21/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTÃ

TEMA 9 A Encarnação

5. Cristo é o único Mediador perfeito entre Deus e os homens. É Mestre, Sacerdote e Rei.

«Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, na unidade da sua Pessoa divina; por essa razão, Ele é o único Mediador entre Deus e os homens» [i].

A expressão mais profunda do Novo Testamento sobre a mediação de Cristo encontra-se na primeira carta a Timóteo:
«Há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, que se entregou a Si mesmo para redenção de todos» [ii].

Apresentam-se aqui a pessoa do Mediador e a acção do Mediador.
E na carta aos Hebreus apresenta-se Cristo como o mediador de uma Nova Aliança [iii].

Jesus Cristo é mediador porque é perfeito Deus e perfeito homem, mas é mediador na e pela sua humanidade.
Esses textos do Novo Testamento apresentam Cristo como profeta e revelador, como sumo-sacerdote e como Senhor de toda a criação.
Não se trata de três ministérios distintos, mas de três aspectos diversos da função salvífica do único mediador.
Cristo é o profeta anunciado no Deuteronómio [iv].

O povo tinha Jesus por profeta [v].

O próprio início da carta aos Hebreus é paradigmático a este respeito. Mas Cristo é mais do que profeta: Ele é o Mestre, quer dizer, o que ensina por autoridade própria, uma autoridade desconhecida até então, que deixava surpreendidos os que o escutavam.
O carácter supremo dos ensinamentos de Jesus fundamenta-se no facto de ser Deus e homem.
Jesus não só ensina a verdade, mas Ele é a Verdade tornada visível na carne. Cristo, Verbo eterno do Pai, «é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. N’Ele o Pai disse tudo.

Não haverá outra palavra além dessa» [vi].

O ensinamento de Cristo é definitivo, também no sentido de que, com ele, a Revelação de Deus aos homens na história teve o seu último cumprimento. Cristo é sacerdote.

A mediação de Jesus Cristo é uma mediação sacerdotal.

Na carta aos Hebreus, que tem como tema central o sacerdócio de Cristo, Jesus Cristo é apresentado como o Sumo Sacerdote da Nova Aliança, «único “Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec” [vii], “santo, inocente, imaculado” [viii], que, “com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que foram santificados” [ix], isto é, pelo único sacrifício da sua Cruz» [x].

Do mesmo modo que o sacrifício de Cristo – a sua morte na Cruz – é único pela unidade que existe entre o sacerdote e a vítima – de valor infinito – assim também o seu sacerdócio é único.

Ele é a única vítima e o único sacerdote.

Os sacrifícios do Antigo Testamento eram representação do de Cristo e recebiam o seu valor precisamente pela sua ordenação ao de Cristo. O sacerdócio de Cristo, sacerdócio eterno, é participado pelo sacerdócio ministerial e pelo sacerdócio dos fiéis, que nem se acrescentam nem se sucedem ao de Cristo [xi].

Cristo é Rei.

É-o não só enquanto Deus, mas também enquanto homem.
A soberania de Cristo é um aspecto fundamental da sua mediação salvífica. Cristo salva porque tem o poder efectivo para o fazer.
A fé da Igreja afirma a realeza de Cristo e professa no Credo que «o seu reino não terá fim», repetindo, assim, o que o arcanjo Gabriel disse a Maria [xii].

A dignidade real de Cristo já tinha sido anunciada no Antigo Testamento [xiii].

No entanto, Cristo, não falou muito da sua realeza, pois entre os judeus do seu tempo estava muito difundida uma concepção material e terrena do Reino messiânico.
Reconheceu-o sim num momento particularmente solene quando, respondendo a uma pergunta de Pilatos, respondeu: «Tu o dizes. Sou Re[xiv].

A realeza de Cristo não é metafórica, é real e comporta o poder de legislar e de julgar.

É uma realeza que se fundamenta no facto de ser o Verbo encarnado e o nosso Redentor [xv].

O seu reino é espiritual e eterno.

É um reino de santidade e de justiça, de amor, de verdade e de paz [xvi].

Cristo exerce a sua realeza atraindo a si todos os homens pela sua morte e ressurreição [xvii].
Cristo, Rei e Senhor do universo, fez-se o servidor de todos, não «veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida para resgate pela multidão [xviii]» [xix].

