Tempo comum XXII Semana
Evangelho:
Lc 11, 15-26
15 Mas alguns
disseram: «Ele expulsa os demónios pelo poder de Belzebu, príncipe dos
demónios». 16 Outros, para O tentarem, pediam-Lhe um prodígio vindo
do céu. 17 Ele, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes:
«Todo o reino dividido contra si mesmo será devastado, e cairá casa sobre casa.
18 Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como estará em
pé o seu reino? Porque vós dizeis que por virtude de Belzebu é que lanço fora
os demónios. 19 Ora, se é pelo poder de Belzebu que Eu expulso os
demónios, os vossos filhos pelo poder de quem os expulsam? Por isso eles mesmos
serão os vossos juízes. 20 Mas se Eu, pelo dedo de Deus, lanço fora
os demónios, certamente chegou a vós o reino de Deus. 21 Quando um,
forte e armado, guarda o seu palácio, estão em segurança os bens que possui; 22
porém, se, sobrevindo outro mais forte do que ele, o vencer, tira-lhe as armas
em que confiava, e reparte os seus despojos. 23 Quem não é comigo é
contra Mim; e quem não colhe comigo desperdiça. 24 «Quando o
espírito imundo saiu de um homem, anda por lugares áridos, buscando repouso.
Não o encontrando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. 25
Quando vem, encontra-a varrida e adornada. 26 Então vai, toma
consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, ali se instalam. E
o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro».
Comentário:
Que o demónio não existe, dizem alguns
- bastantes, infelizmente, - pois bem, aqui esta uma confirmação insuspeita já
que vem dos próprios inimigos de Cristo.
Não obstante a sua má-fé e mentes
retorcidas, fazem uma confissão, um reconhecimento da verdade: o demónio
existe!
(ama, comentário
sobre Lc 11, 15-26, 2013.10.11)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
PRINCEPS PASTORUM
DO SUMO PONTÍFICE PAPA JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E AOS OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE AS MISSÕES CATÓLICAS
A Acção Católica
40.
Na nossa primeira encíclica já evocamos os múltiplos motivos graves que impõem
hoje, em todos os países do mundo, recrutar os leigos "para o pacífico
exército da Acção católica, com o intento de os ter como colaboradores no
apostolado da hierarquia eclesiástica". [41] Também manifestamos a nossa
satisfação por "tudo o que foi feito no passado, mesmo em terras de
missão, por esses preciosos colaboradores dos bispos e dos sacerdotes", [42]
e queremos aqui renovar, com toda a urgência da caridade que nos impele (cf. 2
Cor 5, 14), o aviso e o apelo do nosso predecessor Pio XII "sobre a
necessidade de que todos os leigos nas missões, afluindo numerosíssimos às
fileiras da Ação católica, colaborem activamente no apostolado com a hierarquia
eclesiástica". [43] Os Bispos dos países de missão, o clero secular e
regular, os fiéis mais generosos e preparados, têm realizado os esforços mais
louváveis para traduzirem em acto esta vontade do sumo-pontífice, e pode-se
dizer que em toda parte há, já agora, uma floração de iniciativas e de obras.
Nunca, porém, se insistirá bastante sobre a necessidade de adaptar convenientemente
esta forma de apostolado às condições e exigências locais. Não basta transferir
para um país aquilo que foi feito noutro, mas, sob a guia da hierarquia e no
espírito da mais alegre obediência aos sagrados pastores, é preciso fazer com
que a organização não resulte numa sobrecarga que estorve ou desperdice
preciosas energias, com movimentos fragmentários e de excessiva especialização
que, necessários noutra parte, poderiam resultar menos úteis em ambientes onde
as circunstâncias e as necessidades são completamente diversas. Na nossa
primeira encíclica também prometemos voltar com maior amplitude a este assunto
da Acção católica, e a seu tempo também os países de missão poderão tirar dela
proveito e impulso novo. Nesse ínterim, trabalhem todos em plena concórdia e
com espírito sobrenatural, na convicção de que só assim poderão gloriar-se de
pôr as suas forças a serviço da causa de Deus, da elevação espiritual e do
melhor progresso dos seus povos.
Formação
dos dirigentes leigos
41.
A Acção católica é uma organização de leigos "com funções executivas
próprias e responsáveis", [44] os leigos, portanto, compõem-lhe os quadros
directivos. Isto comporta a formação de homens capazes de imprimir às várias
associações o impulso apostólico e de lhes assegurar o melhor funcionamento,
para isso, homens e mulheres que, por serem dignos de se verem confiar pela
hierarquia a direcção central ou periférica das associações, devem fornecer as
mais amplas garantias de uma formação cristã intelectual e moral solidíssima,
em virtude da qual possam, "transfundir nos outros aquilo que com o
auxílio da graça divina, já possuem".c[45]
42.
