11/11/2011

Educar a afectividade 2

CONVERSÃO DO CORAÇÃO


A moral cristã ensina que a desordem do nosso mundo afectivo mergulha as suas raízes no pecado original. O coração humano é capaz de indubitável nobreza, dos mais elevados graus de heroísmo e de santidade, mas também das maiores baixezas e dos instintos mais desumanizados.
O Novo Testamento recolhe em várias ocasiões diversas palavras de Jesus Cristo em que insistia pedindo com vigor a conversão interior do coração e dos desejos:  «Ouvistes que foi dito: “Não cometerás adultério”. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher cobiçando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração [1].
Nosso Senhor sublinha que não basta abster-se de agir mal, ou ater-se a umas normas na conduta exterior, mas que há que mudar o coração, «porque do interior do coração do homem, é que procedem os maus pensamentos, os furtos, as fornicações, os homicídios, os adultérios, as avarezas, as perversidades, as fraudes, as libertinagens, a inveja, a maledicência, a soberba, a insensatez. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem» [2]

Os Seus ensinamentos são um constante apelo à conversão do coração, a única que faz o homem realmente bom: «O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal: porque a boca fala da abundância do coração» [3].  Sublinham a necessidade radical de purificar-se interiormente: «Vós fazeis-vos passar por justos diante dos homens; mas Deus conhece os vossos corações» [4].

Os atos imorais surgem dos pensamentos retorcidos que o coração incuba. Por isso tem tanta importância a educação dos seus afetos. E por isso o Apóstolo Pedro diz a Ananias, quando é surpreendido na sua falsidade: «Por que motivo puseste em teu coração fazer tal coisa?» [5]

A moral cristã não olha para os sentimentos com desconfiança. Pelo contrário, dá uma importância fundamental ao seu cuidado e à sua educação, pois têm uma enorme transcendência na vida moral. Orientar e educar a afectividade supõe um trabalho de purificação, porque o pecado introduziu a cizânia da desordem no coração de todos os homens e é, portanto, necessário curá-lo. Por isso escreveu S. Josemaria: «Não te digo que me tires os afetos, Senhor, porque com eles posso servir-Te, mas que os purifiques» [6].

Trata-se de construir sobre o fundamento firme das exigências da dignidade do homem, do respeito e da sintonia com tudo o que exige a sua natureza e lhe é próprio. E o melhor estilo afectivo, o melhor carácter, será aquele que nos situe numa órbita mais próxima dessa singular dignidade que corresponde ao ser humano. Na medida em que o consigamos, tornar-se-á mais acessível a felicidade e a santidade.


a. aguiló



[1] Mt 5, 27-28
[2] Mc 7, 21-23. 
[3] Lc 6, 45.
[4] Lc 16, 15.
[5] Act  5, 4.
[6] S. Josemaria, Forja, n. 750.



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