Capítulo IV
O GRANDE ANÚNCIO PARA TODOS OS JOVENS
Cristo salva-te
118.
A segunda verdade é que, por amor, Cristo entregou-Se até ao fim para te
salvar. Os seus braços abertos na cruz são o sinal mais precioso dum amigo
capaz de levar até ao extremo o seu amor:
«Ele,
que amava os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao
extremo» (Jo 13, 1).
São
Paulo dizia viver confiado naquele amor que, por ele, se deu totalmente: «A
vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a Si
mesmo Se entregou por mim» (Gal 2, 20).
119.
E Cristo, que nos salvou dos nossos pecados na Cruz, com o mesmo poder da sua
entrega total, continua a salvar-nos e a resgatar-nos, hoje. Olha para a sua
Cruz, agarra-te a Ele, deixa-te salvar, porque, «quantos se deixam salvar por
Ele, são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento»[1].
E,
se pecares e te afastares, Ele volta a levantar-te com o poder da sua Cruz.
Nunca esqueças que «Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a
carregar-nos aos seus ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor
infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e
recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a
alegria»[2].
120.
Nós «fomos salvos por Jesus: porque nos ama e não pode deixar de o fazer.
Podemos fazer muitas coisas contra Ele, mas Ele continua a amar-nos e
salva-nos. Porque só o que se ama pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser
transformado. O amor do Senhor é maior que todas as nossas contradições, que
todas as nossas fragilidades e que toda a nossa mesquinhez, mas é precisamente
através das nossas contradições, fragilidades e mesquinhez que Ele quer escrever
esta história de amor. Abraçou o filho pródigo, abraçou Pedro depois de O ter
negado e abraça-nos sempre, sempre, sempre, depois das nossas quedas,
ajudando-nos a levantar e ficar de pé. Porque a verdadeira queda -
atenção a isto! - a verdadeira queda, aquela que nos pode arruinar a vida, é
ficar no chão e não se deixar ajudar»[3].
121.
O seu perdão e a sua salvação não são algo que compramos, ou que temos de
adquirir com as nossas obras ou com os nossos esforços. Jesus perdoa-nos e
liberta-nos gratuitamente. A sua doação na Cruz é algo tão grande que não
podemos nem devemos pagar; devemos apenas recebê-lo com imensa gratidão e com a
alegria de ser tão amados, ainda antes que o pudéssemos imaginar: «Ele nos amou
primeiro» (1 Jo 4, 19).
122.
Jovens amados pelo Senhor, oh quanto valeis vós, se fostes redimidos pelo
sangue precioso de Cristo!
Queridos
jovens, vós «não tendes preço!
Não
sois mercadoria em leilão! Por favor, não vos deixeis comprar, não vos deixeis
seduzir, não vos deixeis escravizar pelas colonizações ideológicas que incutem
ideias estranhas na nossa cabeça, tornando-vos por fim escravos, dependentes,
fracassados na vida.
Vós
não tendes preço!
Deveis
repetir sempre isto: eu não estou em leilão, eu não tenho preço, sou livre!
123.
Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E
quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua
misericórdia que te liberta de toda a culpa.
Contempla
o seu sangue derramado pelo grande amor que te tem e deixa-te purificar por
ele.
Assim,
poderás renascer sempre de novo.
Ele vive!
124.
Mas há uma terceira verdade, que é inseparável da anterior: Ele vive!
É
preciso recordá-lo com frequência, porque corremos o risco de tomar Jesus
Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como Alguém
que nos salvou há dois mil anos.
De
nada nos aproveitaria isto: deixar-nos-ia como antes, não nos libertaria.
Aquele
que nos enche com a sua graça, Aquele que nos liberta, Aquele que nos
transforma, Aquele que nos cura e consola é Alguém que vive.
É
Cristo ressuscitado, cheio de vitalidade sobrenatural, revestido de luz
infinita.
Por
isso dizia São Paulo: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé» (1
Cor15, 17).
125.
Mas, se Ele vive, então poderá estar presente em cada momento da tua vida, para
o encher de luz.
Assim,
nunca mais haverá solidão nem abandono. Ainda que todos nos abandonem, Jesus
permanecerá, como prometeu:
«Eu estarei sempre convosco até ao fim dos
tempos» (Mt 28, 20).
Tudo
preenche com a Sua presença invisível e, para onde quer que vás, lá estará Ele
à tua espera.
É
que Ele não só veio, mas vem e continuará a vir todos os dias, para te convidar
a caminhar para um horizonte sempre novo.
126.
Contempla Jesus feliz, transbordando de alegria.
Alegra-te
com o teu Amigo que triunfou.
Mataram
o Santo, o Justo, o Inocente, mas Ele venceu.
O
mal não tem a última palavra.
Também
na tua vida, o mal não terá a última palavra, porque o teu Amigo, que te ama,
quer triunfar em ti.
O
teu Salvador vive.
127.
