Questão 13: Da eleição.
Art. 2 ― Se a eleição convém aos brutos.
(II Sent., dist. XXV, a . 1, ad
6, 7, V Metaphys, lect. XVI, III Ethic., lect V).
O
segundo discute-se assim. ― Parece que a eleição convém aos brutos.
1. ― Pois, como diz Aristóteles, a eleição é o desejo de certas coisas em vista de um fim 1. Ora, os brutos desejam certas coisas em vista de um fim, pois agem para algum fim e são movidos pelo apetite. Logo, nos brutos há eleição.
2.
Demais. ― O nome mesmo de eleição parece significar que uma coisa é tomada de
preferência a outras. Ora, os brutos tomam uma coisa de preferência a outras,
como quando a ovelha come uma erva e rejeita outra. Logo há eleição nos brutos.
3.
Demais. ― Como diz Aristóteles, é pela prudência que escolhemos os meios 2.
Ora, a prudência convém aos brutos, dizendo-se, por isso, que têm prudência,
sem formação, todos aqueles que como as abelhas não podem ouvir os sons. E isto
também é manifesto aos sentidos. Pois, manifestam-se admiráveis sagacidades nas
operações de animais, como as abelhas, as aranhas e os cães. Assim, quando o
cão, perseguindo um veado, chega a uma encruzilhada, explora, pelo faro, se o
veado passou pelo primeiro caminho ou pelo segundo, assegurado de que não passou
por eles, atira-se sem hesitar e sem explorar, pelo terceiro caminho. Ele como
que emprega um silogismo disjuntivo, pelo qual poderia concluir que o veado
passou por esse caminho desde que não passou pelos dois outros únicos. Logo,
parece que a eleição convém aos brutos.
Mas,
em contrário, diz Gregório Nisseno (Nemésio) as crianças e os irracionais agem
certo, voluntariamente, não, porém, escolhendo 3. Logo, nos brutos
não há eleição.
Sendo a eleição a preferência de uma coisa a outra, necessário é seja
relativa a várias coisas elegíveis. E, portanto, em seres determinados
unilateralmente, não pode haver eleição. Há, porém, diferença entre o apetite
sensitivo e a vontade. Pois, como do sobredito resulta4, o apetite sensitivo é
determinado a um bem particular, conforme a ordem da natureza, ao passo que a
vontade é, certo, segundo essa mesma ordem, determinada a algo de comum, que é
o bem, mas se comporta indeterminadamente em relação aos bens particulares. Donde,
propriamente, pertence à vontade escolher, não porém ao apetite sensitivo,
único existente nos brutos, e, por isso, não lhes convém a eleição.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Nem todo desejo de um meio em vista de um fim
se chama eleição, mas o que é acompanhado de um certo discernimento de um meio,
do outro, ora tal não pode ter lugar senão quando o desejo pode recair sobre
vários objetos.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O animal prefere uma coisa a outra porque o seu apetite está
naturalmente determinado a ela. Por isso, quando pelo sentido ou pela
imaginação lhe é apresentado algo a que naturalmente se lhe inclina o apetite,
imediatamente e sem eleição é movido para ela, assim como também, sem eleição,
o fogo se move para cima e não para baixo.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Como diz Aristóteles, o movimento é o acto do móvel procedente do
motor 5. E por isso, a virtude deste aparece no movimento daquele. Donde,
em todos os seres movidos pela razão, manifesta-se a ordem da razão motora,
embora os seres por ela movidos não a possuam. Assim, a seta tende diretamente
ao alvo pelo movimento do arqueiro, como se ela mesma tivesse a razão dirigente.
E o mesmo se vê nos movimentos dos relógios e de todos os engenhos humanos
feitos pela arte. Ora, as coisas artificiais estão para a arte humana como
todas as naturais, para a arte divina. E por isso, a arte se manifesta tanto
nos seres movidos pela natureza como nos movidos pela razão, como diz o
Filósofo 6. Donde resulta que, nas suas operações os brutos
manifestam certas sagacidades, por serem dotados de uma inclinação natural para
determinados modos de proceder ordenadíssimos e como dispostos por uma arte
suma. Donde vem que certos animais são denominados prudentes ou sagazes, não
porém que neles exista alguma razão ou eleição. E isso resulta de que todos os
seres dotados da mesma natureza operam semelhantemente.
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