Amigos
de Deus
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Fainas de pesca
Eis
que mandarei muitos pescadores, promete o Senhor, e pescarei esses peixes.
Assim
nos indica Deus o nosso grande trabalho: pescar.
Falando
ou escrevendo, às vezes compara-se o mundo com o mar. E há muita verdade nessa
comparação.
Na
vida humana, tal como no mar, há períodos de calma e períodos de borrasca, de
tranquilidade e de forte ventania.
Muitas
vezes, os homens nadam em águas amargas, no meio de grandes vagas; caminham no
meio de tormentas; viajam cheios de tristeza, mesmo quando parece que têm
alegria, mesmo quando falam ruidosamente: gargalhadas que pretendem encobrir o
seu desalento, o seu desgosto, a sua vida sem caridade nem compreensão.
E
devoram-se uns aos outros, tanto os homens como os peixes...
É
missão dos filhos de Deus conseguir que todos os homens entrem - com liberdade
- dentro da rede divina, para que se amem.
Se
somos cristãos, temos de converter-nos nos pescadores de que fala o profeta
Jeremias.
Jesus
Cristo também utilizou repetidamente essa metáfora: "Segui-me e Eu vos
farei pescadores de homens", diz a Pedro e a André.
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Acompanhemos
Jesus nesta pesca divina.
Jesus
está junto do lago de Genesaré e as pessoas comprimem-se à sua volta, ansiosas
por ouvirem a palavra de Deus.
Tal
como hoje!
Não
estais a ver?
Estão
desejando ouvir a mensagem de Deus, embora o dissimulem exteriormente.
Talvez
alguns se tenham esquecido da doutrina de Cristo; talvez outros, sem culpa sua,
nunca a tenham aprendido e olhem para a religião como coisa estranha... mas
convencei-vos de uma realidade sempre actual: chega sempre um momento em que a
alma não pode mais; em que não lhe bastam as explicações vulgares; em que não a
satisfazem as mentiras dos falsos profetas.
E,
mesmo que nem então o admitam, essas pessoas sentem fome, desejam saciar a sua
inquietação com os ensinamentos do Senhor.
Deixemos
S. Lucas continuar a sua narrativa: E viu duas barcas à beira do lago; e os
pescadores tinham saído e lavavam as redes. Entrando numa das barcas, que era a
de Simão Pedro, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra.
E
sentando-se dentro, ensinava o povo.
Quando
acabou a sua catequese, ordenou a Simão: Faz-te mais ao largo e lançai as
vossas redes para pescar; é Cristo o dono da barca; é Ele quem prepara a faina.
Para
isso é que veio ao mundo: para tratar de que os seus irmãos descubram o caminho
da glória e do amor ao Pai.
Não
fomos nós, portanto, quem inventou o apostolado cristão.
Nós,
os homens, só o dificultamos, com a nossa rudeza, com a nossa falta de fé.
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Replicou-lhe
Simão: Mestre, trabalhámos durante toda a
noite e não apanhámos nada.
A
resposta de Simão parece razoável.
Costumavam
pescar de noite, e precisamente aquela noite tinha sido infrutífera.
Para
que haviam de pescar de dia?
Mas
Pedro tem fé: Porém, sobre a tua palavra,
lançarei a rede. Resolve proceder como Cristo lhe sugeriu; compromete-se a
trabalhar, fiado na Palavra do Senhor.
E
que acontece?
Tendo
feito isto, apanharam tão grande quantidade de peixes, que a sua rede se
rompia.
Então
fizeram sinal aos companheiros que estavam na outra barca, para que os viessem
ajudar.
Vieram
e encheram tanto ambas as barcas, que quase se afundavam.
Ao
sair para o mar com os discípulos, Jesus não pensava só nesta pesca.
E
por isso, quando Pedro se lança aos seus pés e confessa com humildade: Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um
homem pecador, Nosso Senhor respondeu-lhe: Não temas. De hoje em diante serás pescador de homens.
E
nessa nova pesca também não faltará a eficácia divina, pois, apesar das suas
misérias pessoais, os Apóstolos serão instrumentos de grandes prodígios
262
Os milagres repetem-se
Atrevo-me
a assegurar que também o Senhor fará de nós instrumentos capazes de realizar
milagres e até, se for preciso, dos mais extraordinários, se lutarmos
diariamente por alcançar a santidade, cada um dentro do seu estado, no meio do
mundo, no exercício da sua profissão, na vida normal e corrente.
Daremos
luz aos cegos...
Quem
não poderia contar mil casos de cegos, quase de nascença, que recobraram a
vista, recebendo todo o esplendor da luz de Cristo?
E
de outros que eram surdos, e outros mudos, que não podiam ouvir ou articular
uma palavra como filhos de Deus...
E
que purificaram os seus sentidos, e já ouvem, e já se exprimem como homens, não
como animais!... In nomine Iesu!, em
nome de Jesus, os seus Apóstolos dão agilidade àquele aleijado, que era incapaz
de uma acção útil...
E
àquele outro, um poltrão, que conhecia as suas obrigações mas não as cumpria...
- Em nome do Senhor, surge et ambula!;
levanta-te e caminha!
