Art.
6 — Se o Filho de Deus assumiu a natureza humana mediante a graça.
O sexto discute-se assim. — Parece que
o Filho de Deus assumiu a natureza humana mediante a graça.
1 — Pois, pela graça é que nos unimos
a Deus, Ora, em Cristo a natureza humana, estava por excelência unida a Deus.
Logo, essa união fez-se mediante a graça.
2. Demais. — Assim como o corpo vive
pela alma, que lhe dá a perfeição, assim a alma, pela graça. Ora, a natureza
humana torna-se apta para a assunção, por meio da alma. Logo, o Filho de Deus
assumiu a alma mediante a graça.
3. Demais. — Agostinho diz, que o
Verbo Encarnado é como o nosso verbo, quando falamos. Ora, o nosso verbo une-se
à palavra mediante o espírito. Logo, o Verbo de Deus une-se à carne mediante o
Espírito Santo, e portanto, mediante a graça, que é atribuída ao Espírito
Santo, segundo o Apóstolo. Há repartição de graças, mas um mesmo é o Espírito.
Mas, em contrário, a graça é um
acidente da alma, como na Segunda Parte se demonstrou. Ora, a união do Verbo
com a natureza humana fez-se por subsistência e não por acidente, como do
sobredito se colhe. Logo, a natureza humana não foi assumida mediante a graça.
Em Cristo há a graça de
união e a graça habitual. Logo, a graça pode ser entendida como meio, na
assunção da natureza humana, quer tratemos da graça de união, quer da habitual.
Pois, a graça de união é o ser próprio pessoal, dado gratuitamente à natureza
humana, por Deus, na pessoa do Verbo, o qual é o termo da assunção. E a graça
habitual, pertencente à santidade pessoal do Homem-Deus, é um efeito
consequente à união, conforme o Evangelho: Vimos a sua glória, como de Filho
Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade, pelo que dá a entender que do próprio
facto de ser o Homem Cristo o Unigénito do Pai — o que lhe advinha da união —
tem a plenitude da graça e da verdade. Se porém, entendermos a graça como a
vontade de Deus, que faz ou dá alguma coisa gratuitamente, nesse caso a união fez-se
pela graça, não como um meio, mas como pela causa eficiente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A nossa união com Deus é mediante uma operação, isto é, enquanto o conhecemos
e amamos. Donde, essa união dá-se pela graça habitual enquanto que a operação
perfeita procede do hábito. Mas a união da natureza humana com o Verbo de Deus
é segundo o ser pessoal, não dependente de nenhum hábito, mas imediatamente da própria
natureza.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A alma é a
perfeição substancial do corpo, ao passo que a graça é uma perfeição acidental
da alma. Por isso, a graça não pode ordenar a alma para a união pessoal, que
não é acidental, como a alma e o corpo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O nosso verbo une-se
à palavra, mediante o espírito, não, certamente, como por um meio formal, mas
como por um meio movente, pois, do verbo interiormente concebido procede o
espírito, de que se forma a palavra. E semelhantemente, do Verbo eterno procede
o Espírito Santo, que formou o corpo de Cristo, como a seguir se dirá. Mas daí
não se segue que a graça do Espírito Santo seja um meio formal, na referida
união.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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