22/09/2020

Leitura espiritual Setembro 22


Cartas de São Paulo

2.ª Tessalonicenses - 2

I. ORGANIZAÇÃO ECLESIAL

A oração pública –
1 Recomendo, pois, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, 2 pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade. 3 Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, 4 que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. 5 Pois, há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus, 6 que se entregou a si mesmo como resgate por todos. Tal é o testemunho dado para os tempos estabelecidos. 7 Foi para isto que fui constituído arauto e apóstolo - digo a verdade, não minto - mestre das nações, na fé e na verdade.

Recomendações às mulheres –
8 Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, erguendo as mãos puras, sem ira nem altercação. 9 Do mesmo modo, as mulheres usem trajes decentes, adornem-se com pudor e modéstia, sem tranças, nem ouro, nem pérolas, ou vestidos sumptuosos, 10 mas, como convém a mulheres que fazem profissão de piedade, por meio de boas obras. 11 A mulher receba a instrução em silêncio, com toda a submissão. 12 Não permito à mulher que ensine, nem que exerça domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio. 13 Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. 14 E não foi Adão que foi seduzido mas a mulher que, deixando-se seduzir, incorreu na transgressão. 15 Contudo, será salva pela sua maternidade, desde que persevere na fé, no amor e na santidade, com recato.


Amigos de Deus

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Universalidade da caridade

Com o nome de próximo - diz São Leão Magno - não havemos de considerar só os que se unem a nós pelos laços da amizade ou do parentesco, mas todos os homens, com os quais possuímos uma natureza comum... Um só Criador nos fez, um só Criador nos deu a alma. Todos podemos desfrutar do mesmo céu e do mesmo ar, dos mesmos dias e das mesmas noites e, embora uns sejam bons e outros maus, uns justos e outros injustos, Deus, no entanto, é generoso e benigno com todos”.

Nós, os filhos de Deus, forjamo-nos na prática desse mandamento novo, aprendemos na Igreja a servir e a não ser servidos e encontramo-nos com forças para amar a humanidade de um modo novo, que todos reconhecerão como fruto da graça de Cristo.
O nosso amor não se confunde com uma atitude sentimental, nem com a simples camaradagem, nem com o afã pouco claro de ajudar os outros para demonstrarmos a nós mesmos que somos superiores. O nosso amor exprime-se em conviver com o próximo, em venerar - insisto - a imagem de Deus que há em cada homem, procurando que também ele a contemple, para que saiba dirigir-se a Cristo.

A universalidade da caridade significa, por isso, universalidade do apostolado: Tradução pela nossa parte, em obras e em verdade, do grande empenho de Deus, que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.

Se temos de amar também os inimigos - refiro-me aos que nos colocam entre os seus inimigos; eu não me sinto inimigo de ninguém nem de nada - com maior razão teremos de amar os que apenas estão afastados, os que nos são menos simpáticos, os que pela sua língua, pela sua cultura ou pela sua educação parecem o oposto de ti ou de mim.

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De que amor se trata?
A Sagrada Escritura fala de dilectio, para que se entenda bem que não se refere apenas ao afecto sensível.
É mais uma determinação firme da vontade.
Dilectio deriva de electio, de escolher.
Eu acrescentaria que amar, em sentido cristão, significa querer querer, decidir-se em Cristo a procurar o bem das almas sem discriminação de qualquer género, conseguindo para elas antes de mais o que há de melhor: que conheçam a Cristo e que se apaixonem por Ele.

O Senhor urge-nos: «Portai-vos bem com os que vos aborrecem e orai pelos que vos perseguem e caluniam».
Podemos não nos sentir humanamente atraídos pelas pessoas que nos afastariam, se nos aproximássemos delas.
Mas Jesus exige que não lhes devolvamos mal por mal; que não desperdicemos as ocasiões de as servir com o coração, ainda que nos custe; e que não deixemos nunca de as ter presentes nas nossas orações.

Essa dilectio, essa caridade, enche-se de matizes mais profundos quando se refere aos irmãos na fé, especialmente aos que, porque Deus assim o estabeleceu, trabalham mais perto de nós: os pais, o marido ou a mulher, os filhos e os irmãos, os amigos e os colegas, os vizinhos.
Se não existisse este carinho, amor humano nobre e limpo, ordenado a Deus e nEle fundamentado, não haveria caridade.

