07/01/2018

Fez-se Homem para nos redimir

Pasma ante a magnanimidade de Deus: fez-se Homem para nos redimir, para que tu e eu – que não valemos nada, reconhece-o! – o tratemos com confiança. (Forja, 30)

Lux fulgebit hodie super nos, quia natus est nobis Dominus – Hoje brilhará sobre nós a luz, porque nos nasceu o Senhor! Eis a grande novidade que comove os cristãos e que, através deles, se dirige à Humanidade inteira. Deus está aqui! Esta verdade deve encher as nossas vidas. Cada Natal deve ser para nós um novo encontro especial com Deus, deixando que a sua luz e a sua graça entrem até ao fundo da nossa alma.

Detemo-nos diante do Menino, de Maria e de José; estamos contemplando o Filho de Deus revestido da nossa carne... Vem-me à lembrança a viagem que fiz a Loreto, em 15 de Agosto de 1951, para visitar a Santa Casa por motivo muito íntimo. Celebrei lá a Santa Missa. Queria dizê-la com recolhimento mas não tinha contado com o fervor da multidão. Não tinha calculado que nesse grande dia de festa muitas pessoas dos arredores viriam a Loreto – com a bendita fé dessa terra e com o amor que têm à Madona. E a sua piedade, considerando as coisas – como diria? – só do ponto de vista das leis rituais da Igreja, levava-as a manifestações não muito correctas.


E assim, enquanto eu beijava o altar, nos momentos prescritos pelas rubricas da Missa, três ou quatro camponeses beijavam-no ao mesmo tempo. Distraía-me mas estava emocionado. E também me atraía a atenção a lembrança de que naquela Santa Casa – que a tradição assegura ser o lugar onde viveram Jesus, Maria e José – na mesa do altar tinham gravado estas palavras: Hic Verbum caro factum est. Aqui, numa casa construída pelas mãos dos homens, num pedaço de terra em que vivemos, habitou Deus! (Cristo que passa, 12)

Evangelho e comentário

Tempo de Natal

Epifania do Senhor

Evangelho: Mt 2, 1-12

1 Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente. 2 E perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.» 3 Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele. 4 E, reunindo todos os sumos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. 5 Eles responderam: «Em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há-de apascentar o meu povo de Israel.» 7 Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e pediu-lhes informações exactas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. 8 E, enviando-os a Belém, disse-lhes: «Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino; e, depois de o encontrardes, vinde comunicar-mo para eu ir também prestar-lhe homenagem.» 9 Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. 10 Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; 11 e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho.

Comentário:

Logo no início da vinda do Redentor, confirma-se o que, mais tarde, dirá:
«Muitos dos últimos serão dos primeiros»
De facto, estes “últimos” serão estes três homens de ciência que vêm de longe, muito longe, confirmar o que o sinal – a Estrela – lhes anunciava: O Nascimento do Rei dos Judeus.

Dos “primeiros”, como Herodes, que estava a escassa distância, não se manifesta nenhuma vontade – bem ao contrário – de confirmar o que os doutores da lei lhe comunicaram.

Compreende-se assim que para ver os “sinais” do Céu, interpretá-los e fazer de acordo é fundamental possuir um coração puro e um espírito disposto a procurar a verdade sem preconceitos nem reservas.

(ama, comentário sobre Mt 2, 1-12, 08.01.2017)








Leitura espiritual

Jesus Cristo o Santo de Deus

CAPÍTULO II

JESUS CRISTO, O HOMEM NOVO

A Fé na humanidade de Cristo, hoje

1.   Cristo, o «homem perfeito».

Durante a vida terrena de Jesus e também depois da Páscoa, ninguém jamais pensou pôr em dúvida a realidade da humanidade de Cristo, isto é, o facto de que Ele fosse verdadeiramente um homem como os outros.
Não conheciam porventura a Sua Mãe, a sua idade, a Sua naturalidade, os familiares e a Sua profissão?
Aquilo que Lhe era contestado não era a Sua humanidade, mas a Sua divindade.
A acusação dos judeus era:
«Tu, que és homem, fazes-te Deus» [i].
Por isso quando fala da humanidade de Jesus, o Novo Testamento mostra-se mais interessado pela santidade que pela verdade ou realidade dessa divindade.

Ainda não tinha passado um século sobre a morte de Jesus e já essa situação se tinha alterado radicalmente.
Já pelas cartas de S. João se vem a saber que havia alguns que negavam que Cristo tivesse vindo «na carne» [ii].
Uma das maiores preocupações da Stº Inácio de Antioquia, nas suas cartas, é a de demonstrar a verdade da humanidade de Jesus e das acções por Ele efectuadas:
Que Ele nasceu verdadeiramente, que sofreu e morreu verdadeiramente, e não «somente em aparência, como dizem alguns sem Deus e sem fé» [iii].

