26/01/2016

NUNC COEPI – Índice de publicações em Jan 26

nunc coepi – Índice de publicações em Jan 26

São Josemaria – Textos

Castidade, Hom (São João Crisóstomo), Modéstia, Pudor, São João Crisóstomo, Temperança

AMA - Comentários ao Evangelho Lc 10 1-9, J Yániz,Leit Espiritual (Vida cristã)

Doutrina (Sacramentais)

AT - Salmos – 85

JMA (Sobre o Perdão)


Agenda Terça-Feira

Evangelho, comentário, L. espiritual


 Tempo Comum
Semana III

Evangelho: Lc 10, 1-9

1 Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois, e mandou-os dois a dois à Sua frente por todas as cidades e lugares onde havia de ir. 2 Disse-lhes: «Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a Sua messe. 3 Ide; eis que Eu vos envio como cordeiros entre lobos. 4 Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado, e não saudeis ninguém pelo caminho. 5 Na casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa. 6 Se ali houver algum filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; senão, tornará para vós. 7 Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem, porque o operário é digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa. 8 Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que vos puserem diante; 9 curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Está próximo de vós o reino de Deus.

Comentário:

Jesus Cristo revela a Sua preocupação e cuidado relativamente aos primeiros enviados a anunciar o Reino de Deus.

Faz questão de que não ignorem as dificuldades que irão enfrentar e dá instruções precisas e pormenorizadas de como devem actuar.

Devemos, os cristãos, ter bem presente esta necessidade de preparar com cuidado e esmero a acção apostólica porque por muita experiência que possamos ter de nada nos servirá se previamente não nos colocarmos nas Suas mãos pedindo com confiança: domine, quid me vis facere, Senhor, que queres que faça.

(ama comentário sobre LC 10 1-9, Cascais, 2015.10.01)


Leitura espiritual



Vida cristã

Na tarefa da nova evangelização

Com o Ano da fé, Bento XVI quis «introduzir todo o corpo eclesial num tempo de especial reflexão e redescoberta da fé» [i].

Trata-se de um convite para considerar o que é crer, o que é ser cristão, para que fiquemos mais conscientes da grandeza do dom da fé e, assim, realizemos uma nova evangelização.
Nova evangelização que o Beato Paulo VI e São João Paulo II já tinham promovido e que responde a uma necessidade objectiva, pois em muitos países de cultura tradicionalmente cristã «grupos inteiros de baptizados perderam o sentido vivo da fé ou até já não se reconhecem como membros da Igreja, levando uma existência afastada de Cristo e do Seu Evangelho» [ii].

São João Paulo II destacava que esta situação era um novo desafio para a Igreja.
Com efeito, «não parece justo equiparar a situação de um povo que nunca conheceu Jesus Cristo com a de outro que O conheceu, O aceitou e depois O recusou, ainda que tenha continuado a viver numa cultura que assimilou em grande parte os princípios e valores evangélicos» [iii].
Num contexto como este, é necessária a realização uma “nova evangelização" ou “reevangelização" [iv].
A criação do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, ou o passado Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização da fé cristã são sinais claros de um empenho por levar o Evangelho a sociedades marcadas, em muitos aspectos, pelo secularismo e o relativismo.


Responsabilidade de todos


Depois da ressurreição, Jesus enviou os seus discípulos, fazendo-os participantes da sua própria missão:
como o Pai me enviou, assim também Eu vos envio a vós [v].

Com a força do Espírito, os apóstolos e os primeiros cristãos cumpriram esse mandato; em poucos anos, estenderam a mensagem evangélica por toda a urbe conhecida.
Eram poucos, careciam de meios humanos, não contavam entre as suas fileiras – assim sucedeu, pelo menos, durante muito tempo – com grandes pensadores ou pessoas de relevo público.
Desenvolveram-se num ambiente social de indiferentismo, de carência de valores, semelhante, em muitos aspectos, ao que nos toca agora enfrentar. (…)
Aqueles primeiros souberam, com o seu comportamento, fazer brilhar diante dos seus concidadãos essa clareza salvadora e converteram-se em mensageiros de Cristo – simplesmente, com naturalidade, sem alardes apelativos – com a coerência entre a sua fé e as suas obras [vi].

