Questão 19: Da bondade do
acto interior da vontade.
Art. 3 ― Se a bondade da
vontade depende da razão.
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende da
razão.
2.
Demais. ― Como diz o Filósofo, a bondade do intelecto prático é a verdade
conforme ao apetite recto 2. Ora, este é a vontade boa. Logo, a
bondade da razão prática depende, mais, daquela da vontade, do que
inversamente.
3.
Demais. ― O motor não depende do que é movido, mas inversamente. Ora, a vontade
move a razão e as demais faculdades, como se disse 3. Logo, a
bondade da vontade não depende da razão.
Mas,
em contrário, diz Hilário: Quando a vontade não está sujeita à razão, toda
pertinácia do querer é imoderada, 4. Ora, a bondade da vontade
consiste em não ser imoderada. Logo, depende da razão.
Como já se disse 5, a bondade da vontade depende propriamente, do objecto,
e este é-lhe proposto pela razão, pois, o bem conhecido pelo intelecto é o objecto
proporcionado à vontade, ao passo que, o bem sensível, ou imaginário, não lhe é
proporcionado a ela, mas ao apetite sensitivo. Pois, enquanto a vontade pode
tender ao bem universal apreendido pela razão, o apetite sensitivo não tende
senão para um bem particular, apreendido pela potência sensitiva. Logo, a
bondade da vontade depende da razão, do mesmo modo por que depende do objecto.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O bem sob o aspecto de bem, i. é, de
desejável, é objecto antes da vontade que da razão. Porém é da razão, sob o
aspecto de verdadeiro, antes de o ser da vontade sob o desejável, porque o
apetite da vontade não pode tender para o bem se este não for apreendido
primeiro pela razão.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― No passo aduzido, o Filósofo refere-se ao intelecto prático
enquanto delibera e raciocina sobre os meios, e é então aperfeiçoado pela
prudência. Ora, no concernente aos meios, a rectitude da razão consiste na
conformidade como o apetite do fim devido. Este, contudo pressupõe a apreensão
recta do fim, pela razão.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A vontade, de certa maneira, move a razão, que por sua vez e de
algum modo move a vontade para o seu objecto, como já se disse 6.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 9 a. 1.
2. VI Ethic., lect. II.
3.
Q. 9, a. 1.
4.
X De Trin., n. 1.
5.
Q. 19, a. 1, 2.
6.
Q. 9, a. 1.
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