Trata-se, em suma, da heresia do docetismo que nega a realidade da encarnação e a verdade do corpo humano de Cristo.

Tertuliano resume deste modo as várias formas que tal heresia apresentava no seu tempo:
«Marcião, para poder negar a carne de Cristo, negou também o Seu nascimento.
Valentim admitiu uma e outra coisa, tanto a carne como o nascimento, mas explicava-os à sua maneira.
De facto defendia como pertencente à ordem da aparência (to dokein), e não da realidade, não só a Sua carne como a Sua própria concepção, a gestação, o ter nascido da Virgem e tudo o resto» [iv]
«Devemos, portanto – concluía – ocupar-nos com a humanidade do Senhor, já que a Sua divindade não sofre contestação.
É a Sua humanidade que é posta em causa, bem como a sua verdade e qualidade».
Trata-se, para este autor, de um facto tão vital para a fé, que exclamava assim para um herético:
«Poupa aquela que é a única esperança para todo o mundo (Parce unicae spei totius orbis).
Porque queres tu destruir o necessário escândalo da fé?
Aquilo que julgas “indigni” de Deus, é para mim a salvação» [v].

No Novo Testamento, as atenções estavam todas voltadas para a novidade da humanidade de Cristo (para Cristo homem «novo» e «novo» Adão); agora, estão todas voltadas para a verdade, ou consistência ontológica, dessa humanidade.
A afirmação mais comum, neste novo contexto, é que Jesus foi um «homem perfeito» (teleios anthroppos), entendendo-se «perfeito» não no sentido moral de «santo», de «sem pecado» [vi] mas sim no sentido metafísico de «completo» de realmente existente.

O que é que provocou, em tão breve espaço de tempo, uma tal alteração de perspectiva?
Foi simplesmente o facto de que a fé cristã já então se defrontava com novos horizontes culturais e teve de fazer frente aos desafios próprios dessa nova cultura, que era a cultura helénica.
De facto, eram muitos os factores que contribuíam para tornar inaceitável, nessa nova cultura, o anúncio de Deus vindo ao mundo de forma carnal.
Antes de mais, um factor teológico:
Como podia Deus, que é imutável e impassível, submeter-se a um nascimento, a um crescimento e sobretudo ao sofrimento da cruz?
Um factor cosmológico:
A matéria é o reino de um Deus inferior (o Demiurgo) e é incapaz de conseguir a salvação; como se podia então atribuir a Deus um corpo material?
Um factor antropológico:
É a alma que constitui o homem verdadeiro, que é de natureza celeste e divina; o corpo (soma) é mais o túmulo (sema) que o companheiro da alma; porque razão o Salvador, que veio libertar a alma prisioneira da matéria, deveria Ele próprio sepultar-se num corpo?
E por fim, um factor cristológico:
Como podia Cristo ser o «homem sem pecado» se Ele teve contactos com a matéria que é má em si mesma?
Como poderia pertencer ao mundo de Deus se pertence ao mundo sensível o qual é incompatível com aquele? [vii]

A Igreja teve de conquistar, se assim se pode dizer, palmo a palmo, a sua fé na humanidade de Cristo.
Uma conquista que só se concluiu no século VII, na luta contra a heresia monotelita, conquistou a certeza da existência, em Cristo, também de uma vontade e liberdade humanas.
Cristo, portanto, teve um corpo e este corpo era dotado de uma alma e esta alma era livre!
Ele foi, por isso, verdadeiramente (em tudo semelhante a nós».

Todas estas conquistas, excepto a última, que foi obtida mais tarde, entraram na definição dogmática de Calcedónia, onde se lê que Cristo é «perfeito na divindade e perfeito na humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, resultante de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai quanto è divindade e consubstancial aos homens quanto à humanidade, feito em tudo semelhante a nós, excepto no pecado» [viii].

Assim se formou o dogma de Cristo «verdadeiro homem», que permaneceu operante e inalterável até aos nossos dias.

(cont)

rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.





[i] Jo 10,33.
[ii] 1Jo 4,2-3; 2Jo 7.
[iii] Stº Inácio de Antioquia, Ad. Trall., 9-10
[iv] Tertuliano, De carne Christi, 1,2ss. (CC 2,873).
[v] Tertuliano, De carne Christi, 5,3. (CC 2,8881).
[vi] Ef 4,13.
[vii] Fr. J. Davies, «The origins of docetism», im Studia Patristíca, VI (TuV, 87, Berlim, 1962, p. 13-15.
[viii] Denzinger-Schönmetzer, Enchiridon Symbolorum, Herder, 1967, n. 391.

