02/04/2013

Tratado dos actos humanos 78

Questão 19: Da bondade do acto interior da vontade.




Art. 3 ― Se a bondade da vontade depende da razão.



O terceiro discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende da razão.



1. ― Pois, o anterior não depende do posterior. Ora, o bem pertence, antes, à vontade que à razão, como do sobredito resulta 1. Logo, o bem da vontade não depende da razão.

2. Demais. ― Como diz o Filósofo, a bondade do intelecto prático é a verdade conforme ao apetite recto 2. Ora, este é a vontade boa. Logo, a bondade da razão prática depende, mais, daquela da vontade, do que inversamente.

3. Demais. ― O motor não depende do que é movido, mas inversamente. Ora, a vontade move a razão e as demais faculdades, como se disse 3. Logo, a bondade da vontade não depende da razão.

Mas, em contrário, diz Hilário: Quando a vontade não está sujeita à razão, toda pertinácia do querer é imoderada, 4. Ora, a bondade da vontade consiste em não ser imoderada. Logo, depende da razão.


Como já se disse 5, a bondade da vontade depende propriamente, do objecto, e este é-lhe proposto pela razão, pois, o bem conhecido pelo intelecto é o objecto proporcionado à vontade, ao passo que, o bem sensível, ou imaginário, não lhe é proporcionado a ela, mas ao apetite sensitivo. Pois, enquanto a vontade pode tender ao bem universal apreendido pela razão, o apetite sensitivo não tende senão para um bem particular, apreendido pela potência sensitiva. Logo, a bondade da vontade depende da razão, do mesmo modo por que depende do objecto.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O bem sob o aspecto de bem, i. é, de desejável, é objecto antes da vontade que da razão. Porém é da razão, sob o aspecto de verdadeiro, antes de o ser da vontade sob o desejável, porque o apetite da vontade não pode tender para o bem se este não for apreendido primeiro pela razão.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― No passo aduzido, o Filósofo refere-se ao intelecto prático enquanto delibera e raciocina sobre os meios, e é então aperfeiçoado pela prudência. Ora, no concernente aos meios, a rectitude da razão consiste na conformidade como o apetite do fim devido. Este, contudo pressupõe a apreensão recta do fim, pela razão.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A vontade, de certa maneira, move a razão, que por sua vez e de algum modo move a vontade para o seu objecto, como já se disse 6.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 9 a. 1.
2. VI Ethic., lect. II.
3. Q. 9, a. 1.
4. X De Trin., n. 1.
5. Q. 19, a. 1, 2.
6. Q. 9, a. 1.


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