Bem se pode dizer que a sede natural desta formação dos dirigentes leigos de
Ação católica é a escola. E a escola cristã justificará a sua razão de ser na
medida em que os seus mestres, sacerdotes e leigos, religiosos e seculares,
conseguirem formar sólidos cristãos.
43.
Ninguém ignora a importância que sempre teve e terá a escola nos países de
missão, e quanta energia a Igreja tem empregue na instituição de escolas de
toda ordem e grau, e na defesa da sua existência e prosperidade. Mas, como é
óbvio, um programa de formação de dirigentes de Acção católica, dificilmente
pode achar o seu lugar nos cursos escolares, para os quais as mais das vezes
será necessário confiar-se a iniciativas extra-escolares, que reúnam os jovens
de melhores esperanças, para instruí-los e formá-los no apostolado. Para isto,
os ordinários procurarão estudar a melhor forma para dar vida a escolas de
apostolado, cujos métodos educativos obviamente são diferentes dos métodos
escolares públicos. Às vezes se tratará também de preservar de falsas doutrinas
meninos e jovens que são forçados a frequentar escolas não-católicas, em todo
caso será necessário contrabalançar a educação humanística e técnica recebida
nas escolas públicas por uma educação espiritual particularmente inteligente e
intensa, a fim de que não suceda produzir a instrução indivíduos falsamente
evoluídos, cheios de pretensões, e mais nocivos do que úteis à Igreja e aos
povos. A sua formação espiritual deve ser proporcional ao seu grau de
desenvolvimento intelectual, dirigida a prepará-los para viverem catolicamente
no seu ambiente social e profissional, e para, a seu tempo, assumirem o seu
lugar na vida católica organizada. Para tal fim, no caso em que jovens cristãos
sejam forçados a deixar a sua comunidade para frequentarem em outras cidades as
escolas públicas, será oportuno cogitar da instituição de "pensionatos"
e lugares de encontro que lhes assegurem um ambiente religioso e moralmente
sadio, conveniente e apto para lhes encaminhar as capacidades e energias para
os ideais apostólicos. Atribuindo às escolas uma tarefa especial e
particularmente eficaz na formação dos dirigentes de Acção católica, certamente
não queremos subtrair às famílias a sua parte de responsabilidade, nem negar a
sua influência, que pode ser mesmo mais vigorosa e eficaz do que a da escola,
em alimentar em seus filhos a chama do apostolado e em cuidar de uma formação
cristã sempre mais madura e aberta à acção. A família é, com efeito, uma escola
ideal e insubstituível.
A
função do laicado autóctone nos vários ambientes
44.
O "bom combate" (2 Tm 4,7) pela fé leva-se a efeito não somente no
segredo da consciência ou na intimidade do lar, mas também na vida pública em
todas as suas formas. Em todos os países do mundo suscitam-se hoje em dia
problemas de vária natureza, cujas soluções são procuradas apelando-se, as mais
das vezes, só para os recursos humanos, e obedecendo a princípios que nem
sempre estão de acordo com as exigências da fé cristã. Além disto, muitos territórios
de missão estão atravessando "uma fase de evolução social, econômica e
política pejada de consequências para o seu futuro".x[46] Problemas que em
outras nações, ou já foram resolvidos ou acham na tradição elementos de
solução, impõem-se a outros países com uma urgência que não é isenta de
perigos, enquanto poderia aconselhar soluções apressadas e emprestadas, com
deplorável leviandade, por doutrinas que não levam em nenhuma conta, ou
positivamente contradizem, os interesses religiosos dos indivíduos e dos povos.
Para o seu bem particular e para o bem público da Igreja, os católicos não
podem nem ignorar tais problemas, nem esperar que a eles sejam dadas soluções
prejudiciais que no futuro exigiriam um esforço bem maior de correcção e
representariam ulteriores obstáculos à evangelização do mundo.
45.
No campo da actividade pública os leigos dos países de missão têm a sua mais
directa e preponderante acção, e é necessário providenciar com a máxima
oportunidade e urgência para que as comunidades cristãs ofereçam às suas
pátrias terrenas, para o seu bem comum, homens que honrem as várias procissões
e actividades ao mesmo tempo que honram, com a sua sólida vida cristã, a Igreja
que os regenerou para a graça, de modo que os sagrados pastores possam repetir-lhes
o louvor que lemos nos escritos de S. Basílio: "Tenho agradecido a Deus
Santíssimo pelo fato de que, mesmo estando ocupados nos negócios públicos, não
tenhais descurado os negócios da Igreja, ao contrário, cada um de vós tem-se
preocupado com eles como se se tratasse de um negócio pessoal do qual depende a
sua própria vida".c[47]
46.