Todos os fiéis participam «destas três funções de Cristo, com as responsabilidades de missão e de serviço que delas resultam» [xx].

6. Toda a vida de Cristo é redentora

Pelo que se refere à vida de Cristo, «o Símbolo da fé apenas fala dos mistérios da Encarnação (conceição e nascimento) e da Páscoa (paixão, crucifixão, morte, sepultura, descida à mansão dos mortos, ressurreição, ascensão).
Nada diz explicitamente dos mistérios da vida oculta e pública de Jesus. Mas os artigos da fé que dizem respeito à Encarnação e à Páscoa de Jesus iluminam toda a vida terrena de Cristo» [xxi]

Toda a vida de Cristo é redentora e qualquer acto humano seu possui um valor transcendente de salvação.
Inclusive nos actos mais simples e aparentemente menos importantes de Jesus há um exercício eficaz da sua mediação entre Deus e os homens, pois são sempre acções do Verbo encarnado.

São Josemaria entendeu esta doutrina com especial profundidade, que ensinou a transformar todos os caminhos da terra em caminhos divinos de santificação:
«chega a plenitude dos tempos e, para cumprir essa missão (…) nasce um Menino em Belém. É o Redentor do mundo; mas, antes de falar, demonstra o seu amor com obras. Não é portador de nenhuma fórmula mágica, porque sabe que a salvação que nos traz há-de passar pelo coração do homem. As suas primeiras acções são risos e choros de criança, o sono inerme de um Deus humanado; para que fiquemos tomados de amor, para que saibamos acolhê-Lo nos nossos braços» [xxii].

Os anos da vida oculta de Cristo não são uma simples preparação para o seu ministério público, mas autênticos actos redentores, orientados para a consumação do Mistério Pascal.
Tem grande relevância teológica o facto de que Jesus tivesse partilhado, durante a maior parte da sua vida, a condição da imensa maioria dos homens: a vida quotidiana de família e de trabalho em Nazaré, lugar que se torna uma lição de vida familiar, uma lição de trabalho [xxiii].

Cristo realiza também a nossa redenção durante os muitos anos de trabalho da sua vida oculta, dando, assim, todo o sentido divino na história da salvação ao trabalho quotidiano do cristão e de milhões de homens de boa vontade:
«Jesus, crescendo e vivendo como um de nós, revela que a existência humana, os afazeres correntes e habituais, têm um sentido divino» [xxiv].

José Antonio Riestra

Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 484-570, 720-726 e 963-975. Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, A Esfera dos Livros, Lisboa 2007, 27-35; 395-435 (Introdução e cap. 10). Leituras recomendadas J.L. Bastero de Eleizalde, María, Madre del Redentor, 2ª ed., Eunsa, Pamplona 2004. M. Ponce Cuéllar, María, Madre del redentor y Madre de la Iglesia, 2ª ed., Herder, Barcelona 2001. F. Ocáriz – L.F. Mateo Seco – J.A. Riestra, El misterio de Jesucristo, 3ª ed., EUNSA, Pamplona 2004.





[i] Catecismo, 480
[ii] 1 Tm 2, 5
[iii] cf. Heb 8, 6; 9, 15; 12, 24
[iv] Dt 18,18
[v] cf. Mt 16, 14; Mc 6, 14-16; Lc 24, 19
[vi] Catecismo, 65
[vii] Hb 5, 10; 6, 20
[viii] Hb 7, 26
[ix] Hb 10, 14
[x] Catecismo, 1544
[xi] cf. Catecismo, 1544-1547
[xii] cf. Lc 1, 32-33
[xiii] cf. Sl 2, 6; Is 7, 6; 11. 1-9; Dn 7, 14
[xiv] Jo 18, 37
[xv] Cf. Pio XI, Enc. Quas Primas, 11-XI-1925, AS 17 (195) 599.
[xvi] Cf. Missal Romano, Prefácio da Missa de Jesus Cristo , Rei do Universo
[xvii] cf. Jo 12, 32
[xviii] Mt 20, 28
[xix] Catecismo, 786
[xx] Catecismo, 783
[xxi] Catecismo, 512
[xxii] São Josemaria, Cristo que Passa, 36.
[xxiii] Cf. Paulo VI, Alocução em Nazaré, 5-I-1964: Insegnamenti di Paolo VI 2 (1964) 25.
[xxiv] São Josemaria, Cristo que Passa, 14.

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