A nova evangelização diz respeito a todos: também a nós Cristo pede que preguemos o Evangelho a toda a criatura [vii].

Cada cristão, em virtude do Baptismo, tem a responsabilidade de ser testemunha do Deus vivo, pois é-nos impossível calar o que vimos e ouvimos [viii].

Cada cristão é outro Cristo, enquanto identificado com Ele pela graça e pela correspondência pessoal, e está chamado a «transformar com a força do Evangelho os critérios de juízo, os valores determinantes, os pontos de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade» [ix].

Todos temos o dever e o direito de evangelizar, cada um de acordo com o seu próprio papel na Igreja.
Que grande trabalho temos pela frente!
Com humildade, com afã pessoal de santidade, temos que chegar às pessoas, antes de mais, com o nosso exemplo.
Estejamos conscientes de que o esforço por nos comportarmos como cristãos cabais – apesar das nossas misérias pessoais – faz parte da luz que o Senhor deseja acender no mundo.
Não tenhamos medo de chocar com o ambiente, nos pontos incompatíveis com a fé católica, ainda que essa atitude nos possa mesmo acarretar prejuízos materiais ou sociais [x].


Além disso, embora nalguns aspectos pareça que nos encontramos numa situação semelhante à dos nossos primeiros irmãos na fé, não podemos esquecer que, em comparação com eles, «a nossa época oferece neste campo novas ocasiões à Igreja:
A queda de ideologias e sistemas políticos opressores;
A abertura de fronteiras e a configuração de um mundo mais unido, devido ao incremento dos meios de comunicação;
O fixarem-se nos povos os valores evangélicos que Jesus encarnou na sua vida (paz, justiça, fraternidade, dedicação aos mais necessitados);
Um tipo de desenvolvimento económico e técnico sem alma que, não obstante, incita a buscar a verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o sentido da vida» [xi].

Abre-se diante de nós um imenso panorama, pois muitos estão à procura do sentido da sua vida, um sentido que só lhes pode dar o encontro com Cristo.
E é a nossa vida corrente – sem espectáculo – que lhes pode anunciar integramente o Evangelho, que lhes pode permitir descobrir a força de Jesus Cristo, a quem Deus fez para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção [xii].

Depois teremos que ajudar os que descobrem ou redescobrem Cristo, a perseverar na sua decisão de O seguir, oferecendo-lhes a formação humana, intelectual e espiritual oportuna.


Com as armas da oração, da caridade e da alegria


Em mais de uma ocasião, São Paulo exorta os cristãos a revestirem-se da armadura de Deus.
O próprio Apóstolo exemplifica esse “revestimento" interior dos filhos de Deus, quando ensina que – orando em todo tempo movidos pelo Espírito [xiii] – têm de “armar-se" com o cinturão da verdade e a couraça da justiça, e empunhar o escudo da fé e a espada do [xiv].

Quem nasce de novo pelo Baptismo, tem de comportar-se com espírito de misericórdia, de humildade, de [xv].

Tais disposições e condutas permitiram aos primeiros cristãos transformar o mundo.
Nestes começos do terceiro milénio, usando essas mesmas armas, a oração e a caridade, temos de levar a cabo a nova evangelização.

Antes de mais nada, com a oração. Perseverai na oração [xvi].
Tudo quanto pedirdes com fé na oração alcançá-lo-eis [xvii].

Se não procurássemos a fortaleza e a eficácia na intimidade com Cristo no Pão e na Palavra [xviii], onde a encontraríamos?

São Josemaria não se cansava de repetir que a arma do Opus Dei é a oração, e é essa lição que aprendemos a praticar, também convertendo o trabalho em oração, que temos de transmitir com paixão e dom de línguas em todos os ambientes.


