciáveis, sempre obcecados por prazeres sem fim; antes pelo contrário, pois isso impedir-te-á de viver o presente. Trata-se de saber abrir os olhos e parar a fim de viver plenamente e com gratidão cada um dos pequenos presentes da vida.

147. A Palavra de Deus convida-te claramente a viver o presente, e não só a preparar o amanhã:
«Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema» (Mt 6, 34).
Isto, porém, não significa abandonar-se a uma libertinagem irresponsável que nos deixa vazios e sempre insatisfeitos, mas convida-nos a viver plenamente o presente, usando as nossas energias para fazer coisas boas, cultivando a fraternidade, seguindo Jesus e apreciando cada pequena alegria da vida como um presente do amor de Deus.

148. A propósito, quero lembrar que o cardeal Francisco Xavier Nguyên van Thuân, quando foi preso num campo de concentração, não quis que os seus dias consistissem apenas em aguardar, esperar um futuro.
Escolheu «viver o momento presente, cumulando-o de amor»; e a maneira como o realizava era esta:
«Aproveito as oportunidades que me surgem cada dia para realizar acções ordinárias de maneira extraordinária»[8].

Enquanto lutas para realizar os teus sonhos, vive plenamente o dia de hoje, numa entrega total e cheia de amor em cada momento.
A verdade é que este dia da tua juventude pode ser o último, e por isso vale a pena vivê-lo com toda a garra e profundidade possíveis.

149. Isto é válido também para os momentos difíceis, que devem ser vividos profundamente para conseguir aprender a sua mensagem. Como ensinam os bispos suíços, «Ele está lá no lugar onde pensávamos que nos tinha abandonado e que já não havia possibilidade alguma de salvação.
É um paradoxo, mas o sofrimento, as trevas tornaram-se, para muitos cristãos, (...) lugares de encontro com Deus»[9].

Além disso, o desejo de viver e fazer novas experiências tem a ver especialmente com muitos jovens em condições de deficiência física, psíquica e sensorial.
Embora nem sempre possam fazer as mesmas experiências dos coetâneos, possuem recursos surpreendentes, inimagináveis que às vezes superam os recursos comuns.
O Senhor Jesus cumula-os de outros dons, que a comunidade é chamada a valorizar, para que possam descobrir o seu projecto de amor para cada um deles.


Franciscus

Revisão da versão portuguesa por AMA

Notas



[1] São Paulo VI, Alocução na Beatificação de Núncio Sulprizio (1 de Dezembro de 1963): AAS 56 (1964), 28.
[2] DF 65.
[3] Homilia na Eucaristia com os jovens (Sidney 2 de Dezembro de 1970): AAS 63 (1971), 64.
[4] Confissões, I, 1, 1: PL 32, 661.
[5] Francisco, Deus é jovem. Uma conversa com Tomás Leoncini (Cidade do Vaticano 2018), 16-17.
[6] DF 68.
[7] Francisco, Discurso aos jovens (Cagliari 22 de Setembro de 2013): AAS105 (2013), 904-905.
[8] Cinco pães e dois peixes: um jubiloso testemunho de fé, a partir do sofrimento na prisão(México 1999), 21.
[9] Conferência Episcopal Suíça, Tirar tempo: para ti, para mim, para nós (2 de Fevereiro de 2018).

Evangelho e comentário


TEMPO COMUM


Nossa Senhora do Carmo

Evangelho: Mt 11 20-24

Naquele tempo, começou Jesus a censurar duramente as cidades em que se tinha realizado a maior parte dos seus milagres, por não se terem arrependido: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidónia se tivessem realizado os milagres que em vós se realizaram, há muito teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza. Mas Eu vos digo que no dia do Juízo haverá mais tolerância para Tiro e Sidónia do que para vós. E tu, Cafarnaum, serás exaltada até ao céu? Até ao inferno é que descerás. Porque se em Sodoma se tivessem realizado os milagres que em ti se realizaram, ela teria permanecido até hoje. Mas Eu vos digo que no dia do Juízo haverá mais tolerância para a terra de Sodoma do que para ti».

Comentário:

Os milagres que o Senhor prodigaliza destinam-se fundamentalmente a consolidar a fé dos que os constatam e a empreender uma revisão de vida conducente com o objectivo de alcançar a felicidade eterna.

Não são um espectáculo mas sim sinais marcantes da verdade que O Senhor nos trouxe:

«Quem puser em prática as Minhas palavras será salvo».


(AMA, comentário sobre Mt 11, 20-24, 17.07.2018)




Temas para reflectir e meditar


Sonhador

Pois é, sou um sonhador!

É, na verdade, gasto muito tempo a sonhar.
Não me faz bem nem mal, ocupa o tempo sempre tão excessivo.
Que sonho?
Tudo, sonho sobre tudo o que, realmente, é muito, talvez excessivo.
Como se trata de sonhar, posso fazer projectos o que ocupa imenso tempo, mas sempre com o cuidado de não ter nem expectativas nem ilusões e, assim, nunca tenho nem desilusões nem sinto fracassos.

Poderá haver quem pense que Sonhar é afastar a realidade muitas vezes por cobardia, outras como refúgio.
A realidade da vida corrente não proporciona muitos momentos de sonho porque nos entra porta dentro exigindo respostas ou reacções imediatas.
Prefiro pensar que não há nada verdadeiramente urgente e que toda a questão pode esperar um pouco ou algum tempo por uma resposta.
Uma virtude desde logo: evita as precipitações.

AMA, 10.04.2018

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Tens de ser fermento


Dentro da grande multidão humana – interessam-nos todas as almas – tens de ser fermento, para que, com a ajuda da graça divina e com a tua correspondência, actues em todos os lugares do mundo como a levedura que dá qualidade, que dá sabor, que dá volume, com o fim de que depois o pão de Cristo possa alimentar outras almas. (Forja, 973)

Uma grande multidão acompanhara Jesus. Nosso Senhor ergue os olhos e pergunta a Filipe: Onde compraremos pão para dar de comer a toda esta gente?. Fazendo um cálculo rápido, Filipe responde: Duzentos dinheiros de pão não bastam para cada um receber um pequeno bocado. Como não dispõem de tanto dinheiro, lançam mão de uma solução caseira. Diz-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas que é isto para tanta gente.

Nós queremos seguir o Senhor e desejamos difundir a sua Palavra. Humanamente falando, é lógico que também perguntemos a nós mesmos: mas que somos nós para tanta gente? Em comparação com o número de habitantes da Terra, ainda que nos contemos por milhões, somos poucos. Por isso, temos de considerar-nos como uma pequena levedura, preparada e disposta a fazer o bem à humanidade inteira, recordando as palavras do Apóstolo: Um pouco de levedura fermenta toda a massa, transforma-a. Precisamos, portanto, de aprender a ser esse fermento, essa levedura, para modificar e transformar as multidões.

Se meditarmos com sentido espiritual no texto de S. Paulo, compreenderemos que temos de trabalhar em serviço de todas as almas. O contrário seria egoísmo. Se olharmos para a nossa vida com humildade, veremos claramente que o Senhor nos concedeu talentos e qualidades, além da graça da fé. Nenhum de nós é um ser repetido. O Nosso Pai criou-nos um a um, repartindo entre os seus filhos diverso número de bens. Pois temos de pôr esses talentos, essas qualidades, ao serviço de todos; temos de utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a descobrirem Cristo. (Amigos de Deus, nn. 256–258)