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Manifestações do amor

Agrada-me citar umas palavras que o Espírito Santo nos comunica pela boca do profeta Isaías: “discite benefacere, aprendei a fazer o bem.
Costumo aplicar este conselho aos diferentes aspectos da nossa luta interior, pois a vida cristã nunca se dá por terminada, visto que o crescimento nas virtudes se obtém como consequência de um empenho efectivo e quotidiano pela santidade.

Como aprendemos nós a realizar qualquer trabalho na sociedade? Primeiro examinamos o fim desejado e os meios para o alcançar. Depois perseveramos no uso desses recursos repetidamente até criarmos um hábito arraigado e firme.
Quando aprendemos alguma coisa, descobrimos outras que ignorávamos e constituem um estímulo para continuarmos esse trabalho, sem nunca dizermos "basta".

A caridade para com o próximo é uma manifestação do amor a Deus. Por isso, ao esforçarmo-nos por melhorar nesta virtude, não podemos fixar nenhum limite.
Com o Senhor, a única medida é amar sem medida, pois, por um lado jamais chegaremos a agradecer suficientemente o que Ele tem feito por nós e, por outro, assim se revela o mesmo amor de Deus às suas criaturas: Com excesso, sem cálculo, sem fronteiras.

A todos os que estamos dispostos a abrir-lhe os ouvidos da alma, Jesus Cristo ensina no Sermão da Montanha o mandato divino da caridade.
E, ao terminar, como resumo, explica: «amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai sem esperardes nada em troca, e será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom, mesmo com os ingratos e os maus. Sede, pois, misericordiosos como também o vosso Pai é misericordioso».

A misericórdia não se limita a uma simples atitude de compaixão; a misericórdia identifica-se com a superabundância da caridade que, ao mesmo tempo, traz consigo a superabundância da justiça.
Misericórdia significa manter o coração em carne viva, humana e divinamente repassado por um amor rijo, sacrificado e generoso. Assim glosa S. Paulo a caridade no seu canto a esta virtude: “A caridade é paciente, é benéfica; a caridade não é invejosa, não actua precipitadamente; não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não pensa mal dos outros, não folga com a injustiça, mas compraz-se na verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.”

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Uma das suas primeiras manifestações concretiza-se em iniciar a alma nos caminhos da humildade.
Quando sinceramente nos consideramos nada; quando compreende­mos que, se não tivéssemos o auxílio divino, a mais débil e fraca das criaturas seria melhor do que nós; quando nos vemos capazes de todos os erros e de todos os horrores; quando nos reconhecemos pecadores, embora lutemos com empenho por nos afastarmos de tantas infidelidades, como havemos de pensar mal dos outros?
Como se poderá alimentar no coração o fanatismo, a intolerância, o orgulho?

A humildade leva-nos pela mão a tratar o próximo da melhor forma: compreender a todos, conviver com todos, desculpar a todos; não criar divisões nem barreiras; comportarmo-nos - sempre! - como instrumentos de unidade.
Não é em vão que existe no fundo do homem uma forte aspiração à paz, à união com os seus semelhantes e ao respeito mútuo pelos direitos da pessoa, de modo que tal aspiração se transforme em fraternidade.
Isto reflecte uma nota característica do que há de mais valioso na condição humana: se todos somos filhos de Deus, a fraternidade nem se reduz a uma figura de retórica, nem consiste num ideal ilusório, pois surge como meta difícil, mas real.

Perante os cínicos, os cépticos, os insensíveis, os que fizeram da sua cobardia um modo de pensar, nós, os cristãos, havemos de demonstrar que esse carinho é possível.
Existem talvez muitas dificuldades para nos comportarmos deste modo, pois o homem foi criado livre e tem a possibilidade de se levantar inútil e amargamente contra Deus; mas esse caminho é possível e é real, porque tal conduta nasce necessariamente como consequência do amor de Deus e do amor a Deus.
Se tu e eu quisermos, Jesus Cristo também o quer.
Então compreenderemos, em toda a sua profundidade e com toda a sua fecundidade, a dor, o sacrifício, a entrega desinteressada na convivência diária com os outros.




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