Temas para meditar

A força do Silêncio, 291


Não existe acção verdadeira nem grande decisão sem o silêncio da oração que as precede.




CARDEAL ROBERT SARAH

Tratado da vida de Cristo 186

Os sacramentos em geral 

Questão 60: Dos Sacramentos


Na primeira questão discutem-se oito artigos:

Art. 1 — Se o sacramento é genericamente um sinal.
Art. 2 — Se todo sinal de uma coisa sagrada é sacramento.
Art. 3 — Se o sacramento não é sinal senão de uma só coisa.
Art. 4 — Se um sacramento é sempre uma realidade sensível.
Art. 5 — Se os sacramentos implicam coisas determinadas.
Art. 6 — Se para significar os sacramentos são necessárias palavras.
Art. 7 — Se os sacramentos exigem palavras determinadas.
Art. 8 — Se é lícito fazer algum acréscimo às palavras nas quais consiste a forma dos sacramentos.

Art. 1 — Se o sacramento é genericamente um sinal.

O primeiro discute-se assim. — Parece que o sacramento não é genericamente um sinal.

1. Pois a palavra sacramento vem de sacrar, como medicamento de medicar. Ora, essa noção implica antes a ideia de causa que a de sinal. Logo, o sacramento é genericamente antes uma causa que um sinal.

2. Demais. — Sacramento significa alguma coisa de oculto, segundo a Escritura: É bom conservar escondido o sacramento do rei. E o Apóstolo diz: Qual seja a comunicação do sacramento escondido desde os séculos em Deus. Ora, o escondido é contrário à ideia de sinal, pois, como diz Agostinho, sinal é aquilo que sugere ao nosso pensamento uma realidade diferente da apreendida pelos sentidos. Logo, parece que o sacramento não é genericamente um sinal.

3. Demais. — Às vezes o juramento é chamado sacramento. Assim, diz um Decretal: As crianças, ainda sem o uso da razão, não sejam compelidas a jurar; e a que uma vez tiver perguntado, nem seja depois disso testemunha, nem se achegue ao sacramento, isto é, ao juramen­to. Ora, o juramento não inclui nenhuma ideia de sinal. Logo, parece que o sacramento não é genericamente um sinal.

Mas, em contrário, Agostinho diz: O sacrifício visível é o sacramento, isto é, o sinal sacro do sacrifício invisível.

Todas as coisas ordenadas a uma terceira, embora de modos diversos, podem receber dessa a sua denominação. Assim, da sua saúde tira o apelativo de são não somente o animal, sujeito da saúde, mas também — a medicina, sã enquanto efectiva da saúde; a dieta, enquanto conservadora dela, e a urina, enquanto significativa da mesma. Do mesmo modo, podemos chamar sacramento ao que tem em si uma santidade oculta, e então sacramento é o mesmo que segredo sacro; ou ao que se ordena de certo modo a essa santidade como causa, ou o sinal ou segundo outra relação qualquer. E neste sentido o sacramento é considerado genericamente como um sinal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A medicina comporta-se como causa eficiente da saúde; donde vem que tudo o que dela tira a sua denominação implica dependência de um agente primeiro; e por isso o medicamento supõe de certo modo uma causalidade. Mas a santidade, onde haure o sacramento o seu apelativo, não implica um sentido de causa eficiente, mas antes, o de causa formal ou final. Donde, não é necessário que o sacramento suponha sempre a causalidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A objecção colhe, sendo sacramento o mesmo que sacro segredo. Assim, chamamos secreto não só o que é de Deus, mas também dizemos que é sacro e sacramento o que respeita a um rei. Porque os antigos denominavam santo ou sacramento tudo o que não era lícito violar; tais os muros da cidade e as pessoas constituídas em dignidade. Por isso aqueles segredos, divinos ou humanos, que a ninguém é lícito violar, publicando-os, chamam-se sacros ou sacramentos.

RESPOSTAS À TERCEIRA. — Também o juramento tem de certo modo relação com as coisas sagradas, enquanto é uma espécie de contestação feita mediante algo de sagrado. Por isso dizemos que o juramento é um sacramento não no mesmo sentido em que agora nos referimos aos sacramentos. Pois, não é a denominação de sacramento tomada equivocamente, mas em sentido analógico, isto é, segundo a diversidade de relação com um termo determinado, isto é, a causa sagrada.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?