03/03/2018

Leitura espiritual

Jesus Cristo o Santo de Deus
CAPÍTULO V

O SUBLIME CONHECIMENTO DE CRISTO


4.O Nome e o Coração de Jesus             

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Em relação a Jesus Cristo, temos alguma coisa bem mais real a que nos “agarrar” para entrarmos em contacto com a Sua pessoa vivente: temos o Seu Coração!
O rosto era somente um símbolo metafórico, porque se sabia bem que Deus não tem um rosto humano; mas o coração é, agora, para nós, depois da Encarnação, um símbolo real – isto é, ao mesmo tempo, símbolo e realidade – porque sabemos que Cristo tem um coração humano, que dentro da SS Trindade existe, um coração humano que pulsa.
Se, de facto, Cristo ressuscitou da morte, também o Seu coração ressuscitou da morte; ele vive, como o resto do Seu corpo, numa dimensão diferente da primeira – espiritual e não carnal – mas vive.
Se o Cordeiro vive no Céu “imolado, mas de pé” [i], também o Seu coração condivide o mesmo estado; é um coração trespassado, mas vivo; eternamente trespassado, porque eternamente vivo.

É esta talvez a certeza que faltava (ou que não estava suficientemente expressa) no culto tradicional do Sagrado Coração e que pode contribuir para renovar e revitalizar este culto.
O Sagrado Coração não é somente aquele Coração que pulsava no peito de Cristo, quando vivia na terra e que foi trespassado na cruz e do qual só a fé e a devoção, ou, no máximo, a Eucaristia, podem perpetuar a presença entre nós.


Ele não vive somente na devoção, mas também na realidade; não se coloca somente no passado, mas também no pressente.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus não está ligada exclusivamente e uma espiritualidade que privilegia o Jesus terrestre e Crucificado, como foi durante muitos séculos a espiritualidade latina, mas também está aberta ao mistério da ressurreição e da primazia de Cristo.

Todas as vezes que pensamos neste Coração, que o ouvimos, por assim dizer, pulsar sobre nós, no centro do corpo místico, nós entramos em cantacto com a pessoa viva de Deus.

A devoção ao Sagrado Coração não se esgotou, por isso, a sua tarefa com o desaparecimento co jansenismo, mas permanece, também hoje, como o melhor antídoto contra a abstracção, o intelectualismo, e aquele formatismo que tornam tão áridas a teologia e a fé.
Um coração que pulsa é aquilo que mais claramente distingue uma realidade viva do seu conceito, porque o conceito pode sintetizar tudo numa pessoa, excepto o seu coração que palpita.

CAPÍTULO VI

«TU AMAS-ME?»

O AMOR POR JESUS

São Tomás distingue o amor em duas grandes espécies: o amor de concupiscência e o amor de amizade, o que corresponde, em parte, à outra distinção, mais comum, entre eros e ágape, entre o amor de procura e o amor de doação.
O amor de concupiscência – diz ele – é quando alguém ama alguma coisa (aliquis aliquid), isto é, quando uma pessoa ama uma coisa, entendendo-se por “coisa” não só um bem material ou espiritual, mas também uma pessoa se esta não for amada como tal, mas sim instrumentalizada e reduzida precisamente a uma coisa.
O amor de amizade é quando alguém ama alguém (aliquis amat aliquem), isto é, quando uma pessoa ama uma outra pessoa [ii].

A relação fundamental que nos liga a Jesus enquanto pessoa é então o amor.
A pergunta que nos pusemos acerca da divindade de Cristo era: “Tu crês?”;
A pergunta que nos devemos pôr acerca da pessoa de Cristo, é: “Tu amas-me?”
Existe um exame de cristologia em que todos os crentes, não só os teólogos, devem passar, e este exame comporta duas perguntas obrigatórias para todos.
O examinador aqui é o próprio Cristo.
Do resultado deste exame depende não o acesso ao sacerdócio ou ao ministério da pregação, ou de uma láurea em teologia, mas sim o acesso à vida eterna.
E essas duas perguntas são: “Tu crês?” e “Tu amas-me?”:
Tu crês na divindade de Cristo?
Tu amas a pessoa de Cristo?

S. Paulo pronunciou estas terríveis palavras:
«Se alguém não ama o Senhor, seja anátema!» [iii], e o Senhor de quem se fala aqui é o Senhor Jesus Cristo.
No decurso dos séculos foram pronunciados a propósito de Cristo muitos anátemas: contra quem negava a Sua humanidade, contra quem dividia as Suas duas naturezas, contra quem as confundia…, mas talvez nunca se deu bastante importância ao facto de que o primeiro anátema da cristologia, pronunciado por um Apóstolo em pessoa, é contra aqueles que não amam Jesus Cristo.

Nesta sexta etapa do nosso caminho de aproximação a Cristo pela via dogmática da Igreja, iremos enfrentar, com a ajuda do Espírito, precisamente algumas perguntas referentes ao amor de Cristo:
Porquê amar Jesus Cristo?
Que significa amar Jesus Cristo?
É possível amar Jesus Cristo?
Amamos nós a Jesus Cristo?

(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.





[i] Cfr.Ap 5,6
[ii] S. Tomás, Summa Theol., I-Hae, 9-27 a.1
[iii] 1 Cor 16,22

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