Art.
7 — Se em Cristo houve temor.
O sétimo discute-se assim. — Parece
que em Cristo não houve temor.
1. — Pois, diz a Escritura: O justo,
como leão afoito, sem terror. Ora, Cristo era o justo por excelência. Logo, em
Cristo não houve nenhum terror.
2. Demais. — Hilário diz: Pergunto àqueles,
que tem tal persuasão, se é racional pensar que temesse a morte quem,
expulsando da alma dos Apóstolos todo terror da morte, os exportava à glória do
martírio. Logo, não é racional que houvesse em Cristo o temor.
3. Demais. — O homem só tem temor
daquilo que não pode evitar. Ora, Cristo podia evitar tanto o mal da pena que
sofreu, como o da culpa que atingiu os demais. Logo, em Cristo não houve nenhum
temor.
Mas, em contrário, o Evangelho: Jesus
começou a ter pavor e a angustiar-se.
Assim como a tristeza é
causada pela apreensão do mal presente, assim o temor, pela do mal futuro. Ora,
a apreensão do mal futuro, mesmo revestida de toda certeza, não causa temor. Donde
o dizer o Filósofo, só há temor do que não temos nenhuma esperança de evitar,
pois, o que nenhuma esperança de evitar, pois, o que nenhuma esperança temos de
evitar apreendemos como um mal presente e, assim, causa antes tristeza que
temor.
Donde, o temor pode ser considerado a
dupla luz. — Primeiro, quanto ao facto de o apetite sensitivo fugir
naturalmente ao mal corpóreo presente, pela tristeza, e pelo temor, se for futuro.
Ora, deste modo, houve temor em Cristo, como houve tristeza. — Pode ser
considerado a outra luz, quanto à incerteza do acontecimento futuro, assim,
quando tememos, de noite, por um som que ouvimos e cuja proveniência ignoramos.
E deste modo, em Cristo não houve temor, como diz Damasceno.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Dissemos que o justo não tem terror, compreendendo-se o terror como uma
paixão perfeita, que priva o homem do bem da razão. E assim, não houve terror
em Cristo, senão só na pro-paixão. Por isso, o Evangelho refere que Jesus
começou a ter pavor e a angustiar-se, quase pela pro-paixão, como expõe Jerónimo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Hilário exclui
de Cristo o temor no mesmo sentido em que dele exclui a tristeza, isto é,
quanto à necessidade que ele impõe. Contudo, para provar que assumiu
verdadeiramente a natureza humana, Jesus assumiu voluntariamente o temor, como
também a tristeza.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora Cristo
pudesse evitar os males futuros, pelo poder da sua divindade, contudo eles eram
inevitáveis, ou não facilmente evitáveis, por causa da fraqueza da carne.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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