Questão
60: Dos Sacramentos
Na primeira questão discutem-se oito
artigos:
Art. 1 — Se o sacramento é genericamente
um sinal.
Art. 2 — Se todo sinal de uma coisa
sagrada é sacramento.
Art. 3 — Se o sacramento não é sinal
senão de uma só coisa.
Art. 4 — Se um sacramento é sempre uma
realidade sensível.
Art. 5 — Se os sacramentos implicam
coisas determinadas.
Art. 6 — Se para significar os
sacramentos são necessárias palavras.
Art. 7 — Se os sacramentos exigem
palavras determinadas.
Art. 8 — Se é lícito fazer algum
acréscimo às palavras nas quais consiste a forma dos sacramentos.
Art. 1 — Se o sacramento é genericamente um sinal.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que o sacramento não é genericamente um sinal.
1. Pois a palavra sacramento vem de
sacrar, como medicamento de medicar. Ora, essa noção implica antes a ideia de
causa que a de sinal. Logo, o sacramento é genericamente antes uma causa que um
sinal.
2. Demais. — Sacramento significa
alguma coisa de oculto, segundo a Escritura: É bom conservar escondido o sacramento do rei. E o Apóstolo diz: Qual seja a comunicação do sacramento
escondido desde os séculos em Deus. Ora, o escondido é contrário à ideia de
sinal, pois, como diz Agostinho, sinal é
aquilo que sugere ao nosso pensamento uma realidade diferente da apreendida
pelos sentidos. Logo, parece que o sacramento não é genericamente um sinal.
3. Demais. — Às vezes o juramento é
chamado sacramento. Assim, diz um Decretal: As
crianças, ainda sem o uso da razão, não sejam compelidas a jurar; e a que uma
vez tiver perguntado, nem seja depois disso testemunha, nem se achegue ao
sacramento, isto é, ao juramento. Ora, o juramento não inclui nenhuma
ideia de sinal. Logo, parece que o sacramento não é genericamente um sinal.
Mas, em contrário, Agostinho diz: O sacrifício visível é o sacramento, isto é,
o sinal sacro do sacrifício invisível.
Todas as coisas ordenadas a
uma terceira, embora de modos diversos, podem receber dessa a sua denominação.
Assim, da sua saúde tira o apelativo de são não somente o animal, sujeito da
saúde, mas também — a medicina, sã enquanto efectiva da saúde; a dieta,
enquanto conservadora dela, e a urina, enquanto significativa da mesma. Do
mesmo modo, podemos chamar sacramento ao que tem em si uma santidade oculta, e
então sacramento é o mesmo que segredo sacro; ou ao que se ordena de certo modo
a essa santidade como causa, ou o sinal ou segundo outra relação qualquer. E
neste sentido o sacramento é considerado genericamente como um sinal.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
A medicina comporta-se como causa eficiente da saúde; donde vem que tudo o que
dela tira a sua denominação implica dependência de um agente primeiro; e por
isso o medicamento supõe de certo modo uma causalidade. Mas a santidade, onde
haure o sacramento o seu apelativo, não implica um sentido de causa eficiente,
mas antes, o de causa formal ou final. Donde, não é necessário que o sacramento
suponha sempre a causalidade.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A objecção colhe,
sendo sacramento o mesmo que sacro segredo. Assim, chamamos secreto não só o
que é de Deus, mas também dizemos que é sacro e sacramento o que respeita a um
rei. Porque os antigos denominavam santo ou sacramento tudo o que não era
lícito violar; tais os muros da cidade e as pessoas constituídas em dignidade.
Por isso aqueles segredos, divinos ou humanos, que a ninguém é lícito violar,
publicando-os, chamam-se sacros ou sacramentos.
RESPOSTAS À TERCEIRA. — Também o juramento
tem de certo modo relação com as coisas sagradas, enquanto é uma espécie de
contestação feita mediante algo de sagrado. Por isso dizemos que o juramento é
um sacramento não no mesmo sentido em que agora nos referimos aos sacramentos.
Pois, não é a denominação de sacramento tomada equivocamente, mas em sentido
analógico, isto é, segundo a diversidade de relação com um termo determinado,
isto é, a causa sagrada.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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