A motoreta ziguezagueava como louca por entre o trânsito compacto. Algumas businadelas irritantes atestavam a imprudente condução mas, Telmo, seguia imperturbável a sua vertiginosa carreira.
Estava atrasadíssimo para a primeira aula e não queria, mais uma vez, receber uma falta não justificada.
Tinha este problema com o levantar da cama a horas. O despertador bem tocava mas decidia sempre ficar “só mais um minuto” no aconchego dos lençóis. Quase sempre era o pai que com um safanão o fazia levantar-se.
“És um preguiçoso! Mandrião! Deitas-te a desoras e depois é isto!”
Era o “seu sermão” matinal!
Fazia propósitos e mais propósitos de corrigir a coisa mas, a verdade é que… nunca passava… dos propósitos.
O autocarro não lhe deu qualquer hipótese.
Foi só um pequeno toque na roda traseira mas o suficiente para o projectar pelos ares. O pobre sujeito que conduzia a camioneta carregada de fruta bem tentou evitar passar-lhe por cima mas… não conseguiu.
A morte foi imediata!
“O Telmo sempre foi um bom estudante desde menino. Muito aplicado, sempre com boas classificações, entrou na faculdade sem qualquer problema. No segundo ano é que as coisas se complicaram. Começou a sair à noite com uns amigos e o que principiara com umas saídas de fim-de-semana normais em rapazes da sua idade, passou a ser um hábito diário. O pior foi que começara a beber por vezes descontroladamente e a regressar a casa em muito más condições físicas. Tudo começou a mudar na sua vida a começar pelo aproveitamento nos estudos que passou de suficiente a menos de medíocre, as suas relações com os pais reagindo com brusquidão às repetidas chamadas de atenção dos progenitores cada vez mais preocupados com o que se estava a passar.”
O Ser resplandecente ia continuar mas…
O Juiz interrompeu:
“Como é triste ver um jovem como o Telmo seguir por tais caminhos depois de uma infância e adolescência tão promissoras… Há alguma referência a prática religiosa, participação nalgum organismo de solidariedade social?”
Uma voz quente e terna como um suspiro de Mãe fez ouvir:
“Tenho algo a dizer:
Os pais do Telmo não se preocuparam em proporcionar-lhe educação religiosa, infelizmente. Ele, na verdade, não tem culpa de ter vivido sempre sem preocupações de ordem espiritual.
Mas, uma vez, foi com um grupo da escola onde andava, numa excursão a Fátima. Lembro-me muito bem da sua admiração por tudo quanto pôde constatar. Por fim, enquanto todos os outros foram comer o farnel que traziam ele ficou, mais de uma hora, sentado na minha Capelinha, fixando a minha imagem e disse-me:
“Gosto de estar aqui”…
O Juiz disse então:
"Como em Caná da Galileia fiz o que me pediu, faça-se agora como a Minha Mãe desejar".
[i] Levanta-se a questão da vida para além da morte. É uma das grandes interrogações que alguma vez durante a sua vida o homem se coloca.
É natural porque o ser humano é dotado de espírito, alma, que tem preocupações mais para além do imediatamente sensível.
Para os cristãos a segurança da Fé fá-los compreender que está destinado à eternidade, ou seja, embora o corpo pereça e acabe a vida terrena, a sua alma não morrerá jamais e, naturalmente, tende a voltar para o seu Criador, Deus.
Sim... a lógica propõe o que a fé garante, porque não se concebe o Criador abandonar a criatura a um desaparecimento puro e simples.
O restante do problema é o que se refere ao "destino" da alma e que é "marcado" na conclusão do juízo a que é sujeita pelo próprio Criador, logo que, após a separação do corpo, se apresenta perante Si.
No imaginário livro da vida, ao contrário do que que é mais comum, não existem colunas de "deve" e "haver" onde é feita uma espécie de contabilidade, não! O que existe é uma lista completa dos bens recebidos em vida, os dons, graças, auxílios, inspirações e meios com que o Senhor foi dotando cada um de forma especial e única.
Cada ser humano recebe um "pacote" específico, para si em exclusivo.
Deus Nosso Senhor não dispensa os Seus benefícios adrede ou de uma forma sistemática ou mecânica. Cada ser humano é objecto de atenção exclusiva e única por parte do Criador que lhe concede os Seus dons e benefícios conforme a Sua Soberana Vontade determina.
Esta misteriosa magnitude de Deus tem uma razão de ser.
O homem não é capaz por si mesmo de evoluir, de melhorar sem que um estímulo o leve a tal.
Este estímulo surge exactamente no estreitamento das suas relações com Deus.
Quanto mais se relaciona mais recebe e, quanto mais se recebe mais se deseja intimar com Deus.
Por isso no Evangelho consta «àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado» Lc 8, 16-18.
Para chegar a Deus, o caminho seguro, é Maria Sua e nossa Mãe!
Sancta Maria iter para tutum! (Santa Maria, prepara-me um caminho seguro)
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