Sendo
crianças, não tereis penas: os miúdos esquecem depressa os desgostos para
voltar aos seus divertimentos habituais. – Por isso, com o
"abandono", não tereis de vos preocupar, pois descansareis no Pai. (Caminho,
864)
Por
volta dos primeiros anos da década de 40, eu ia muito a Valência. Não tinha
então nenhum meio humano e, com os que – como vocês agora – se reuniam com este
pobre sacerdote, fazia oração onde podíamos, algumas tardes numa praia
solitária. (...)
Pois
um dia, ao fim da tarde, durante um daqueles pores do Sol maravilhosos vimos
que uma barca se aproximava da beira-mar e que saltaram para terra uns homens
morenos, fortes como rochas, molhados, de tronco nu, tão queimados pela brisa
que pareciam de bronze. Começaram a tirar da água a rede que traziam arrastada
pela barca, repleta de peixes brilhantes como a prata. Puxavam com muito brio,
os pés metidos na areia, com uma energia prodigiosa. De repente veio uma
criança, muito queimada também, aproximou-se da corda, agarrou-a com as
mãozinhas e começou a puxar com evidente falta de habilidade. Aqueles
pescadores rudes, nada refinados, devem ter sentido o coração estremecer e
permitiram que aquele pequeno colaborasse; não o afastaram, apesar de ele
estorvar em vez de ajudar.
Pensei
em vocês e em mim; em vocês, que ainda não conhecia e em mim; nesse puxar pela
corda todos os dias, em tantas coisas. Se nos apresentarmos diante de Deus
Nosso Senhor como esse pequeno, convencidos da nossa debilidade mas dispostos a
cumprir os seus desígnios, alcançaremos a meta mais facilmente: arrastaremos a
rede até à beira-mar, repleta de frutos abundantes, porque onde as nossas
forças falham, chega o poder de Deus. (Amigos de Deus, 14)
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