Questão
109: Da ordem dos anjos
maus.
(Supra. Q. 63. a. 8; II Sent.,
dist. VI, q. 1. a. 4; IV, dist. XLVII, a. 2, qa 4).
O
segundo discute-se assim. — Parece que, entre os demónios, não há superiores.
1.
— Pois, toda superioridade se funda nalguma ordem da justiça. Ora, os demónios
perderam totalmente a justiça. Logo, entre eles não há superiores.
2.
Demais. — Onde não há obediência e sujeição não há superioridade. Ora, esta não
pode existir sem a concórdia, que de nenhum modo existe nos demónios, conforme
a Escritura (Pr 23, 10): Entre os soberbos há sempre contendas. Logo
entre os demónios não há superiores.
3.
Demais. — Se entre eles existisse alguma superioridade, esta haveria de pertencer-lhes,
quer à natureza, quer à culpa ou à pena. Ora, não à natureza, porque resultou a
sujeição e a servidão não desta, mas do pecado. Nem à culpa ou à pena, porque
então os demónios superiores, que pecaram mais, estariam sujeitos aos inferiores.
Logo, não há superiores entre os demónios.
Mas,
em contrário, diz a Glossa: Enquanto durar o mundo, os anjos governarão, os
anjos; os homens, os homens e os demónios, os demónios.
Como o acto resulta da natureza da coisa, nos seres, cuja natureza é
ordenada, necessariamente hão-de os actos ordenar-se entre si. Como é patente
nos seres corpóreos; pois, porque os corpos inferiores dependem, por ordem
natural, dos corpos celestes, os actos e os movimentos daqueles estão sujeitos
aos actos e movimentos destes. Ora, é manifesto, pelo que já foi dito (a.
1), que os demónios estão constituídos uns sob a dependência dos outros. Donde,
os actos daqueles dependem dos actos destes. E nisto consiste a essência da
superioridade, a saber, que o acto do súdito esteja submetido ao do superior.
Assim, pois, a própria disposição natural dos demónios exige que haja entre
eles superior. E isto também convém à divina sabedoria, que deixa no universo nada
desordenado, e que atinge fortemente desde uma extremidade à outra, e dispõe
todas as coisas com suavidade, como diz a Escritura (Sb 8, 1).
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A superioridade, nos demónios, não se lhes
funda na justiça, mas na justiça de Deus que tudo ordena.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — A concórdia, pela qual uns demónios obedecem a outros, não nasce
da amizade que tenham entre si, mas da nequícia comum com que odeiam os homens
e repugnam à justiça de Deus. Pois, é o próprio aos homens ímpios unirem-se e
submeterem-se aos de forças superiores, para executarem a própria nequícia.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Os demónios não são iguais por natureza e por isso há entre eles
superiores. O que não se dá com os homens, iguais por natureza. Ora, submeterem-se
os demónios inferiores aos superiores, não é para bem, mas antes para mal
destes; pois, fazer o mal sendo a máxima miséria, governar maus é ser mais
miserável que eles.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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