E
um outro, já morto, apodrecido, que tresandava a cadáver, também ouviu a voz de
Deus, como no milagre do filho da viúva de Naim - Rapaz, eu te ordeno:
levanta-te!
Faremos
milagres como os de Cristo, milagres como os dos primeiros Apóstolos...
Talvez
esses prodígios se tenham dado contigo mesmo, ou comigo... Talvez fôssemos
cegos, ou surdos, ou estropiados, ou cheirássemos a cadáver, e a palavra do
Senhor nos tivesse levantado da nossa prostração...
Pois
bem: se amamos Cristo, se o seguimos com sinceridade, se não nos procuramos a
nós mesmos mas tão só a Ele, em seu nome poderemos transmitir a outros de
graça, o que de graça nos foi concedido.
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Tenho
pregado constantemente sobre esta possibilidade sobrenatural e humana que Deus,
nosso Pai, pôs nas mãos dos seus filhos: a de participar na Redenção operada
por Cristo.
E
enche-me de alegria encontrar esta mesma doutrina nos textos dos Padres da
Igreja.
S.
Gregório Magno explica: Os cristãos tiram
as serpentes, quando arrancam o mal do coração dos outros com a exortação ao
bem...
A imposição das mãos sobre
os enfermos ocorre quando se vê que o próximo enfraquece na prática do bem e se
lhe oferece ajuda de mil maneiras, robustecendo-o com a força do exemplo.
Estes milagres são tanto
maiores quanto se passam no campo espiritual, dando vida, não aos corpos, mas
às almas.
Também vós, se não vos
desleixardes, podereis operar estes prodígios com a ajuda de Deus.
Deus
quer que todos se salvem.
Isto
é um convite e uma responsabilidade que pesam sobre cada um de nós.
A
Igreja não é um reduto de privilegiados.
A
grande Igreja será porventura uma exígua parte da Terra?
A grande Igreja é o mundo
inteiro.
Assim
escrevia Santo Agostinho, acrescentando: Aonde
quer que te dirijas, aí está Cristo. Tens por herança os confins da Terra. Vem!
Toma posse dela toda comigo.
Recordais
como estavam as redes?
Carregadas,
a transbordar.
Não
cabiam mais peixes.
Deus
espera ardentemente que se encha a sua casa.
É
Pai e gosta de viver com todos os filhos à sua volta.
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Apostolado na vida
corrente
Vejamos
agora aquela outra pesca que se deu depois da Paixão e Morte de Jesus Cristo.
Pedro
negou três vezes o Mestre e chorou de pena humildemente.
O
galo, com o seu canto, recordou-lhe as advertências do Senhor e ele pediu
perdão do fundo da alma.
Enquanto
espera, contrito, na promessa da Ressurreição, exerce o seu ofício e vai
pescar.
A
propósito desta pesca, pergunta-se com frequência por que é que Pedro e os
filhos de Zebedeu voltaram à ocupação que tinham antes de o Senhor os chamar.
Efectivamente
eram pescadores quando o Senhor lhes disse: Segui-me e Eu vos farei pescadores
de homens.
Aos
que se surpreendem com esta conduta deve-se responder que não estava proibido
aos Apóstolos exercer a sua profissão, visto que se tratava de coisa legítima e
honesta.
O
apostolado, essa ânsia que vibra no íntimo do cristão, não é coisa separada da
vida de todos os dias; confunde-se com o próprio trabalho, convertido em
ocasião de encontro pessoal com Cristo.
Nesse
trabalho, ombro a ombro com os nossos colegas, com os nossos amigos, com os
nossos parentes, lutando pelos mesmos interesses, podemos ajudá-los a chegar a
Cristo, que nos espera na margem do lago...
Antes
de ser apóstolo, pescador.
Também,
pescador depois de ser apóstolo.
Antes
e depois, a mesma profissão.
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Que
mudança há então?
Há
mudança na alma, porque nela entrou Cristo, tal como entrou na barca de Pedro.
Abrem-se
amplos horizontes, maior ambição de servir e um desejo irreprimível de
anunciar a todas as criaturas as magnalia
Dei, as coisas maravilhosas que o Senhor faz, se lho permitimos.
Aqui
não posso deixar de recordar que o trabalho, digamos profissional dos sacerdotes
é um ministério divino e público, que abarca exigentemente toda a sua vida.
Pode-se
dizer até, de um modo geral, que se a um sacerdote lhe sobra tempo para
trabalhos que não sejam propriamente sacerdotais, é certo que não cumpre os
deveres do seu ministério.
Estavam
juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da
Galileia, os filhos de Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos.
Disse-lhes
Simão Pedro: Vou pescar.
Responderam-lhe:
Também nós vamos contigo.
Foram,
pois, e entraram numa barca.
Naquela
noite nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus apresentou-se na praia.
Passa
ao lado dos seus Apóstolos, junto daquelas almas que se lhe entregaram...
E
eles não se dão conta disso!
Quantas
vezes está Cristo, não perto de nós, mas dentro de nós, e temos uma vida tão
humana!
Cristo
está ao nosso lado e não recebe um olhar de carinho, uma palavra de amor, uma
obra de serviço por parte dos seus filhos!
(cont)