A oração é o fundamento e o ponto de partida de todo o apostolado.

Católico, sem oração?...
É como um soldado sem armas [xix].

Uma nova evangelização, sem apoio firme e constante na oração? Uma utopia.
A oração é a arma mais poderosa do cristão.
A oração faz-nos eficazes.
A oração faz-nos felizes.
A oração dá-nos toda a força necessária para cumprir os mandatos de Deus [xx].

O apostolado, seja ele qual for, consiste numa superabundância da vida interior, e em consequência, se queremos ajudar os outros, se pretendemos sinceramente animá-los a descobrir o autêntico sentido do seu destino na terra, é preciso que nos fundamentemos na oração [xxi].

E, junto com a oração, contamos com a arma da caridade, que é o sal do apostolado dos cristãos [xxii].

Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros [xxiii].

Os primeiros cristãos deslumbraram muitos dos seus concidadãos, atraindo-os para Cristo e para a Igreja, com a finura da sua caridade. A Igreja foi enviada para manifestar o amor de Deus e tem de realizar a sua actividade – também qualquer acção apostólica pessoal ou colectiva dos cristãos e, mais em concreto, a nova evangelização – sob o signo da caridade, com a força do amor.

«Hoje como ontem, Ele envia-nos pelos caminhos do mundo para proclamar o Seu Evangelho a todos os povos da terra [xxiv].

Com o Seu amor, Jesus Cristo atrai para Si os homens de cada geração» [xxv].

Com caridade, transmite-se a alegria, que é outro sinal de vida cristã autêntica:

Disse-vos isto para que a Minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa [xxvi].

Com efeito, onde está o Senhor goza-se de paz e de alegria, ainda que a alma esteja em carne viva e rodeada de trevas [xxvii].

O apostolado cristão pode ser chamado um apostolado do ser feliz e fazer felizes os outros.
Já naquelas primeiras comunidades cristãs, que gozavam da simpatia de todo o povo, reinava essa alegria e simplicidade de coração [xxviii] que sempre cativa.
E, com a graça de Deus, muitos se incorporavam na Igreja.

Paulo VI, na encíclica Evangelii nuntiandi, falava da alegria de evangelizar e Bento XVI escreve sobre «uma nova evangelização para redescobrir a alegria de crer e voltar a encontrar o entusiasmo de comunicar a fé» pois «a fé, com efeito, cresce quando se vive como experiência de um amor que se recebe e se comunica como experiência de graça e gozo.
Torna-nos fecundos, porque liga o coração à esperança e permite dar um testemunho fecundo: com efeito, abre o coração e a mente dos que escutam para acolher o convite do Senhor para aceitar a Sua Palavra, para ser Seus discípulos» [xxix].


Em todos os ambientes


Esta nova evangelização deve ser realizada com o exemplo de caridade e alegria de cristãos bem formados, capazes de projectar a luz de Cristo e o sentido do homem.
Cristo, morrendo na Cruz, atrai a Si a Criação inteira, e, em Seu nome, os cristãos, trabalhando no meio do mundo, hão-de reconciliar todas as coisas com Deus, colocando Cristo no cume de todas as actividades humanas [xxx].

O cristão não está chamado a uma vida dupla: a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e, por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas (…); há uma única vida, feita de carne e espírito, e essa é a que tem de ser – na alma e no corpo – santa e cheia de Deus, deste Deus invisível, que encontramos nas coisas mais visíveis materiais [xxxi].

Conseguir iluminar todos os ambientes com a luz de Cristo é o grande encargo que temos pela frente.
Assim, todas as circunstâncias em que se desenvolve a nossa vida diária tomarão nova força e sentido através do encontro com o Senhor.
Não se trata de fazer nada especial, pois o apostolado não é algo diverso das tarefas de todos os dias: confunde-se com esse mesmo trabalho, convertido em ocasião de um encontro pessoal com Cristo [xxxii].

