Art.
6 — Se a natividade de Cristo foi manifestada na ordem conveniente.
O sexto discute-se assim. — Parece que
a natividade de Cristo foi manifestada numa ordem inconveniente.
1. — Pois, a natividade de Cristo
devia ser manifestada primeiro aos mais chegados a ele e que mais o desejavam,
conforme o lugar da Escritura: Ela se
antecipa aos que a cobiçam, de tal sorte que se lhes patenteia primeiro.
Ora, os justos eram os mais chegados a Cristo pela fé e os que mais lhe
desejavam o advento. Por isso, diz o Evangelho, de Simeão, que era homem justo e timorato e esperava a
redenção de Israel. Logo, a natividade de Cristo devia ser manifestado
primeiro a Simeão, que aos pastores ou magos.
2. Demais. — Os Magos eram as
primícias dos gentios, que haviam de crer em Cristo. Ora, primeiro, a multidão das gentes recebe a fé e depois
todo Israel há-de salvar-se, como ensina o Apóstolo. Logo, a natividade de
Cristo devia manifestar-se primeiro aos Magos, que aos pastores.
3. Demais. — O Evangelho diz: Herodes mandou matar todos os meninos que
havia em Belém e em todo o seu termo, que tivessem dois anos e daí para baixo,
regulando-se nisto pelo tempo que tinha exatamente averiguado dos Magos.
Donde se conclui que dois anos depois da natividade de Cristo é que os Magos
chegavam a Cristo: Logo, a natividade de Cristo foi inconvenientemente, só
depois de tanto tempo, manifestada aos gentios.
Mas em contrário, a Escritura: E ele mesmo é o que muda os tempos e os
séculos. E assim, o tempo da manifestação da natividade de Cristo foi
disposto na ordem conveniente.
A natividade de Cristo foi
primeiro manifestada aos Pastores, no próprio dia da natividade de Cristo.
Assim, diz o Evangelho: Naquela mesma
comarca havia uns pastores que vigiavam e revezavam entre si as vigílias da
noite para guardarem o seu rebanho. E aconteceu que, depois que os anjos se
retiravam deles para o céu falavam entre si os pastores dizendo: Passemos até
Belém. E foram com grande pressa. - Em segundo lugar, os Magos vieram
adorar a Cristo, no décimo terceiro dia da sua natividade, dia em que se
celebra a festa da Epifania. Assim que, se tivessem vindo depois de passado um
ano, ou ainda dois, não o teriam já encontrado em Belém, pois, como se lê no
Evangelho, depois que eles deram fim a tudo, segundo o que mandava a lei do
Senhor, isto é tendo apresentado o menino Jesus no templo, voltaram à Galileia
para a sua cidade de Nazaré. — Em terceiro lugar manifestou-se aos justos no
templo, no quadragésimo dia da natividade, como se lê no Evangelho.
A razão dessa ordem é, que os Pastores
significavam os Apóstolos e os outros judeus crentes, a quem primeiro foi
revelada a fé de Cristo; e entre esses não houve muitos poderosos nem muitos
nobres, segundo o Apóstolo. - Em segundo lugar a fé de Cristo chegou à
plenitude das gentes, prefigurada pelos Magos - Enfim, em terceiro, à plenitude
dos judeus, prefigurada pelos justos. Por isso, no Templo dos judeus é que
Cristo se lhes manifestou.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO —
Como diz o Apóstolo, Israel, que seguia a
lei da justiça, não chegou à lei da justiça; ao passo que os gentios, que não
seguiam a justiça, em geral preveniram os judeus na justiça da fé. E na
figura, destes, Simeão, que esperava a consolação de Israel, foi o último a
saber do nascimento de Cristo; e foi procedido pelos Magos e pelos Pastores,
que não esperavam essa natividade tão solicitamente.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora a
plenitude dos gentios recebesse a fé primeiro que a plenitude dos judeus,
contudo as primícias dos judeus preveniram na fé as primícias dos gentios. Por
isso aos Pastores foi-lhes manifestada a natividade de Cristo, antes de o ser
aos Magos.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Há duas
opiniões a respeito da estrela que apareceu aos Magos. - Crisóstomo e Agostinho
dizem que a estrela apareceu aos Magos dois anos antes da natividade de Cristo.
E só então, começando a meditar na viagem e a preparar-se para ela, das
remotíssimas partes do Oriente chegaram até Cristo no décimo terceiro dia da
sua natividade. E por isso Herodes, logo depois da partida dos Magos, vendo-se
iludido por eles, mandou matar os meninos que tivessem dois anos e daí para
baixo, estando na dúvida se Cristo nasceu quando apareceu a estrela, conforme
ouvira dos Magos. - Mas outros dizem, que a estrela apareceu só quando Cristo
nasceu; e desde então os Magos, ao verem a estrela pondo-se a caminho,
realizaram a longuíssima jornada em treze dias, em parte ajudados do poder
divino, e em parte pela velocidade dos dromedários. E isto, digo, no caso em
que tivessem vindo das extremas partes do Oriente. Mas outros são de opinião
que eles vieram de uma região próxima, donde era Balaão, de cuja doutrina eram
os sucessores. E só o Evangelho diz que vieram do Oriente, é que essa terra
está na parte oriental da terra dos judeus. E então, Herodes mandou matar os
meninos, não logo depois da partida dos Magos, mas depois de um biénio. E isso,
ou porque, como se diz, tendo sido acusado, foi durante esse tempo a Roma; ou
porque, agitado pelo terror de certos perigos, desistiu por enquanto da ideia
de matar o menino. Ou por ter sido levado a crer, que os Magos, enganados pela
visão falaz da estrela, tiveram vergonha de voltarem a ele, depois de não terem
encontrado o recém-nascido que procuravam, como opina Agostinho. E por isso,
não só mandou matar os meninos de dois anos, mas ainda daí para baixo; porque,
como diz Agostinho, temia que o menino, a quem as estrelas serviam,
transformasse o seu corpo no de idade superior ou inferior.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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