12/04/2013

O PADRINHO DE BAPTISMO

.
.
 

 
Calmamente, às vezes com muita preocupação, vê crescer o afilhado.
Dão-lhe alegria as primeiras manifestações religiosas, a Primeira Comunhão, a Profissão Solene, o Crisma, os primeiros retiros espirituais e vai agradecendo a Deus pelo afilhado que Ele lhe deu.
 
Passam os anos e começa seriamente a preocupar-se pois começa a perceber o afastamento, primeiro da Igreja, depois dos Sacramentos e finalmente do próprio Deus.
Só lhe ocorre um pensamento: Tenho que falar com o meu afilhado! Mas que lhe hei-de dizer? Nestas alturas não ouvem nada, sabem tudo! Se bem me lembro também fui assim um pouco.
E para além disso, serei eu uma boa testemunha de Cristo e do que Ele fez e faz na minha vida?
 
Curiosamente, ou talvez não, não são os “medos” de ser mal interpretado, ou de não ser verdadeira testemunha, que o impedem de falar com o afilhado.
Lá dentro, bem no fundo onde Deus fala, vai ouvindo uma voz que lhe diz: Não te precipites! Tem paciência! Ainda não é tempo! Quando for, Eu to farei sentir!
 
E o padrinho também vai pensando consigo que precisa de crescer na fé, torna-la mais viva, mais consistente, tornar a vida mais coerente com a fé que professa e quer testemunhar.
Ah, o tempo é bom conselheiro, e se nos deixarmos guiar por Ele, com certeza que não falharemos a meta.
E é ainda essa mesma voz que lhe diz que a semente tão bem plantada não deixará de dar frutos a seu tempo.
 
E os anos passam e cada vez mais a preocupação aumenta, porque o afastamento parece ganhar raízes e destruir tudo o que foi ensinado.
Mas a voz continua a aconselhar a ponderação, a paciência, (será a paciência divina?), porque no tempo certo a mudança começará e aí sim, será precisa a palavra, o ombro, a companhia, o incitamento, tudo conjugado com o conhecimento.
 
E um dia…
Um dia começam a notar-se sinais de mudança.
Parece que o afilhado tomou consciência de que a vida que leva, não leva a lado nenhum.
Parece que entende agora que nada nem ninguém o pode ajudar melhor a encontrar a verdadeira vida, do que Aquele de quem ele se afastou e lhe deu a vida, e pode voltar a dar.
 
Mas ainda é cedo para intervir.
O afilhado procura agora, sozinho, esse encontro tão pessoal e intimo que pode definitivamente operar a mudança necessária. E o padrinho sabe bem, que «quem procura encontra».
Percebe agora o afilhado a viver uma fé intensa, empenhada, e percebe também que é altura de o ajudar a resolver alguns problemas gerados pela sua anterior vida, que é altura de o colocar perante um conhecimento mais aprofundado da fé, baseado em bons autores católicos, que lhe podem dar a “estrutura” espiritual necessária para que as raízes se desenvolvam e a árvore dê fruto.
 
E vai assistindo ao crescimento, ao empenhamento, à dedicação, aos passos dados, na procura de uma fé viva, diária, testemunhada. E vai incentivando com elogios, com “admirações” propositadas, com palavras de ternura, de carinho, enfim, de amor partilhado.
Para que o afilhado sinta que está no caminho, que os alicerces estão bem lançados, e que as paredes crescem sólidas e robustas, pede-lhe colaboração em muitas coisas, para que ele perceba que já tem pernas para andar e que só na entrega total ao Deus que desde o primeiro momento o amou, ele pode viver a vida, e a «vida em abundância».
 
Mas a missão não está ainda cumprida, nem nunca estará.
Agora trata-se mais de rezar!
De rezar pelo afilhado, para que Deus o abençoe, o proteja, o guarde, e faça dele uma testemunha viva do amor do Pai, vivida no Filho, pelo Espírito Santo.
 
Assim Deus me faça também ser como este padrinho, para O servir, servindo os meus afilhados.
 
 
Marinha Grande, 12 de Abril de 2013
Joaquim Mexia Alves
 
 
Nota:
 
Para o meu querido irmão António, meu padrinho de Baptismo que hoje faz anos, com um abraço da maior ternura, carinho e amor.
Qualquer semelhança com a realidade, neste caso, é absoluta e realmente coincidente!
.
.

1 comentário:

  1. Não posso comentar este texto, não devo comentar este texto! Estas a minhas primeiras reacções mas, amadurecendo as ideias, dominada (mal) a emoção, vejo que o escrito do meu querido Irmão é eminentemente apostólico e, assim, posso e devo comentar.
    Quanto dizes é rigorosamente verdade, esperei rezando diariamente pelo tempo certo que pedia ao Senhor e a São Josemaria me indicassem qual era.
    Nada fiz por mim mesmo - não seria possível - mas, como uma espécie de 'missão apostólica', encarei com uma esperança e confiança absolutas que, o que houvesse a fazer, seria feito porque o Senhor não falha e nunca - absolutamente - deixa de atender às súplicas justas.
    E, o resultado, está à vista: como sempre, o Senhor faz muito mais que o que se Lhe pede e, para dizer simplesmente, o Afilhado ultrapassou o Padrinho!
    Não sinto vaidade nem orgulho, mas uma alegria enorme e uma gratidão imensa pelo Senhor entender servir-se de mim - fraquíssimo e rude instrumento - para chegar onde quer e, o que Ele quer é sempre o Sumo Bem!

    Um grande abraço, meu Joaquim.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.