Como?
Com naturalidade, com simplicidade, vivendo como viveis no meio do mundo, entregues ao vosso trabalho profissional e aos cuidados da vossa família, participando em todos o ideais nobres, respeitando a legítima liberdade de cada um.
Desde há quase trinta anos, Deus pôs no meu coração o anseio de fazer compreender às pessoas de qualquer estado, condição ou ofício, esta doutrina: a vida corrente pode ser santa e cheia de Deus; o Senhor chama-nos a santificar o trabalho quotidiano, porque aí está também a perfeição do cristão [xxxiii].

Ao mesmo tempo, é evidente que há âmbitos nos quais é especialmente importante fazer escutar a voz de Deus: a investigação e o ensino, a moralidade pública, a instituição matrimonial e familiar, as novas tecnologias, etc.

Se nos empenhamos, contribuiremos para promover uma nova cultura, uma nova legislação, una nova moda que sejam coerentes com a dignidade do homem.
Actualmente o mundo necessita que nós, os cristãos, sejamos mais audazes, mais coerentes, mais vibrantes.
Através da nossa amizade sincera e leal ajudaremos muitas pessoas a tomar consciência da sua condição de filhos de Deus, chamados a identificar-se com Cristo.
Descobrir-lhes-emos o horizonte da santidade pessoal, de modo que eles mesmos contribuirão com as suas próprias vidas para o desenvolvimento da missão da Igreja, pois conhecer Jesus (…) é compreendermos que a nossa vida não pode ter outro sentido senão o de entregar-nos ao serviço dos outros [xxxiv].

Neste Ano da fé, Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, conceder-nos-á as graças de que necessitamos para vivermos transbordantes de espírito apostólico e mobilizar muitos para o serviço da nova evangelização.


j. yániz

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Bento XVI, Litt. apost. Porta fidei, 11-X-2011, n. 4.
[ii] São João Paulo II, Discurso à assembleia do CELAM, 9-3-1983.
[iii] São João Paulo II, Litt. enc. Redemptoris missio, 7-12-1990, n. 37.
[iv] Cfr. São João Paulo II, Litt. enc. Redemptoris missio, 7-12-1990, n. 30.
[v] Jo 17, 18
[vi] D. Javier Echevarría, Carta pastoral por ocasião do Ano da fé, 29-XI-2012, n. 11, em «Romana. Boletim da Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei» 55 (2012/2), pp. 343-344.
[vii] Mc 16, 15.
[viii] Act 4, 20
[ix] Beato Paulo VI, Exhort. apost. Evangelii nuntiandi, 8-XII-1975, n. 19.
[x] D. Javier Echevarría, Carta pastoral por ocasião do Ano de fé, 29-XI-2012, n. 9, em «Romana. Boletim da Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei» 55 (2012/2), p. 342.
[xi] S. João Paulo II, Litt. enc. Redemptoris missio, 7-12-1990, n. 3.
[xii] cfr. Ef 6, 14-17.
[xiii] Ef 6, 18.
[xiv] 1 Cor 1, 30
[xv] Cfr. Col 3, 12-14.
[xvi] Col 4, 2
[xvii] Mt 21, 22.
[xviii] São Josemaria, Cristo que passa, n. 118.
[xix] São Josemaria, Sulco, n. 453.
[xx] São Josemaria, Forja, n. 439.
[xxi] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 239.
[xxii] Ibidem, n. 234.
[xxiii] Jo 13, 35.
[xxiv] cfr. Mt 28, 19
[xxv] Bento XVI, Litt. apost. Porta fidei, 11-X-2011, n. 7.
[xxvi] Jo 15, 11.
[xxvii] São Josemaria, Cristo que passa, n. 77.
[xxviii] Cfr. Act 2, 46.
[xxix] Bento XVI, Litt. apost. Porta fidei, 11-X-2011, n. 7.
[xxx] São Josemaria, Temas actuais do cristianismo, n. 114.
[xxxi] Ibid.
[xxxii] São Josemaria, Cristo que passa, n. 264.
[xxxiii] Ibidem, n.148.
[xxxiv] Ibidem, n. 145.