Se Ele vive, isso é uma garantia de que o bem pode triunfar na nossa vida e de
que as nossas fadigas servirão para alguma coisa. Então podemos deixar de nos
lamentar e podemos olhar em frente, porque com Ele é possível sempre olhar em
frente.
Esta
é a certeza que temos:
Jesus
é o vivente eterno; agarrados a Ele, viveremos e atravessaremos, ilesos, todas
as formas de morte e violência que se escondem no caminho.
128.
Qualquer outra solução será frágil e temporária: talvez se mostre útil por
algum tempo, mas de novo nos encontraremos desprotegidos, abandonados, expostos
às intempéries.
Pelo
contrário, com Ele, o coração está enraizado numa segurança basilar, que
perdura mais além de tudo.
São
Paulo diz querer estar unido a Cristo, para poder assim «conhecê-l'O a Ele, na força da sua ressurreição» (Flp 3, 10).
Tal
é a força que se manifestará sempre de novo na tua existência, porque Ele veio
para dar-te a vida, e «vida em abundância»
(cf. Jo 10, 10).
129.
Se conseguires apreciar com o coração a beleza deste anúncio e te deixares
encontrar pelo Senhor; se te deixares amar e salvar por Ele; se entrares na sua
intimidade e começares a conversar com Cristo vivo sobre as coisas concretas da
tua vida, esta será a grande experiência, será a experiência fundamental que
sustentará a tua vida cristã.
Esta
será também a experiência que poderás comunicar a outros jovens.
Porque,
«ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte
e, desta forma, o rumo decisivo»[5].
O Espírito dá vida
130.
Nestas três verdades (Deus ama-te, Cristo é o teu salvador, Ele vive), aparece
Deus Pai e aparece Jesus.
Mas,
onde estão o Pai e Jesus Cristo, também está o Espírito Santo.
É
Ele que prepara e abre os corações para receberem este anúncio, é Ele que mantém
viva esta experiência de salvação, é Ele que te ajudará a crescer nesta alegria
se O deixares agir.
O
Espírito Santo enche o coração de Cristo ressuscitado e de lá, como duma fonte,
derrama-Se na tua vida.
E
quando O recebes, o Espírito Santo faz-te entrar cada vez mais no coração de
Cristo, para que te enchas sempre mais com o seu amor, a sua luz e a sua força.
131.
Todos os dias invoca o Espírito Santo, para que renove em ti constantemente a
experiência do grande anúncio.
Porque
não?
Tu
não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida, pode iluminá-la e dar-lhe um rumo
melhor.
Não
te mutila, não te tira nada, antes ajuda-te a encontrar da melhor maneira
aquilo que precisas.
Precisas
de amor?
Não
o encontrarás na devassidão, usando os outros, possuindo ou dominando os
outros; n’Ele, o encontrarás duma forma que te fará verdadeiramente feliz.
Buscas
intensidade?
Não
a viverás acumulando objectos, gastando dinheiro, correndo desesperadamente
atrás das coisas deste mundo; chegará duma maneira muito mais bela e
satisfatória, se te deixares guiar pelo Espírito Santo.
132.
Buscas paixão?
Deixa-te
enamorar por Ele, porque - como se lê no estupendo poema Enamora-te! -
«nada pode ser mais importante do que encontrar Deus, ou seja, enamorar-se
d’Ele de maneira definitiva e absoluta.
Aquilo
de que te enamoras, prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca
em tudo.
Será
isso a decidir o que te arranca da cama pela manhã, o que fazes no final da
tarde, como transcorres os teus fins de semana, aquilo que lês, o que conheces,
aquilo que te destroça o coração e o que te faz transbordar de alegria e
gratidão.
Enamora-te!
Permanece
no amor!
Este
amor de Deus, que se apodera apaixonadamente de toda a vida, é possível pelo
Espírito Santo, porque «o amor de Deus
foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm
5, 5).
133.
Ele é a fonte da juventude melhor.
Com
efeito, quem confia no Senhor «é como a árvore plantada perto da água, a qual
estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, e a sua
folhagem fica sempre verdejante» (Jr 17, 8).
Enquanto
«os adolescentes se cansam e se fatigam» (Is 40,
30), aqueles que
esperam, confiados no Senhor, «renovam as suas forças.
Têm
asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is
40, 31).
Franciscus
Revisão da versão
portuguesa por AMA
Notas
[1]
Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium (24 de Novembro de 2013), 1:
AAS 105 (2013), 1019.
AAS 105 (2013), 1019.
[2]
Ibid., 3: o. c., 1020.
[3]
Francisco, Discurso na Vigília da XXXIV Jornada Mundial da
Juventude (Panamá 26 de Janeiro de 2019): L’Osservatore Romano (ed.
portuguesa de 05/II/2019), 6.
[4]
Francisco, Discurso no encontro com os jovens durante o Sínodo, na
Aula Paulo VI (6 de Outubro de 2018):L’Osservatore Romano(ed. portuguesa
de 11/X/2018), 8.
[5]
Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de dezembro de
2005), 1: AAS 98 (2006), 217.