Em particular no campo dos problemas e da organização da escola, da assistência
social organizada, do trabalho, da vida política, a presença de peritos
católicos poderá ter a mais feliz e benéfica influência se eles souberem – como
é seu preciso dever que não os poderiam descurar sem acusação de traição –
inspirar as suas intenções e a sua acção nos princípios cristãos, que uma
longuíssima história demonstra eficientes e decisivos para proporcionar o bem
comum.
47.
Para tal fim, como já exortava o nosso predecessor Pio XII, de feliz memória,
não será difícil convencer-se da preciosidade e da importância da ajuda
fraterna que as Organizações internacionais católicas poderão prestar ao
apostolado leigo nos países de missão, quer no plano científico, com o estudo
da solução cristã a dar aos problemas especialmente sociais das novas nações,
quer no plano apostólico, sobretudo para a organização do laicado cristão activo.
Conhecemos o que já tem sido feito e se vai fazendo por parte de leigos
missionários, que escolheram abandonar temporária ou definitivamente a sua
pátria para contribuírem com multíplice actividade para o bem social e
religioso dos países de missão, e ardentemente rogamos ao Senhor que
multiplique as falanges destes generosos e os ampare nas dificuldades e nas
fadigas que afrontam com espírito apostólico. Os institutos seculares poderão
dar às necessidades do laicado nativo em terra de missão uma ajuda incomparavelmente
fecunda se, com o seu exemplo, suscitarem imitadores e puserem à disposição dos
ordinários as suas forças para acelerar o processo de madureza das jovens
comunidades.
48.
O nosso apelo vai também a todos aqueles leigos católicos que por toda parte se
destacam nas profissões e na vida pública, a fim de que considerem seriamente a
possibilidade de ajudar os seus novos irmãos de fé, mesmo sem abandonarem a sua
pátria. O seu conselho, a sua experiência, a sua assistência técnica poderão,
sem excessivo trabalho e sem graves incómodos, trazer um contributo às vezes
resolutivo. Não faltará aos bons o espírito de iniciativa para traduzir na
prática este nosso paternal desejo, fazendo-o conhecer lá onde ele puder ser
acolhido, incentivando as boas disposições e fazendo achar o seu melhor
emprego.
Os
estudantes nativos nos países de missão
49.
O nosso imediato predecessor exortou os bispos a que, com espírito de
colaboração fraterna e desinteressada, provessem à assistência espiritual dos
jovens católicos vindos, de países de missão, para as suas dioceses, afim de
realizarem os seus estudos e adquirirem experiências que os coloquem em
condições de assumirem funções diretivas no seu próprio país. [48] A que
perigos intelectuais e morais estejam eles expostos numa sociedade que não é a
sua e que infelizmente, muitas vezes, não é capaz de lhes sustentar a fé e
incentivar a virtude, cada um de vós, veneráveis irmãos, perceberá, e, movido
pela consciência do dever missionário que incumbe a todos os sagrados pastores,
proverá a isso com a mais solícita caridade e pelos meios mais adequados. Não
vos será difícil descobrir esses estudantes, confiá-los a sacerdotes e leigos
particularmente dotados para esse ministério, assisti-los espiritualmente,
fazer-lhes sentir e experimentar a fragrância e os recursos da caridade cristã
que nos faz todos irmãos e solícitos um do outro. Aos tantos e tão tangíveis
auxílios que dais às missões junte-se este, que vos torna mais imediatamente
presente um mundo geograficamente distante, mas espiritualmente também vosso.
50.
A esses estudantes, depois, queremos não somente dizer todo o nosso amor, mas
também dirigir um premente, afectuoso aviso para que levem por toda parte a
fronte erguida, marcada pelo sangue de Cristo e pela unção do sagrado crisma, e
para que aproveitem a sua permanência no estrangeiro não só para a sua formação
profissional, mas também para a ampliação e o aperfeiçoamento da sua formação
religiosa. Poderão achar-se expostos a muitos danos, mas se acham também na boa
ocasião de tirarem muitas vantagens espirituais da sua permanência nas nações
católicas, visto que todo cristão, qualquer que seja e em qualquer parte da
terra tenha nascido, tem sempre o dever do bom exemplo e da mútua educação
espiritual.
CONCLUSÃO
51.
