Art.
6 — Se o pecado dos que crucificaram a Cristo foi o gravíssimo dos pecados.
O
sexto discute-se assim — Parece que o pecado dos que crucificaram a Cristo não
foi o gravíssimo dos pecados.
1. — Pois, não é o gravíssimo dos
pecados o que tem perdão. Ora, o próprio Senhor perdoou o pecado dos que os
crucificaram, quando disse: Pai perdoai-lhes
porque não sabem o que fazem. Logo, o pecado deles não foi o gravíssimo.
2. Demais. — O Senhor disse a Pilatos: O que me entregou a ti tem maior pecado.
Ora, foi Pilatos mesmo que entregou Cristo para ser crucificados pelos seus
ministros. Logo, parece ter sido maior pecado o de Judas traidor, que o dos
crucificadores de Cristo.
3. Demais. — Segundo o Filósofo, ninguém sofre injustiça voluntariamente;
e como ainda diz no mesmo lugar, se
ninguém sofre injustiça, ninguém a comete. Logo, ninguém comete injustiça
contra quem a sofre voluntariamente. Ora, Cristo sofreu voluntariamente, como
se estabeleceu. Logo, os que o crucificaram nenhuma injustiça cometeram contra
ele. E assim o pecado deles não foi o gravíssimo.
Mas, em contrário, o Evangelho — Acabai vós, pois, de encher a medida de
vossos pais - diz Crisóstomo: Na
verdade, excederam a medida dos pais. Pois, aqueles mataram homens, ao passo
que estes crucificaram a Deus.
Como dissemos, os magistrados
dos judeus conheceram a Cristo; se em alguma ignorância incorreram, essa foi a
afectada, que não podaria escusá-las. Por isso foi gravíssimo o pecado deles,
quer genericamente considerado, quer pela malícia da vontade. — Quanto aos
Judeus do povo, esses pecaram gravissimamente quanto ao género do pecado; mas a
ignorância do que faziam de certo modo diminuía-lhes o pecado. Por isso, o
Evangelho — Não sabem o que fazem —
diz Beda: Roga por aqueles que não sabiam
o que faziam, tendo, é verdade, zelo pelas causas de Deus, mas não fundado em
ciência. — Muito mais escusável, porém foi o pecado dos gentios, pelas mãos
de quem Cristo foi crucificado, pois não tinham a ciência da lei.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Essa desculpa do Senhor não se refere aos príncipes dos judeus, mas à gente do
povo, como dissemos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Judas entregou a
Cristo, não a Pilatos, mas ao príncipe dos sacerdotes, que o entregaram a
Pilatos, segundo o Evangelho: A tua nação
e os pontífices são os que te entregaram nas minhas mãos. O pecado de todos
esses, porém foi maior que o de Pilatos, que por temor de César matou a Cristo;
e também que o pecado dos soldados, que obedecendo ao mandado do governador, o
crucificaram, não por avareza, como Judas, nem por inveja e ódio, como os príncipes
dos sacerdotes.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo quis certamente
a sua Paixão, como também a quis Deus; mas não quis a acção iníqua dos judeus.
Por isso, os imoladores de Cristo não ficam desculpados da injustiça. E,
contudo, quem assassina um homem comete
uma injustiça, não só contra ele, mas também contra Deus e a república,
como o ensina o Filósofo. Por isso David condenou à morte aquele que não temeu
estender a mão para matar ao ungido do Senhor, não obstante as suas súplicas,
conforme lemos na Escritura.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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