18/01/2021

LEITURA ESPIRITUAL Janeiro 18

 

Evangelho

 Mt XXVI 57 – 75; XXVII 1 - 2

Em casa de Caifás

57 Os que tinham prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde os doutores da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido. 58 Pedro seguiu-o de longe até ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os servos, para ver o desfecho de tudo aquilo. 59 Os sumos sacerdotes e todo o Conselho procuravam um depoimento falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. 60 Mas não o encontraram, embora se tivessem apresentado muitas testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas, 61 que declararam: «Este homem disse: ‘Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.’» 62 O Sumo Sacerdote ergueu-se, então, e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos que depõem contra ti?» 63 Mas Jesus continuava calado. O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.» 64 Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» 65 Então, o Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. 66 Que vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte.» 67 Depois cuspiam-lhe no rosto e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo: 68 «Profetiza, Messias: quem foi que te bateu?»

Negações de Pedro

69 Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Galileu.» 70 Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.» 71 Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.» 72 Ele negou de novo com juramento: «Não conheço esse homem.» 73 Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.» 74 Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!» No mesmo instante, o galo cantou. 75 E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente.

Conselho do Sinédrio

1 Ao romper da manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo tiveram conselho contra Jesus, para O entregarem à morte. 2 Em seguida, manietado, levaram-n'O e entregaram-n'O ao governador Pôncio Pilatos.

 


Vocação (cont)

  Noutro local já abordámos algumas características do comportamento humano e os efeitos, consequências e utilidade que têm na vida comum.

Essas características emanam do carácter, ou melhor, formatam o carácter de cada indivíduo, tornando-o verdadeiramente único e singular e, que em suma, são as virtudes, as potências, os defeitos, as capacidades pessoais.

  Não parece haver dúvida que para progredir no sentido da melhoria em cada uma destas características é fundamental o conhecimento próprio do que se é como pessoa. Para tal é necessário, em primeiríssimo lugar uma postura de honestidade completa e uma decisão de proceder conforme o que o resultado desse exame propuser.

  Não basta concluir que sou volúvel se não fizer um esforço para deixar de o ser.

  O (re)conhecimento do que se é, deve levar, não a ser algo diferente, mas a concluir que é fundamental corrigir aquilo que, com honestidade, repete-se, verificamos que está mal ou poderia ser melhor, num esforço contínuo e sem tréguas por conseguir esse objectivo.

  Quando me apercebo que caio com facilidade na murmuração ou comentários sobre os outros ou o seu comportamento, terei de esforçar-me para corrigir esta tendência e estar decidido, não só a fazê-lo, mas ter a consciência que não o conseguirei sem uma dedicação constante a essa tarefa.

  Normalmente, uma das formas mais aconselhadas de o fazer é actuar de forma positiva, isto é, não dizer mal ou murmurar, mas não o fazer de todo.

A forma negativa seria dizer bem ou tecer encómios, coisa que, por vezes, pode não ter justificação.

Aos poucos, talvez muito lentamente, vai-se criando um hábito de não ceder a essa tendência.

Assim consegue-se uma nítida melhoria tal como nos propusemos.

  É muito possível verificarmos ter várias características a corrigir, a melhorar mas é necessário fugir à tentação de travar uma luta, como se diz, em todas as frentes, porque talvez não consigamos ganhar uma só que seja.

  Por isso, tal como também já se abordou, é fundamental concluir o que é dominante no nosso carácter e actuar aí com a intenção de corrigir ou de melhorar porque a luta pela melhoria pessoal não se trava só corrigindo ou evitando o que é menos bom mas em promover o que temos de melhor.

  A um defeito ou fraqueza opõe-se sempre uma virtude e uma potência e, por vezes, talvez baste implementar estes para diminuir a importância ou impacto daqueles.

   Se sou uma pessoa generosa será útil decidir ser ainda mais generoso e, desta forma, ir-se-á resolvendo algum problema de egoísmo.

  Em suma, em vez de tentar não fazer algo mau ou sem utilidade, esforçar-se por praticar o bem contrário.

  ‘A dificuldade não está em não furtar os bens alheios, mas sim em não os desejar. É fácil em tribunal não levantar falso testemunho, mas difícil será em não mentir nas conversas. Com facilidade nos afastaremos da embriaguez, mas com maior dificuldade viveremos a sobriedade. [1]

É fundamental que a consciência do bem e do mal esteja devidamente formada, que as balizas sejam nítidas e que não se tente esconder a realidade com uma justificação momentânea.

  Nada pode justificar um mau procedimento mesmo com a remota pretensão de que se alcançará um bem.

  Não é eliminando fisicamente o violentador que se eliminam os efeitos da violência que perpetrou ou, sequer, atenua o sofrimento que lhe estará adjacente.

Para o conseguir, o caminho a seguir é actuar junto de quem sofreu a violência assistindo-o para ajudar a ultrapassar a situação.

  Isto não tem tudo a ver com a justiça que, quase sempre, se preocupa mais com o primeiro que com o segundo.

  Porquê?

  Porque praticar a justiça não pode limitar-se a aplicar a sanção que eventualmente o prevaricador mereça mas, também, em assistir sériamente a vítima.

  Isto acontece com frequência quando a justiça – o que comummente se apelida justiça – se limita a aplicar a lei conforme o legislador previu e se tenta compensar a vítima, ou vítimas, com as indemnizações também previstas, quando o que de facto necessitavam e, aliás, teriam o direito de esperar, era um apoio concreto e categorizado para conseguirem ultrapassar a situação que lhes foi imposta.

  Na verdade, um prevaricador pode sempre reabilitar-se, em primeiro lugar cumprindo a pena aplicada, depois com a reparação estipulada, e, evidentemente, com um arrependimento sincero que conduza a não repetir acto, ou actos semelhantes, e, tendo, por assim dizer, pago a sua dívida para com a sociedade, retomar uma vida normal sem mais consequências.

  Quanto à vítima, é diferente, se não receber ou, de alguma forma, tiver acesso aos apoios adequados, tenderá a arrastar indefinidamente o fardo da violência a que foi sujeita não conseguindo retomar a vida como a tinha antes de tal ter acontecido.

  Esta é a forma comum e usual de administração da justiça humana.

Mas, quando se refere às relações do homem com Deus já não é assim.

 

 



[1] são francisco de sales, Introdução à Vida devota, IV, 8

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