Depois de vos haver falado, veneráveis irmãos, sobre as necessidades actuais
mais características da Igreja nas terras de missão, não podemos deixar de
exprimir a nossa comovida gratidão a todos os que se prodigalizam pela causa da
propagação da fé até os extremos confins do mundo. Aos caros missionários do
clero secular e regular, às religiosas tão exemplarmente generosas e tão
preciosas para as várias necessidades das missões, aos leigos missionários
prontamente acorridos às fronteiras da fé, asseguramos as nossas particularíssimas
e quotidianas preces e qualquer outro auxílio que esteja em nosso poder
prestar. O sucesso da vossa obra, visível mesmo na fecundidade espiritual das
jovens comunidades cristãs, é o sinal do agrado e da bênção de Deus, e ao mesmo
tempo atestam a solércia e a sabedoria com que a S. Congregação "de
Propaganda Fide" e a S. Congregação para a Igreja oriental cumprem os
dedicados deveres que lhes são confiados.
52.
A todos os Bispos, clero e fiéis das dioceses do mundo inteiro que contribuem
com suas preces e com suas ofertas para as necessidades espirituais e materiais
das missões, dirigimos o incitamento para intensificarem ainda mais esta
necessária colaboração. Não obstante e escassez de clero que preocupa os
pastores mesmo das mais antigas dioceses, não se tenha a mínima hesitação em
incentivar as vocações missionárias e em se privar de excelentes súditos leigos
para os colocar à disposição das novas dioceses. Deste sacrifício não se
tardará a colher os frutos sobrenaturais. A emulação de generosidade que vê
todos os fiéis do mundo assiduamente empenhados nas manifestações de zelo e de
tangível caridade em vantagem das Obras que, na dependência da Sagrada
Congregação "de Propaganda Fide", encaminham os socorros provenientes
de toda parte para as destinações mais úteis e mais urgentes, aumente tanto
quanto incessantemente crescem as necessidades. A caridade solícita e concreta
dos irmãos incentivará os fiéis das jovens comunidades, e far-lhes-á sentir o
calor de um afecto sobrenatural que a graça alimenta no coração.
53. Muitas dioceses e comunidades cristãs das
terras de missão sofrem tormentos e perseguições mesmo sangrentas, aos sagrados
pastores que dão aos seus filhos espirituais o exemplo de uma fé que não se
deixa dobrar e de uma fidelidade que nunca falta mesmo à custa do sacrifício da
vida, aos féis tão duramente provados, mas tão queridos ao Coração de Jesus
Cristo, que prometeu a bem-aventurança e uma recompensa copiosa aos que sofrem
perseguição por causa da justiça (cf. Mt 5,10-12), endereçamos a nossa
exortação para perseverarem na sua santa batalha, visto que o Senhor, sempre
misericordioso nos seus desígnios imperscrutáveis, não deixará que lhes falte o
socorro das graças mais preciosas e da íntima consolação. Com os perseguidos
está, em comunhão de oração e de sofrimentos, toda a Igreja de Deus, segura na
sua expectativa de vitória.
54.
Invocando com toda a alma, sobre as missões católicas, a eficaz assistência dos
seus santos patronos e santos mártires, e de modo especialíssimo a intercessão
de Maria santíssima, mãe amorosa de todos nós e rainha das missões, a cada um
de vós, veneráveis irmãos, e a todos os que de qualquer maneira colaboram na
propagação do reino de Deus, concedemos, com o maior afecto, a bênção
apostólica, que seja conciliatória e áuspice das graças do Pai Celeste que se
revelou em seu Filho Salvador do mundo e que em todos acenda e multiplique o
zelo missionário.
Dada
em Roma, junto a S. Pedro, no dia 28 de Novembro de 1959, segundo ano do nosso
Pontificado.
JOÃO
PP. XXIII
(revisão da versão portuguesa por ama)
_________________________________________
Notas:
[41]
Cf. Carta enc. Ad Petri Cathedram: AAS 51(1959), p. 523.
[42]
Ibid.
[43]
Carta enc. Evangelii praecones: AAS 43(1951), p. 513.
[44]
Cf. Pio XII, Ep. de Actione Catholica, do dia 11 de outubro de 1946, AAS
38(1946), p. 422, Discursos e Radiomensagens de S.S. Pio XII, VIII, p. 468.
[45]
Carta enc. Ad Petri Cathedram: AAS 51(1959), p. 524, EE 7/62.
[46]
Pio XII, Carta enc. Fidei donum, AAS 49(1957), p. 229.
[47]
Ep. 288, PG, 32, 855.
[48]
Cf. Carta enc. Fidei donum: AAS 49 (1957), p. 245.